expr:class='"loading" + data:blog.mobileClass'>

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Poeta António Ramos Rosa - "Estou Vivo e Escrevo Sol" - Mas partiu para “A imobilidade Fulminante” há precisamente 6 anos


         Jorge Trabulo Marques - Jornalista, investigador e foto-jornalista 
ANTÓNIO RAMOS ROSA  EM MEMÓRIA DE UM GRANDE POETA DA LÍNGUA PORTUGUESA - Faleceu há seis anos - Deu-me a  honra e o prazer de ser seu amigo e de me receber várias vezes em sua casa- E até na residência onde se recolheu por razões de saúde - - 17 de Novembro de 1924 – 23 de Setembro de 2013




Tinha 88 anos, e uma vasta obra na poesia, ensaio e tradução. Nos últimos anos desenhou rostos de mulheres. António Ramos Rosa, algarvio  - O poeta e ensaísta António Ramos Rosa, de 88 anos, morreu no dia 23 de Setembro, de 2013, cerca das 14h de hoje, no Hospital Egas Moniz, em Lisboa, onde estava internado desde quinta-feira com uma pneumonia, disse ao Expresso uma sobrinha do escritor. https://expresso.pt/cultura/morreu-antonio-ramos-rosa=f831965




O teu fulgor soa alto sobre o pulso do silêncio
És uma palavra, uma única palavra
ardentíssima no centro do espaço.
É por ti que não cedo sobre as sombras
e cresço para devolver a água do bosque
do teu nome de fogo e de veludo.
Fora do íman da névoa, em grandes blocos de ar,
estendes a tua dança incandescente
e as tuas veias vibram entreabrindo a noite.
Leve e musical no teu barco redondo,
crias a ordem livre das constelações
e, gracioso veleiro, adormeces nas ondas
do teu peito de estrelas cintilantes.

António Ramos Rosa
In DEZASSETE POEMAS 1992



Aqui é um lugar neutro o lugar nu. O lugar livre
O lugar incandescente pobre e nulo
Porque não se pode começar no princípio
Aqui nada se disse e por isso está tudo por dizer
E por isso nada se dirá e por isso tudo se dirá" 

 - António Ramos Rosa


INSITUÁVEL LUGAR
Um oblíquo solo
adormecido iluminado

Confiança na lentidão para um desvio
e uma aliança no intacto
Canais inextricáveis
em todos os sentidos Nenhum
centro mas
estigmas eflúvios sussurros
sombras de animais furtivos
o bafo germinal o negro
do interdito corpo

Insituável lugar cintilações
de um jogo Como
iniciar a espiral para além do magma?
Desenrola-se sobre os resíduos sob o vento
uma espécie de
animal ou fábula ou deus pequeno
Sombras resvalam o Amarelo
Contém o negro As veias traçam
o contorno de uma palavras de pedra
Nenhuma semelhança a folhagem opaca
Um caminho nocturno principia
para a presença talvez de uma figura
Conivência de sangue com o ar
quando nasce uma folha um sol
quando o deslumbramento da ferida
fogos minúsculos no mármore ascendem
tenazes ténues moléculas
ao longo de uma língua de sombra e verde
um clamor se eleva  no limiar
de uma profunda câmara
de frescura
a linguagem confunde-se com a nascente
e clara boca abre-se ao esquecimento

 ANTÓNIO RAMOS ROSA – IN DINÂMICA SUBTIL - 1984


Recebeu-me, muitas vezes, em sua casa, a título pessoal ou por razões profissionais para a Rádio Comercial - Proporcionou-me agradáveis e inesquecíveis  momentos  de convívio  e até no café onde costumava ir. Tornámo-nos  amigos e visita praticamente familiar. Datilografei-lhes e passei-lhes alguns dos seus poemas para o meu  computador - ele não o usava, nem gostava dessa palavra mas havia outras que, ouvindo-as pronunciar, podiam ser o ponto de partida para um lindo poema -  sim, confiou-me alguns manuscritos (com uma letra quase indecifrável) para os transcrever, numa altura em que, por razões de saúde, ele tinha alguma dificuldade em escrever ou em batê-los à máquina - Outros vertidos directamente para o papel, que ía escrevendo, à medida que  brotando da sua mente










Escreveu expressamente meia dúzia de poemas para um livro com fotografias de nossa autoria, com textos de Lídia Jorge, Oliveira Marques e José Andrade - A editora, a quem entregamos o espólio não tendo cumprido com os prazos, foi-lhe retirado, pelo que o livro não chegou ainda a ser editado. Ofereceu-nos vários dos seus lindos desenhos, um dos quais com a nossa imagem. Dedicou-nos um lindo poema a uma das nossas fotografias, que registamos no Monte dos Tambores e outro também às aventuras que fizemos pelos Mares do Golfo da Guine, tal como também a sua grande amiga e companheira de todos os momentos, Agripina Costa Marques, a quem expressamos o nosso sincero pesar  

Já o homenageámos, nalgumas das tradicionais celebrações nos Templos do Sol,  o genial poeta - Simples, destituído de vaidade, como, aliás, são assim os grandes génios - Também ele o era na mais bela e original expressão poética - Sem dúvida, um dos maiores do nosso tempo. Por isso mesmo, a sua morte será apenas corporal, já que as suas palavras continuarão  intemporais, como um dos mais belos Templos do Sol da Poesia Portuguesa





A Festa do Silêncio
Escuto na palavra a festa do silêncio. 
Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se. 
As coisas vacilam tão próximas de si mesmas. 
Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas. 
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma. 

Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia, 
o ar prolonga. A brancura é o caminho. 
Surpresa e não surpresa: a simples respiração. 
Relações, variações, nada mais. Nada se cria. 
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça. 

Nada é inacessível no silêncio ou no poema. 
É aqui a abóbada transparente, o vento principia. 
No centro do dia há uma fonte de água clara. 
Se digo árvore a árvore em mim respira. 
Vivo na delícia nua da inocência aberta. 

António Ramos Rosa, in "Volante Verde


 TRANSCENDENTAL COINCIDÊNCIA  - Prestámos-lhe singular homenagem nos tempos do Sol, na celebração do Equinócio do Outono de 22 de Setembro, véspera de sua morte , 



OUTRAS POSTAGENS DEDICADAS AO POETA NESTE SITE 
23 DE SETEBRO – 2013  - MORREU O POETA DA FESTA DO SILÊNCIO QUE SE FEZ FELICIDADE DO AR E DA LUZ  
22 de Setembro 2013 - Festa do Silêncio" e Escrevo-te com o fogo e a água" de  António Ramos Rosa - A singela homenagem a um grande poeta  http://www.vida-e-tempos.com/2013/09/equinocio-do-outono-2013-festejado-hoje.html
17 de  2013 Outubro - António Ramos Rosa - Hoje 89 anos, se fosse vivo - Mas "há momentos em que a consideração da morte se impõe como a consumação prévia da finitude" António Ramos Rosa - Hoje 89 anos, se fosse vivo -
22 de Outubro de 2011 – ANTÓNIO RAMOS ROSA "TU PENSAS QUE OS CARDEAIS NÃO SE MASTURBAM, QUE NÃO VÊM AS TELENOVELAS  Tu Pensas que os Cardeais - Poema de António Ramos Rosa
17 DE Outubro de 2010  -ANTÓNIO RAMOS ROSA, POETA DO SOL E DA FACILIDADE DO AR, PARABÉNS ! 86 JÁ CANTAM! VENHA O SÉCULO E MAIS VERSOS antónio ramos rosa, poeta do sol e da facilidade do ar, parabéns



ANTÓNIO RAMOS ROSA  - Destacado poeta e crítico português nascido em Faro em 1924. Foi militante do MUD (Movimento de União Democrática) e conheceu a prisão política. Trabalhou como tradutor e professor, tendo sido um dos directores de revistas literárias como Árvore e Cassiopeia. O seu primeiro livro de poesia, O Grito Claro, foi publicado em 1958. A sua obra poética ultrapassa os cinquenta títulos. É ainda autor de ensaios, entre os quais se salienta A Poesia Moderna e a Interrogação do Real (1979-1980). Em 1988 foi distinguido com o Prémio Pessoa. Faleceu em setembro de 2013. https://www.wook.pt/autor/antonio-ramos-rosa/4108

António Ramos Rosa estudou em Faro, não tendo acabado o ensino secundário por questões de saúde[1]. Em 1958 publica no jornal «A Voz de Loulé» o poema "Os dias, sem matéria". No mesmo ano sai o seu primeiro livro «O Grito Claro», n.º 1 da colecção de poesia «A Palavra», editada em Faro e dirigida pelo seu amigo e também poeta Casimiro de Brito. Ainda nesse ano inicia a publicação da revista «Cadernos do Meio-Dia», que em 1960 encerra a edição por ordem da polícia política. https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Ramos_Rosa




Nenhum comentário: