Jorge Trabulo Marques
A morte é sempre assim:: - Avara e traiçoeira, vil e misteriosa,
madrasta e cobiçosa! - Não avisa, nem diz o dia,
sequer o momento ou tão pouco a ímpia hora!
Mas, faz das suas, sempre que vem encapotada,
solitária, parda e sombria!
Faz como agora: leva a vida
e deixa atrás de si o luto áspero que angustia!
- A revolta impotente de quem sente a dor sofrida
de familiares ou amigos. Afinal, perdidos
de forma tão vilmente estranha!
Tão angustiosamente recebida!
Eu, humilde navegante e aventureiro,
em viagens sob azuis de além mar,
e em águas erguidas em revolta,
ou em podres calmarias de inquietar,
aqui vos evoco, aqui vos recordo,
como quem conhece a ânsia da partida
e, depois, em noite infinda, em noite morta,
apenas tem por companhia céu e mar
em negro mar de véu a tristeza infinda,
Eu, que, um dia, algures na imensidão do Golfo da Guiné
cheguei a experimentar o pesado negro véu da aflição,
o sufoco da vertigem do tropel assombroso das escuras águas,
quando, em plena noite alta, solitária e vazia,
caía da minha frágil canoa, surpreendido,
não pela maré mas rendido ao sono e cansaço,
abandonando o tosco remo, dormente e desamparado
envolvendo-me de seguida no mais confuso remoinho das águas!
NAVEGANTE E NÁUFRAGO DE TRÊS AVENTURAS SOLITÁRIAS EM PIROGA NO GOLFO DA GUINÉ - - De S. Tomé ao Principe 3 dias; de S. Tomé à Nigéria 13 - A última de Ano Bom Bioko 38 dias
Desembarquei, em Dez, de 1975, de bolsos vazios, depois de ter sido libertado da cadeia da morte - prisão Blak Beach, Guiné Equatorial e transportado num voo gratuito da IBÉRIA, de Malabo a Madrid. Depois dter sido encarcerado numa terrível cela, por suspeita de espionagem, quando acostei naquela ilha, após 38 dramáticos dias à deriva numa piroga – Voltei lá em Julho de 2017, também num voo da IBÉRIA
Agora para agradecer a quem salvou da forca e me libertou- O então comandante das Forças Armadas, Teodoro Obiang, atual Presidente, que, após ter sido levado à sua presença, decidiu libertar-me, acreditando numa mensagem de STP ao Povo do Brasil, cuja travessia pela antiga rota da escrvatura pretendia recordar, contraiando as ordens de execução do seu tio, o então tenebroso Francisco Macias - Que, quatro anos depois, o sobrinho haveria de afastar através do chamado Golpe da Liberdade de 3 de Agosto de 1979
Sim, a perda de vidas, sejam engolidas pelo mar ou por chuvas diluvianas, é sempre uma tragédia que não deixa de impressionar, seja quem for - Na memória coletiva pairam muitos mistérios e assombrados fantasmas sobe a vastidão e a violência do mar e mesmo das tempestades que devastam em terra, tudo por onde passam - Especialmente, para quem viveu de perto esse sufoco ou naufragou como eu ao longo de 38 dias e noites a fio.
Por isso mesmo, nesta hora dolorosa angustiante e de lágrimas, vivida por familiares e amigos - não apenas pela perda de mais das duas centenas de vitimas, já contabilizadas, em consequência das cheias em vários territórios espanhóis mas também pela incerteza de se poderem resgatar ao menos os seus corpos, decidi dedicar esta postagem, com alguns versos, uns escritos agora (com o pensamento mergulhado na aflição e na dor de quem sente de perto essa tragédia), outros, que fui buscar ao baú da minha odisseia de antigo náufrago
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