Guilherme de Castilho - retrato por Augusto Gomes anos 30


Licenciado em Ciências Históricas e Filosóficas pela Universidade de Coimbra,
ocupou o cargo de representante diplomático em diversos países - Pretória,
Copenhaga, Hong-Kong, Jacarta, Paris e, como embaixador, no Chile e na Áustria,
estas algumas das capitais por onde passou.
Uma vida de
30 anos ligada à diplomacia mas também repartida pela escrita – Sendo considerado
um dos mais notáveis ensaístas e críticos literários do século XX – Publicou Noções
Fundamentais de Psicologia (1942), consagrando-se desde então ao estudo e
crítica de vários autores portugueses – Nomeadamente, António Nobre, Raul
Brandão e Eça de Queirós. Colaborador de quase todas as páginas literárias dos
jornais de Lisboa e do Porto, foi homenageado com diversas condecorações, de
entre as quais se destacam a Grã-Cruz da Ordem do Mérito da Áustria e a Comenda
da Ordem do Mérito Civil de França.
"Alberto Caeiro - Ensaio de interpretação
poética" - primeiro estudo
vindo a lume sobre este heterónimo de Fernando Pessoa, evidenciando, desde logo,
nas palavras de Gaspar Simões, “um grande espírito crítico"


Personalidade extremamente culta -"Ensaísta e crítico de grande nível
intelectual, a sua viva sensibilidade, a serena lucidez e a claridade de
escrita fizeram de Guilherme de Castilho um dos mais notáveis ensaístas deste
século" (Álvaro Salema, revista Colóquio, nº 102) - Por esse facto,
a ele se deve um trabalho fundamental para o conhecimento da personalidade e da
epistolografia do autor do “Só” (dois volumes: António Nobre - a obra e o
homem; Vida e Obra de António Nobre), bem como um volumoso estudo, intitulado
Vida e Obra de Raul Brandão – Amigo de Jorge de Sena, de cujo
relacionamento a Imprensa Nacional- Casa da Moeda, publicaria um livro sobre a
troca de correspondência entre ambos.
CENTENÁRIO DO SEU NASCIMENTO – ASSINALADO EM
LISBOA E EM FOZ CÔA


ACONTECIMENTO MARCANTE - Exposição do Centenário (1912-2012) 20 Out. a 30
Nov. de 2012
O município fozcoense, presidido pelo Eng. Gustavo
Duarte, tem pautado o exercício do seu mandato, entre outras ações, pela vertente cultural – Mas em
acontecimentos que despertam o interesse dos munícipes e de quem nos visita. É o caso da exposição
da vida e obra de Guilherme de Castilho,
um ilustre escritor português, nascido
em Vila Nova de Foz Côa, no
coração da nossa cidade. A inauguração do importante evento, contou com a
presença dos filhos, Paulo e Manuel
Castilho, esposas e primos, que chegaram de véspera para melhor reverem a terra de muitos dos seus afetos,
bem como das principais entidades da Câmara Municipal e outras personalidade ––
Numa tarde de um sábado, solarengo e nostálgico de Outono, marcado ainda por
outras iniciativas de grande interesse regional e nacional
A anteceder a abertura da exposição, houve
discursos e momentos de poesia – Depois do Presidente, Eng. Gustavo Duarte, ter
recordado a biografia do homenageado, usou da palavra o escritor Paulo
Castilho, cujo discurso, transcrevemos:
"Sr. Presidente da Câmara Municipal de
Foz Côa, Sra. Vereadora da Cultura, Senhoras e Senhores, quero começar por
agradecer na pessoa do Sr. Presidente da Câmara esta iniciativa do município de
Foz Côa, que muito honra a memória do meu pai, bem como a sua família.
Percorrendo a exposição, fica-se impressionado não
só pela relevância do material exposto, pelo excelente critério adotado, como
também pela atmosfera que se soube criar: um ambiente simples e ao mesmo tempo
rigoroso, refletindo bem o
tipo de pessoa que era Guilherme de Castilho.
Mas
também em outras ocasiões. Lembro-me, por exemplo, que regressados de Hong Kong - onde o meu
pai, no desempenho da sua atividade como diplomata, tinha exercido o
cargo de Cônsul - entrámos em Portugal de automóvel pela fronteira de Vilar
Formoso e dirigimo-nos em primeiro lugar a Vila Nova de Foz Coa. Após seis anos
de ausência no estrangeiro, o meu pai quis começar por renovar os seus
contactos com as pessoas suas conhecidas na terra onde nasceu. Como diplomata,
Guilherme de Castilho viveu muitos anos no estrangeiro, não podendo deslocar-se
a Foz Côa com a frequência que desejava. Mas as recordações de juventude
ligadas à terra natal foram um dos elementos fortes na formação da sua
personalidade e da sua sensibilidade"
"Gostaria agora apenas de muito rapidamente dar uma
ideia de quem era Guilherme de Castilho. Começarei por dizer que Guilherme de
Castilho era um homem totalmente
dedicado às letras. Pertencia a um grupo de pessoas, o grupo que se formou à
volta da revista “Presença”, que lançou em Portugal o segundo modernismo, para
quem a ligação às artes era a coisa mais importante. Tratava-se de uma
geração que tinha como ideologia a ideia de que só através do espírito se tem
acesso à verdade sobre a vida e sobre o mundo. Era uma geração com um profundo desprezo pela vida mundana,
pela publicidade, pelo sucesso, valores que hoje em dia se tornaram dominantes.
Encontramos nesta exposição uma carta de José Régio em que surge uma
frase que resume este espírito: “mantenhamo-nos nós trabalhando, os que não
consentimos em nos sacrificarmos a esse pobre, velho ídolo da ação imediata!”.
A carta foi escrita em 1936 e resume bem as convicções e a atitude daquele
grupo. Estou convencido que ficariam profundamente consternados se pudessem ver
como hoje em dia a arte está em grande parte transformada num bem de consumo,
em espetáculo, em mero entretenimento.
Em termos concretos, a aplicação destes princípios
teve como resultado uma obra caracterizada pelo rigor e profundidade da análise
e pela clareza e elegância da escrita, expressas numa multiplicidade de ensaios
e nas biografias de António Nobre e Raúl Brandão.
Para
transmitir uma ideia da personalidade do meu pai a quem não o conheceu eu diria
que era uma pessoa extremamente discreta, que nunca alardeava os seus
conhecimentos. Não era, contudo, um homem de temperamento austero, embora
também não fosse dado à emoção fácil ou ao sentimentalismo. Era uma pessoa muito
afável e conquistava facilmente
e sem nenhum esforço a estima e a amizade de quem o contactava.
Sem dúvida, belos exemplos de vidas que, Guilherme
de Castilho e Zulmira Pires de Lima
Castilho, souberam transmitir ao seus
filhos, recordados por Paulo Castilho, que, a referida mostra, ali pode também documentar e que vale a pena
visitar . Nessa mesma tarde, a exposição foi ainda visitada por António
Gouveia, que nos falou da estreita relação que seu pai teve - e
também ele – com o General
Albertino Margarido, primo direito e
sobrinho de Cândida Margarido. E, ainda, com Alberto Teixeira Margarido, avô de Guilherme de Castilho - O General Albertino Margarido teve duas
filhas: Maria Elisa e Maria Manuela., segundo nos disse Paulo Castilho.
O DIPLOMATA E ESCRITOR


(Jorge de Sena e Guilherme de Castillho)

Amizade e correspondência com Jorge
de Sena
Terminado o curso, Guilherme
Castilho, desde logo pretende seguir a carreira diplomática, o que não
consegue, dedicando-se ao ensino, tendo leccionado num liceu do Porto, ao mesmo
tempo que prossegue uma colaboração nas páginas literárias de diversos diários
de Lisboa e Porto, nomeadamente, na Revista de Portugal, Mundo Literário e Sara
Nova, entre outras.

Em 1937, sai o
seu primeiro livro de tema filosófico, Bergson – ensaio de interpretação –
título que, de certo modo, retoma o do trabalho que dedicou ao autor de “O guardador de rebanhos” – É no Porto, por essa altura, que conhece o estudante de engenharia Jorge
de Sena, de quem ficaria amigo e com o qual, durante mais de um quarto de
século trocaria correspondência. Também nessa época Guilherme Castilho começará
a dedicar-se a uma outra actividade que esporadicamente o ocupará: a tradução
de obras de qualidade. – Em 1941 Guilherme casa-se com Zulmira Pires de Lima, a
futura escritora Marta de Lima, prémio revelação da SPE. Em 1942, publica, por
encomenda da Livrara Tavares Martins, “Noções Elementares de Psicologia”.
(...) Por aquela época Guilherme
Castilho faz também alguns trabalhos para
a Portugal Editora, então dirigida por Gaspar Simões, e selecciona, prefacia e
anota, “Os Melhores Contos Portugueses”. Em 1945 dirige, ainda no Porto, o
suplemento literário do diário “A Tarde”, para o qual solicita a colaboração de
Jorge Sena, entre outros, e em 1947 publica, nas Perspectivas da Literatura
Portuguesa do Séc.XX, um estudo sobre Júlio Lourenço Pinto. Mas, já por essa
altura a sua paixão e o seu principal tema de interesse era António Nobre, tendo publicado , em 1950,
um estudo/biografia(reeditada em 1968)que ficou a constituir uma obra
fundamental sobre o poeta e que revela a
sua probidade e capacidade de investigador ensaísta. Em 1969 Guilherme Castilho
regressa a Nobre, com o livro que lhe dedica na colecção “A Obra e o Homem, da
Arcádia (o qual é reeditado em 1977),e em 1967 dá a lume a Correspondência de
António Nobre, que organiza, prefacia e anota.
A vida de Guilherme Castilho conhecera, entretanto,
uma mudança profunda, quase no termos dos anos 40, mais precisamente em 1948:
ele consegue, enfim, entrar na carreira diplomática. E, assim, já com dois
filhos – um deles, Paulo de Castilho, que virá a ser também escritor,
“revelado” com o prémio Diário de Notícias”,. Em 1984 -, parte para o seu
primeiro posto diplomático, em Pretória, onde se mantém até finais de 51. Passa
depois por Copenhaga, de 53 a 58 está em Hong-Kong, de 61 a 65 é conselheiro da
Embaixada em Paris – e, além de mais, dá lições sobre literatura portuguesa em
Universidades, como a Sorbone, e em outras instituições culturais.
.Reportagem de Jorge Trabulo Marques - Jornalista profissional
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