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terça-feira, 10 de dezembro de 2019

J. Pimenta – Pois, pois! João Pimenta! – Esquecido mas a obra perdura, em muitas centenas de lares, que ergueu – A voz de um português de boa cepa que não pode ser ignorada, sobretudo quando lisboa se transforma num caótico estaleiro de chegadas e partidas e arranjar casa na capital ou na invicta cidade do Porto, vai sendo um calvário para o nativo tripeiro ou mouro-alfacinha.



 Jorge Trabulo Marques - Jornalista - J. PIMENTA - QUEM O ESQUECEU?
Não perca, neste post, em registo sonoro, mais à frente,  a  breve mas expressiva entrevista que me concedeu João Pimenta, em meados da década de 80

 

Preço para turista se deliciar
Numa altura, em que, Lisboa, é mais um apeadeiro de turistas do que a grande atração ou modo de vida fácil para quem aqui vive, com a maioria dos restaurantes e hotéis,  lojas, bancas de jornais e   as mais importantes empresas, dominadas pela chamada Nova Ordem Global, sim, que dificilmente poderá ser cantada nos bairros  típicos por gente,  aqui nada e criada, que a passos largos está sendo transformada numa cidade cara, confusa, poluída, caótica e incaracterística,  em vias de se tornar mais estrangeira de que a histórica  e  emblemática  capital portuguesa, em que arranjar uma simples casa ou mesmo até um modesto quarto, está a pela hora da morte, a  preços proibitivos,  desejo aqui expressar o meu singelo tributo ao empresário que logrou  construir  apartamentos a preços económicos e se transformou numa figura nacional – Por considerar  que era destes homens que a cidade precisava, e até o país, cada vez mais deserto e envelhecido e não a soldo dos golpismos de  oportunistas, usurários, apátridas e  açambarcadores .


O que escreveria Fernando Pessoa, de Lisboa, se fosse vivo?
SÓ NÃO VÊ QUEM NÃO QUER  -  "Lisboa é a sexta cidade europeia mais poluída pelos navios de cruzeiro – PÚBLICO  Cristiana Faria Moreira  7 de Junho de 2019, 7:16 Ambientalistas da Zero dizem que as emissões de óxidos de enxofre dos navios de cruzeiro na costa portuguesa foram 86 vezes superiores às emissões dos automóveis que circulam em Portugal. Associação sugere que seja criado um regulamento para todos os portos europeus para que se atinjam níveis de limites de emissão zero nos navios. https://www.publico.pt/2019/06/07/local/noticia/lisboa-sexta-cidade-europeia-poluida-navios-cruzeiro-1875646

O FENÓMENO PERVERSO DO LIBERALISMO  SELVAGEM 


A liberalização do arrendamento urbano, veio agravar os problemas de habitação:  se um sem-abrigo, mesmo com uma reforma de 300 euros mais 50 de ajuda social, nem assim consegue ter meios para alugar um quarto agora imagine-se quais as dificuldades por que passa quem se confine a um modesto ordenado mínimo!



Janeiro de 2019


Muitos de nós, que vivemos na rua, durante muitos anos, poucas pessoas, se importam connosco! Até nos viram a cara!  - De vez em quando há uma associação que traz duas sandes de fome e um iogurte: uma delas untada com manteiga e a outra com um fatia de fiambre, em que se vê o sol -

O EMPRESÁRIO QUE PORTUGAL NÃO DEVE ESQUECER  - Ouça  o  2ª vídeo  a seguir 


De seu nome João Gonçalves Pimenta, mais conhecido pelos anúncios publicitários de J. Pimenta, a que antecedia o Pois, Pois!, já não faz parte dos vivos: faleceu, aos 89 anos, em Lisboa,  na  véspera do 25 de Abril de 2006 

De entre as centenas  entrevistas que fiz,  a personalidades e a gente anónima, recordo hoje, em  registo sonoro, extraído  de uma das  muitas cassetes que guardo no  meu extenso arquivo de repórter na extinta RDP-Rádio Comercial,  o breve mas expressivo diálogo que tive com o homem que mais se popularizou no ramo da construção civil, mas que, os excessos revolucionários do 25 de Abril  - com os trabalhadores a ocuparem-lhe a empresa, com saneamentos arbitrários suportados em processos sumários, a par de desastrosas intervenções estatais - , acabariam por ser o princípio   do fim da mais pujante empresa  que o jovem pedreiro saído do Souto (Abrantes) foi erguendo a pulso até se tornar num dos mais conhecidos industriais de construção civil de Portugal, "o homem que construiu apartamentos a preços económicos e se transformou numa figura nacional,

Sim, foi  na década de 80 que conheci e falei pela primeira vez com o empresário mais popular da construção civil, em Portugal   - Foi   num briefing empresarial:  não me ocorre a que propósito.  Lembro-me apenas que o momento era de descontração e de muitos sorrisos.  de se ir bebericando,  oportunidade de  se irem saboreando  bebidas e aperitivos, naturalmente que em diálogos   soltos e  descontraídos

Digamos, que não seria a ocasião mais aprazada de se recordarem mágoas e feridas, para que me  desbobinasse o seu rosário  de desgostos,  tanto mais que, pelo que pude depreender, conquanto, mais tarde,  João Pimenta,  viesse a declarar:, que "fui o homem mais roubado deste país”, naquela altura,  ele  era um homem francamente positivo, se bem que não deixando de lamentar o abandono a que fora votado  um grande estaleiro, que construíra: - Mesmo assim, mais  dado a olhar o futuro, a corrigirem-se os erros do  que era possível corrigir-se  de que  propriamente a manifestar as mágoas do passado - Tal como o expressam estas palavras, escritas por um jornal da sua região, aquando de uma homenagem que a Sociedade Recreativa do Souto, sua terra natal, lhe prestara aos 81 anos. 

 "Pois, pois, J. Pimenta”, que “era claramente uma marca do país”. Numa altura em que o país vive “uma situação muito difícil de crise e algumas dificuldades”, é importante mostrar “os bons exemplos”, neste caso “de um homem empreendedor. Um homem de uma enorme cultura de trabalho, de ambição, de projecto, de realização, de empreendimento, de criação”. Para o autarca, “não devemos ficar sentados à espera que alguém faça as coisas por nós. Tem que de haver capacidade e empreendimento e uma forte cultura de trabalho. Afinal, argumenta, “é isto que o país precisa


ANTECIPOU-SE AO 25 DE ABRIL – PARTIU PARA O BRASIL TRÊS MESES ANTES -  Regressou  4 anos depois com a empresa de pantanas  
A Guerra colonial Portugal mergulhara o pais numa grande instabilidade, num beco sem saída, ante a condenação da diplomacia internacional: Marcelo Caetano, nem atava nem desatava a herança salazarista -   Os grandes empresários contavam-se pelos dedos mas também estes,  pelos vistos, já haviam conhecido melhores dias.

 Por seu turno, o  saldo, que se agravava de mortes e estropiados,  sem uma solução à vista, na intervenção militar na  Guiné, Angola e Moçambique,  acabaria por abrir enormes feridas e um grande descontentamento também no seio das Forças Armadas,  ponto de partida para a revolução de Abril, que derrubaria  uma ditadura de 40 anos.
Saudada e  apoiada a queda da fascismo pelo grosso da população portuguesa, mas, infelizmente, embora trazendo a liberdade de expressão  também trouxe muitos erros e excessos, quer na vida interna do país, quer na descolonização que se seguiu.


“João Pimenta não esperou muito para ver no que dava o fervor revolucionário.” –  Em Fevereiro de 1976 já estava convencido que por cá não tinha futuro. E foi para o Brasil trabalhar naquilo que sempre fizera – Recordava o semanário jornal  OMirante, em 29 de Novembro de 2006, sob o título  A ascensão e queda do império J. Pimenta - Pormenores mais à frente



O HOMEM QUE DEIXOU UMA VASTA OBRA NA CONSTRUÇÃO CIVIL E QUE QUERIA AINDA RELANÇAR UMA PORTA PARA UM FUTURO MAIS PROMISSOR - PARA A SUA EMPRESA E PARA OS PORTUGUESES

"Eu acho, perfeitamente, que, corrigindo os erros  do passado é que encontraremos a plataforma para o futuro" - Declarou-me

Respondendo à minha pergunta de que  construíra muitas casas,  bairros,  que se pronunciasse sobre a atividade que desenvolveu, sobretudo antes do 25 de Abril, que o catapultara para um lugar histórico na construção civil, começou por me responder:



JP  - "Agora dedicar-me-ei ao turismo, ao mobiliário, aos cerâmicos e sanitários para exportação para aumentar as divisas do país ,   declarava-me,  confiante de que “agora vou ter o respeito do Governo presente e dos que vierem  quanto à minha atividade industrial
 “Se me situar na outra, na construção civil, dirão os governos! Dirão os partidos!  Dirá o povo!- “Olha mais um construtor civil!
 
Ora bom!... Nós já aprendemos o suficiente  para dizer que isso tudo está errado!

É preciso a credibilidade! E, quando vier a credibilidade, está tudo certo!

JTM -  Sr. João Pimenta: tudo está errado mas a errar se corrige o homem, não é?
 JP – Eu acho, perfeitamente, que, corrigindo os erros  do passado é que encontraremos a plataforma para o futuro

JTM – Mas, a nível da construção civil: foi exatamente nessa área que teve uma atividade muito grande!... Gostaria que me recordasse em termos da construção civil
JP – Aquilo que eu fiz, julgo que mais nenhum português, o conseguiu fazer até hoje! Não me sinto lisonjeado nem arrependido daquilo que fiz!..
Olhando para o passado, entendo que não devo repetir a mesma façanha! Contudo, lamento, profundamente! que,  tendo construído os maiores estaleiros da construção civil nacional e da Europa,  citado por  alguns técnicos, sinto-me menosprezado de que, neste momento, esteja abandonado! Sem poder  construir habitações para os portugueses!... Penso que não há mais credível para a sua pergunta: é triste! Mas é a realidade!

 ECOS DO QUE SE ESCREVEU DE JOÃO PIMENTA

Boa parte dos portugueses ignora a vida de João Pimenta. Mas viver num andar de J. Pimenta, ir ao bairro J. Pimenta, usar as Torres J. Pimenta como referência espacial acontece a milhares” – Escrevia o Observador, .ao dar a noticia da sua morte
Sublinhando  que J. Pimenta. João Gonçalves Pimenta é um dos muitos homens que o país tratou depreciativamente por “patos-bravos” e que proliferaram nos anos 60

Originários de famílias muito pobres, começaram a trabalhar na construção civil pouco mais que crianças. O crescimento dos subúrbios da capital é também o da sua ascensão social: em poucos anos os serventes tornavam-se pedreiros e depois empresários da construção civil.

Souto - Abrantes
João Pimenta foi o que mais se destacou entre eles quer pela dimensão dos seus empreendimentos quer pelas apostas inovadoras que fez nomeadamente em apartamentos de baixo custo que vendia já mobilados. A Reboleira na zona da Amadora é uma zona emblemática da atividade da empresa de João Pimenta.

Mas aquilo que o deixou na nossa memória foram sobretudo os seus anúncios, alguns deles feitos em associação com os Parodiantes de Lisboa, como o célebre “Pois, pois Jota Pimenta” que rapidamente saltou da rádio e da televisão para a boca dos portugueses.

Já foi tempo...
No pós-25 de Abril a J. Pimenta foi ocupada pelos trabalhadores e intervencionada pelo Estado. Em 1975 João Pimenta foi para o Brasil donde regressa anos depois para tentar recuperar o seu antigo grupo económico. Compra em hasta pública algum do seu antigo património mas falha no seu objetivo de colocar a J. Pimenta entre as grandes empresas de Portugal. “Fui o homem mais roubado deste país” — declara algumas vezes.
Com os anos J. Pimenta tornou-se uma referência toponímica. Boa parte dos portugueses ignora a vida de João Pimenta. Mas viver num andar de J. Pimenta, ir ao bairro J. Pimenta, usar as Torres J. Pimenta como referência espacial acontece a milhares.https://observador.pt/2015/04/27/morreu-o-construtor-do-pois-pois-jota-pimenta/

“A ascensão e queda do império J. Pimenta” – Escrevia O MIRANTE – Semanário Regional
Referindo que “Pimenta é o apelido da família humilde com raízes na freguesia do norte do Ribatejo bordejada pelo rio Zêzere.João Pimenta não esconde a mágoa e a revolta quando fala do trajecto turbulento que redundou na falência do universo J. Pimenta. O processo ainda se arrasta pelos tribunais. “Fui o homem mais roubado deste país”, desabafa várias vezes. Não aponta o dedo a ninguém em particular. Para ele os culpados são os sucessivos governos que desde 1974 permitiram que uma empresa emblemática e pujante se precipitasse no abismo.A seguir à revolução os trabalhadores tomaram as rédeas da gestão da empresa. Efectuaram saneamentos arbitrários suportados em processos sumários. Os militares assobiavam para o ar. Viviam-se tempos de turbulência, de ódio, de perseguição, difíceis de compreender à luz dos tempos actuais. 

Oeiras - Por ali também andou obra de J. Pimenta
A própria esposa de João Pimenta integrou a lista de funcionários e administradores a sanear. A administração era acusada de má gestão. Mas nada melhorou com a nova ordem. O Estado foi obrigado a intervir na empresa. Passou a geri-la. Viviam-se tempos de crise económica. O mercado não ajudou e a empresa nunca mais recuperou do estertor em que caíra pouco tempo depois da Revolução dos Cravos. João Pimenta não esperou muito para ver no que dava o fervor revolucionário. Em Fevereiro de 1975 já estava convencido que por cá não tinha futuro. E foi para o Brasil trabalhar naquilo que sempre fizera. Nos quatro anos que por lá esteve ergueu várias urbanizações, num total de 500 habitações. O dinamismo empresarial foi reconhecido com várias comendas expostas numa vitrina junto à recepção do Hotel Equador, em Cascais. Um empreendimento que deixou em construção quando foi para o Brasil e que teve de comprar em hasta pública para o concluir depois do regresso em 1979. É o que lhe resta do império. O local onde centrou a sua vida. Ali trabalha, come e dorme. Ali alimenta a saudade de tempos passados e rumina a revolta de quem perdeu quase tudo. Num hotel situado num bairro que ajudou a construir e que tem o seu nome - J. Pimenta.
João Pimenta ainda pegou na empresa no início da década de oitenta. Mas a intervenção do Estado entre 1975 e 1979, que tinham como objectivo garantir a sua viabilidade, deixa-a com problemas graves de gestão, com dívidas contraídas à banca para pagamento dos salários. O criador tenta salvar a cria mas não consegue. O plano de viabilização proposto pelo Estado e pela banca estabelece metas inatingíveis. O mercado mudara entretanto. A concorrência multiplicara-se. O processo de falência começou em 1993 e ainda está a decorrer. O património (edifícios em construção e já concluídos, fábricas) foi quase todo vendido. Algum ao desbarato. O industrial diz que perdeu 15 milhões de contos (a valores de 1988) devido à acção do Estado, que foi alvo de uma acção em tribunal. Até à data diz que ninguém foi responsabilizado. https://omirante.pt/semanario/2006-11-29/entrevista/2006-11-29-a-ascensao-e-queda-do-imperio-j.-pimenta



ABRANTES: Morreu João Pimenta, empresário do Souto celebrizado pelo ‘Pois, pois! J.Pimenta!’ 2015-04-28
(…) Foi aqui que nasci. Daqui parti, tal como muitos outros conterrâneos, à procura de uma vida melhor. Calcorreei o mundo trabalhando, muitas vezes em situações amargas, mas que no fundo têm um sabor especial: chegar a esta idade com a consciência do dever cumprido”.

ao desafio, lançando o mesmo repto aos empresários: “A câmara não é um agente económico”, mas pode ser “um parceiro”. Justificando a sua presença no evento, recordou os seus tempos de adolescente em que havia um anúncio celebérrimo “Pois, pois, J. Pimenta”, que “era claramente uma marca do país”. Numa altura em que o país vive “uma situação muito difícil de crise e algumas dificuldades”, é importante mostrar “os bons exemplos”, neste caso “de um homem empreendedor. Um homem de uma enorme cultura de trabalho, de ambição, de projecto, de realização, de empreendimento, de criação”. Para o autarca, “não devemos ficar sentados à espera que alguém faça as coisas por nós. Tem que de haver capacidade e empreendimento e uma forte cultura de trabalho”. Afinal, argumenta, “é isto que o país precisa”. Adelino Branco, sócio número um da Sociedade Recreativa do Souto, considerou “óptima” esta homenagem, a qual “peca por tardia”. E sem rodeios, apontou “a inveja” como um factor que “leva muitas pessoas válidas do Souto, a afastarem-se da terra que os viu nascer”.https://www.antenalivre.pt/arquivo-de-noticias/abrantes-morreu-joao-pimenta-empresario-do-souto-celebrizado-pelo-pois-pois-j-pimenta/

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