JORGE TRABULO MARQUES - JORNALISTA E COORDENADOR DO EVENTO
A chegada do Verão é a estação mais desejada das quatro estações - O evento, onde saudamos o dia maior do ano, ao fim da tarde, do passado dia 20, esteve lindo e de céu azul - E cremos que também terá estado em todo o pais.
No entanto, mesmo ante a
presença física de uma tão vasta e bela amplidão de horizontes, sob o teto de tão radioso tempo,
era pois desejável que o significado do
dia inundasse de alegria todos os corações, mas quem é que poderia sentir-se inteiramente
feliz? Sim, face às noticias que, por
via da conhecida pandemia, diariamente
vêem atormentando e gerando sentimentos de incerteza, angústia e de
intranquilidade!
Recinto do santuário da Pedra de Nª Srª da Cabeleira |
As celebrações dos Equinócios e dos Solstícios, nos chamados Templos
do Sol, no afloramento granítico dos Tambores, arredores da aldeia se Chãs, de
Foz Côa, a bem dizer, já se impuseram,
naturalmente, no calendário das festividades dos ciclos das estações do
ano, como uma redescoberta dos saberes ancestrais esquecidos, num
retorno à terra, às mais genuínas tradições do homem com a Natureza, da qual
tanto se vai divorciando, em favor de uma sociedade apologista do
culto individual, egoísta e mercantilista, movida unicamente por fúteis
exibicionismos e aparências
Numa das celebrações de anos anteriores |
Inicialmente,
até chegámos a contar com a cobertura
das televisões e mesmo de alguma imprensa estrangeira, mas, depois disso, os
holofotes voltam-se, sobretudo, para o midiático cromeleque de Stonehenge
. a já famosa es estrutura
ccirular –
E sendo
circular, naturalmente, que, pelo espaço de alguns enormes blocos, haveria de
entrar o sol – Não pretendemos questionar se o conhecido santuário neolítico
foi concebido também com a finalidade de servir de posto astronómico – É provável
que sim, até porque, o culto do sol, é tão antigo como a própria humanidade –
Como é sabido, muitas das antigas igrejas e catedrais, foram erguidas no sentido
nascente-poente.
De facto, os poemas “A FESTA DO SILÊNCIO” de António
Ramos Rosa” e “A LÁGRIMA,
de Guerra Junqueiro, títulos poéticos, que, só por si, expressam, de algum modo, os sentimentos que, este
ano, por via da conhecida pandemia, marcaram a celebração da entrada do Verão,.mas também os
demais poemas que ali lemos, graças à carolice de um punhado de devotos
peregrinos, que, uma vez mais, quiseram dar-nos o prazer da sua presença , nas
cerimónias evocativas
" Tu és belo no céu... oh! Sol vivo!
Quando te levantas a leste
enches todas as terras com tua beleza,
porque és belo, és grande e brilhas acima da Terra.
Teus raios beijam os povos e tuas criações.
Tu és deus e nos seduziste a todos.
Tu nos impuseste os liames de teu amor,
e, ainda que longe, teus raios atingem a Terra
e, ainda que alto, teus passos marcam o dia.
Excerto
Amenófis IV - Nome do faraó egípcio, casado com Nefertiti, que reinou aproximadamente entre 1370 e 1357 a. C., filho de Amenófis III e da rainha Tiy, e que se denominou também Akenaton, ou seja, filho de Áton, deus do Sol. https://www.infopedia.pt/$amenofis-
Na verdade, estas festividades, que aqui ocorrem, têm-se constituído,
tanto pela sua originalidade, como regularidade, com singulares momentos
de contemplação e de reflexão, de alegres e saudáveis manifestações de cariz
místico-cultural, num esplendoroso exemplo de saudação ao Criador pelas suas
maravilhas expostas à Luz do Sol, fonte de luz, de energia e de vida. Porém,
mesmo esta concepção panteísta, tem sido deixada ao livre
arbítrio de cada participante.
Não visam a apologia de um qualquer culto de especifico, seja pagão ou religioso, seja que culto for: - Pretende-se, isso sim, que promovam o reencontro e o convívio humano, que se afirmem como genuínas manifestações populares, de uma alegre e festiva comunhão com aquele fantástico cenário natural - E, se possível, de louvor e de fé, imbuído nos mais nobres valores espirituais e lúdicos: sejam no evocar tradições antiquíssimas caídas no esquecimento, seja nos valores de que, cada crença, julga ser seguidora e defensora.
Tem sido propósito das celebrações dos Equinócios e Solsticios, além da evocação das antigas
tradições desaparecidas dos povos que aqui viveram, de cujo legado existem abundantes vestígios desde o neolítico e calcolitico, sim, que por aqui ergueram os seus santuários e se abrigaram no seio dos penhascos, aproveitando o vasto maciço granítico como muralha e defesa natural, assim como os recursos da fertilidade do maravilhoso vale sobranceiro, ser nosso
desejo, não apenas aprofundar o estudo desse passado, como, ao mesmo tempo, aproveitar
para simbolicamente homenagear e recordar figuras cujo exemplo se
considere merecedor de ser lembrado ou sublinhado.
Daí que a leitura de poemas, conquanto não
tenha um carácter de festival, se venha
enquadrando naturalmente no espírito das celebrações – Quer nos santuários –
Pedra da cabeleira de Nº Srª e na Pedra
do Solstício ou Pedra do Sol, quer também na Pedra dos Poetas – Nome dado a um
pequeno altar onde o poeta, Fernando Assis Pacheco, ergueu os braços, por nossa
sugestão, um mês antes da sua morte, na visita que efetuou a nosso convite a
estes lugares, depois de ter passado pelo núcleo de gravuras da Canada do
Inferno, onde se deslocara em reportagem da revista Visão..
POEMAS DITOS, QUASE COMO SE FOSSEM PEQUENAS ORAÇÕES - lidos poemas de Fernando Pessoa, Guerra
Junqueiro, Manuel Daniel, David Mourão Ferreira, do antigo Faraó
Amenófis, . Dom Manuel dos Santos, Bispo de São Tomé, Maria de Assunção
Carqueja, José Tolentino Mendonça, António Ramos Rosa, e o poeta santomense,
Francisco José Tenreiro.
Já todos eles foram recordados neste site - Por isso, para não tornarmos a postagem demasiado extensa, por agora deixamos-lhe aqui breves traços de alguns deles. imagens e videos.
MARIA DE ASSUNÇÃO CARQUEJA - Disse, Manuel Pires Daniel, no Jornal “OFOZCOENSE” - "Descobri o seu nome pelos idos de 50, pela mão do meu querido amigo Prof. Adriano Vasco Rodrigues, que veio a ser o seu marido e que, então, coordenava no quinzenário "Luz da Beira'', da Meda, um suplemento literário que veio a inserir trabalhos de jovens como José Augusto Seabra, Eurico Consciência e outros.
Maria da Assunção Carqueja era já uma excelente poeta, natural do Felgar - Moncorvo e estudante da Universidade de Coimbra. Desde logo a fixei. Os seus versos fluíam, como água corredia, quase em surdina, mas dizendo muito. Poesia daquela que nos fala à alma e que se exprime tao bem que chega a dizer muito em muito pouco.
MANUEL DANIEL - HOJE SEUS OLHOS JÁ NÃO PODEM CONTEMPLAR A LUZ DO DIA - ESTÁ COMPLETAMENTE CEGO - Os seus belos versos fazem parte das tradicionais celebrações evocativas nos Templos do Sol - São indispensáveis.
UMA VIDA INTENSA E MULTIFACETADA – ADVOGADO, POETA, ESCRITOR, DRAMATURGO E O HOMEM AO SERVIÇO DA CAUSA PÚBLICA
Em 2003 - Na altura em que ainda podia andar e ver |
Manuel J. Pires Daniel, nasceu em Vila de Meda (hoje cidade) em 18 de Novembro de 1934. Sem dúvida, um admirável exemplo de labor e de tenacidade, de apaixonado pelas letras e de sentido e dedicação ao bem comum
A sua vida tem sido pautada pela dedicação mas também pela descrição. Atualmente, debatendo-se com extremas limitações da sua vista, por via de ter ficado completamente cego, no entanto, pese tão dura limitação, nem por isso a verbe do poeta se esgota e, dentro do que lhe é possível, com apoio amigo da família, lá vai compondo os seus versos e editando livros. Em cujos poemas perpassa o que de melhor têm a poesia portuguesa - Domina com mestria os mais diversos géneros poéticos e neles se expressa, a par de um profundo sentimento de religiosidade, o amor à terra, à natureza, aos espaços que lhe são queridos, suas inquietações e interrogações, sobre a efemeridade da vida e o destino do Homem - Em Manuel Pires Daniel, não há jogo de palavras mas palavras que vêm do coração, que brotam naturalmente, como água da melhor fonte, que corre das entranhas do xisto ou do granito da nossa terra.
PAI E SENHOR - VENHA A NÓS A LUZ DO VOSSO REINO E SANTIDADE -
Dom Manuel dos Santos, foi uma das presenças na celebração do equinócio do Outono, em 23 de Setembro de 2015, Receb
. -
Destacado poeta e crítico português nascido em Faro - DEU-ME A HONRA E O PRAZER DE SER SEU AMIGO - Recebeu-me, muitas vezes, em sua casa, a título pessoal ou por razões profissionais para a Rádio Comercial - Proporcionou-me agradáveis e inesquecíveis momentos de convívio e até no café onde costumava ir. Tornámo-nos amigos e visita praticamente familiar. Datilografei-lhes e passei-lhes alguns dos seus poemas para o meu computador - ele não o usava, nem gostava dessa palavra mas havia outras que, ouvindo-as pronunciar, podiam ser o ponto de partida para um lindo poema -
A FESTA DO SILÊNCIO
Tudo
está no seu sítio. As aparências apagaram-se.
As
coisas vacilam tão próximas de si mesmas.
Concentram-se,
dilatam-se as ondas silenciosas.
É
o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma.
Uma
criança brinca nas dunas, o tempo acaricia,
o
ar prolonga. A brancura é o caminho.
Surpresa
e não surpresa: a simples respiração.
Relações,
variações, nada mais. Nada se cria.
Vamos
e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça.
Nada
é inacessível no silêncio ou no poema.
É
aqui a abóbada transparente, o vento principia.
No
centro do dia há uma fonte de água clara.
Se
digo árvore a árvore em mim respira.
Vivo
na delícia nua da inocência aberta.
António
Ramos Rosa, in "Volante Verde"
A
Lágrima - Guerra Junqueiro
Seca,
deserta e nua, à beira d'uma estrada.
Terra
ingrata, onde a urze a custo desabrocha,
Bebendo
o sol, comendo o pó, mordendo a rocha.
Sabre uma folha hostil duma figueira brava,
Mendiga
que se nutre a pedregulho e lava,
A
aurora desprendeu, compassiva e divina,
Uma
lágrima etérea, enorme e cristalina.
Lágrima
tão ideal, tão límpida, que ao vê-la,
De
perto era um diamante e de longe uma estrela.
POEMA DE FRANCISCO JOSÉ TENREIRO, QUE O ANO PASSADO OI LIDO POR ISABEL SANTIAGO - Uma cidadã luso.santomense
Francisco José Tenreiro, nasceu na Roça Boa Entrada, a 20 de Janeiro de 1921. Fazia anos no mesmo dia do mês em que eu mais tarde nasci e faleceu na madrugada de 31 de Dezembro de 1963, dois meses depois de eu ter desembarcado na sua Ilha de Nome Santo. . Se fosse vivo, teria 93 anos. Presumo que ainda vivam muitos são-tomenses com a sua idade e lúcidos.
Envolve-se pudicamente o sol, nos lençóis do mar
e súbito vem a noite. Muito súbito e muito rápido.
Logo no céu de cabelos revolta a lua nasce
banhando de sossego a cidade escaldada
donde se evolam os fumozinhos da humanidade.
Das mangueiras nascem morcegos de vigília:
poetas mamíferos a quem a noite dá asas
acompanhado de sonhos o poeta das insónias.
E a cidade adormece para o vício e para o amor!
HOMENAGEM AO POETA SANTOMENSE FRANCISCO JOSÉ TENREIRO NO ALTAR DA PEDRA DOS POETAS - POR ISABEL SANTIAGO
Na imagem ao lado, depois da celebração, e num passeio pelas muralhas do Castro do Curral da Pedra Dom Manuel dos Santos, junto de uma carrasqueira e de António Lourenço, ensinando a assobiar com a casca de uma bolota e recuando aos tempos em que andava atrás das ovelhas com o seu pai -
Os homens da pedra lascada, dispunham apenas de rudimentares utensílios de sílex, daí, talvez a razão pela qual empregassem apenas a sua primitiva ferramenta para dar as formas naquilo que lhes era estritamente indispensável ou necessário. De resto, a estilização da arte pré-histórica, verifica-se desde as gravuras do paleolítico, e é do que nos maravilham alguns dos caprideos desenhados nas pedras xistosas do Côa.
Este fenómeno solar não é único. Muitos desses blocos ( tais como, menires, estelas, dólmenes, recintos megalíticos), fazem parte de uma antiga herança do passado e, de facto, muitos deles, devido à posição que tomam, são geralmente conhecidos por alinhamentos sagrados, visto estarem em perfeito alinhamento com o sol, a lua ou outros corpos celestes.
A sua origem está ainda envolta nalgum mistério e nalgumas sombras, tal como, aliás, toda a Pré-História. Presume-se, porém, que tenham sido erguidos por antigas civilizações pré-célticas e, também, sabiamente aproveitados por estas culturas que, compreendendo o poder e o significado que representavam, os utilizaram e cultuaram nos seus rituais e festividades, ligadas aos ciclos das estações.
Existem em várias partes do mundo, cada um com as suas especificidades. Porém, uma parte desses monólitos foram destruídos, perderam-se ou caíram no esquecimento: diluíram-se por entre as ruínas dos abrigos e povoados – Tal como este, até ao dia em que nos apercebemos da singularidade da sua forma, da sua exposição, entre outros aspetos, acreditando que não poderia ser obra do acaso: sim, demasiadas coincidências para se tratar um vulgar penedo, entre os inúmeros que por ali se espalham, a monte ou isolados, por ação e obra da Mãe-Natureza, desde o fundo do vale e por toda a vasta área planáltica do afloramento granítico.
Há quem pense que o mundo da luz e do conhecimento só começou com a descoberta da eletricidade. Mas os que assim pensam estão enganados. O homem existe há milhões de anos! E, por conseguinte, desde há muito que ele aprendeu a aperfeiçoar as suas técnicas de sobrevivência, a conviver com a natureza, e a conhecer-lhe muitos dos seus segredos, que, certamente, se foram perdendo à medida que se foi divorciando do seu contacto.
Vejam-se as mundialmente famosas estátuas da Ilha da Páscoa, enigmáticas figuras gigantescas com os olhos voltados aos céus, ou ainda, nos Andes, a não menos impressionante Porta do Sol, presume-se que da cultura Asteca, expressando a mais estreita aliança e união do espírito com a matéria - Isto para já não falar das ruínas de Stonehenge, sobre as quais, investigadores de todos os domínios, se continuam a interrogar, sem, contudo, encontrarem as respostas que os satisfaçam.
DAVID
MORÃO FERREIRA - Poeta e escritor
- Nasceu em Lisboa, em 1927 e morreu,
também nesta cidade, em 1996. Licenciou-se em Filologia Românica em Lisboa,
onde chegou a ser professor catedrático, organizando e regendo, entre outras, a
cadeira de Teoria da Literatura. Foi secretário de Estado da Cultura, entre
1976 e 1979;
Diretor
do diário A Capital; diretor do
Boletim Cultural do Serviço de Bibliotecas Itinerantes e Fixas da Fundação
Calouste Gulbenkian, entre 1984 e 1996; diretor da revista Colóquio/Letras; presidente da
Associação Portuguesa de Escritores (1984-86) e vice-Presidente da Association
Internationale des Critiques Littéraires. A sua obra reparte-se pela poesia; pela crítica literária,
como Os
Ócios do Ofício, Vinte
Poetas Contemporâneos, Hospital das Letras ou Lâmpadas no Escuro (de Herculano a Torga); pelo ensaio; pela tradução; pelo teatro; pelo romance; e
também pelo jornalismo. https://www.wook.pt/autor/david-mourao-ferreira/12656Teixeira de Pascoaes
Joaquim Pereira
Teixeira de Vasconcelos nasceu a 2 de novembro de 1877, em Amarante. Segundo de sete irmãos, desde cedo se revelou muito
introspetiva, embora sensível, no seio desta família da aristocracia rural
Foi um saudosista por
natureza e pela sua letra. Aquilo que escreveu representou esse estado de
espírito, que o transpôs para o atribulando tempo republicano, vivendo-o assim
como experienciou também o monárquico e o ditatorial. Atravessando estas três
partes constituintes da história nacional, contactou com diversos outros nomes
grandes da literatura portuguesa, mas foi nos seus aposentos a norte que se foi
firmando, tornando-se num dos mais curiosos metafísicos da literatura lusa.. https://www.comunidadeculturaearte.com/teixeira-de-pascoaes-sem-poesia-nao-ha-humanidade/
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