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sexta-feira, 5 de maio de 2023

Dia Mundial da Língua Portuguesa - Dia em que foi entregue o Prémio Camões à escritora moçambicana Paulina Chiziane - Recordo também Jorge Amado, um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos, o autor mais adaptado ao cinema, teatro e televisão

 Jorge Trabulo Marques - Jornalista e investigador 



Hoje, dia  05 de maio, é comemorado o dia Mundial da Língua Portuguesa, com o objetivo de consagrar um autor da  Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CPLP, partilhada por mais de 260 milhões de falantes espalhados pelo mundo

A distinção foi atribuída pela comissão dos representantes do Brasil, de Portugal, à escritora moçambicana galardoada em 2021 pelo prêmio Camões, Paulina Chiziane, recebeu em Portugal o diploma referente ao Prêmio Camões.

O diploma foi entregue na tarde desta quinta-feira, no Antigo Picadeiro Real, em Lisboa, pelas mãos do primeiro ministro e do embaixador do Brasil.

A entrega do galardão acontece 10 dias depois da cerimónia de entrega do Prémio Camões a Chico Buarque, vencedor em 2019, que decorreu no Palácio Nacional de Queluz, em Sintra.

O atraso ficou a dever-se inicialmente à recusa do então presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, em assinar o diploma do prémio do escritor e músico brasileiro, e depois à pandemia, que, consequentemente, deixou bloqueadas as entregas de prémios que se sucederam: o escritor e ensaísta português Vítor Manuel de Aguiar e Silva (2020), que viria a morrer em 2022 sem o receber, e o poeta e romancista brasileiro Silviano Santiago (2022).

Para o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, “a entrega do Prémio Camões à escritora moçambicana Paulina Chiziane é um momento de enorme significado e enorme simbolismo para a cultura em português. É a primeira mulher negra a receber aquele que é o prémio de maior prestígio da língua portuguesa”.


Recordando Jorge Amado, um dos os mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos,  o autor mais adaptado ao cinema, teatro e televisão 

Nesta data especial, aproveito a oportunidade para aqui recordar  duas das entrevistas que  me  concedeu -  Elogio ao cineasta, Glauber Rocha, dias antes da sua morte – A um dos cineastas mais notáveis do chamado Cinema Novo Brasileiro: os “Os seus filmes são um elogio do Homem, do ser humano” ; O  lançamento da bomba atómica  em Hiroxima - "Eu me recordo perfeitamente. Foi durante a guerra! No momento em que já não havia absolutamente necessidade de que a bomba atómica fosse lançada, a guerra estava ganha pelos aliados, foi um crime!  - Outra parte da entrevista reporta-se ao seu livro Sumiço de Santa: uma história de feitiçaria, que só podia ocorrer na Baía,  com personagens portuguesas;





Depois do 25 de Abril. Jorge Amado, deslocou-se várias vezes a Portugal: vindo, nomeadamente, de Paris, onde passava algumas temporadas, sobretudo na década de 80, numa fase, literariamente,  ainda muito ativa – Não era que gostasse mais de viver na Europa de que no Brasil; o motivo não era esse mas a falta de privacidade e o necessário isolamento, que não conseguia encontrar na sua cidade natal, onde era constantemente solicitado     - Nascido em Tabuna,  a 10 de Agosto de 1912, Estado da Baía, e, em cujas terras,  havia também de falecer:  Em Salvador, 6 de Agosto de 2001


Confessou-me que adorava o nosso país:   deliciar-se com a sua gastronomia, admirava  o artesanato do Minho  (nomeadamente o da cerâmica),  as belezas naturais, o nosso sol,  nosso clima, a simpatia das nossas gentes, onde contava com  bons amigos, alguns dos quais, fonte de inspiração, como personagens nas suas obras: é o caso, por exemplo, de Nuno Lima de Carvalho, diretor da Galeria de Arte do casino Estoril


Tanto ele, como Zélia Gattai, sua esposa, deram-me o prazer de me concederem várias entrevistas, que aguardo no meu arquivo. Uma das quais feita por ocasião do Congresso de Escritores Portugueses, em 1988 (creio que o 2º), ou seja, dois anos antes da assinatura do então já  polémico acordo ortográfico – Obviamente, que o tema não deixou de vir à baila,  gerando acaloradas discussões, tal como, de resto, ainda hoje continua a suscitar, - Mais à frente o registo em vídeo dessa interessante entrevista

GLAUBER ROCHA - UM IRMÃO PARA JORGE AMADO


Jorge Amado: “nós somos baianos, brasileiros ambos, escritores, intelectuais, pois que, Glauber é um grande escritor! Um admirável escritor! … Eu conheço-o, quase desde menino!... Eu vi quando ele começou o seu trabalho de cineasta, sei quanto o cinema brasileiro lhe deve: grande figura do nosso cinema! “ - Declarou-me Jorge Amado, há 35 anos


 Referem investigações que, "em 2014, documentos revelados pela Comissão da Verdade indicaram que o governo militar pretendia matar Glauber Rocha, que se encontrava exilado em Portugal. O relatório foi produzido pela Aeronáutica, e descreve Glauber como um dos líderes da esquerda brasileira. A monitoração de Glauber era feita através de entrevistas que ele concedia a publicações europeias, criticando o governo militar e a repressão promovida por ele, considerando seus depoimentos um "violento ataque ao país”


Jorge Amado –  O maior best-seller da literatura brasileira, recordista de traduções, ex-deputado, figura emblemática da cultura popular baiana – de São Salvador da Bahia – cidade onde nasceu, que amou e divulgou como ninguém, desde que ali veio ao mundo, no dia 12 de Agosto  de 1912,  mas que seria chamado para o pouso eterno dos justos, a 6 de Agosto de 2001, aos 89 anos, ou seja, precisamente, 20 anos depois do dia em que me concedeu a  entrevista, que aqui passo a recordar  - Mais tarde, outras me daria ainda a honra e o prazer de me conceder, assim como sua esposa, a escritoraZélia Gattai, , – porém, a entrevista, que aqui recordo, assume um significado especial:  não só pela estranha coincidência dessa data, sim, longe de imaginar, que, duas décadas depois deste tão amável diálogo, ele partiria para a eternidade, mas  também pelo facto de, naquela já distante data de 6 de Agosto de 1981, ele ter elogiado o seu grande amigo Glauber Rocha, um dos cineastas mais notáveis do chamado Cinema Novo Brasileiro, iniciado no começo dos anos 60, que  faleceria menos de duas semanas depois, a 22 desse mesmo mês

 A entrevista. concedia  no dia em que se completavam 36 anos sobre o lançamento da bomba atómica sobre Hiroxima,  assunto que também é colocado ao escritor Jorge Amado,  foi transmitida na então Rádio Comercial – RDP e escutada por Glauber, então enfermo no Hospital da  CUF, a quem telefonei, dando-lhe conhecimento, a pedido de Fernando Namora, com o fim de lhe dar ânimo.

GLAUBER ROCHA Um grande amigo meu, um amigo fraterno, meu irmão e um homem extremamente importante dentro da cultura do nosso país: dentro da cultura brasileira, dentro da cultura de Portugal, do mundo da língua portuguesa, pois que é um cineasta! E um escritor que tem realizado uma obra da mais alta importância!... Além de mais, é um homem extremamente lúcido na sua maneira de pensar, que tem lutado sempre ao lado do povo, contra os inimigos do Povo! Sempre ao lado dos interesses mais nobres da humanidade! Contra aqueles, exatamente, que querem a guerra, a opressão e a miséria! Os filmes de Glauber Rocha, são todos eles um elogio do Homem, do ser humano.”

BOMBA ATÓMICA EM HIROXIMA - "Eu me recordo perfeitamente. Foi durante a guerra; foi lançada sobre o Japão! No momento em que já não havia absolutamente necessidade de que a bomba atómica fosse lançada, a guerra estava ganha pelos aliados, foi um crime! Um crime terrível não só para a população japonesa mas contra a Humanidade!... Não havia absolutamente nenhuma necessidade de lançar a bomba atómica naquele momento sobre o Japão: o Japão já estava vencido."

Glauber de Andrade Rocha (Vitória da Conquista, 14 de Março de 1939 — Rio de Janeiro, 22 de agosto de 1981) foi um cineasta brasileiro e também ator e escritor.

Glauber faleceu vítima de septicemia, ou como foi declarado no atestado de óbito, de choque bacteriano, provocado por broncopneumonia que o atacava havia mais de um mês, na Clínica Bambina, no Rio de Janeiro, depois de ter sido transferido de um hospital de Lisboa, capital de Portugal, onde permaneceu 18 dias internado. Residia há meses em Sintra, cidade de veraneio portuguesa, e se preparava para fazer um filme, quando começou a passar mal.




Com obras publicadas em 55 países e vertida para 49 idiomas - Biografia | Fundação Casa de Jorge Amado




JA – Eu não sei!... Não estou tão a par que pudesse ser.... Como lhe digo,  pessoalmente, o acordo, como escritor, não me atinge em nada…. Eu continuo a escrever. Inclusive, na minha vida de escritor, que é bastante longa – é quase  60 anos de trabalho de escritor, eu vi tanta ortografia, quando eu comecei a escerver com dois “pês”, com dois mm, de forma que o que, o  posso dizer é que eu não sei nada de ortografia!... cada vez eu sei menos, porque cada vez é mais complicado






2ª  PARTE DA ENTREVISTA A JORGE AMADO PARA A HISTÓRIA DA LITERATURA –LUSO BRASILEIRA – 2ª parte - Nesta segunda parte: fala do  seu livro Sumiço de Santa: uma história de feitiçaria, que só podia ocorrer na Baía,  com personagens portuguesas; refugia-se em Paris, porque “é difícil para mim poder escrever no Brasil”, onde “tenho muito pouca privacidade e  pouco tempo livre” – Situação no Brasil: A divida externa é imensa!... É a maior do mundo!... Uma inflação terrível!... “; Os valores materiais,  pertencem a uma minora muito pequena da  população!... 


"A Amazónia sofre os atentados desde que ela existe!... Desde que os portugueses, lá chegaram…”  “Agora, o que eu acho é que, cabe a nós brasileiros, decidir sobre a Amazónia!..”  Da Gastronomia Portuguesa: “Chego aqui… começo a comer… Faço um esforço para emagrecer!... Mas não é possível!...” De  Fernando Namora:  “um grande amigo de Jorge Amado: uma perda muito grande para a língua portuguesa!”... Da condenação por irão a  Salman Rushdie– É a forma mais violenta, que houve, até hoje no mundo!.. Você escreve um livro e o Chefe de Estado!... Decreta que ele deve ser morto e oferece uma quantia enorme em dinheiro para o assassinar!... É uma coisa, nunca vista!... Você tem a impressão. Que, de repente, o mundo, andou para trás!...”  Sou contra qualquer espécie de censura: “ Tive os meus livros proibidos! E queimados em praça pública!... Em Portugal, os meus  livros, durante anos e anos, não puderam ser publicados, aqui… E eram vendidos às escondidas!.. E no Brasil, também!... “ – Jorge Trabulo Marques – Jornalista

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