Jorge Trabulo Marques - Jornalista
Romance novo em Outubro, biblioteca em 2024 - Duas noticias assinalam o aniversário do escritor: uma biblioteca municipal que incluirá um centro
interpretativo da sua obra, aliás, já anunciada, há 2 anos, situada no bairro lisboeta onde nasceu
e cresceu, e um novo livro, O Tamanho do Mundo.
Lobo Antunes, é considerado um dos maiores romancistas portugueses da atualidade. Em 2019, por ocasião dos 40 anos da sua atividade literária e numa altura em que o escritor lançava mais um romance. "A Outra Margem do Mar" a Fundação Gulbenkian, dedicou-lhe um colóquio
A Biblioteca de Benfica António Lobo Antunes irá abrir ao público em 2024 no
edifício da antiga Fábrica Simões. Ainda em obras, mas com a fachada pronta, o
prédio da Avenida Gomes Pereira que em tempos foi uma unidade fabril e agora se
reconverte em empreendimento de luxo irá acolher o espólio literário do
escritor que cumpre 80 anos neste dia 1 de Setembro. Situado no bairro onde o
autor de nasceu em 1942,
Tenho seguido com especial atenção o seu percurso literário desde o seu primeiro livro "Memória de Elefante" - No meu vasto arquivo de entrevistas e reportagens, conservo ainda as curiosas respostas que me deu a propósito de um inquérito radiofónico que estava a fazer para a extinta Rádio Comercial-RDP . sobordinado ao tema" Férias Inesqueciveis"
Pensando, talvez na adolescência!.. Nos namoros que se têm na adolescência!...Os namoros que são importantes e tão significativos, quando se tem quinze, catorze ou dezasseis anos!... À parte isso, pouco mais me lembro!...
Lobo Antunes – há 35 anos: Férias inesquecíveis? Talvez, nunca as tenha tido… Eu tenho o sonho de algum dia as ter !... Vamos ver se as conseguirei ter!... Até agora isso não tem acontecido!... Mas tenho esperanças de que venha acontecer.
“Talvez a melhor parte das férias seja a altura em que se acabam os livros. Normalmente eu acabo de escrever os romances durante o Verão e é o alívio que se segue… Mas as férias, praticamente, não existem” – Esta a resposta que começava por nos dar, Lobo Antunes, quando, em meados da década de 80, lhe perguntávamos onde pretendia gozar as suas férias e qual a melhor recordação, que guardava de umas férias inesquecíveis. – Foi a questão que lhe colocámos, na Feira do Livro de Lisboa, num inquérito que ali estávamos a realizar para a Rádio Comercial-RDP, com escritores e pessoas anónimas – A resposta até podia ser dada em três penadas, se o nosso interlocutor, fizesse outro tipo de vida, não tivesse abandonado, definitivamente, a psiquiatria para abraçar de alma e coração a literatura.
Como é do domínio público, Lobo Antunes, é um dos maiores escritores portugueses, da atualidade, com quase quatro dezenas de obras publicadas, com traduções e variadíssimos países , o autor que assume a escrita a tempo inteiro – Os seus livros são uma excelente companhia para quem vai de férias – Contudo, o leitor mal imaginará, certamente, que, para desfrutar desse prazer, custaram ao autor da obra, muitas horas de labor, isto porque, férias a valer, não passa senão do alívio quando acaba o livro e o entrega à editora – Se é um dos leitores da sua vasta e importante obra, não deixe de ouvir a breve entrevista que lhe fizemos. Dir-se-á, que, para lhe obtermos algumas respostas, acabamos por ser nós a falar mais do que o nosso entrevistado, mesmo assim, os seus silêncios, as suas hesitações, as suas meias respostas, não deixam de nos ajudar a compreender a grande dimensão humana de um dos mais notáveis génios da nossa literatura, o escritor que vive unicamente para o ofício da escrita.
LA - Talvez a melhor parte das férias seja a altura em que se acabam os livros. Normalmente eu acabo de escrever os romances durante o Verão e alivio que se segue… Mas as férias, praticamente, não existem, porque, depois, tenho assim uma semana depois a vida vai começar outra vez, a engravidar outra vez. Eu penso que o melhor tempo é sempre esse bocadinho!... Entre, quando acaba um livro e se começa a pensar no seguinte.
JTM – Quer dizer, não há um espaço propriamente ditas! Não há um espaço definido ao longo do ano?
LA – Sim, não há um espaço definido ao longo do ano, exatamente.
JTM – Mas, dentro desses espaços indefinidos, que acontecem, por acaso naturalmente que tem uma recordação, uma recordação agradável que tenha tido, até hoje!
LA – Encontro com pessoas…
JTM – Mas mesmo antes de ser escritor! Remontando à sua infância! Aos seus tempos de estudante!... Naturalmente que deve recordar-se de algum momento, particularmente agradável!.... Há sempre aquelas férias inesquecíveis!
LA – Eu talvez, nunca tenha tido férias inesquecíveis!.. (sorri) Primeiro pregou-me uma pergunta, um bocado embaraçosa!... Pois eu não sei o que hei-de responder!...
JTM – No estrangeiro ou no país!...
LA – No estrangeiro?!... Bom, naturalmente, agora o convite das editoras ou para meetings de escritores, etc… Portanto, acaba-se, sempre por estar em reuniões!... Ou para fazer sessões de autógrafos ou entrevistas!... Um pessoa acaba de ter sempre pouco tempo livre!... Em todo o caso, há sempre pessoas. Muito interessantes que se conhecem, é muito agradável!..
JTM - Direi que se trata de um escritor a tempo inteiro! Tomado pela escrita e que, raramente, goza férias e que essas férias, não passam senão de uma pausa, de um pequeno intervalo para a escrita!
LA – Pois, eu penso que todos os escritores, são a tempo inteiro! E que eu não sou exceção nisso!... E que se passa com todos os camaradas de escrita!
JTM – Mais ainda incidindo, sobre a mesma pergunta: remontando àqueles tempo, antes de se iniciar na escrita!... Dos tempos do liceu!...Ou mesmo da sua infância… Não tem uma recordação, que lhe tenha sido agradável?!...Sei lá… Que agora possa evocar! Lembrar!...Particularmente, feliz!...Particularmente, alegre!...Passada em Portugal, ou lá fora?!...Eu sei que, nesta altura, o seu pensamento está ocupado noutras coisas!... Mas, puxando um bocadinho pela memória!...
LA - Pensando, talvez na adolescência! Nos namoros que se têm na adolescência!...Os namoros que são importantes e tão significativos, quando se tem quinze, catorze ou dezasseis anos!... À parte isso, pouco mais me lembro!...
JTM – Foram, portanto, essas as férias a valer?!...
LA – Nessa altura, sim!... Embora ainda não houvesse a história da escrita… O problema de escrever, etc.etc… Eu penso que, na adolescência, sim!... Que havia um sentido de irresponsabilidade e lúdico, que, depois a pouco e pouco,, a gente, infelizmente, vai perdendo!...
JTM – Portanto, atualmente, as férias para si, são um momento de repouso e de tranquilidade ou de reflexão e preparação para outro livro?!...
LA – Naturalmente, é o fim de escrever o livro!... Reportando-me ao Verão: Agosto, Setembro, é altura em que se acaba um livro.
JTM – Costuma ir à praia?... ao campo?!... Para onde é que se inclina para fazer esse repouso, para estabelecer essa pequena pausa?
LA – Sim, a praia!... Varia!... É variável!... Ou com as minhas filhas!... Mas, como lhe estava contando, enquanto a gente está a escrever, está fechado em casa… Depois de escrever tem uma sensação de liberdade mas uma sensação de liberdade que dura muito pouco tempo..
JTM – Muito limitada!
LA – Exatamente!...
JTM – Portanto, não é pessoa que gaste dinheiro e tempo em férias, propriamente ditas!... Essas férias, para si, é um espaço que pode surgir em qualquer altura?!...
LA – Sim, isso talvez resumisse de um forma melhor, do que eu tenho estado a dizer, realmente como as coisas se passam!... É uma desilusão para si este tipo de respostas mas eu não tenho uma vida especialmente interessante nem especialmente atraente!...
JTM – Não é desilusão, para mim, de modo algum!...É a sua vida!... Que é preenchida!... É uma vida ocupadíssima! … De qualquer modo, todo este tempo que a vida lhe toma, é um tempo agradável, é um tempo útil!... Não é verdade?!... Será isso ao mesmo tempo, uma recordação agradável!...
LB – Ah, sim!,,, Eu gosto de viver!... É muito importante, para mim, isso!...
JTM – Férias, propriamente ditas, de trinta dias, de quinze dias!.. Em que não se pense não gozo, na parte lúdica ou mo prazer, propriamente dito, não existem para o Lobo Antunes!...
LA – Eu tenho o sonho de algum dia ter isso!... Vamos ver se conseguirei ter!... Até agora isso não tem acontecido!... Mas tenho esperanças de que venha acontecer.
JTM – Já agora, diga-me, onde é que pensa gozar esse ano as férias?... Se é que pensa gozá-las mesmo!...
LA – Este ano, tenho um livro para acabar e tem de se entregue à editora, até ao fim de Setembro, e, portanto, passa-las em casa, a acabar o livro!... Não sei muito bem… porque, ao longo do ano, há muitas saídas!... Portanto, agora vou para a Finlândia, depois a Paris… e não sei quê!... De maneira que depois há saídas que tomam muito tempo!... E que depois tornam as coisas mais difíceis!... Quer dizer… o tempo fica muito curto
FÉRIAS NA ATUALIDADE NA VIDA LIETRARIA DE LOBO ANTUNES
Pelos vistos, ainda sempre a trabalhar - A noticia é de Agosto de 2010 - O escritor António Lobo Antunes escolheu Tomar para passar o próximo fim de semana de férias e vai aproveitar a presença na cidade para participar numa “conversa informal” num café da cidade, a convite da entidade de Turismo de Lisboa e Vale do Tejo (T-LVT).
Segundo Manuel Faria, vice presidente executivo da T-LVT, o escritor aceitou o convite para passar umas “mini-férias de Verão” em Tomar e, aproveitando essa estadia, a entidade de turismo vai organizar, no próximo sábado, às 21:30, uma conversa “informal” em que Lobo Antunes vai recordar a sua passagem pela cidade enquanto cumpria o serviço militar, em 1970. António Lobo Antunes passa mini-férias em Tomar | O
ALGUNS DADOS BIOGRÁFICOS
Lobo Antunes, nasceu em 1942, em Lisboa, na zona de Benfica, onde cresceu. "Tive a sorte de ter uma infância muito boa, passada em Benfica que, na altura, era um microcosmos, das várias classes sociais, tudo aquilo misturado, larguinhos, pracinhas."
É o mais velho de seis irmãos. São eles João, que se dedica à medicina, Pedro à arquitectura, Miguel à jurisprudência, Manuel à diplomacia e Nuno à neurologia pediátrica.
Parte da sua experiência clínica foi praticada em Angola, durante a Guerra Colonial. "Quando fui para África, ainda que contasse com pouca experiência cirúrgica, tinha de fazer amputações, tinha que fazer essas coisas tramadas que há a fazer em tempo de guerra… Então, levava o tratado de cirurgia, o furriel enfermeiro, que não podia ver sangue, ia-me lendo aquilo tudo, os procedimentos, e eu ia operando. Felizmente nunca nos morreu ninguém assim. Portanto, a minha relação com a medicina era essa."
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