Jorge Trabulo Marques - Jornalista



Hoje é dia de Natal – Uma das
datas mais significativas do ano: vou aproveitar para aqui recordar a festa natalícia
de alguns dos idosos da minha aldeia – Decorreu na passada Sexta-Feira, no
Centro do Dia e com a presença amável e carinhosa dos responsáveis desta instituição, bem
como de todo o pessoal que aqui presta serviço e do Lar de Nª Srª de Assunção, que,
em boa hora, o ex-autarca, António Lourenço,
teve a feliz iniciativa de erguer, pois, se assim não fosse, porventura muitos
dos idosos, não podendo ficar em sua casa
ou junto dos seus filhos, que é o que geralmente hoje sucede, teriam que procurar
acolhimento fora do seu torrão natal -
Em todo o caso, nos seus olhos – e não são apenas os idosos aqui nascidos – transparecia mais tristeza de
que alegria, se bem que o jantar fosse bem servido e bem acompanhado: mas quem
é que, afinal, em tempo de Natal, não reflete, com algum semblante carregado, em memórias que
já lá vão? - Sim, o tempo roda para frente e não volta atrás.


Sim, hoje é dia de Natal: data da tradicional Natividade e tempo de reflexão: há quem o aproveite para distribuir prendas e as receber – E dar umas esmolas caridosas aos sem-abrigo: a bem dizer, hoje é o dia de todos sermos bonzinhos e dos sem-abrigo encherem a barriga para todo o ano, se possível sob os holofotes televisivos, que é para mostrar que vivemos num mundo cor de rosa, em que até os pobres são felizes com a sua pobreza e não há explorados nem exploradores. O mau é que, depois de receberem a esmola, muitos têm que dormir ao relento, sem o mínimo de conforto, em condições desumanas, deixados à sua sorte, como meros desperdícios do lixo.
Noite de Natal
O Céu não estava estrelado
mas uma estrela luzia,
Num barraco desprezado
estavam José e Maria.
Num monte distanciado
A branca neve caía.
Mas no negrume fechado
De repente se fez dia.
Uma criança chorava
quando a luz se refectia
num espaço onde ecoava
um cântico de alegria,
cântico que reboava
numa perfeita harmonia
enquanto José Louvava
e aos céus agradecia.
Era um mistério sagrado
o que ali acontecia.
Um pastor admirado,
cantava, dançava e ria.
O próprio tempo, abismado
em dois tempos se repartia.
E sobre palhas deitado
O Deus menino dormia.
O Deus menino dormia.
.
Manuel Daniel – do Livro Chão de Areia
CANTIGAS DO PERÍODO NATALÍCIO DA MINHA ALDEIA
Só na antiga memória de
quem a cantou e viveu
Inda agora aqui cheguei,
E mal pus o pé na escada,
Logo o meu coração disse,
Aqui mora gente honrada
Coro
Lá, lá, lá, lá, lá, lá,
lá, lá!
Lá, lá, lá, lá, lá, lá,
lá, lá!
Esta casa é caiada,
Forrada de papelão,
Os senhores que moram
nela,
Têm belo coração!
Levanta-se daí senhora,
Desse banco de cortiça,
Ai, venha dar-nos as
janeiras,
Ai, ou morcelas ou
chouriças!
Já se acabaram as festas
Agora vêm os Reis,
Vede lã por vossas casas,
Se lá tendes que nos
“deis!”
Coro
Nasceu a
alegria,
Não pode haver mais,
Que nasceu Jesus!
Bendito sejas!
Versos extraídos do
livro - CHÃS DE FOZ CÔA – A SUA HISTÓRIA E A SUA GENTE – De Joaquim
Trabulo
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