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sexta-feira, 21 de julho de 2023

ANTÓNIO RAMOS ROSA - Recordando o Saudoso Poeta - Estranha coincidência ... Homenageámo-lo na véspera da sua morte, na celebração do Equinócio do Outono, dia 22 de Setembro 2013 - Faleceu no dia seguinte aos 88 anos - Dedicou-me um belo poema no catálogo das fotografias da minha exposição Alquimias do Corpo e da Alma, em Lisboa, 1996 - "A solidão aqui não é a solidão...." - Este ano a homenagem à sua memória coincide com o dia em que nos deixou “

 António Ramos Rosa, poeta, ensaísta e tradutor, publicou cerca de 80 livros de poesia e participou de inúmeras antologias e compilações. Em 1988, venceu o Prémio Pessoa, em 1989, o Grande Prémio de Poesia da APE, e, em 2005, o Prémio Sophia de Mello Breyner.

Ramos Rosa nasceu em Faro, em 17 de Outubro de 1924, e a Biblioteca Municipal da cidade leva o seu nome. Sua primeira publicação foi Grito Claro, de 1958. Sua obra foi publicada e traduzida para várias línguas.

                                Jorge Trabulo Marques - Jornalista - 



Vejo um movimento musical dos ramos
espessos de um lado mais finos do outro
até culminarem no outro canto em delicados chifres
e por detrás um rio de um azul de espelho de veludo
as baixas montanhas sugerindo seios amadurecidos
De perto arenosos e granulados ao longe cobrindo o horizonte
mais vagos os últimos como uma fronteira de um ventre
de uma densidade mais vaga debaixo de três pequenos ramos
como farrapos brancos quase impercetíveis
A solidão aqui não é a solidão
é a equivalência
impronunciável mas de visível espessura
de uma palavra terrestre
como um extenso fruto de sóbrio sabor
em a estática plenitude de um sono de terra
que sugere a tranquila liberdade
de um silêncio selvagem e pacífico do ser
como a nudez da força
e a suave ondulação do fundo à superfície

António Ramos Rosa 20.09.96


Este ano o equinócio de outono em 2023 verifica-se em Portugal a 23 de setembro .


António Ramos Rosa, faleceu, aos 88 anos, num hospital de Lisboa,  dia 23 de Setemnbro de 2013 - Coincidência premonitória: homenageámo-lo na véspera da sua morte, na celebração do  Equinócio do Outono  - Com a leitura de dois dos seus belos poemas  "Festa do Silêncio" e Escrevo-te com o fogo e a água"  - Numa manhã ridente e esplendorosa de luz e brilho, ante um espaço envolvente, amplo e belo mas com o chão e as pedras tisnadas pelos infernais incêndios de Agosto https://templosdosol-chas-fozcoa.blogspot.com/2013/09/equinocio-do-outono-2013-festejado-hoje.html


 






António Ramos Rosa e sua esposa, Agripina Costa Marques, receberam-me, por várias  vezes, em sua casa, a título pessoal ou por razões profissionais para a Rádio Comercial - Proporcionou-me agradáveis e inesquecíveis  momentos  de convívio  e até no café onde costumava ir. Tornámo-nos  amigos e visita praticamente familiar. Datilografei-lhes e passei-lhes alguns dos seus poemas para o meu  computador - ele não o usava, nem gostava dessa palavra mas havia outras que, ouvindo-as pronunciar, podiam ser o ponto de partida para um lindo poema -  sim, confiou-me alguns manuscritos (com uma letra quase indecifrável) para os transcrever, numa altura em que, por razões de saúde, ele tinha alguma dificuldade em escrever ou em batê-los à máquina - Outros vertidos diretamente para o papel, que ia escrevendo, à medida que  brotando da sua mente

Escreveu expressamente meia dúzia de poemas para um livro com fotografias de minha autoria, com textos de Lídia Jorge, Oliveira Marques e José Andrade - A editora, a quem entreguei o espólio não tendo cumprido com os prazos, foi-lhe retirado, pelo que o livro não chegou ainda a ser editado. Ofereceu-me vários dos seus lindos desenhos, um dos quais que me dedicou, bem como um lindo poema a uma das minhas fotografias, que registei no Monte dos Tambores e outro também às aventuras que fiz pelos Mares do Golfo da Guine, tal como também a sua grande amiga e companheira de todos os momentos, Agripina Costa Marques.

O DEUS AZUL

Há um deus que fertiliza a polpa azul da sombra
e  extenso no silêncio está como o olvido  no olvido
Recolhe-se num movimento para o centro
onde permanece côncavo e completo.
Na sua enamorada eternidade
o corpo é asa, pedra e nuvem.
O mundo por vezes é um instante de amêndoa
em que ele transparece em carícias de regaço.
Movimento de plácida e redonda consciência,
não a imagem mas a visão nua do âmbito pleno,
em que estamos com ele em sequência natural.
A sua vida é o sono da luz e da sombra em aberta órbitra
sempre no seu próprio círculo em sucessivas ondas
de sossegada incandescência.
Ele está no mundo, o mundo está nele
sempre como no princípio num fulgor cumprido
na radiosa concavidade azul

António Ramos Rosa – Do livro “Felicidade do Ar”

António Vítor Ramos Rosa nasceu a 17 de outubro de 1924, em Faro, Portugal. Com mais de 50 obras publicadas, é considerado um dos mais importantes e influentes poetas do século XX em seu país ao desenvolver uma importante atividade nos domínios da teorização e da criação poética. Foi militante do MUD (Movimento de União Democrática), de oposição ao regime salazarista, chegando a ser preso.

António Ramos Rosa ganha destaque no meio literário português no início da década de 50, ao fundar e fazer parte de revistas importantes, principalmente a “Árvore”, que ele organizou juntos com outros poetas da época, como António Luís Moita, José Terra, Luís Amaro e Raul de Carvalho, e que apresentava poemas de legado surrealista, primando uma postura de isenção aos feixes estéticos que atravessavam a época e apontando uma evolução da poesia neorrealista.

Em 1958, Ramos Rosa publicou o seu primeiro livro, “O Grito Claro” , onde apresentava suas convicções sobre a poesia não como um fruto de uma aventura verbal, mas uma constante inquirição do que na palavra é a dimensão do ser. Em linhas gerais, a poesia de António Ramos Rosa é caracterizada por uma linhagem de um lirismo depurado, exigente, atento ao poder da palavra no conhecimento ou na fundação de um real dificilmente dizível ou inteligível.

António Ramos Rosa recebeu, entre outros, o prêmio Fernando Pessoa, em 1988; o prêmio PEN Clube Português e o Grande Prêmio de Poesia Associação Portuguesa de Escritores/CTT – Correios de Portugal, em 2006, pela obra Gênese (2005); e o prêmio Luís Miguel Nava (2006) pelas obras de poesia publicadas no ano anterior: “Gênese e Constelações”.


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