Breve diálogo à mistura de com sons de fado de Coimbra, ocorrido espontaneamente, a um dos atores mais famosos portugueses, que recusava dar entrevistas C
Por Jorge Trabulo Marques - Imagens recolhidas da WEB
Lisboa – 1981 - Ao som do piano do maestro Vitorino de Almeida - O canto e a Voz de um dos mais famosos atores portugueses do século XX - António Vilar numa das alegres tertúlias do Botequim de Natália Correia – Registo gravado espontaneamente num gravador de cassetes e agora recuperado para vídeo – Do ator mais célebre do cinema português dos anos 50 - Actor português, nascido em 1912 em Lisboa e falecido em Madrid em 1995. Contracenou com Brigitte Bardot, no filme La Femme et le Pantin de Julian Duvivier (1959). Mais nenhum português pode dizer que teve a Bardot nos braços. . Foi um dos actores mais famosos do seu tempo, trabalhando tanto no país como no estrangeiro (nomeadamente em Espanha, França, Itália, Argentina e Brasil), com uma projecção internacional, numa carreira nunca igualada.
CONSIDERAVA-SE PROFUNDAMENTE CONSERVADOR - Disse-me que veio ao Botequim para "conversar com a Natália e tomar uma copa e depois se ir deitar " - O ator português que mais anos passou fora do seu país.
"Foi o mais internacional galã do cinema português. Estreou-se nos palcos em 1931 na peça Romance, no Nacional e, no mesmo ano conseguiu um pequeno papel no primeiro filme sonoro português, Severa, de Leitão de Barros."
Não foi fácil arrancar-lhe algumas palavras. A voz
soltava-se-lhe facilmente para cantar mas não para ser entrevistado – Não vinha
ali para entrevistas: “Vim ao Botequim da Natália para conversar um pouco
com ela, tomar uma copa e depois vou-me deitar” –Declarou-me, entre
outras coisas, que poderá ouvir no vídeo.
“Quando eu era pequenina"
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“Quando eu era pequenina/ Acabada de nascer”-
Composição popular, imortalizada pela Amália Rodrigues, que, o actor António
Vilar, cantou naquela noite, entre outras canções populares e fados de Coimbra,
acompanhado ao piano pelo maestro António Vitorino, com quem ia acertando o tom
do piano com o da sua voz.
As tertúlias no boletim eram habitualmente musicadas.
Os sons não perturbavam o convívio e as conversas. Bem pelo contrário, era um
condimento desejável. Por isso, não faltavam improvisações musicais: umas vezes
para harmonizar o ambiente, outras para acompanhar quem se sentisse
dotado ou inspirado no momento. Foi o que sucedeu na noite em que ali
encontrei o famoso ator António Vilar, expondo os seus dotes musicais , que, nalguns dos filmes e peças de
teatro onde participou, também chegou a revelar o seu talento de cantor e
tocador de guitarra e viola.
Com um pequeno gravador à mão, com que habitualmente
fazia vários registos no exterior para a reportagem de um programa matinal na
Rádio Comercial (sim, muitas das vezes, quase nem dormia, quer na procura de
motivo, quer depois, em casa, nas horas gastas com a seleção das
faixas e redação dos textos), pois, ao ver cantar, António Vilar, ao lado do
piano, aproveitei a oportunidade (depois de ter feito uma divertidíssima
entrevista, ao Mestre Martins Correia, sobre a reencarnação, que ainda cobservo), sim,
de juntar mais um apontamento à minha reportagem dessa noite. .
“Você abusou, tirou partido de mim” – esta dedicada no
final ao repórter
Já me tinha apercebido que ele não gostava de dar
entrevistas a ninguém, e, chegou mesmo a dizer-me, que não aceitava estar a
“toureá-lo, ou mesmo é dizer, a fintá-lo; a lograr os meus intentos, porém, lá
o fui conseguindo, com alguma persistência e tato, ora gravando-o a
cantar ora dialogando com ele, acabando, no fim, por ser prendado com a popular
cantiga brasileira, de Toquinho: Você abusou, tirou partido de mim,
abusou / Você abusou / Tirou partido de mim, abusou / Tirou
partido de mim, abusou / Tirou partido de mim, abusou!”
A última grande tertúlia de Lisboa - que marcou
cultural e politicamente várias décadas portuguesas - teve lugar no Botequim,
bar do Largo da Graça criado e projetado por Natália Correia. Tive o prazer de
ter sido um dos frequentadores – Quer na qualidade de repórter de rádio (onde é
gravado este apontamento, entre outros), quer pela admiração que tinha pela
personagem de Natália e pelo, gosto das noites que ali se viviam
“Nele fizeram-se, desfizeram-se revoluções, governos,
obras de arte, movimentos cívicos; por ele passaram presidentes da República,
governantes, embaixadores, militares, juízes, revolucionários, heróis,
escritores, poetas, artistas, cientistas, assassinos, loucos, amantes em madrugadas
de vertigem, de desmesura.
A magia do Botequim tornava-se, nas noites de festa,
feérica. Como um iate de luxo, navegava-se delirantemente em demanda de
continentes venturosos, de ilhas de amores a encontrar. O futuro foi ali, como
em nenhuma outra parte do País, festivamente antecipado. Nunca houve, nem por
certo haverá, nada igual entre nós “ – Fernando Dacosta, na contracapa do referido livro sobre o Botequim
Se puder mão deixe de ler - Natália Correia – “O Livro dos Mortos” – “Quando me derem por morta de lágrimas nem uma pinga” - Ouça estas palavras na voz de quem as escreveu e que vamos homenagear na Pedra dos Poetas e na Pedra do Solstício do Verão, aldeia de Chãs, Foz Côa, 21 de Junho http://www.vida-e-tempos.com/2015/05/natalia-correia-o-livro-dos-mortos.html
Biografia de António Vilar
"Ator português, de seu nome completo
António Vilar Justiniano dos Santos, nascido a 13 de outubro de 1912, em
Lisboa, e falecido em Madrid a 16 de agosto de 1995. Foi um dos atores mais
famosos do seu tempo, trabalhando tanto no país como no estrangeiro
(nomeadamente em Espanha, França, Itália, Argentina e Brasil). Nos anos 50,
tornou-se a par de Virgílio Teixeira, num dos atores nacionais com maior
projeção internacional. Com apenas 18 anos, tornou-se ator amador, até que foi
descoberto pelo realizador Leitão de Barros que o convidou para um pequeno
papel em A Severa (1931), o primeiro filme sonoro português.
Continuou a conciliar a sua carreira teatral com a cinematográfica, tendo
desempenhado pequenos papéis em Feitiço do Império (1940) e Pão
Nosso (1940). Mas o seu rosto só se tornou familiar do público português
com a sua prestação em O Pátio das Cantigas (1942), onde
desempenhou o papel do guitarrista Carlos Bonito e contracenou com Laura Alves,
António Silva, Vasco Santana e Ribeirinho. Gradualmente, tornou-se num dos
galãs mais requisitados do cinema nacional: foi Simão Botelho em Amor
de Perdição (1943), onde fez par romântico com Carmen
Dolores, e em Inês de Castro (1944) encarnou D. Pedro, o
Justiceiro. Personificou Luís Vaz de Camões em Camões (1946),
antes de assentar arraiais em Espanha, onde viveu até ao fim dos seus dias.
Entre 1946 e 1978, protagonizou perto de 40 filmes castelhanos, dos quais se
destacam La Mantilla de Beatriz (A Mantilha de Beatriz,
1946), Reina Santa (A Raínha Santa, 1947), Una
Mujer Cualquiera (1949), Don Juan (1950), Alba
de América (1951), El Redentor (1957), Muerte
Al Amanecer (1959), Comando de Asessinos (Fim-de-Semana
Com a Morte, 1967) e Disco Rojo (Sinal Vermelho,
1973). Nesse período, trabalhou também no Brasil, em Guarany (1948),
em Itália, onde protagonizou Santo Vermelho, 1973). Nesse período,
trabalhou também no Brasil, em Guarany (1948), em Itália, onde
protagonizou Santo Disonore (Honra e Sacrifício, 1949)
e Il Padrone Delle Ferriere (1959), regressou a Portugal para
encabeçar o elenco de O Primo Basílio (1959) de António Lopes
Ribeiro e filmou esporadicamente em França, participando ao lado de Brigitte
Bardot em La Femme et le Pantin (1959). O seu
último filme foi Estimado Señor Juez (1978). Nos anos
seguintes, perseguiu o sonho de produzir, realizar e protagonizar um épico
sobre Fernão de Magalhães, tendo gasto a sua fortuna pessoal na pré-produção do
filme, após as recusas de subsídios governamentais por parte de Portugal e de
Espanha. Para esse efeito, conseguiu construir uma réplica duma nau da frota de
Magalhães, que foi oferecida à Comissão Nacional dos Descobrimentos
Portugueses, após a sua morte.
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