Jorge Trabulo Marques - Jornalista - J. PIMENTA - QUEM O ESQUECEU?
Não perca, neste post, em registo sonoro, mais à frente, a breve mas expressiva entrevista que me concedeu João Pimenta, em meados da década de 80
Não perca, neste post, em registo sonoro, mais à frente, a breve mas expressiva entrevista que me concedeu João Pimenta, em meados da década de 80
Preço para turista se deliciar |
O que escreveria Fernando Pessoa, de Lisboa, se fosse vivo? |
SÓ NÃO VÊ QUEM NÃO QUER - "Lisboa é a sexta cidade europeia mais poluída pelos navios de cruzeiro – PÚBLICO
Cristiana
Faria Moreira 7 de Junho de 2019, 7:16 Ambientalistas
da Zero dizem que as emissões de óxidos de enxofre dos navios de cruzeiro na
costa portuguesa foram 86 vezes superiores às emissões dos automóveis que
circulam em Portugal. Associação sugere que seja criado um regulamento para
todos os portos europeus para que se atinjam níveis de limites de emissão zero
nos navios. https://www.publico.pt/2019/06/07/local/noticia/lisboa-sexta-cidade-europeia-poluida-navios-cruzeiro-1875646
O FENÓMENO PERVERSO DO LIBERALISMO SELVAGEM
A
liberalização do arrendamento urbano, veio agravar os problemas de
habitação: se um sem-abrigo, mesmo com uma reforma de 300 euros mais
50 de ajuda social, nem assim consegue ter meios para alugar um quarto agora
imagine-se quais as dificuldades por que passa quem se confine a um
modesto ordenado mínimo!
Janeiro de 2019
“Muitos de nós, que
vivemos na rua, durante muitos anos, poucas pessoas, se importam connosco! Até
nos viram a cara! - De vez em quando há uma associação que traz duas
sandes de fome e um iogurte: uma delas untada com manteiga e a outra com um
fatia de fiambre, em que se vê o sol -
O EMPRESÁRIO QUE PORTUGAL NÃO DEVE ESQUECER - Ouça o 2ª vídeo a seguir
De seu nome João
Gonçalves Pimenta, mais conhecido pelos anúncios publicitários de J. Pimenta, a
que antecedia o Pois, Pois!, já não faz parte dos vivos: faleceu, aos 89 anos,
em Lisboa, na véspera do 25 de Abril de 2006
De entre as centenas
entrevistas que fiz, a personalidades e a gente anónima, recordo hoje, em registo sonoro, extraído de uma das muitas
cassetes que guardo no meu extenso arquivo
de repórter na extinta RDP-Rádio Comercial, o breve mas expressivo diálogo que tive com o homem que mais
se popularizou no ramo da construção civil, mas que, os excessos
revolucionários do 25 de Abril - com os
trabalhadores a ocuparem-lhe a empresa, com saneamentos arbitrários suportados
em processos sumários, a par de desastrosas intervenções estatais - , acabariam
por ser o princípio do fim da mais
pujante empresa que o jovem pedreiro saído do Souto (Abrantes) foi
erguendo a pulso até se tornar num dos mais conhecidos industriais de
construção civil de Portugal, "o homem que construiu apartamentos a preços económicos e se
transformou numa figura nacional,"
Sim, foi na década de 80 que conheci e falei pela primeira
vez com o empresário mais popular da construção civil, em Portugal - Foi
num briefing empresarial: não me ocorre a que propósito.
Lembro-me apenas que o momento era de descontração e de muitos
sorrisos. de se ir bebericando, oportunidade de se irem saboreando
bebidas e aperitivos, naturalmente que em diálogos soltos e
descontraídos
Digamos,
que não seria a ocasião mais aprazada de se recordarem mágoas e
feridas, para que me desbobinasse o seu rosário de desgostos, tanto mais que, pelo que
pude depreender, conquanto, mais tarde, João Pimenta, viesse a
declarar:, que "fui o homem mais roubado deste país”,
naquela altura, ele era um homem francamente positivo, se bem que não
deixando de lamentar o abandono a que fora votado um grande estaleiro,
que construíra: - Mesmo assim, mais dado a olhar o futuro, a
corrigirem-se os erros do que era possível corrigir-se de que
propriamente a manifestar as mágoas do passado - Tal como o expressam
estas palavras, escritas por um jornal da sua região, aquando de uma homenagem que a Sociedade
Recreativa do Souto, sua terra natal, lhe prestara aos 81 anos.
"Pois,
pois, J. Pimenta”, que “era claramente uma marca do país”. Numa altura em que o
país vive “uma situação muito difícil de crise e algumas dificuldades”, é
importante mostrar “os bons exemplos”, neste caso “de um homem empreendedor. Um
homem de uma enorme cultura de trabalho, de ambição, de projecto, de
realização, de empreendimento, de criação”. Para o autarca, “não devemos ficar
sentados à espera que alguém faça as coisas por nós. Tem que de haver
capacidade e empreendimento e uma forte cultura de trabalho”. Afinal,
argumenta, “é isto que o país precisa
ANTECIPOU-SE AO 25 DE
ABRIL – PARTIU PARA O BRASIL TRÊS MESES ANTES -
Regressou 4 anos depois com a
empresa de pantanas
A Guerra colonial Portugal
mergulhara o pais numa grande instabilidade, num beco sem saída, ante a
condenação da diplomacia internacional: Marcelo Caetano, nem atava nem desatava
a herança salazarista - Os grandes empresários contavam-se pelos dedos
mas também estes, pelos vistos, já
haviam conhecido melhores dias.
Por seu turno, o saldo, que se agravava de mortes e estropiados, sem uma solução à vista, na intervenção
militar na Guiné, Angola e Moçambique, acabaria por abrir enormes feridas e um grande
descontentamento também no seio das Forças Armadas, ponto de partida para a revolução de Abril,
que derrubaria uma ditadura de 40 anos.
Saudada e apoiada a queda da fascismo pelo grosso da população
portuguesa, mas, infelizmente, embora trazendo a liberdade de expressão também trouxe muitos erros e excessos, quer na
vida interna do país, quer na descolonização que se seguiu.
“João Pimenta não esperou muito para ver no que dava o
fervor revolucionário.” – Em Fevereiro de 1976 já estava convencido que
por cá não tinha futuro. E foi para o Brasil trabalhar naquilo que sempre fizera
– Recordava o semanário jornal OMirante, em 29 de Novembro de 2006, sob o
título A ascensão e queda do império J. Pimenta - Pormenores mais à frente
O HOMEM QUE DEIXOU UMA VASTA OBRA NA CONSTRUÇÃO CIVIL E QUE QUERIA AINDA RELANÇAR UMA PORTA PARA UM FUTURO MAIS PROMISSOR - PARA A SUA EMPRESA E PARA OS PORTUGUESES
"Eu acho, perfeitamente,
que, corrigindo os erros do passado é
que encontraremos a plataforma para o futuro" - Declarou-me
Respondendo à minha pergunta de que construíra muitas casas, bairros,
que se pronunciasse sobre a atividade que desenvolveu, sobretudo antes
do 25 de Abril, que o catapultara para um lugar histórico na construção civil, começou por me responder:
JP - "Agora dedicar-me-ei ao turismo, ao mobiliário,
aos cerâmicos e sanitários para exportação para aumentar as divisas do país , declarava-me,
confiante de que “agora vou ter o
respeito do Governo presente e dos que vierem
quanto à minha atividade industrial
“Se me situar na outra, na construção
civil, dirão os governos! Dirão os partidos! Dirá o povo!- “Olha mais um construtor civil!
Ora bom!... Nós já aprendemos o suficiente
para dizer que isso tudo está errado!
É preciso a credibilidade! E, quando vier
a credibilidade, está tudo certo!
JTM - Sr. João Pimenta: tudo está errado mas a errar
se corrige o homem, não é?
JP – Eu acho, perfeitamente, que, corrigindo
os erros do passado é que encontraremos
a plataforma para o futuro
JTM – Mas, a nível da construção civil:
foi exatamente nessa área que teve uma atividade muito grande!... Gostaria que
me recordasse em termos da construção civil
JP – Aquilo que eu fiz, julgo que mais
nenhum português, o conseguiu fazer até hoje! Não me sinto lisonjeado nem
arrependido daquilo que fiz!..
Olhando para o passado, entendo que não
devo repetir a mesma façanha! Contudo, lamento, profundamente! que, tendo construído os maiores estaleiros da construção
civil nacional e da Europa, citado por alguns técnicos, sinto-me menosprezado de que,
neste momento, esteja abandonado! Sem poder construir habitações para os portugueses!...
Penso que não há mais credível para a sua pergunta: é triste! Mas é a
realidade!
ECOS DO QUE SE ESCREVEU DE JOÃO PIMENTA
“Boa parte dos portugueses ignora a vida
de João Pimenta. Mas viver num andar de J. Pimenta, ir ao bairro J. Pimenta,
usar as Torres J. Pimenta como referência espacial acontece a milhares” –
Escrevia o Observador, .ao dar a noticia da sua morte
Sublinhando que J. Pimenta. João Gonçalves Pimenta é um
dos muitos homens que o país tratou depreciativamente por “patos-bravos” e que
proliferaram nos anos 60
Originários de famílias muito pobres,
começaram a trabalhar na construção civil pouco mais que crianças. O
crescimento dos subúrbios da capital é também o da sua ascensão social: em
poucos anos os serventes tornavam-se pedreiros e depois empresários da
construção civil.
Souto - Abrantes |
Mas aquilo que o deixou na nossa memória
foram sobretudo os seus anúncios, alguns deles feitos em associação com os
Parodiantes de Lisboa, como o célebre “Pois, pois Jota Pimenta” que rapidamente
saltou da rádio e da televisão para a boca dos portugueses.
Já foi tempo... |
No pós-25 de Abril a J. Pimenta foi
ocupada pelos trabalhadores e intervencionada pelo Estado. Em 1975 João Pimenta
foi para o Brasil donde regressa anos depois para tentar recuperar o seu antigo
grupo económico. Compra em hasta pública algum do seu antigo património mas
falha no seu objetivo de colocar a J. Pimenta entre as grandes empresas de
Portugal. “Fui o homem mais roubado deste país” — declara algumas vezes.
Com os anos J. Pimenta tornou-se uma
referência toponímica. Boa parte dos portugueses ignora a vida de João Pimenta.
Mas viver num andar de J. Pimenta, ir ao bairro J. Pimenta, usar as Torres
J. Pimenta como referência espacial acontece a milhares.https://observador.pt/2015/04/27/morreu-o-construtor-do-pois-pois-jota-pimenta/
Referindo que “Pimenta é o apelido da
família humilde com raízes na freguesia do norte do Ribatejo bordejada pelo rio
Zêzere.João Pimenta não esconde a mágoa e a revolta quando fala do trajecto
turbulento que redundou na falência do universo J. Pimenta. O processo ainda se
arrasta pelos tribunais. “Fui o homem mais roubado deste país”, desabafa várias
vezes. Não aponta o dedo a ninguém em particular. Para ele os culpados são os
sucessivos governos que desde 1974 permitiram que uma empresa emblemática e
pujante se precipitasse no abismo.A seguir à revolução os trabalhadores tomaram
as rédeas da gestão da empresa. Efectuaram saneamentos arbitrários suportados
em processos sumários. Os militares assobiavam para o ar. Viviam-se tempos de
turbulência, de ódio, de perseguição, difíceis de compreender à luz dos tempos
actuais.
Oeiras - Por ali também andou obra de J. Pimenta |
A própria esposa de João Pimenta integrou a lista de funcionários e
administradores a sanear. A administração era acusada de má gestão. Mas nada
melhorou com a nova ordem. O Estado foi obrigado a intervir na empresa. Passou
a geri-la. Viviam-se tempos de crise económica. O mercado não ajudou e a
empresa nunca mais recuperou do estertor em que caíra pouco tempo depois da
Revolução dos Cravos. João Pimenta não esperou muito para ver no que dava o
fervor revolucionário. Em Fevereiro de 1975 já estava convencido que por cá não
tinha futuro. E foi para o Brasil trabalhar naquilo que sempre fizera. Nos
quatro anos que por lá esteve ergueu várias urbanizações, num total de 500
habitações. O dinamismo empresarial foi reconhecido com várias comendas
expostas numa vitrina junto à recepção do Hotel Equador, em Cascais. Um
empreendimento que deixou em construção quando foi para o Brasil e que teve de
comprar em hasta pública para o concluir depois do regresso em 1979. É o que
lhe resta do império. O local onde centrou a sua vida. Ali trabalha, come e
dorme. Ali alimenta a saudade de tempos passados e rumina a revolta de quem
perdeu quase tudo. Num hotel situado num bairro que ajudou a construir e que
tem o seu nome - J. Pimenta.
João Pimenta ainda pegou na empresa no início da década de oitenta. Mas a intervenção do Estado entre 1975 e 1979, que tinham como objectivo garantir a sua viabilidade, deixa-a com problemas graves de gestão, com dívidas contraídas à banca para pagamento dos salários. O criador tenta salvar a cria mas não consegue. O plano de viabilização proposto pelo Estado e pela banca estabelece metas inatingíveis. O mercado mudara entretanto. A concorrência multiplicara-se. O processo de falência começou em 1993 e ainda está a decorrer. O património (edifícios em construção e já concluídos, fábricas) foi quase todo vendido. Algum ao desbarato. O industrial diz que perdeu 15 milhões de contos (a valores de 1988) devido à acção do Estado, que foi alvo de uma acção em tribunal. Até à data diz que ninguém foi responsabilizado. https://omirante.pt/semanario/2006-11-29/entrevista/2006-11-29-a-ascensao-e-queda-do-imperio-j.-pimenta
João Pimenta ainda pegou na empresa no início da década de oitenta. Mas a intervenção do Estado entre 1975 e 1979, que tinham como objectivo garantir a sua viabilidade, deixa-a com problemas graves de gestão, com dívidas contraídas à banca para pagamento dos salários. O criador tenta salvar a cria mas não consegue. O plano de viabilização proposto pelo Estado e pela banca estabelece metas inatingíveis. O mercado mudara entretanto. A concorrência multiplicara-se. O processo de falência começou em 1993 e ainda está a decorrer. O património (edifícios em construção e já concluídos, fábricas) foi quase todo vendido. Algum ao desbarato. O industrial diz que perdeu 15 milhões de contos (a valores de 1988) devido à acção do Estado, que foi alvo de uma acção em tribunal. Até à data diz que ninguém foi responsabilizado. https://omirante.pt/semanario/2006-11-29/entrevista/2006-11-29-a-ascensao-e-queda-do-imperio-j.-pimenta
ABRANTES:
Morreu João Pimenta, empresário do Souto celebrizado pelo ‘Pois, pois!
J.Pimenta!’ 2015-04-28
(…)
Foi
aqui que nasci. Daqui parti, tal como muitos outros conterrâneos, à procura de
uma vida melhor. Calcorreei o mundo trabalhando, muitas vezes em situações amargas,
mas que no fundo têm um sabor especial: chegar a esta idade com a consciência
do dever cumprido”.
ao desafio, lançando o mesmo repto aos empresários: “A câmara não é um
agente económico”, mas pode ser “um parceiro”. Justificando a sua presença no
evento, recordou os seus tempos de adolescente em que havia um anúncio
celebérrimo “Pois, pois, J. Pimenta”, que “era claramente uma marca do país”. Numa
altura em que o país vive “uma situação muito difícil de crise e algumas
dificuldades”, é importante mostrar “os bons exemplos”, neste caso “de um homem
empreendedor. Um homem de uma enorme cultura de trabalho, de ambição, de
projecto, de realização, de empreendimento, de criação”. Para o autarca, “não
devemos ficar sentados à espera que alguém faça as coisas por nós. Tem que de
haver capacidade e empreendimento e uma forte cultura de trabalho”. Afinal,
argumenta, “é isto que o país precisa”. Adelino Branco, sócio número um da
Sociedade Recreativa do Souto, considerou “óptima” esta homenagem, a qual “peca
por tardia”. E sem rodeios, apontou “a inveja” como um factor que “leva muitas
pessoas válidas do Souto, a afastarem-se da terra que os viu nascer”.https://www.antenalivre.pt/arquivo-de-noticias/abrantes-morreu-joao-pimenta-empresario-do-souto-celebrizado-pelo-pois-pois-j-pimenta/
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