Jorge Trabulo Marques - Jornalista
De Parabéns, está hoje a poetiza Agripina Costa Marques, com os seus 93 anos, ainda tranquilos e felizes - A mulher que foi a grande paixão do poeta António Ramos Rosa. Aliás, ambos enamorados e amados reciprocamente - “É importante viver no presente cada etapa da vida. As pessoas de idade tem de aproveitar o tempo que estão a viver – Agora só me apetece ler e viver o momento presente…” - E é assim que tem procurado ocupar o seu tempo, segundo pudemos constatar na recente visita, que nos concedeu, num amável e caloroso diálogo, se bem que limitada a uma cadeira de rodas, mas procurando ocupar a mente, sempre que possível, vivendo o momento presente de cada dia e até os acontecimentos da própria atualidade, ao mesmo tempo que vai dando uma olhadela aos belos espaços que se descobrem para além da janela do seu quarto, ornado com flores e algumas belas memórias
E o dia do seu aniversário, pelos que nos confessou nos telefonema que
lhe fizemos, foi vivido com muita alegria, tendo recebido ramos de flores e muitos
beijinhos da filha e sobrinha.
Sim, por vontade própria, Agripina Marques da Costa, vive recolhida numa
residência social da Santa Casa da Misericórdia, em Belém, a Residencia Faria Mantero, aquela que foi uma
estrela que se ofuscou durante uma vida, para que uma outra maior se
agigantasse ou brilhasse ainda mais
Alcançar a harmonia é ser possuído
da percepção de um não confinamento.
Todo o horizonte aberto é libertador .
Assim a Natureza na imediata evidência.
Em só sabê-la presente. No simples
acto de estar. Mas olhá-la em demora
é absorver no interior do ser
a própria génese libertadora. Activo
envolvimento no mesmo processo.
À dilatação do espaço se associa o Eu
a ponto de nele se poder dissolver
antes de se recuperar na sua integridade
Do livro INSTANTES. PERMANÊNCIA
De Agripina Costa Marques
Esposa do poeta António Ramos Rosa –1924-2013 - Ambos meus bons amigos, que muitas vezes me deram o prazer de me receber em sua casa – Ambos admiravam o espirito das minhas ousadas aventuras marítimas nas frágeis pirogas no Golfo da Guiné - Ambos me dedicaram lindos poemas –
Costuma dizer-se, que, por detrás de um grande homem, está uma grande mulher – Foi justamente o que se passou com este apaixonado casal - António Ramos Rosa, era, na verdade, um poeta de corpo inteiro – Uma simples palavra, que ouvisse pronunciar e de que gostava, era o bastante para arrancar dali um poema. Pude testemunhar essa espontânea inspiração. Tendo-me confiado, vários dos seus originais manuscritos para os passar a letra de imprensa, assim como me ter oferecido seis poemas para o projeto de um livro, que acompanharia fotos minhas, com textos de Oliveira Marques e Lídia Jorge, que ainda não cheguei a editar, por culpa de uma editora que me reteve o projeto seis anos, tendo acabado por lho retirar.
Agripina Costa Marques – Sem dúvida, uma mulher de grande sensibilidade,
que não ficava atrás da sensibilidade poética do seu querido marido, mas, que, de algum modo, se deixou eclipsar para que
ele pudesse ainda mais brilhar. Possuidora de uma bela voz, tendo mesmo gravado
alguns fados de Coimbra, acompanhada à guitarra de Carlos Paredes - Não chegaram a ser editados mas deixados
unicamente em cassete.
Também ela autora de belos poemas, entre os quais, Ciclos, Fragmentos, Idades, que, segundo, já foi sublinhado, se inscrevem justamente na categoria desses livros que, pela sua rareza, reinventa a literatura e a poesia.
De seu nome completo, Agripina Jacinta Costa Marques Ramos Rosa, Nasceu em Lisboa, em Julho de 1929 , trabalhou como tradutora para as Publicações Europa-América e dirigiu o sector de exportações e importações numa empresa sedeada na mesma cidade. Revela-se nos anos noventa do século passado como poeta. A sua primeira obra Rotações (1991), tem como coautores Carlos Poças Falcão e António Ramos Rosa, seu companheiro de vida desde 1963. Seguem-se O Centro Inteiro (1993), em colaboração com António Magalhães e Ramos Rosa. No mesmo ano a escritora publicou ainda Instantes. Permanência (1993; com 2ª ed. em 2004) dando corpo a uma obra literária que passa por Diário Intermitente (1996), Ciclos, Fragmentos, Idades (1998), Sonhos (2000, com 2ª ed. em 2001) e Morada Recôndita (2012).
António Ramos Rosa - "Destacado poeta e crítico português nascido em
Faro em 1924. Foi militante do MUD (Movimento de União Democrática) e conheceu
a prisão política. Trabalhou como tradutor e professor, tendo sido um dos
diretores de revistas literárias como Árvore e Cassiopeia. O seu primeiro livro
de poesia, O Grito Claro, foi publicado em 1958. A sua obra poética ultrapassa
os cinquenta títulos. É ainda autor de ensaios, entre os quais se salienta A
Poesia Moderna e a Interrogação do Real (1979-1980). Em 1988 foi distinguido
com o Prémio Pessoa. Faleceu em 23 desetembro de 2013.