Lisboa, 1988 – Jorge Amado:
"Eu não sou um apaixonado pela unidade ortográfica. Eu acho, como não há uma unidade literária de todos os elementos que formam as diversas nações, eu não vejo porquê esta tendência de unidade ortográfica compreende?...Porque, se vocês dizem facto, não podem escrever como nós escrevemos fato. O fato para vocês é uma peça de roupa e facto é um acontecimento, não é!.” – palavras do um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros, numa entrevista que me concedeu, na qualidade de repórter da então Rádio Comercial-RDP, acerca do Congresso de Escritores Portugueses, que decorreu naquele ano, em Lisboa
Com
obras publicadas em 55 países e vertida para 49 idiomas - Biografia | Fundação Casa de Jorge Amado
PORTUGAL - ROTA OBRIGATÓRIA DAS
VIAGENS DE JORGE AMADO
Depois do 25 de Abril. Jorge Amado, deslocou-se várias vezes a Portugal: vindo, nomeadamente, de Paris, onde passava algumas temporadas, sobretudo na década de 80, numa fase, literáriamente, ainda muito ativa – Não era que gostasse mais de viver na Europa de que no Brasil; o motivo não era esse mas a falta de privacidade e o necessário isolamento, que não conseguia encontrar na sua cidade natal, onde era constantemente solicitado - Nascido em Tabuna, a 10 de Agosto de 1912, Estado da Baía, e, em cujas terras, havia também de falecer: Em Salvador, 6 de Agosto de 2001
Confessou-me que adorava o nosso país: deliciar-se com a sua gastronomia, admirava
o artesanato do Minho (nomeadamente o da cerâmica), as belezas naturais,
o nosso sol, nosso clima, a simpatia das
nossas gentes, onde contava com bons
amigos, alguns dos quais, fonte de inspiração, como personagens nas suas obras: é o caso, por
exemplo, de Nuno Lima de Carvalho, diretor da Galeria de Arte do casino Estoril
Tanto
ele, como
Zélia Gattai, sua esposa, deram-me o prazer de me concederem várias
entrevistas, que aguardo no meu arquivo. Uma das quais feita por
ocasião do Congresso de Escritores Portugueses, em 1988 (creio que o
2º), ou
seja, dois anos antes da assinatura do então já polémico acordo
ortográfico – Obviamente, que o tema
não deixou de vir à baila, gerando acaloradas discussões, tal
como, de resto, ainda hoje continua a suscitar, agora sobre uma data em
que termina o período de transição..
e
entra definitivamente em vigor, depois
de adiado, há 3 anos, pela presidente Dilma Roussef , Polêmico, o Novo Acordo Ortográfico só entrará em vigor em
2016
O objetivo deste acordo é do de “criar uma ortografia unificada para o português, a ser usada por todos os países de língua oficial portuguesa. Foi assinado por representantes oficiais de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe em Lisboa, em 16 de Dezembro de 1990.1 Depois de recuperar a independência, Timor-Leste aderiu ao Acordo em 2004. O processo negocial que resultou no Acordo contou com a presença de uma delegação de observadores da Galiza" Acordo Ortográfico de 1990
JORGE AMADO E O SEU AMIGO GLAUBER ROCHA
“Ele estava recolhido em Sintra, trabalhando, num projeto de um filme (…) Infelizmente, neste momento, ele está enfermo: com uma pneumonia, que o levou ao leito, ao hospital, mas todos nós, seus amigos, seus admiradores, que o queremos, que o admiramos, que o amamos, enormemente, esperamos que, dentro em pouco, ele retomará o seu trabalho de cineasta e de intelectual, de brasileiro que é, um amigo dos portugueses” -
Entrevista concedida por Jorge Amado, em 6 de Agosto de 1981, a escassos dias do seu aniversário e da morte do seu grande amigo, o cineasta, Glauber Rocha, um dos cineastas mais notáveis do chamado Cinema Novo Brasileiro, iniciado no começo dos anos 60. – Esta entrevista, feita no dia em que se completavam 36 anos sobre o lançamento da bomba atómica sobre Hiroxima, assunto que também é colocado ao escritor Jorge Amado, foi transmitida na então Rádio Comercial – RDP e escutada por Glauber, então enfermo no Hospital da CUF, a quem telefonei, dando-lhe conhecimento, a pedido de Fernando Namora, com o fim de lhe dar ânimo.
Jorge Trabulo Marques – Jorge Amado, falou de irmão: irmão no sentido de grande amizade, é isso que quer dizer?
Jorge Amado – Sim, Veja: nós somos baianos, brasileiros ambos, escritores, intelectuais, pois que, Glauber é um grande escritor! Um admirável escritor! … Eu conheço-o, quase desde menino!... Eu vi quando ele começou o seu trabalho de cineasta, sei quanto o cinema brasileiro lhe deve: grande figura do nosso cinema
MAIS PORMENORES EM da entrevista sobre Glauber Rocha e do seu livro Sumiço de Santa, em http://www.odisseiasnosmares.com/2016/05/jorge-amado-os-filmes-de-glauber-rocha.html
JORGE AMADO NÃO CHEGOU APAIXONAR-SE PELO ACORDO ORTOGRÁFICO -
“Ele estava recolhido em Sintra, trabalhando, num projeto de um filme (…) Infelizmente, neste momento, ele está enfermo: com uma pneumonia, que o levou ao leito, ao hospital, mas todos nós, seus amigos, seus admiradores, que o queremos, que o admiramos, que o amamos, enormemente, esperamos que, dentro em pouco, ele retomará o seu trabalho de cineasta e de intelectual, de brasileiro que é, um amigo dos portugueses” -
Entrevista concedida por Jorge Amado, em 6 de Agosto de 1981, a escassos dias do seu aniversário e da morte do seu grande amigo, o cineasta, Glauber Rocha, um dos cineastas mais notáveis do chamado Cinema Novo Brasileiro, iniciado no começo dos anos 60. – Esta entrevista, feita no dia em que se completavam 36 anos sobre o lançamento da bomba atómica sobre Hiroxima, assunto que também é colocado ao escritor Jorge Amado, foi transmitida na então Rádio Comercial – RDP e escutada por Glauber, então enfermo no Hospital da CUF, a quem telefonei, dando-lhe conhecimento, a pedido de Fernando Namora, com o fim de lhe dar ânimo.
Jorge Trabulo Marques – Jorge Amado, falou de irmão: irmão no sentido de grande amizade, é isso que quer dizer?
Jorge Amado – Sim, Veja: nós somos baianos, brasileiros ambos, escritores, intelectuais, pois que, Glauber é um grande escritor! Um admirável escritor! … Eu conheço-o, quase desde menino!... Eu vi quando ele começou o seu trabalho de cineasta, sei quanto o cinema brasileiro lhe deve: grande figura do nosso cinema
MAIS PORMENORES EM da entrevista sobre Glauber Rocha e do seu livro Sumiço de Santa, em http://www.odisseiasnosmares.com/2016/05/jorge-amado-os-filmes-de-glauber-rocha.html
JORGE AMADO NÃO CHEGOU APAIXONAR-SE PELO ACORDO ORTOGRÁFICO -
Como é compreensível, a linguagem
é um fenómeno vivo e evolutivo. Se assim não fosse, o mundo era uma babel de
dialetos primários. E, na verdade, quanto mais pessoas falarem a mesma língua
mais essa língua evolui e ganha importância no contexto das nações. Saudamos
a sua entrada em vigor – aliás, já o adotámos, há algum tempo – Há, porém, quem tenha opinião contrária - perfeitamente respeitável. Era também
essa a posição de Jorge Amado, que,
antes do acordo assinado, já discordava dele.
CONGRESSO DE ESCRITORES DE LÍNGUA PORTUGUESA, COM PARTICIPAÇÕES QUE SE ESTENDIAM DESDE DA EUROPA., GOLFO DA GUINÉ, ÁFRICA, AMÉRICA
E OCEANIA.
Jorge Amado - Eu não estou apaixonado pela unidade
ortográfica. Eu acho, como não há uma unidade literária de todos os elementos
que formam as diversas nações, eu não vejo porquê esta tendência de
unidade ortográfica, compreende?...Porque,
se vocês dizem facto, não podem escrever como nós escrevemos fato. O fato para
vocês é uma peça de roupa e facto é que é um acontecimento.. Então, não
vejo porquê essa ansiedade de fazer uma ortografia que será sempre artificial.
JTM –
Mas, perante as instâncias internacionais,
nos congressos, por vezes a língua portuguesa é um pouco esquecida ou
marginalizada!,,Não acha importante que houvesse uma acordo
que desse alguma unidade?..
JA -
É possível… Se bem que
eu pense que a língua portuguesa não é
discriminada por isso. Eu acho que a importância da língua portuguesa, que é
uma língua muito importante, falada por uma enorme quantidade de milhões,
centenas de milhões de pessoas, uma língua na qual se desenrola uma vida de
países importantes, uma língua que projeta literaturas igualmente importantes, eu acho que a sua importância, a sua presença
no mundo se tornará mais sensível na proporção, que é economicamente, que os
nossos países pesem na vida mundial,
pelo que a ortografia é secundária..
.
JTM – Nomeadamente na UNESCO onde o
Português tem sido posto, de algum modo, de lado, por falta dessa unidade. Em
que interpretam o português falado de uma maneira, o português falado aqui, em Portugal,
de outra… Isso tem dado, a que, em certos congressos internacionais, português
não seja utilizado como língua oficial…
JA – Eu não sei… É possível… Eu não vou diminuir
o peso do seu argumento que é válido… Porém, o que eu noto, que os acordos ortográficos
feitos até hoje, têm resultado em nada!... E porquê?... Não atendem aos interesses, à realidade da língua
falada e escrita nos diversos países, me parece…
JM – Acha que os especialistas se esquecem
de contatar os escritores ou ter outros contactos, enfim, de outra ordem!... Evitando, assim, polémicas desnecessárias.
..
..
JA – Eu não sei!... Não estou tão a par
que pudesse ser.... Como lhe digo, pessoalmente, o acordo, como escritor, não me
atinge em nada…. Eu continuo a escrever. Inclusive, na minha vida de escritor,
que é bastante longa – é quase 60 anos
de trabalho de escritor, eu vi tanta ortografia, quando eu comecei a escerver com
dois “pês”, com dois mm, de forma que o que, o posso dizer é que eu não sei
nada de ortografia!... cada vez eu sei menos, porque cada vez é mais complicado
PORTUGAL - ROTA OBRIGATÓRIA DAS VIAGENS DE JORGE AMADO
–
2ª PARTE DA ENTREVISTA A JORGE AMADO PARA A HISTÓRIA DA LITERATURA –LUSO BRASILEIRA – 2ª parte - Nesta segunda parte: fala do seu livro Sumiço de Santa: uma história de feitiçaria, que só podia ocorrer na Baía, com personagens portuguesas; refugia-se em Paris, porque “é difícil para mim poder escrever no Brasil”, onde “tenho muito pouca privacidade e pouco tempo livre” – Situação no Brasil: A divida
externa é imensa!... É a maior do mundo!... Uma inflação terrível!...
“; Os valores materiais, pertencem a uma minora muito pequena da
população!...
"“A
Amazónia sofre os atentados desde que ela existe!... Desde que os
portugueses, lá chegaram…” “Agora, o que eu acho é que, cabe a nós
brasileiros, decidir sobre a Amazónia!..” Da Gastronomia Portuguesa: “Chego aqui… começo a comer… Faço um esforço para emagrecer!... Mas não é possível!...” De Fernando Namora: “um grande amigo de Jorge Amado: uma perda muito grande para a língua portuguesa!”... Da condenação por irão a Salman Rushdie– É
a forma mais violenta, que houve, até hoje no mundo!.. Você escreve um
livro e o Chefe de Estado!... Decreta que ele deve ser morto e oferece
uma quantia enorme em dinheiro para o assassinar!... É uma coisa, nunca
vista!... Você tem a impressão. Que, de repente, o mundo, andou para
trás!...” Sou contra qualquer espécie de censura: “ Tive os meus livros
proibidos! E queimados em praça pública!... Em Portugal, os meus
livros, durante anos e anos, não puderam ser publicados, aqui… E eram
vendidos às escondidas!.. E no Brasil, também!... “ – Jorge Trabulo
Marques – Jornalista
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