A AVIONETA NÃO SE DESPENHOU POR MERA FALHA TÉCNICA DOS MOTORES - Mas porque alguém colocara, num dos pontos vulneráveis da mesma, um perigoso engenho – O alvo principal era Soares Carneiro, esta a minha convicção - Baseada também no que pude apurar junto de uns principais suspeitos.
REGISTO DE ENTREVISTA NO VIDEO SEGUINTE QUE TAMBÉM NOS FAZ REFLECTIR
Manuel Geraldo |
Não me enganei - Alertava eu em Nov de 2009 PLANETA TERRA EM PERIGO - INVERNOS MAIS GÉLIDOS - VERÕES MAIS SECOS E TÓRRIDOS – Grande é a ameaça que paira sobre o nosso planeta - https://templosdosol-chas-fozcoa.blogspot.com/2009/11/planeta-terra-em-perigo-invernos-mais.html
“Francisco Sá Carneiro, cresceu no seio de uma família da alta burguesia. Aos 22 anos concluiu o curso de Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e principiou a sua carreira profissional como advogado. Católico praticante, frequentou os círculos mais progressistas da Igreja. Foi aqui que começou a defender publicamente a transformação do regime numa democracia parlamentar.”
NÃO CONHECEU O EXÍLIO – Mas chegou a ser uma das vozes mais incómodas e discordantes do regime Marcelista
Recordar aqui o seu nome - é prestar a minha singela homenagem a uma das mais notáveis referências da nossa democracia, antes e após o 25 de Abril. Nunca pertenci ao seu partido mas admirei- o. Pela sua sensibilidade, pela sua persistência e por ser um homem bom, amável e culto. Como cidadão português, reconheço que o seu nome é incontornável na historiografia dos democratas ilustres do meu país.
Recordo o que escrevi e aqui transcrevo em 10 de Maio de 2009 https://templosdosol-chas-fozcoa.blogspot.com/2009/05/francisco-sa-carneiro-como-antevi-sua.html
A bomba era destinada a Soares Carneiro, meu antigo comandante dos Comandos, natural de Foz Côa - porque se meteu na cabeça camaleónica de alguém, que sendo ele eliminado, poderia vir a ser uma segunda escolha - Só que, à última hora, quem tomou o seu lugar no avião foi Sá Carneiro - Até porque, segundo me declarou, um tal Sô Zé, em Portugal é mais fácil usar uma bomba de que dar um tiro.
Estava-se
a três dias das segundas eleições presidenciais portuguesas após o 25
de Abril de 1974 previstas para 7 de Dezembro de 1980. O presidente em
exercício de funções, Ramalho Eanes, contava com o apoio da maior parte dos
socialistas (apesar da objeção do seu secretário-geral, Mário Soares), bem como
dos comunistas, cujo candidato desistiu da corrida na véspera das eleições em
seu favor. Também o PCTP-MRPP acabaria por dar o seu apoio
incondicional ao general Eanes. O ambiente era de tensão no seio da AD, porque
as sondagens davam uma vitória esmagadora a Ramalho Eanes, o que, aliás,
viria a confirmar-se com 55,9 por cento (3 262 520 votos), tendo Soares
Carneiro, se ficado pelos 39,8 por cento (2 325 481 votos)
SOARES CARNEIRO - DIRIGIU O CENTRO DE
INSTRUÇÃO DE COMANDOS, EM LUANDA – Foi meu comandante - Era um
operacional, aliás, mais um gestor militar de que um militar para o
combate - Ainda por cima, com mentalidade salazarista
Penso que o General Soares Carneiro não merecia uma tal punição: de um momento para o outro ficar na ponta da baioneta. Safou-se do pior mas por um golpe de sorte
Não partilhava das suas ideias políticas, nem era e nem sou ainda hoje um militarista. Fiz a tropa porque fui obrigado. Porém, como meu Comandante do Centro de Instrução de Comandos, em Luanda, onde o conheci (quando ali frequentei o 6º curso de comandos - após conclusão do curso de sargentos milicianos, em Nova Lisboa), sempre me pareceu um homem de coragem, inteligente, cordato e um excelente oficial.
Ele não devia ter-se metido numa tal alhada. Tinha obrigação de saber que, um operacional do mato, não estava talhado para ter sucesso na guerra partidária urbana e que, com o processo democrático em curso, o lugar dos militares era nos quartéis.
Além disso, o seu ideário, julgo que estaria mais voltado para o antigamente de que para o futuro. Ramalho Eanes não seguiu a carreira militar: teve mais sorte mas também, politicamente, foi mais cauteloso e soube ver mais longe
De seu nome completo António da Silva Osório Soares Carneiro, nasceu no dia 25 de janeiro de janeiro de 1928, em Custóias, concelho de . Vila Nova de Foz Côa. Faleceu no dia 28 de janeiro de 2014. Lisboa. Foi Secretário-Geral do Governo-Geral de Angola aquando do 25 de Abril. Soares Carneiro ficou a exercer interinamente o governo de Angola em Maio de 1974 até à nomeação do novo Alto Comissário e Governador-Geral, Joaquim Franco Pinheiro, pelo Conselho da Revolução. Foi candidato presidencial nas eleições presidenciais de 1980, com o apoio da Aliança Democrática, tendo perdido com cerca de 40% dos votos.
Penso que o General Soares Carneiro também não merecia uma tal punição: de um momento para o outro ficar na ponta da baioneta. Safou-se do pior mas por um golpe de sorte
Exprimo-me, não tanto na qualidade de analista mas sobretudo como espiritualista e numa perspetiva intuitiva e mediúnica. Recuso-me porém a apontar seja quem for. Até porque a mediunidade não é o reflexo de uma vontade determinada ou de uma visão absolutamente certa e infalível: é uma propensão, é uma faculdade, mas falível como qualquer outra. Mas é muito importante.
A minha aldeia com as giestas floridas |
Eu sou o chorão - Dos seis, só dois: eu e o do colo |
Já lá vão uns bons anos, sobre o brutal acidente em que, Francisco Sá Carneiro, perdeu a vida. Mas a imagem política e humana, o inconfundível carisma da sua personalidade - mais de que uma memória no sentimento colectivo das gerações que então o conheceram - é notório e público que continua muito presente e é já uma legenda!
A TRÊS DIAS DA SUA MORTE – Vi em
sonho, a figura de Francisco Sá Carneiro, num aeroporto transformado num imenso
braseiro de chamas a fumegar e arder!
Na noite de Domingo para Segunda-feira, ou seja do dia 31 de Novembro para dia 1º de Dezembro, de 1980, a dada altura da noite (já não me recordo a que horas despertei por via desse agitado sonho), vi um avião arder num certo aeroporto que não reconheci. E no meio das chamas a nítida figura que me parecia a imagem de Francisco Sá Carneiro!...Foi tal a vidência que, quando retomei o estado normal e acordei, estava envolvido em suores e reconhecia que estivera a chorar - Mas porquê, ter-se antecipado em mim, tão horrível visão?!… - É a pergunta que ainda hoje coloco a mim próprio.
REVELAÇÃO FEITA NA CABINE DE UM PROGRAMA DE RÁDIO..
No dia seguinte, descrevi o dito “sonho” a um conhecido astrólogo da nossa
praça, que fazia leituras astrológicas num programa da Rádio Comercial, ambos
colaborávamos - mas em áreas muito distintas. Mal acabara de chegar à cabine e,
aproveitando uma curta pausa em que rodava um disco na mesa de locução, comecei
por lhe confessar o meu desabafo, nestes termos:
“Imagine, ó Prof. Rakar.!...Sabe com quem sonhei esta noite?! ... Pois,
olhe foi com Sá Carneiro, o Presidente do seu Partido!!... Coitado do
homem!...- Vi-o num aeroporto a arder!! Acordei a chorar, horrorizado!!...Que
acha?!…
Porém, pese o dramatismo do meu relato, notei que o conhecido astrólogo (um dos pioneiros na leitura da carta astrológica num órgão da C.S.), estava mais interessado em ler o texto que trazia na mão, em fazer as suas previsões astrológicas para cada um dos signos do Zodíaco nos restantes dias da semana, de que prestar atenção aos meus sonhos. Estava mais ocupado em debitar os seus palpites ( no seu estilo, “professorado, embora conduzido em tom divertido e solto pelo meu bom amigo e colega locutor e produtor do programa, Luis Pereira de Sousa, que ia brincando com as suas especulações astrais), do que propriamente querer servir de tradutor de oráculos
A CONFIRMAÇÃO DE QUE O SONHO ERA AFINAL UMA MÁ NOTÍCIA ANTECIPADA
Infelizmente, não se tratara de um sonho vulgar mas da antecipação
premonitória de uma trágica notícia, que acabaria por ocorrer
naquela mesma semana – Pois, na Quinta-Feira, à noite, quando me
encontrava na Pastelaria Colonial, algo ali se faz soar de forma insólita e
inesperada! – Pelos vistos, ainda não era a notícia confirmada, no entanto,
a mensagem que ali soava, já trazia consigo a gravidade bastante para me deixar
arrepiado, estupefacto! - A pastelaria, hoje já não existe; situava-se, então,
na Av. Almirante Reis, junto a um dos acessos do metro dos Anjos.
Por uns instantes, fiquei incrédulo,
suspenso, numa espécie de instantânea reflexão, num rapidíssimo introspectivo
mal estar. Pois, nem queria acreditar que aquele sonho, batia certo, e ,
subitamente, se transformasse no prenúncio de uma horrível tragédia!… Meu
Deus!... - Exclamava, bem no fundo de mim próprio. Sem todavia exteriorizar uma
palavra. Conquanto, este género de visões ou sonhos premonitórios, já não me
fossem completamente desconhecidos.Pois bem: não é que, ao aproximar-me do
balcão para tomar uma bica, alguém entra pelo café a dentro, meio atormentado,
com ar de caso, como se tivesse rebentado uma segunda revolução, dizendo, bem
alto, para que toda gente o ouvisse: “ Hei! pessoal!! Caiu um avião no
aeroporto! Morreram uns quantos políticos!!... Isto anda tudo maluco!"
Não acrescentou mais nada - conforme ali chegava, assim partia - Mais parecendo
um mensageiro vindo das brumas do além...
Acto contínuo - e após os escassos segundos - que foram todavia os suficientes para que a minha mente pudesse discorrer muita coisa -, voltando-me, então, para o gerente do referido café, de quem era amigo, que estava ali mesmo à minha frente, disse-lhe, sem a menor hesitação, conquanto ainda de concreto, nada soubesse “ Sr. Mendes! Foi Sá Carneiro que morreu!! Acredite!.. Foi Sá Carneiro!!. Tenho a certeza!... Pode crer, Sr. Mendes!...Boa Noite!… Tenho de ir pegar no gravador” Mal pronunciei estas palavras, depressa me dirigi à estação de rádio onde trabalhava para colaborar no que fosse preciso. Mas, nessa altura, já outros colegas estavam junto aos escombros, no local da tragédia, a fazer a reportagem.
A MEDIUNIDADE É UMA GRANDE ARMA E O ESPÍRITO DE SÁ CARNEIRO - Haverá, com
certeza, de contribuir para o apuramento da verdade de quem o matou, a menos
que aqueles que herdaram o seu legado, não sejam dignos da sua - ELE NÃO
FOI SANTO NENHUM MAS UMA MENTE ESCLARECIDA E BRILHANTE!
Acredito no facto de que, o próprio espírito de Sá Carneiro, embora estando no lado de lá, para além das chamadas fronteiras do além, não deixará todavia de seguir, atento, a abjecta fraqueza humana, os maus instintos de quem o forçou a abreviar o seu “percurso” terreno: a quem ainda teria tanto para dar no seio da sociedade dos terráqueos ou dos que, por obras valorosas, de todo “da lei da morte” ainda não se foram libertando...
MEDIUNIDADE - O dom que também se desenvolve
O que há de mais terrível para todos aqueles que, como eu, lendo o Livro do
Destino, é contemplar os sofrimentos que não se podem evitar porque fazem parte
da trama desse destino"
"Sabia perfeitamente que acabara de assistir a uma catástrofe que não
ocorrera ainda no mundo físico, se bem que, sim, já tivesse tido já lugar nos
outros dois Mundos em que nós, homens, vivemos. Nesses mundos, as coisas
acontecem antes de se terem materializado na Terra; e, quando já se
concretizaram aí, é já demasiado tarde para impedir a sua concretização
aqui."
Palavras, aparentemente ficcionadas, extraídas do livro O Homem dos Milagres, mas que eu subscrevo, em boa parte. O seu autor, Paulo Ariel, entre outros episódios relacionados com a cosmo-vidência, descreve e antecipa um desastre de aviação, nas canárias, em que pareceriam todos os turistas, à excepção do que chagara atrasado ao aeroporto e não lograra apanhar o avião da tragédia. (...) "as vítimas inspiraram-me tamanha piedade, que invoquei o meu Superior para lhe pedir a graça de me permitir partir para as Canárias, a fim de prevenir todos esses turistas ingleses, que apanhavam banhos de sol, para que não apanhassem o seu avião que, na verdade, seria o seu destino". (...) Sim, é claro que eu estava a par de tudo isso, mas encontrava-me desesperado por não poder fazer nada para evitar uma catástrofe tão medonha"
Com Vergilio Ferreira |
Também eu (muito antes da obra ser
editada), percecionei com o destino das vitimas do trágico acidente de
Camarate, sim, antes chegarem à pista de um aeroporto, calmas e confiantes de
que o avião que as transportaria, as levaria ao seu destino, vi o horrível
filme, uns dias antes, como se estivesse a decorrer àquela hora em que a minha
percepção extra-sensorial, me percepcionava a visão da horrível cena: sim,
vi, momentos depois, os seus corpos, completamente irreconhecíveis e
carbonizados, por entre destroços de metal e ainda algumas labaredas e fumos
chamejantes. Também eu vi perfeitamente que acabara de assistir a uma horrível
catástrofe. Porém, impotente, angustiado e de olhos toldados de lágrimas, vi
que já nada podia fazer: como se o infeliz e macabro acontecimento, já
estivesse escrito e programado, no "Livro do Destino".
"Não podemos modificar algo que aconteceu já nos Mundos Superiores.
Se o acontecimento não teve ainda lugar na Terra, é porque o fenómeno necessita
de mais tempo para se consolidar. É como o relâmpago e o trovão, que se registaram
em simultâneo, no céu, mas os humanos vêm primeiro o relâmpago e ouvem depois o
trovão, cuja velocidade de propagação é menor" Eu diria mais: É como se
o impacto de uma tragédia, em vez de se repercutir, apenas no próprio instante, nessa mesma hora e dia, sim, no futuro, na história do devir, ecoasse a um passado que ainda não fosse vivido e conhecido na vida terrena. ..
~Após quase três décadas volvidas, numa espécie de vertiginoso carrossel de
acontecimentos, nem sempre marcados pelas melhores esperanças e alegrias -
tanto a nível nacional como no panorama internacional, no entanto, nem por isso
ofuscaram o perfil do fundador do Partido Popular Democrata - Hoje PSD
Vi-o, algumas vezes, no botequim da Natália Correia mas não tive a honra de
falar pessoalmente com tão distinta figura dos alicerces da nossa
democracia. - Entrevistei, Adelino Palma Carlos e Costa Gomes, bem como
mutas outras figuras da vida nacional, nas suas residências mas não cheguei a
ter essa oportunidade de o entrevistar.
Conheci, de facto, algumas pessoas que privaram com Francisco Sá Carneiro. No entanto, a sua actividade era por demais pública para que passasse despercebida. Sou apenas uma das meras testemunhas de um certo período e de um certo tempo - do antes e do após a revolução dos cravos - em que ele foi um dos protagonistas marcantes na então cena política nacional.
Das tais figuras que pôs a vida ao serviço de uma causa e de um projecto em que acreditava, da forma mais intensa e apaixonada. Perdeu-a tragicamente no cumprimento de uma missão e de um sonho - E merecia ainda hoje ser um dos vivos - É também o que pensam aqueles que foram os seus mais directos adversários. Um dos quais é Mário Soares. Em declarações ao Expresso, por altura da passagem dos 10 anos sobre a morte de Sá Carneiro, expressou justamente, esse sentimento.
O então Presidente da República, ainda no exercício do seu primeiro
mandato, disse que só conheceu pessoalmente Francisco Sá Carneiro, depois do 25
de Abri, como colegas que foram no primeiro Governo Provisório saído da
revolução. Porém, reconheceu que foi sobretudo durante 6º Governo Provisório
que manteve contactos mais prolongados com ele e pôde melhor "conhecer e apreciar as
suas altas qualidades"
ELE MERECIA TER VIVIDO ESTA DÉCADA" - DISSE MÁRIO SOARES EM 1990
(..)"Francisco Sá Carneiro foi um homem de coragem e de luta, que não enjeitava
o risco das apostas difíceis, um líder carismático, idolatrado e odiado por
partidários e adversários, um político polémico que suscitou à sua volta
dedicações exemplares, simpatias, paixões, a par de incompreensões, injustiças
e mesmo ódios. Não deixou ninguém indiferente. Igual a si próprio, foi um homem
vertical, imprevisível nas suas reacções, directo, por vezes cortante, mas
sempre fiel a uma democracia multipartidária e ao que entendia ser, no seu
critério, o interesse nacional. Nos últimos anos adquiriu uma projecção de
verdadeiro homem de Estado, mantendo no Governo uma reserva a que o país em
relação a ele não estava habituado e mesmo um distanciamento que seguramente
bonificou a sua imagem.
Disse-me um dia, com uma presença que já na altura me impressionou, que não iria viver muito. Mas que estava decidido a viver intensamente. Assim aconteceu. Hoje, confrontados com o facto brutal e inesperado da sua morte, encontramo-nos subitamente, perante a evidência de um grande vazio político nesta democracia ainda segura que Francisco Sá Carneiro indiscutivelmente ajudou a construir e que marcou com um traço indelével da sua personalidade"
Francisco Sá Carneiro, não precisou de abandonar o país para manifestar os seus ideais de uma sociedade livre e plural (embora de cariz neo-liberal)mas nem por isso deixou de o fazer à sua maneira, integrando (em 1969) o restrito grupo de deputados (Balsemão, Miller Guerra, Mota Amaral), que, a chamada “Primavera Marcelista”, permitiu que, de certo modo e até certa altura (querendo dar ares de mudança na continuidade) umas poucas vozes pudessem destoar no alarido uniforme da grande “manada” que enfileirava as listas da Acção Nacional Popular (ANP), o partido único. Os tais “sábios e seguidores” que optavam sempre por tocar “na mesma tecla” ou de insistir na mais que estafada e demagógica cantilena do “orgulhosamente sós “, ideologia isolada do resto do mundo e condenada mais do que uma vez Assembleia das Nações Unidas - Sim, uns poucos comiam tudo e não deixavam nada...
É certo que não arrostou com o peso do exílio ou as masmorras da PIDE, como acontecera com Cunhal e Soares e muitos outros resistentes antifascistas(que tiveram a glória de serem recebidos com banhos de apoteótica multidão que os saudou e envolveu o seu regresso em festiva emoção e delírio ), no entanto, acabaria por ser das poucas vozes incómodas, nas bancadas e tribuna do hemiciclo de São Bento, extravasando, não raras vezes, os limites do “politicamente correto ou tolerável ” para com os esbirros de um estado opressivo e policial, logrando estabelecer algumas pontes de diálogo com os incondicionais apoiantes da ditadura(Salazarista), continuada por Marcelo Caetano, sucessor do “velho senhor de Santa Comba”, cujo caduco e retrógrado ideário teimava remar contra os ventos da liberdade dos povos, da evolução e do curso da História.
A dita “Primavera Marcelista” , foi, porém, sol de pouca dura - rapidamente se
eclipsou como que toldada por espessa nuvem que parecia jamais dissipar-se num
horizonte cinzento e carregado. Por algum tempo, na então Assembleia Nacional,
Sá Carneiro, corajosamente, ainda se debatera, tal como os seus companheiros,
na elaboração de um projecto de revisão da constituição, apresentado em 1970.
Porém, não tendo conseguido alcançar os objectivos para os quais se haviam
proposto, ambos acabariam por resignar ao cargo de deputado.
AMBIENTE DE CRISPAÇÃO - PROPÍCIO A TRAIÇÕES
Quem pretender fazer qualquer género de ilações sobre as duas teses em
confronto - se se tratou de um mero acidente (motivado por negligência na
manutenção de um avião que não era novo), ou de atentado, terá primeiro que
recordar o ambiente de crispação que, por essa altura, se instalou em torno do
candidato proposto pela AD - E que tornar-se-ia cada vez mais nítido à medida
que a derrota se antevia. Uns meses antes, Soares Carneiro, candidato da AD às
presidenciais, declara à imprensa que, se fosse eleito, inviabilizaria um
Governo PS/PCP ou qualquer outro que corresponda a "um acordo com
comunistas".
Por seu turno, “Freitas do Amaral, declara que, se Ramalho Eanes fosse reeleito, não aceitaria assumir quaisquer funções governamentais". Sá Carneiro, assume igualmente idêntica posição
DE SEBASTIÃO DESEJADO A GENERAL MAL-AMADO E ODIADO
Soares Carneiro, além de candidato presidencial, derrotado pelo General Eanes, foi também chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas durante o Governo presidido por Cavaco Silva
Como se depreende, quer o candidato (quer as principais figuras que
propuseram o seu nome e o apoiavam), haviam criado um certo ambiente
de rotura e de hostilidade com Eanes - Mas, por outro lado, cada dia lhes era
mais notório que não lhes restava outra alternativa na governação que
aceitá-lo.
Como descalçar a bota ou salvar a honra do convento? - Crescia aos olhos vistos o descontentamento nas hostes da AD, não faltando quem maldissesse a hora de ter proposto um candidato prestes a ser derrotado, que não galvanizava nem mesmo os sectores mais conservadores do seu eleitorado. E, por isso, para não sofrer com tal humilhação, o desejasse ver a milhas de distância e rapidamente substituído por um nome que se pudesse opor ao homem de Alcains .
TRÊS PARTIDOS - UNIDOS POR UM ÚNICO OBJECTIVO – Conquistar uma maioria no Governo em S. Bento e um Presidente em Belém – Tiveram que se resignar apenas a uma das coisas - Mas a que preço!
E LÁ SE FOI O SONHO - Tal como a bola de sabão ou de cristal que se
desfaz após um sopro
De recordar que, a Aliança Democrática, constituída pelo PPD,CDS e PPM, havia renovado a maioria absoluta de deputados com 41,7% dos votos, dois meses antes, em 5 Outubro. de 1980. No entanto, e apesar de Ramalho Eanes, três dias depois, defender o mesmo modelo de sociedade da AD, afirmando que "o eleitorado das presidenciais é constituído por portugueses e não por partidos", mesmo assim, para o núcleo duro da AD, Ramalho Eanes, não era o candidato da sua confiança. A campanha para as presidenciais, - iniciada em 22 de Novembro -, é desde logo declarada, pelos apoiantes do candidato da direita, frontalmente contra o então Presidente da República. Os ataques e as críticas que lhe são deferidos sobem de tom à medida que se aproxima o acto eleitoral. Soares Carneiro é um candidato cinzento, apagado, muito conotado com a extrema direita, ainda por cima não é civil e não consegue entusiasmar o eleitorado da AD, que, recentemente, havia renovado a maioria absoluta nas legislativas. Instala-se a frustração e o desalento, num sector político cujo maior sonho " invocado pelo então primeiro-ministro, era uma maioria, um governo, um Presidente"
SE HOJE RESSCITASSE - Não reconheceria o partido que ajudou a fundar INIGUALÁVEL - UM NOME QUE SE PERPETUARÁ PARA A HISTÓRIA! Para Francisco Sá
Carneiro, não havia metas inatingíveis - Esqueceu-se, porém, que
poderiam existir outros espinhos pelos caminhos nas suas próprias hostes
É tal coisa: quem tudo quer, tudo perde! Mas Sá Carneiro não era dos
que facilmente estava disposto a perder! - E a encarar a derrota ao primeiro
obstáculo! Ele era um espírito muito combativo, inteligente e de muita
garra. De estatura aparentemente franzina, muitos até se admiravam onde é que
aquele homem ia buscar tanta determinação e tanta energia. E, paradoxalmente,
sempre tão amável e cordial - até nas relações com os seus adversários. Na sua
personalidade o espírito combativo não era indissociável do carácter afável e
humano. Viera para a política, imbuído de convicções firmes, sabia
perfeitamente o que queria e não se importava de arriscar para atingir as suas
metas - por mais que fossem as dificuldades!
Sá Carneiro, tenta a última cartada. Num derradeiro esforço para alterar a tendência de voto, decide ele próprio participar no comício do Porto. Possivelmente, acredita que Soares Carneiro, não iria ali acrescentar mais nada. E, à última hora, decide trocar bilhetes. Foi o seu azar e a sua pouca sorte - e também a de Adelino Amaro da Costa, vice-primeiro-ministro e ministro da defesa, bem como os restantes ocupantes que no fatídico voo perderam a vida: a bomba que estaria destinada ao General Soares Carneiro (que estava destinada: pois é minha convicção de que, gente - cuja imagem me aflora à mente - com rosto e com ambições políticas e que fora postergada, congeminara a traição), sim, essa ocorrência não prevista, salva-o de uma morte anunciada, não poupando, porém, as vítimas que os conspiradores não imaginavam.
Após um longo silêncio de três décadas, Freitas do Amaral, resolveu abrir a boca e prometeu revelações bombásticas, sobre o acidente de Camarate, que vitimou Francisco Sá Carneiro. E, a agora aí o temos, mobilizando os media a pretexto da publicação de um livro de sua autoria. Na altura, em que devia falar, parece ter-se fechado em copas. Limitou-se a ler um lacónico comunicado à RTP. Várias foram as personalidades que, além de chocadas e consternadas, desde logo levantaram a suspeição de atentado. Mas ele nunca mais ergueu a voz para questionar o caso. Pelo menos publicamente, não o fez. Acordou agora "Estão a encobrir algo sobre atentado de Camarate"
QUEM COMETEU O ATENTADO, AGIU POR INICIATIVA PRÓPRIA OU A PEDIDO DE UM MANDANTE SUPERIOR?... Naturalmente que não agiu sozinho – Porém, fosse qual fosse a origem criminosa, devia ter havido mais cuidado no recrutamento de certas pessoas e não parece ter havido - Claro que não me estou a referir a Sá Carneiro.
O atentado aconteceu e creio que não deverá ser entendido apenas como mera
cabala de ficção. Penso que, num dos partidos da AD, havia gente muito perigosa e a quem eram
confiadas altas missões de segurança e, até , como condutor e guarda-costas do
seu líder, que nunca deveria ter sido convidada para o despenho de tais
tarefas.
.NÃO QUERO APONTAR SEJA QUEM FOR - Exprimo-me, não tanto na qualidade de analista mas sobretudo como espiritualista e numa perspectiva intuitiva e mediúnica. Recuso-me porém a apontar seja quem for. Até porque a mediunidade não é o reflexo de uma vontade determinada ou de uma visão absolutamente certa e infalível: é uma propensão, é uma faculdade, mas falível como qualquer outra. Mas é muito importante.
Sim, e quem sou eu para fazer qualquer julgamento? O que eu posso dizer é
que, o peso da consciência - mesmo até nas consciências consideradas mais
frias, mais criminosas e empedernidas - é algo que, mais tarde ou mais cedo,
tende a que haja uma espécie de rebate. É uma espécie de poço artesiano: este
jorra, quando a perfuração o toca; o recalcamento também se desfaz por força de
uma força exterior à sua vontade. Vem de fora para dentro. Mercê, obviamente de
pressões que se comprimem.
Diz-se que o criminoso volta sempre ao local do crime - E porquê? É o primeiro sinal de rebate. Se é fraco, entrega-se logo a seguir; se é forte, retira-se e faz tudo para se disfarçar. Alguns (tal a é a imaginação do disfarce) que até se oferecem para colaborar com a justiça, mal esta imagina que o criminoso, que procuram, está à sua frente ou ao seu lado. Quantos casos, não terão assim acontecido
O arrependimento é algo que transcende o autor do acto ou da má acção
cometida. É próprio da natureza humana. Não há ninguém que seja absolutamente
imune a esse instinto de remissão ou impulso purificador. De uma maneira ou de
outra ele tende a manifestar-se. Uma má acção tem sempre o seu ricochete. O
reverso. Poderá não ser naquela altura, naquele momento, até poderá levar
vários anos ou mesmo até ocorrer com os pés à beira da cova, mas o coração tem
que expandir-se do recalcamento guardado. Que mais não seja num gesto que possa
honrar a memória da vítima.
Claro que, as reacções são as mais diversas: nem todos o fazem da mesma
maneira. Nos anais do mundo do crime há muitos exemplos. Uns, levam mais tempo,
outros menos; uns, passados a hora da loucura, incapazes de suportar o peso e,
mesmo antes de serem procurados ou que as autoridades sequer os identifiquem,
entregam-se-lhes, soçobram, fraquejam, não resistem. A sua cabeça torna-se um
vulcão e, de duas uma, senão vão logo a correr para abrir o seu coração
torturado, dão em loucos ou atentam contra a própria vida. Outros, porém, mais
cautelosos, mais frios, levam o seu tempo. Poderão não declarar: "fui
eu! Eu sou o culpado! Prendam-me! Sou um criminoso!" Porém, cada um e
a seu modo, lá chegará o dia em que abrirá a sua "arca"... acabará
por franquear as portas da sua mente e libertar-se-á do peso que o oprime e
apoquenta, da tortura que o persegue.
Eu tive experiências solitárias em plenas tempestades oceânicas, onde a morte
esteve continuamente muito perto de mim: explico isso noutro espaço; na
personagem do navegante dos mares e ao longo de mais de três dezenas de dias:
direi mesmo que a morte foi a minha mais fiel companheira de todos os instantes
e de todas as horas. Claro, um tal permanente estado de espírito, reforçou,
julgo eu, ainda mais as minhas faculdades mediúnicas - sim, certas faculdades.
Mas não vou agora discorrer sobre essa questão: levar-me-ia longe. Até porque,
tais faculdades, não surgem como e quando se quer. Acontecem - e até quando
menos se espera. Claro, também podem ser induzidas. É quase o mesmo que sucede
com o atleta que se prepara para a sua competição. Só pode alcançar a meta, o
prémio desejado, com esforço, persistência e determinação: com o medium é quase
algo semelhante. Não basta a propensão, é preciso que proporcione à mente, a
necessária tranquilidade e tensão. Dois estados aparentemente opostos e
contraditórios mas que, em espiritualidade, se conjugam perfeitamente - se
interligam numa fecunda harmonia. Sacrifico é igual a purificação ou remissão.
Sim, disse atrás que não queria apontar nomes, é verdade: somos um país de
brandos costumes; não temos uma tradição de violência. Mas também não é menos
verdade que, os anos que seguiram à revolução de Abri - conquanto esta não
fosse sangrenta - foram marcados por muita agitação e alguns actos de
banditismo e de terrorismo. Inclino-me para um destes actos. Mas prefiro não fazer
estripulações específicas e deixar que cada um faça o seu juízo.
As afirmações de “Sô Zé” não deverão ser entendidas como meras bocas,
destituídas de crédito: se ele diz que fabricou a bomba é porque lhe foge a
boca para o trombone ou pelo menos para aguma verdade - Sobretudo
quando a um trauma se vem juntar outro - Ele lá terá as
suas razões - Mas há que ter também em conta que, quem conta um
conto ou lhe retira uma virgula ou lhe acrescenta mais um ponto
Conheço-o pessoalmente: ele diz que andou nos comandos em Angola, eu também
lá andei (seis meses, após frequentado o curso de sargentos na ex-Nova Lisboa)
mas não foi aí que travei conversa com ele. A minha passagem, por lá,
felizmente, foi meteórica. Apenas o tempo para frequentar o curso e voltar à
minha linda Ilha. Mas não me deixou saudades algumas - Embora reconheça que,
muitos daqueles que ficaram por lá em missão de serviço, tenham adquirido
traumas que bastem! Se calhar foi o caso de José: a quem, a um trauma, ter-se-á
juntado outro, talvez ainda maior: o de Camarate. E que, para se aliviar de um
problema de consciência ou de outro tipo de perturbações que o tenham afectado,
haja decidido, duas décadas mais tarde , exprimir a verdade – Não direi a
verdade nua e crua, mas talvez a sua verdade; aquela que ele entendesse
efabular...
Porém, isso é uma questão a que só ele - José Esteves - poderá cabalmente responder e explicar. Ou então com ajuda do foro psiquiátrico - Não me parece que seja exclusivamente através de interrogatórios policiais, a que já fora submetido, ao que julgo por duas vezes - A última das quais na sequência das polémicas declarações à revista Focus - Desabafos, esses, que, pelos vistos, parecem não ter sido tomados a sério.
(texto atualizado) Diz Esteves - "Montei um engenho incendiário para pregar um susto. Foi entregue na Rua Augusta, numa loja, debaixo de um "puff". Já sabia que era para um individuo de tez escura". disse José Esteves à revista.
José Esteves assumiu a autoria do engenho para "pregar um susto", mas recusou ser considerado o assassino dos dois políticos portugueses e confessa que, ainda hoje, o caso Camarate lhe provoca sofrimento.
"EM PORTUGAL É MAIS FÁCIL PÔR UMA BOMBA A UM GAJO QUE LHE DAR UM TIRO NA TOLA"- Palavras que escutei de José Esteves, em meados dos anos 80
Portugal é realmente um país de tradições pacíficas, de costumes
brandos - Mas também onde alguns pouco, veem mais com os olhos
fechados de que muitos com os olhos abertos
- - Na imagem, ao lado, o Sr. Ferreira, que, em sua vida, pese a
fatalidade que lhe caiu ainda jovem , foi sempre um homem muito
clarividente e que nunca se resignou a sua sorte – Era um
verdadeiro artista: Poeta, músico, grande animador de festas e tertúlias, fora da sua terra
ou na pequena mercearia-taberna, de que era proprietário, homem do campo, para
onde se dirigia sozinho a cavalo no seu macho e o cão à frente no caminho. Aqui
lhe presto também a minha singela homenagem com esta fotografia que tive o
prazer de lhe registar no sótão de sua casa(ex-loja), partindo amêndoa - E sem
que um dedo fosse entalado. Era natural de Castelo melhor.
ALMOÇO COM JOSÉ ESTEVES NO CENTRO COMERCIAL DAS AMOREIRAS
Para assinalar o seu aniversário, José Esteves convidou um colega meu para
almoçar num restaurante do Centro Comercial das Amoreiras - Por sua vez, este,
antes de se dirigir para lá, perguntou-me se o queria acompanhar na referida
refeição: - ´"É pá! Vem daí! Vem comigo! Ele paga a despesa! Pode ser que
o tipo te dê alguma dica!"
A princípio hesitei mas logo a seguir acabei por aceitar. E lá fomos para o
que esperávamos ser um breve convívio gastronómico, com aquele que continuava a
ser apontado como o principal suspeito do Caso Camarate.
A ementa não teve nada de especial; ambos nos servimos dos pratos do dia,
foram refeições simples - Houve apenas algum exagero no álcool: mas apenas da
parte do José, que me pareceu mais solto e alegre; longe no entanto de ficar
alcoolizado. Por minha parte não precisei desses temperos: nem mesmo em dia de
aniversariante, optei pela tradicional garrafa de água.
Estive sempre sóbrio, mas atento e participante no agradável diálogo que se
estabelecera rapidamente entre todos. Quanto ao dito furo, esse, não obstante o
convívio se haver prolongado pela tarde adiante, estava longe de aparecer -
Mas, por meu lado, também não me atrevia a provocá-lo, apostando mais em deixar
correr o tempo, permitindo que o ambiente se distendesse e relaxasse o mais possível.
Não queria que, por minha iniciativa, resvalasse para algum incómodo
antagonismo e deitasse tudo a perder. Porém, o meu amigo Mário, de vez em quando
bem me piscava o olho, como quem diz:"atira-te"! Faz-lhe a pergunta!
Mas eu achava que devia ser ele a tomar a dianteira: até porque eu aparecia ali
por arrasto e ele é que era o convidado especial.
Só que a única expressão (algo enigmática e insólita) que lhe ouvimos
pronunciar foi simplesmente esta: "Meus amigos! Em Portugal é mais
fácil pôr uma bomba a gajo do que lhe dar um tiro na tola!"
Não acrescentou mais nada e também nenhum de nós insistiu no assunto ou
procurou ali decifrar a sua afirmação. Só mais tarde é que comentamos, entre os
dois, o que poderia significar aquela absurda frase. Mas depressa reconhecemos
que a chave ou a interpretação do enigma podia prestar-se a todo o género de
especulações, que ultrapassam o âmbito de qualquer um de nós. Mas lá que há
expressões, que nos fazem pensar, isso é bem verdade!
COMO CONHECI O SR. JOSÉ ESTEVES
Nos anos 80, o José Esteves era uma visita frequente da estação de rádio,
onde eu trabalhava e onde, de vez em quando, ali aparecia - creio que com o
intuito de dar nas vistas - Fazendo-se passar por artista plástico.
Sempre afável e risonho, extremamente comunicativo, simpático. Entretanto,
algum tempo depois, vim a saber que tinha aberto uma loja de venda de aves:
importação de papagaios. Uma actividade de que confessava gostar muito. E, pelo
que depreendi, o negócio até lhe estava a ir de vento em popa.
Anos mais tarde, face ao seu aparecimento nas televisões, verifiquei que a
sua personalidade e as suas convicções religiosas se haviam profundamente
alterado. Pelo menos era o que deixava transparecer através do seu visual e de
algumas das suas palavras. Mas isso não acontece só com ele: o tempo não é
imutável. A vida do ser humano muda ao longo dos anos; não apenas fisicamente
mas também no plano intelectual e mental. Não há ninguém que resista a essa
provação: seja benfazeja ou maléfica. Pessoalmente, também sinto
essa influência.
O Atentado Acidental
(...) Eu já tinha 29 anos quando o acidente se deu. - diz o autor do blogue - Con(tro)versas numa postagem publicada, em 4 de Dezembro de 2006
Lembro-me perfeitamente que, quer a Procuradoria-geral da República, quer
Freitas do Amaral, a exercer as funções de 1º Ministro, vieram poucos dias depois
esclarecer que não havia qualquer indício de atentado! Conclusão que se manteve
quando a polícia deu por terminada a investigação. Só que, uma coisa são as
conclusões a que se chega racionalmente, outra são as “conclusões” de quem já
tinha decidido, anteriormente, que se tratava de atentado. Confrontado com o
resultado da investigação, o lobby do atentado, virou-se para a Assembleia da
República, onde conseguiu que fosse nomeada uma comissão de inquérito ao “caso
Camarate”.
Sempre achei estas comissões um absurdo! A Assembleia da República tem 3
funções – fazer leis, aprovar o programa do governo e fiscalizar a sua acção.
Em nenhuma delas cabem comissões de inquérito a acidentes ou atentados, por
muito ilustres que sejam as vítimas! Além disso, os deputados não têm qualquer
formação especial para orientarem investigações nem os serviços da assembleia
estão para aí vocacionados. Então, qual é a lógica de criar estas comissões a
não ser para ter uma voz credível e que se possa manipular?
Apesar disso, a primeira comissão terminou sem conclusões claras. Mas os
radicais da tese do atentado não desarmaram: pouco tempo depois conseguiram que
fosse criada nova comissão. Que também não chegou a qualquer conclusão. E de
comissão em comissão já vamos na 9ª (creio).
A primeira comissão que deu como provado o atentado foi a 5ª. E também foi
a protagonista de uma das cenas mais ridículas de toda esta história:
compenetrados do seu papel de investigadores, os senhores deputados resolveram
ir visitar o armazém onde ainda estavam guardados os destroços do Cessna
acidentado. Já tinham passado muitos anos, já não havia muito cuidado para
impedir que os destroços fossem contaminados por outros objectos guardados no
mesmo armazém, etc, mas, mesmo assim, os senhores deputados lá foram. A meio da
visita, um dos senhores deputados pegou num destroço, ao acaso, e pediu para
que fosse examinado no laboratório. Então não é que esse destroço apresentou
vestígios de explosivos!!! Que se saiba foi o único. Nem comento!
(....)“QUEM É JOSÉ ESTEVES?”.
Foi comando em Angola, operacional de rede bombista após o 25 de Abril,
guarda-costas de Freitas do Amaral e bruxo (não, não estou a brincar). Mais
recentemente, aderiu ao islamismo e proclamou ligações à Al-quaida. Tão
credível personagem, foi presa no próprio dia pela polícia judiciária, não por
causa do caso Camarate mas porque era suspeito de ter colocado ossadas junto às
instalações da SIC, de, vestido de árabe, ter ameaçado fazer-se explodir dentro
das instalações da Procuradoria Geral da República e por ter colocado panfletos
com dizeres em árabe, junto de bebidas à venda em grandes superfícies! A própria
versão que José Esteves conta à Focus é mirabolante: Teria sido Amaro da Costa
a pedir-lhe para fabricar a bomba, destinada a ser colocada naquele aparelho no
dia anterior, para provocar um susto ao General Soares Carneiro que o usou numa
deslocação. Este estava em campanha para a Presidência da República apoiado
pela coligação PSD-CDS, mas estava a correr mal e Amaro da Costa esperava,
assim, inverter a tendência de voto. Francamente, apresentar isto como prova
envergonha qualquer um que não esteja desesperado.
Não tenho nenhum interesse especial na tese do acidente. Mas enquanto me
contarem histórias da carochinha deste calibre" - Conclui o autor de Con(tro)versas
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