Jorge Trabulo Marques - Jornalista -
O Município de V. N. de Foz Côa, tem vindo a desenvolver um programa cultural,
muito ativo e variado: desde exposições, concertos de música clássica e
moderna, de ópera e de visitas e passeios ecológicos e a sítios arqueológicos,
entre outras ações - Com eventos também partilhados
pelo Museu do Côa, tal como, no verão, a ciência sai à rua com diversas ações
organizadas pelo Museu do Côa - Centro Ciência Viva, em articulação com as
instituições científicas, autarquias, empresas, ONG e associações científicas.
Numa região, também muito
marcada pela desertificação e envelhecimento humano e uma vez , que, os grandes
investidores, têm olhado mais para o litoral, que para o chamado Portugal proundo, há realmente que tornar atrativa e menos penosa a
vida das populações,
Atente-se que, por
exemplo, nos Censos
2021, o distrito da Guarda, a que
pertence o concelho, perdeu cerca de 18
mil habitantes em dez anos - O município de Vila Nova
de Foz Côa, tem 6.304 pessoas, quando em 2011 apresentava 7.312 – Daí que se compreendam, que, pelo menos, as
várias gerações, desde as mais jovens às
mais idosas, não se sintam tão isoladas ou deprimidas, mas alegres, mais tranquilas
e confiantes do futuro
A FOZ CÔA, FORAM-LHE ATRIBUIDOS TRÊS FORAIS RÉGIOS
Qual dos três o mais importante? - Naturalmente que todos eles foram relevantes e contribuíram para tornar Foz Côa, na cidade que é hoje - Amândio César, poeta, ficcionista, ensaísta, crítico literário e jornalista, com raízes familiares a Foz Côa, da qual nutria profundos laços afetivos, chegou a dissertar sobre esta questão, na conferência que proferiu, em 24 de Abril de 1954, na Casa regional da Beira Douro, sobre Vila Nova de Foz Côa, da qual aqui vamos transcrever alguns excertos
Responde, Amândio César:
"No passado - os forais - que, como queria Alfredo Pimenta e aqui me parece aplicar-se bem, nem sempre é criador do regime municipal. é muitas vezes sancionador de situações pré-existentes» e, deste modo, se poderiam definir como «diplomas que contêm leis particulares por que os concelhos se regiam, e que visavam principalmente matéria tributária, ainda que às vezes sob a aparência de matéria criminal, e os privilégios da população». Que assim deve ter sido me parece, repilo, pois que D. Diniz concede a Fozcoa o seu primeiro foral em Portalegre, aos 21 de Maio de 1299 e o segundo, em Lisboa, aos 24 de Julho de 1314. Apesar disso só D. João 1 a elevará à categoria do Vila. Isso explica que, quer no Pelourinho, quer na Igreja, como já referi, se veja o emblema do primeiro soberano da segunda dinastia: a Flor de Liz.
O terceiro foral foi outorgado por D. Manuel l e datado de Lisboa aos 16 de Junho de 1514. Pode, pois, dizer-se, regularmente, que D. Diniz foi o fundador da futura Vila, remontando a história das liberdades concelhias, a muito longe: possuindo Vila Nova de Fozcoa três forais, dos quais dois antigos e o terceiro novo, datado depois da Carta Régia de 22 de Novembro de 1497, que constitue a reforma manuelina, baliza da distinção entre os primeiros e o segundo
ECORDAR FOZ CÔA ATRAVÉS DA MEMÓRIA DE AMÂNDIO CÉSAR
"Meus amigos: estamos numa província de sonho - a província da Beira-Douro que não se estuda nos compêndios, mas se tem e se conserva no coração; não é pecado (ao menos não será pecado grave ... ) falar-vos como se sonhasse em voz alta de uma terra que é possível não seja da forma que meus olhos a viram e minha curiosidade a estudou: Vila Nova de Foz Côa" - Amândio César - O poeta e escritor que amava profundamente Vila Nova de Foz Côa.
AMÂNDIO CÉSAR - Um César no domínio do léxico fozcoense" - escreveu Manuel Daniel
Manuel Daniel, advogado e distinta figura das letras e do municipalismo, grande admirador da vida e obra de Amândio César, tendo-lhe dedicado um extenso artigo no nº 3 da Revista CEPIHS, do Centro de Estudos de Promoção e Investigação Histórica e Social - de Trás-os-Montes, lançada por ocasião da cerimónia de homenagem à poeta Drª Maria Assunção Carqueja, esposa do Prof. Adriano Vasco Rodrigues, que posteriormente viria a falecer -
Alguns excertos desse interessante artigo, foram também editados no semanário OFOZCOENSE, com algumas passagens da citada conferência, que havia sido integralmente publicada numa separata do Boletim da Casa Regional do Douro, de cuja fonte também nos servimos...Referindo-se aos laços de Amândio César, a Vila Nova de Foz Côa, Manuel Daniel, começou por lembrar o homem o "Fozcoense nascido no Minho"
"Nasceu no coração do Minho, abrindo pela primeira vez os olhos para a paisagem edílica da Serra da Peneda, em Arcos de Valdevez. Para esta bela cidade tinha sido transferido o progenitor que, todavia, mantinha os seus interesses na região do Alto Douro, esse pedaço de oiro que se integra "no reino maravilhoso" que outro escritor e poeta celebrizou. Vila Nova de Foz Côa, uma assombrosa varanda sobre os montes reboredos e o peredo dito dos castelhanos, chamou-o ainda bébé de fralda, para ser primoroso entendor da indissocracia fozcoense, com o vigor de quem lhe descobrirá a alma para depois a fazer resplandecer, através da sua obra, como se aquela tivesse uma riqueza tão grande e tão guardada como sucede com o famoso pálio de Cidadelhe, concelho de Pinhel."
Amândio César: "Devo confessá-lo em voz alia: eu não sou de Fozcoa. Mas o sangue me prende lá, lá tem raízes o meu corpo e a minha alma. Não viesse de lá transferido o meu Pai, após qualquer acontecimento político, e eu por certo gostaria da terra por lá ler nascido e nada mais. Mas, ao contrário daqueles filhos de portugueses que nascidos no Brasil chamam galegos aos seus pro· genitores, foi por não ter nascido em Fozcoa que não gostei deIa: amei-a e amo-a - " - Palavas proferidas na referida conferência, na Casa Regional da Beira Douro,
em 24 de Abril de 1954
Amândio César, nacido em Arcos de Valdevez, em 12 de Julho de 1921, Amândio César, faleceu em 1987, aos 67 anos, em Lisboa, onde residia - Amava, apaixonadamente, estas terras, «a vilazinha de sonho, aquela que eu descobri com os olhos virgens da minha longínqua infância: que eu vivi na gárrula juventude que morreu há muito ; que me doeu no corpo e na alma de uma adolescência que não mais se repetirá .
Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, foi professor do ensino técnico. Um dos elementos do grupo Poesia Nova e o fundador da revista Quatro Ventos (Braga, 1954-1957). Como ensaísta e crítico literário, dedicou parte da sua atividade à divulgação das literaturas brasileira e africana de expressão portuguesa - Autor de uma vasta obra - poesia, contos, ensaio, antologia, geografia literária, reportagem.
Deu-me a honra e o prazer de me receber em sua casa, para uma breve entrevista à Rádio Comercial, embora, naquela altura, já se encontrasse bastante doente, tendo-o conhecido, pela primeira vez, em S. Tomé, aquando da visita do Almirante Américo Tomás, na mesma semana em que faleceria, Oliveira Salazar
O PASSADO
(…)"Da importância desta Vila, no seu passado, falam eloquentemente os dados que Pinho Leal nos dá, no Portugal Antigo e Moderno: «Em 1708 contava 60 fogos dentro dos muros do seu castelo e 500 nos arrabaldes - era abadia do padroado real - tinha Casa de Misericórdia, Hospital e 9 ermidas - feiras a 8 de Maio e 29 de Setembro - 1 ouvidor, 2 juízes ordinários, 1 dos órfãos com seu escrivão, 2 vereadores, 1 procurador do concelho, 1 escrivão da Câmara, 2 tabeliães, 2 almotacés, 1 capitão-mor, 1 sargento-mor com duas companhias de ordenança e 1 companhia de auxiliares que obedecia à Praça d'Almeida». « ..
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