Jorge Trabulo Marques - Jornalista e investigador
De seu nome completo, João
Manuel Navarro Hogan. Nasceu em Lisboa, em 1914, numa família de pintores, com
origens na Irlanda. Era neto do aguarelista Ricardo Hogan e sobrinho do pintor
Álvaro Navarro Hogan.

De entre os
vários pintores e colecionadores de arte, que tive o prazer de entrevistar para a extinta Rádio Comercial-RDP – e foram
muitos - hoje vou aqui recordar, João Hogan – Está representado em vários
museus e coleções particulares mas não há
registo sonoro da sua voz na Net -“Pintor
de paisagens sem gente…Hogan gosta de descrever, o que pode sentir com as mãos…”,
na opinião do pintor e critico de arte, Rui Mário Gonçalves. f“Os seus
verdadeiros, primeiros mestres, foram,Cézanne e Van Gogh. As suas paisagens são
construídas, com formas sólidas “… na busca da síntese….e mostram um profundo
interesse pela vastidão e rudeza da terra…” (Inst.dos Museus e Conservação)”


COLECIONADORES DE ARTE – VÃO SENDO POUCOS E NOS
LEILÕES, JÁ VÃO LONGE OS MELHORES TEMPOS - É DE LOUVAR OS QUE RESISTEM ÀS NOVAS MODAS DO EXIBICIONISMO E
DO DESCARTÁVEL
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Ciclo Colecionar Arte. Raquel Henriques da Silva e José Lima
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JOÃO HOGAN - O ARTISTA DA SÍNTESE, DA SIMPLIFICAÇÃO - - COMEÇOU POR SER UM PINTOR DE PALETA AO DOMINGO NA SERRA DE MONSANTO ONDE APRENDEU A VER AS PAISAGENS MAIS NUAS DE QUE VESTIDAS

JH - Pintava ao domingo; portanto aquilo
que estava mais à mão era a serra de Monsanto: então eu ia pintar para a serra
de Monsanto, virando as costas a Lisboa…Foi sempre assim… Depois aquilo ficou
na massa do sangue. Criei o gosto por aquele motivo!...
JTM – Criou um motivo muito nu: porquê
essa nudez?
JH- Essa nudez foi escolhida!... A simplificação
tem muito a ver com isso: gostei sempre de simplificar… Até quando desenhava
figura, já lá estava a simplificação.
JTM – Mas gosta mais de desenhar paisagens
ou o retrato humano?
JH- Bem… eu fiz pouco retrato e poucas
coisas assim: de figura humana!.. Ultimamente é só paisagem!... É a
maior parte!...
JTM – Mas, na paisagem, apenas o aspeto
nu!
JH – A natureza… É uma questão de
gosto!...
JTM – Mas vê a natureza de uma maneira
assim tão nua, tão agreste?!...
JTM – Vejo!... E vejo a outra bonita!... Mas
que não me interessa para transmitir!... Vejo-as todas!... Mas vou à procura
daquela que eu gosto!...
JTM – Daquela que está talvez coberta, mas
que é a nudez dela que lhe interessa, fundamentalmente!
JH – Sim, sim!... É essa.

JTM – Agora, fale-me da importância desta
galeria!
JH – Acho muito interessante!... Acho que
tudo é pouco!... É pena haver poucas pessoas a consumirem estas coisas!... O
problema é esse!... Senão abririam mais galerias… Aqui há uns anos!... Há
uns vinte anos, estive a falar com uma pessoa que vivia em Madrid. Falou-se de
que, pessoas novas!... Trabalhadores!... Quando casavam, faziam questão de
levar para sua casa , para o seu lar, uma pintura portuguesa!... Até uma
gravura de Picasso!.., E, um Picasso!...Naquela altura, já custavam vinte ou
trinta contos!... E faziam questão!... Era num país em que passavam a vida a
ver pintura!... De maneira, que precisavam dela! E exijam-na até!...
JTM – Mesmo assim, a verdade que as
galerias de arte, vão surgindo!...
JH – É natural!... Mas depois se verá!...
(gracejando)
JTM – Por que é que se associou à abertura
desta galeria?
JH – Tal como lhe disse, há bocado, era
uma questão de apadrinhamento… Para dar interesse à galeria!... Ter bons
nomes!...
JTM – E fá-lo com gosto?!...
JH- Com certeza!
JTM – A localização não lhe parece um
pouco fora dos circuitos comerciais?!... Das pessoas aqui passarem?
JH – Isso acho… Mas as pessoas, que têm
conhecimento deste sítio, levam lá outras pessoas!...Bom… e às vezes nem
é o freguês que lá vai!... Compram pelo telefone!...
JTM – Quer dizer que os bons compradores,
estando interessados, eles procuraram!
JH- Olhe, uma das melhores galerias, que é
a galeria 111 no Campo Grande!... Que envolve muitos milhares de contos!...
JTM – Como vê a arte em Portugal, em
termos gerais?
JH – Sempre atrasada!... Sempre
devagarinho!... Os governos nunca a tomaram a sério!... E, agora, algumas
coisas que se fazem, é por arrastamento!...

De ascendência irlandesa,
era neto do aguarelista Ricardo Hogan e sobrinho do pintor Álvaro Navarro
Hogan.
Entre 1930 e 1939
trabalha numa oficina de marcenaria; entretanto inscreve-se na Escola Superior
de Belas Artes de Lisboa, que abandona ao fim de apenas um ano letivo, para
continuar, em 1937, os estudos com Frederico Ayres e Mário Augusto na SNBA.
Apresentará a sua obra publicamente pela primeira vez em 1942, na Exposição de
Arte Moderna do SPN, Lisboa.
Está representado em
diversas coleções e museus, nomeadamente no Museu Nacional Soares dos Reis, no
Porto, no Museu do Chiado e no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste
Gulbenkian, em Lisboa.[1]
Foi sócio fundador da
Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses, em Lisboa, onde dirigiu
diversos cursos de gravura, tendo um papel importante na formação das gerações
mais novas (muitos dos atuais gravadores de Portugal foram seus alunos).[2]
A 24 de agosto de 1985,
foi agraciado com o grau de Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.[5]

Na década de 1950 o seu
imaginário adensa-se, repartindo-se por paisagens cada vez mais poderosas e
pinturas figurativas de outro tipo, que o aproximam da figuração expressionista
que terá conhecido durante uma viagem a Bruxelas. Essa vocação narrativa
encontra na gravura, a que se dedica a partir de 1957, um novo fôlego, mais
tarde rejuvenescido pela aproximação "aos domínios do surreal e do
fantástico" [9].
A sua pintura irá no
entanto permanecer fiel ao ideário inicial, consolidando um território formal e
concetual único em Portugal; "a partir da década de sessenta […]
concentra-se numa infatigável pesquisa e constrói a mais séria possibilidade
nacional de uma paisagem moderna" [10].
Hogan é uma figura muito
particular no panorama artístico português. "Indiferente, quase hostil às
correntes estéticas internacionais que, nas suas versões portuguesas chega a
desconsiderar como fenómenos de moda" [11], o artista centra-se em imagens
que podem encontrar paralelo no caráter intemporal e quase metafísico das
naturezas mortas de Morandi. "Hogan repete-nos o milagre daqueles pintores
que, na obsessão das pequenas verdades da realidade quotidiana […] acabam por
mostrar o desconhecido para além do aparente, o intemporal sob o presente"
[12].

A partir da década de
1970 altera o seu processo de trabalho, substituindo a recolha direta de
imagens pelo recurso "à fotografia, a slides, ou a moldes paisagísticos
que vai construir, cortando e selecionando planos imaginários". Perdido o
contacto direto com a natureza, as suas imagens adquirem valores de
transparência e de irrealidade; "O aqueduto e as casas apagaram-se. A
vegetação rareia ou desaparece inteiramente" [15]; "os cenários são
áridos como desertos, os volumes arredondados como rochas antigas, fraturadas e
comprimidas" [16]. "Hogan pinta [...] um silêncio primordial que
convoca o mundo antes da História, soprado por ventos invisíveis que,
lentamente, alteram os corpos da paisagem" [17] (veja-se, por exemplo, Sem
título, 1972). https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Hogan
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