Jorge Trabulo Marques - Jornalista C
(foto extraída da Net)
Carlos Botelho, de
seu nome completo, António Teixeira Basto Nunes Botelho, nasceu, em Lisboa, a
18 de Setembro de 1899 e faleceu a 18 de Agosto de 1982, um mês antes de
completar 83 anos – Autor de banda desenhada (BD), decorador, desenhador,
ilustrador, caricaturista e pintor – Indiscutivelmente, ainda hoje um dos
pintores portugueses mais cotados da atualidade.
Tive o prazer e a honra de o entrevistar. Recebeu-me por três vezes em sua casa: duas das quais, como repórter da Rádio Comercial e uma outra para o semanário Tal & Qual, no seguimento de uma série de registos, com várias personalidades, sobre “A Primeira Vez” – Sim, numa altura e, que falar do sexo, era também outro lado da revolução de Abril, uma forma de romper publicamente com velhos tabus – No tempo da outra “senhora” tudo se fazia mas a socapa. Qual era o jornal que se atrevia a entrevistar uma prostituta ou a defender a homossexualidade ou o aborto?.
Tive o prazer e a honra de o entrevistar. Recebeu-me por três vezes em sua casa: duas das quais, como repórter da Rádio Comercial e uma outra para o semanário Tal & Qual, no seguimento de uma série de registos, com várias personalidades, sobre “A Primeira Vez” – Sim, numa altura e, que falar do sexo, era também outro lado da revolução de Abril, uma forma de romper publicamente com velhos tabus – No tempo da outra “senhora” tudo se fazia mas a socapa. Qual era o jornal que se atrevia a entrevistar uma prostituta ou a defender a homossexualidade ou o aborto?.
Naturalmente que,
tratando-se de figuras públicas, as tais entrevistas criaram algum impacto. E
também alguma polémica, nomeadamente a de Afonso Moura Guedes, que
foi imediatamente zurzido pela folha de couve de Vera Lagoa, um pasquim que
ainda hoje assina por Diabo, levando Natália Correia, a vir em sua defesa,
através do Diário de Noticias
BOTEQUIM
DA NATÁLIA CORREIA - LOCAL DE CONVÍVIO E DE "CONSPIRAÇÃO"
Algumas
dessas entrevistas da minha atividade profissional, foram congeminadas
sob a inspiração de Natália Correia, nomeadamente as publicadas no Tal e Qual,
sobre "a primeira relação sexual" - A Graça Lobo; Afonso Moura
Guedes; Carlos Botelho; Raul Solnado; Ivone Silva; Narana Coissoró; Ary dos
Santos; Raul Calado; Simone de Oliveira; Vitorino de Almeida.
E à
própria Amália, até hoje ainda inédita, devido à fuga rocambolesca
de sua casa. Às tantas desistiu da entrevista, quis apanhar-me o
gravador e a cassete e eu tive que raspar-me, com ela e a Maluda a
correrem escadas abaixo até à rua atrás de mim e mais o Vicente, a irmã e duas
amigas. Só descansei quando apanhei um táxi. Mas a culpa também era dela,
porque, quando ali cheguei, a conversa já era picante. E nem ela nem ninguém
alterou a tónica dos episódios, nem sequer ela deu mostras de ter pressa.
Pelo contrário, diverti-me com as risadas, sentindo-me
perfeitamente integrado na tertúlia, como se fizesse parte das visitas
habituais da casa. Aliás, já ali havia estado por duas vezes, para a
entrevistar para a Rádio Comercial, e esta era a terceira. Pois admirava
muito a minha faceta de navegador solitário nas canoas pelo Golfo da Guiné. Mas
passemos à entrevista a Carlos Botelho, publicada no semanário Tal & Qual,
em 24-10-88
(atualização) Entrevista a Carlos Botelho a escassos meses da sua
morte -Finalmente pude encontrar no meu
arquivo de cassetes de áudio um dos registos, julgo que o único que passa a existir
na Internet
Carlos Botelho – “Insiste-se sempre! Porque
aprende-se sempre: até à última tela que eu farei na minha vida, eu estou aprender!
– Declarou-me no final da breve entrevista que me concedeu, em sua casa, a cinco meses antes da sua morte, a 18 de
Agosto de 1982, .ou seja, um mês antes de completar 83 anos. Ouvinte da rádio,
quando trabalhava pela manhã, confessou-me que gostava de ouvir o programa para
o qual eu fazia as habituais reportagens. Recebeu-me por três vezes em sua
casa. Sempre com uma com visível amabilidade, simplicidade e bom humor. Esta
última vez foi para lhe pedir umas palavrinhas sobre o nosso 3º aniversário.
CARLOS
BOTELHO - "FOI NO BAIRRO ALTO COM A MENINA "AMÉLIA DOS 20"
Felizmente,
os alemães perderam a guerra. Quando não, Carlos Botelho, consagrado pintor
português, com obras altamente cotadas no mercado, seria hoje, como ele
garante, «simples abat-jour de modesto candeeiro». Mas, os alemães perderam e o
homem de Berlim em Lisboa não pôde punir a ousadia de um artista que todas as
semanas crucificava Hitler no «Sempre Fixe» e fazia do Führer trinta por uma
linha, sempre que pegava no lápis.
Se os alemães tivessem
ganho a guerra, Carlos Botelho não teria ido a S. Francisco, em 1951,
envergonhar o fabuloso Salvador Dali, a quem deixou num modesto segundo lugar,
numa exposição internacional.
Bem: se eles tivessem
saído vencedores, Carlos Botelho não estaria possivelmente aqui, hoje, a falar
da sua ... vida amorosa, designadamente a sua «primeira vez”
"Como foi isso,
Carlos Botelho?
Carlos Botelho - ...
Aconteceu por volta dos meus 16 anos, quando eu ainda andava no liceu onde,
como é natural, os estudantes discutiam entre si essas coisas do sexo e das
mulheres. E, num belo dia de 1915, na Primavera - época em que a natureza
broteja -, um pequeno grupo do liceu decidiu organizar uma excursão à
prostituição estatizada do Bairro Alto. Eu era um dos excursionistas. Metemos
pela Rua da Glória, subimos aquelas ladeiras todas e fomos à procura de uma
menina conhecida pelo cognome de «Amélia
do 20”, moradora numa casa com este número e conhecidíssima em todo o Bairro Alto e… no liceu lisboeta
que eu frequentava.
Os rapazes do liceu
preferiam a “Amélia do 20”porque ela
morava numa casa discreta, num primeiro andar. Não dava muito nas vistas.
«T & Q» - Foi
agradável? C.B. - Com esta idade já hão me lembro muito bem dos pormenores.
Mas, agradável foi ... Ela era uma mulher muito experiente. Conhecia quase
todos os rapazes do liceu e já tinha estabelecido esquemas para tratar com
eles. De modo que aquilo pareceu-me natural, não fiquei encabulado. Ela
facilitava as coisas, mostrava-se simpática, enfim, sabia fazer o seu negócio.
Como eu não ia sozinho, aquilo até tinha uma certa piada. Enquanto dois ou três
dos meus colegas esperavam na salinha de estar, eu entrei no quarto, ela
ofereceu-me a cara e dei-lhe um
beijinho. Como ela estava despida, é lógico que eu me despisse também. Foi tudo
muito natural e ela estava fara de lidar com rapazes como eu, que a procuravam
para desbravar caminho ... Aos 16 anos não somos muito exigentes
(filosoficamente falando) e eu aceitei aquilo como coisa naturalíssima.
C.B. - Cinco escudos,
salvo erro.
«T & O» - Foi muito importante o sexo, ao
longo da sua vida?
C.B. - Levei uma
vida sexual normalíssima, sem extravagâncias. Sou mais voltado para o espírito
do que para a matéria e, quando olho para uma mulher, não vejo apenas, ou
sobretudo o sexo. É toda aquela beleza sublime! Tenho um respeito imenso pela
mulher
«Tal & Qual» -
Depois do casamento (aos 22 anos), teve aventuras extraconjugais?
C.B. - Respeitei
sempre a minha mulher. Penso que a parte espiritual do meu ser vencia os
desejos que, obviamente, toda a gente tem. E nem sequer chegava a haver litígio
entre as duas partes da questão, Quando, por exemplo, um mi feminino posava
para mim, lembrava-me sempre de que essa mulher estava na sua missão profissional.
C.B. - Não posso ser
mais feliz do que sou. Vou a caminho dos 60 anos de casamento, sempre dom a
mesma mulher, já tenho um filho com 58 anos, tenho netos e bisnetos. Adoro-os a
todos.
«T & Q» - O casamento
enquanto instituição ... Concorda?
C.B. - Deve manter-se.
«T & O» - Literatura e
filmes pornográficos... Aprecia? ·
C.B. - Nunca· me puxou
para aí... Os artistas não precisam dessas coisas. Conseguem imaginá-las
facilmente... Quanto aos filmes, vi um e ... saí a meio. Era um bocadinho
nojento. Acho que devemos actuar dentro das regras da Natureza que nos criou,
com a força que ela nos deu. Mais nada.
«FICO A RIR…»
«C.B.» - É uma cidade
feminina… Mas é mais uma menina de 15 anos de que uma mulher de 40
«Tal & Qual» A propósito dos quadros: há notícias quadros
seus a ser vendidos, em leilões, por
dois mil e três mil contos ...
C.B. - Fico a rir. É
possível que seja verdade, parque nos
leilões as coisas passam-se doutra
maneira; têm outro significado. Ouço normalmente essas notícias através dos
vizinhos ... Nos jornais que eu leio nunca vi essas notícias... Penso e alguns
dos meus quadros são bem pagos, mas, estou bem informado, o que rendeu mais não
ultrapassou os 500 ou 600 contos, no leilão, na «Dinastia». Mas como lhe digo
não tenho sentido comercial nenhum Prefiro ter amigos a –vendê-los. Se eu
pintasse um quadro a pensar vendê-lo estragava-o ... De resto, Van Gogh não
conseguiu vender nenhum dos seus quadros excepto um ao próprio irmã que teve pena do grande
mestre quadros: há notícias quadros seus a ser vendidos, em leilões, por
dois mil e três mil contos ...
Portanto, falar em dois
mil contos para um quadro meu é capaz de ser um pouco empolado… Também é
possível que tenha acontecido em leilões
Os «marnarchants- compram-me determinado
quadro por tantos contos e resto é lá com eles ... E el não se perdem,
habitualmente.
«T & O» - Aos 82 anos
você continua multo activo?
C.B. - Quando não pinto ou não desenho, os dias
nunca mais acabam. Por tanto, pinto e desenho, desenho e pinto ...
ALGUNS DADOS BIOGRÁFICOS
ALGUNS DADOS BIOGRÁFICOS
"Como notável pintor que foi, participou em
diversas exposições e salões em Portugal e no exterior (Paris, Londres,
Veneza...), realçando-se que na Bienal de Arte Moderna de São Paulo (Brasil)
foi distinguido por duas vezes: na primeira edição com o Prémio Portugueses de
São Paulo e Rio e na terceira edição com uma Menção Honrosa. Carlos Botelho - infopédia
Filho
único de pais músicos, foi a música que dominou a infância de Carlos Botelho.
Inicia a aprendizagem do violino – instrumento que o irá acompanhar por toda a
vida –, pouco antes da morte do pai, em 1910. Nesse mesmo ano ingressa no Liceu
Pedro Nunes, onde faz amizade com Bento de Jesus Caraça e Dias Amado. Realiza
experiências plásticas autónomas em atividades extracurriculares e é no próprio
liceu que faz a sua primeira exposição individual (1918).
A
sua atividade desenvolveu-se ao longo de um período dilatado do século XX e
repartiu-se por uma multiplicidade de atividades. Nos anos de 1920 Botelho foi
um dos pioneiros da banda desenhada nacional, trabalhou em artes gráficas e no
desenho de humor; na década seguinte pertenceu à equipa de decoradores do SPN,
o que lhe deu oportunidade para viajar e tomar contacto com a dinâmica
artistica do seu tempo. A partir dessa altura desenvolveu uma obra plástica
autónoma que o destaca como uma das figuras maiores da 2ª geração de pintores
modernistas portugueses - Excerto Carlos Botelho –
Wikipédia,
Em 1939, realizou-se a Exposição Internacional
de Nova Iorque. Carlos Botelho, pintor e decorador dos pavilhões que
representam Portugal em inúmeras feiras internacionais, também esteve presente.
Para além do trabalho que ali o leva, visita a cidade. Assiste à comemoração
dos dez anos de actividade do MoMA. Porém, de tudo o que vê, o que mais
fascinará Botelho é a própria malha citadina. Com efeito, entre 1930 e 1941, o
tema preferencial do artista é a paisagem urbana. É nesses anos – que coincidem
com a fase em que o pintor mais viaja, e de que surgem resultados eloquentes
nas páginas do suplemento «Ecos
da Semana»– que ele se
dedica também à invenção de múltiplas faces de Lisboa. Carlos Botelho -
Centro de Arte Moderna
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