
Eu sabia que, Vasco Graça
A primeira vez, que falei com
Vasco Graça Moura, e acerca da sua obra
poética, foi na qualidade de repórter da Rádio Comercial, quando ele ainda era administrador
da Imprensa Nacional - Casa da Moeda – A última vez que o vi esboçar um sorriso
à minha frente, foi justamente quando o fotografei ao lado da pintora Graça
Morais.

As fotos foram registadas, já quase no momento das despedidas da exposição intitulada “A Máscara e o Tempo”, que contara ainda com a presença de Júlio Pomar, inaugurada em Novembro de 2009, na Rua da Academia das Ciências, na galeria Rattom, na qual foi apresentado um conjunto de 42 trabalhos, que visavam mostrar "uma grande reflexão sobre o tempo longo e lento do campo" A Máscara e o Tempo'

Dizia a pintora transmontana, Graça Morais a propósito dessa sua mostra, que “As pessoas, quanto mais envelhecem, mais o tempo lhes parece veloz. E então ficam com medo de morrer. Um destes desenhos é a cabeça da minha mãe, que é uma pessoa que eu adoro (eu desenho muito a minha mãe). Fazer estes desenhos é uma forma de a agarrar, de a prender, de deixar um testemunho de uma pessoa que é natural que vá desaparecer daqui a uns tempos. A transformação daqueles rostos com tubérculos é o tempo que se nota nas marcas que deixa nas suas caras. Quando as pessoas envelhecem numa relação normal com o tempo, as caras das pessoas velhas já não são caras, são vegetais, estão cheias de experiência.in Graça Morais, pintora-perdiz ...
A
TRANSITORIEDADE E A TRANSFORMAÇÃO DA VIDA

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Embora não sendo um leitor das suas habituais crónicas no DN – não, não ia nesse aziago e truculento “cálice” , nem tão pouco na forma militante como se opunha ao acordo ortográfico, que chegou apelidar de perversão intolerável da língua portuguesa ou de O cadáver adiado – (pois sou dos que penso que as línguas evoluem e não podemos ficar no vagão da retaguarda nos 200 milhões de falantes dos nossos irmãos brasileiros), contudo, admirava-lhe o seu talento intelectual, a sua riquíssima e prolífera produção literária, expressa nos géneros mais nobres da língua portuguesa – Sem dúvida, ele terá sido um dos últimos puristas e dos mais apaixonados defensores da arte de bem escrever a sua língua materna – Só que, nem tanto ao mar nem tanto à terra, já que, como diria, Eugénio de Andrade -“ No mais fundo de ti, eu sei que traí, mãe. Tudo porque já não sou o menino adormecido no fundo dos teus olhos”

Bom, à parte esse exagero de inveterado defensor pela sua dama mais querida, que era a língua portuguesa cantada por Camões, há que reconhecer que foi um dos grandes vultos da literatura portuguesa», autor de uma vasta obra, distinguido com varridíssimos prémios literários, para além das mais altas condecorações portuguesas e estrangeiras. .
“Vasco Graça
Moura, um portuense como nós, tinha na voz, mas sobretudo na palavra, a
sinceridade, o sentimento e a profundidade quanto baste, para merecer que o
assinalemos neste local de letras, de palavras e que não queremos esquecido em
nenhum dia do ano. É a homenagem dos portuenses, à palavra de um portuense”, do
presidente da Câmara do Porto vieram depois. Rui Moreira, por ocasião da primeira Feira do Livro do Porto a
Vasco Graça Moura –Público.
SONETO DO AMOR E DA MORTE
quando eu morrer murmura esta canção
que escrevo para ti. quando eu morrer
fica junto de mim, não queiras ver
as aves pardas do anoitecer
a revoar na minha solidão.
quando eu morrer segura a minha mão,
põe os olhos nos meus se puder ser,
se inda neles a luz esmorecer,
e diz do nosso amor como se não
tivesse de acabar, sempre a doer,
sempre a doer de tanta perfeição
que ao deixar de bater-me o coração
fique por nós o teu inda a bater,
quando eu morrer segura a minha mão.
Vasco Graça Moura, in "Antologia dos Sessenta Anos"
que escrevo para ti. quando eu morrer
fica junto de mim, não queiras ver
as aves pardas do anoitecer
a revoar na minha solidão.
quando eu morrer segura a minha mão,
põe os olhos nos meus se puder ser,
se inda neles a luz esmorecer,
e diz do nosso amor como se não
tivesse de acabar, sempre a doer,
sempre a doer de tanta perfeição
que ao deixar de bater-me o coração
fique por nós o teu inda a bater,
quando eu morrer segura a minha mão.
Vasco Graça Moura, in "Antologia dos Sessenta Anos"
Notas biográficas

O advogado que
passou a escritor (e político)
Na altura,
apenas a poesia definia a sua expressão, com títulos como "Modo
mudando", estreia nas Letras, em 1962, a que se seguiram títulos como
"Semana inglesa" e "O mês de dezembro". Mas Vasco Graça
Moura era também o jurista, o gestor e o político.
Em 1974, após o
25 de Abril, aderiu ao Partido Popular Democrático, atual PSD, tendo assumido a
secretaria de Estado da Segurança Social do IV Governo Provisório, liderado por
Vasco Gonçalves. A experiência governativa duraria pouco mais de cinco meses,
de março a agosto de 1975, e não voltaria a repeti-la.
Antes, foi
diretor da RTP (1978), administrador da Imprensa Nacional-Casa da Moeda
(1979-1989), cuja política de edição literária dinamizou, foi presidente da
Comissão Executiva das Comemorações do Centenário de Fernando Pessoa (1988) e
da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses
(1988-1995), para a qual coordenou a revista Oceanos. – Excerto de o Expresso
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