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sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

João Hogan – 04-02-1914 – 16-06-1988 - Recordando o pintor da simplificação da paisagem desnudada” gostei sempre de simplificar…” - Mas vê a natureza de uma maneira assim tão nua, tão agreste?!...perguntei - “E vejo a outra bonita!... Mas que não me interessa para transmitir!...” - “Os governos nunca tomaram a sério a arte!... E, agora, algumas coisas que se fazem, é por arrastamento!...”


Jorge Trabulo Marques - Jornalista e investigador



De seu nome completo, João Manuel Navarro Hogan. Nasceu em Lisboa, em 1914, numa família de pintores, com origens na Irlanda. Era neto do aguarelista Ricardo Hogan e sobrinho do pintor Álvaro Navarro Hogan. 

Hogan é considerado  pela critica "uma figura muito particular no panorama artístico português. "Indiferente, quase hostil às correntes estéticas internacionais que, nas suas versões portuguesas chega a desconsiderar como fenómenos de moda" [11], o artista centra-se em imagens que podem encontrar paralelo no carácter intemporal e quase metafísico das naturezas mortas de Morandi. "Hogan repete-nos o milagre daqueles pintores que, na obsessão das pequenas verdades da realidade quotidiana […] acabam por mostrar o desconhecido para além do aparente, o intemporal sob o presente"”


 



De entre os vários pintores e colecionadores de arte, que tive o prazer de entrevistar para a extinta Rádio Comercial-RDP – e foram muitos - hoje vou aqui recordar, João Hogan – Está representado em vários museus e coleções particulares mas não  há registo sonoro da sua voz  na Net  -Pintor de paisagens sem gente…Hogan gosta de descrever, o que pode sentir com as mãos…”, na opinião do pintor e critico de arte, Rui Mário Gonçalves. f“Os seus verdadeiros, primeiros mestres, foram,Cézanne e Van Gogh. As suas paisagens são construídas, com formas sólidas “… na busca da síntese….e mostram um profundo interesse pela vastidão e rudeza da terra…” (Inst.dos Museus e Conservação)”

A  breve entrevista, que me concedeu, em meados dos anos 80, década em que ele faleceu,  foi registada na inauguração de uma galeria de arte, creio que  numa rua de acesso ao bairro da Graça – Já me não  ocorre o sitio e o nome – Ele estava ali representado com alguns dos seus trabalhos, que me confessou terem sido expostos como apadrinhamento do referido espaço artístico. – Frisando,  “é  pena haver poucas pessoas a consumirem estas coisas!... O problema é esse!... Senão abririam mais galerias…  Aqui há uns anos!..

Há uns vinte anos,  estive a falar com uma pessoa que vivia em Madrid. Falou-se de que, pessoas novas!... Trabalhadores!... Quando casavam, faziam questão de levar para sua casa , para o seu lar, uma pintura portuguesa!... Até uma gravura de Picasso!.., E, um Picasso!...Naquela altura, já custavam vinte ou trinta contos!... E faziam questão!... Era num país em que passavam a vida a ver pintura!...  De maneira, que precisam dela! E exijam-na até!..

COLECIONADORES DE ARTE – VÃO SENDO POUCOS E NOS LEILÕES, JÁ VÃO LONGE OS MELHORES TEMPOS  - É DE LOUVAR OS  QUE RESISTEM ÀS NOVAS MODAS DO EXIBICIONISMO E DO DESCARTÁVEL

Ciclo Colecionar Arte. Raquel Henriques da Silva e José Lima
Infelizmente o gosto pela arte parece vir a dar lugar ao descartável, à cultura do brejeiro, do exibicionismo hedonista, da cultura do narcisismo, da sociedade do espetáculo,  orientada  pelo triunfo do individualismo e ao consumismo fútil em demanda incessante de prazer, veiculado nas redes sociais,  através do telemóvel, que é para onde a maioria dos olhares aponta nos transportes públicos, pois dificilmente já vê alguém a ler um livro ou um jornal. Os grandes colecionadores de arte estão em vias de extinção e, nos leilões, arte – seja pintura ou escultura – já conheceu melhores dias

É pois de louvar  aqueles que continuam a ter o gosto pela arte e a colecionam  - É o caso da coleção de  José Lima,  empresário do ramo do calçado, que investe em arte contemporânea portuguesa desde a década de 80, que se encontra parente em permanência no Centro de Arte Oliva, em São João da Madeira, distrito de Aveiro, mas que, no passado mês de Setembro, foi a grande atração  no Palacete de São Bento, a terceira edição da iniciativa "Arte em São Bento"  e que contou com rasgados elogios do PM, António Costa, que aproveitou  para elogiar  o papel dos colecionadores e investidores em arte contemporânea portuguesa https://www.cmjornal.pt/portugal/detalhe/costa-elogia-papel-dos-colecionadores-e-investidores-em-arte-contemporanea-portuguesa

 JOÃO HOGAN - O ARTISTA DA SÍNTESE, DA SIMPLIFICAÇÃO  - -  COMEÇOU  POR SER UM PINTOR DE PALETA AO DOMINGO NA SERRA DE MONSANTO ONDE APRENDEU A VER AS PAISAGENS MAIS NUAS DE QUE VESTIDAS

Começou por me recordar que costumava pintar ao domingo na Serra de Monsanto e de costas para Lisboa. Não lhe cheguei a perguntar para onde olhava mas, a avaliar pelos perfis de  alguns dos seus quadros, se bem que sempre de paisagem desnudada, despida de vegetação,  julgo que com os olhos nos montes da Serra de Sintra.

JH - Pintava ao domingo; portanto aquilo que estava mais à mão era a serra de Monsanto: então eu ia pintar para a serra de Monsanto, virando as costas a Lisboa…Foi sempre assim… Depois aquilo ficou na massa do sangue. Criei o gosto por aquele motivo!...


JTM – Criou um motivo muito nu: porquê essa nudez?
JH- Essa nudez foi escolhida!... A simplificação tem muito a ver com isso: gostei sempre de simplificar… Até quando desenhava figura, já lá estava a  simplificação.
JTM – Mas gosta mais de desenhar paisagens ou o retrato humano?
JH- Bem… eu fiz pouco retrato e poucas coisas assim: de figura humana!.. Ultimamente é só paisagem!...   É a maior parte!...
JTM – Mas, na paisagem, apenas o aspeto nu!
JH – A natureza… É uma questão de gosto!...
JTM – Mas vê a natureza de uma maneira assim tão nua, tão agreste?!...
JTM – Vejo!... E vejo a outra bonita!...  Mas que não me interessa para transmitir!... Vejo-as todas!... Mas vou à procura daquela que eu gosto!...
JTM – Daquela que está talvez coberta, mas que é a nudez dela que lhe interessa, fundamentalmente!
JH – Sim, sim!... É essa.




JTM – Agora, fale-me da importância desta galeria!

JH – Acho muito interessante!... Acho que tudo é pouco!... É pena haver poucas pessoas a consumirem estas coisas!... O problema é esse!... Senão abririam mais galerias…  Aqui há uns anos!... Há uns vinte anos, estive a falar com uma pessoa que vivia em Madrid. Falou-se de que, pessoas novas!... Trabalhadores!... Quando casavam, faziam questão de levar para sua casa , para o seu lar, uma pintura portuguesa!... Até uma gravura de Picasso!.., E, um Picasso!...Naquela altura, já custavam vinte ou trinta contos!... E faziam questão!... Era num país em que passavam a vida a ver pintura!...  De maneira, que precisavam dela! E exijam-na até!...

JTM – Mesmo assim, a verdade que as galerias de arte, vão surgindo!...

JH – É natural!... Mas depois se verá!... (gracejando)

JTM – Por que é que se associou à abertura desta galeria?

JH – Tal como lhe disse, há bocado, era uma questão de apadrinhamento… Para dar interesse à galeria!... Ter bons nomes!...
JTM – E fá-lo com gosto?!...
JH- Com certeza!
JTM – A localização não lhe parece um pouco fora dos circuitos comerciais?!... Das pessoas aqui passarem?
JH – Isso acho… Mas as pessoas, que têm conhecimento deste sítio, levam lá outras  pessoas!...Bom… e às vezes nem é o freguês que lá vai!... Compram pelo telefone!...
JTM – Quer dizer que os bons compradores, estando interessados, eles procuraram!
JH- Olhe, uma das melhores galerias, que é a galeria 111 no Campo Grande!... Que envolve muitos milhares de contos!...
JTM – Como vê a arte em Portugal, em termos gerais?
JH – Sempre atrasada!... Sempre devagarinho!... Os governos nunca a tomaram a sério!... E, agora,  algumas coisas que se fazem, é por arrastamento!...

DADOS BIOGRÁFICOS   -  João Manuel Navarro Hogan (Lisboa, 4 de fevereiro de 1914 — Lisboa, 16 de junho de 1988) foi um gravador e pintor português.

De ascendência irlandesa, era neto do aguarelista Ricardo Hogan e sobrinho do pintor Álvaro Navarro Hogan.


Entre 1930 e 1939 trabalha numa oficina de marcenaria; entretanto inscreve-se na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, que abandona ao fim de apenas um ano letivo, para continuar, em 1937, os estudos com Frederico Ayres e Mário Augusto na SNBA. Apresentará a sua obra publicamente pela primeira vez em 1942, na Exposição de Arte Moderna do SPN, Lisboa.
Está representado em diversas coleções e museus, nomeadamente no Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto, no Museu do Chiado e no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.[1]

Foi sócio fundador da Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses, em Lisboa, onde dirigiu diversos cursos de gravura, tendo um papel importante na formação das gerações mais novas (muitos dos atuais gravadores de Portugal foram seus alunos).[2]

A 24 de agosto de 1985, foi agraciado com o grau de Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.[5] 


A sua obra ficará tematicamente associada à representação da paisagem, prendendo-se desde logo com a longa tradição naturalista nacional [6]. Mas se as primeiras obras revelam a sua "admiração por Silva Porto, Columbano ou Malhoa" [7], veremos depois o pintor distanciar-se desse modelo e aderir a uma forma mais sólida de estruturar a imagem; datam de 1940 pinturas em que já é clara uma outra visão, mais consonante com a "pintura construída de Cézanne" [8]. É essa linha que vai desenvolver e aprofundar ao longo dos anos de maturidade.


Na década de 1950 o seu imaginário adensa-se, repartindo-se por paisagens cada vez mais poderosas e pinturas figurativas de outro tipo, que o aproximam da figuração expressionista que terá conhecido durante uma viagem a Bruxelas. Essa vocação narrativa encontra na gravura, a que se dedica a partir de 1957, um novo fôlego, mais tarde rejuvenescido pela aproximação "aos domínios do surreal e do fantástico" [9].

A sua pintura irá no entanto permanecer fiel ao ideário inicial, consolidando um território formal e concetual único em Portugal; "a partir da década de sessenta […] concentra-se numa infatigável pesquisa e constrói a mais séria possibilidade nacional de uma paisagem moderna" [10].
Hogan é uma figura muito particular no panorama artístico português. "Indiferente, quase hostil às correntes estéticas internacionais que, nas suas versões portuguesas chega a desconsiderar como fenómenos de moda" [11], o artista centra-se em imagens que podem encontrar paralelo no caráter intemporal e quase metafísico das naturezas mortas de Morandi. "Hogan repete-nos o milagre daqueles pintores que, na obsessão das pequenas verdades da realidade quotidiana […] acabam por mostrar o desconhecido para além do aparente, o intemporal sob o presente" [12].



Pintor da paisagem contemporânea, Hogan procura a "rudeza e vastidão"[13] das paisagens da Beira Baixa ou dos arredores de Lisboa. Inconformado com o cenário de uma malha urbana em crescimento, desloca-se para uma "zona de transição entre a cidade e o campo. […] Pontes, túneis, aquedutos, pedreiras, passagens de nível, ou […] pequenos aglomerados de casas ao longe, organizam-se numa espécie de subtemas que o pintor sucessivamente retoma" [14].


A partir da década de 1970 altera o seu processo de trabalho, substituindo a recolha direta de imagens pelo recurso "à fotografia, a slides, ou a moldes paisagísticos que vai construir, cortando e selecionando planos imaginários". Perdido o contacto direto com a natureza, as suas imagens adquirem valores de transparência e de irrealidade; "O aqueduto e as casas apagaram-se. A vegetação rareia ou desaparece inteiramente" [15]; "os cenários são áridos como desertos, os volumes arredondados como rochas antigas, fraturadas e comprimidas" [16]. "Hogan pinta [...] um silêncio primordial que convoca o mundo antes da História, soprado por ventos invisíveis que, lentamente, alteram os corpos da paisagem" [17] (veja-se, por exemplo, Sem título, 1972). https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Hogan

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