O talento artístico de António Fernando Mimoso, um filho querido e muito admirado de Vila nova de Foz Côa, é sobejamente conhecido em todo o concelho, quer nas muitas e bonitas casas que fez através da sua empresa de construção civil, quer pelos dotes excepcionais de escultor, revelados há 23 anos, aquando da descoberta das gravuras rupestres e também por sempre se haver revelado um dos grandes entusiastas e animadores do tradicional cortejo alegórico, por altura das festas da amendoeira em flor.
Sem dúvida, o homem que sempre viveu apegado às suas razies campesinas, o conceituado empresário, que subiu a corda da vida a pulso, graças ao seu espírito de esforçado empreendedor, mas também o talentoso artista, que teve a genial ideia, aquando da descoberta das gravuras do Vale Côa, de criar maravilhosas réplicas, embora inscritas em pequenos pedaços de xisto azul ou castanho, mas de surpreendente beleza artística.
Aproveito para aqui
transcrever um artigo, que editamos no Jornal ÉCÔA, na edição de Março de 1995,
na altura emm que passou a registar em placas de xisto as habilidades
dos homens pré-históricos - E a
revelar-se uma das mais imaginativas surpresas no tradicional cortejo
etnográfico da quinzena da amendoeira.
Fernando Mimoso - Numa das suas coreografias do Cortejo da Festa da Amendoeira |
"O xisto e a lousa do Vale
do Côa continuam a ser gravados 20 mil anos depois de desenhadas as primeiras
gravuras. Agora é António Fernando Mimoso que marca a pedra com figuras
rupestres
Para este empresário de
55 anos gravar na pedra é um passatempo que já vem dos tempos de infância e
juventude quando, durante o Verão, pouco havia que fazer na agricultura e a
tertúlia, os Ioqos de cartas e os passeios pelo campo preenchiam as horas
livres.
António Mimoso não se
considera um artista plástico. É apenas «amigo da arte, dos valores históricos,
da natureza e do desenvolvimento».
Esta filosofia de vida
levou-o inicialmente a defender a construção da barragem do Côa e a preservação
das gravuras rupestres através da musealização ou transferência dos blocos
xistosos em que se encontram.

As pessoas vão lá e não
entendem nada e não vêem nada que encha o olho», observa para sustentar a
necessidade de maiores atracções culturais e turísticas.
A reconstrução de velhos
moinhos abandonados ou em ruínas perto dos núcleos de gravuras podia ser uma
forma de mostrar -a arte de moer em tempos de antigamente..
António Fernando Mimoso
ganhou ao longo do tempo um certo carinho pelas figuras de auroques, cabras
cavalos gravados à beira do rio Côa mas também nas pendentes do Douro, lá para as
bandas do Vale de Canivães ou Vermelhosa.
As técnicas utilizadas de
gravar figuras -rupestres» são simples, quase rudimentares.
Um grosso
"cepo" de tronco de amendoeira serve de mesa de trabalho, o martelo é
um pedaço de xisto em forma retangular e como percutor um pequeno escopro ou
ponteira de aço.
CADA PEÇA É UM ATO DE
AMOR
Depois de colocar a pedra
sobre o tronco de madeira, o desenho previamente realizado num pedaço de papel
vegetal é decalcado.
Com pancada certa e
frequente, é picotado meticulosamente o traço previamente riscado na lousa,
depois aprofundado pela mesma ponta de aço para lhe dar mais relevo. Mais uns
pequenos retoques e está feita a obra: cavalos e auroques entrelaçam-se numa combinação
que mal parece uma dança ritual.
Para rematar, uma legenda
simples: "FOZ COA” e “F. M." ou "'A. M.", iniciais de seu
nome Fernando Mimoso.
O artesão “rupestre” já
está ajeitado ao desenho de figuras iguais. Embora em escala menor, aquelas que
há 20 mil anos os primeiros habitantes do Vale do Côa traçaram nas rochas ainda
não descobertas no seu todo, por estarem dispersas, submersas nas águas do Côa e do Douro ou
então escondidas numa qualquer encosta.
Para provar a
"arte" e engenho, António Fernando Mimoso escolheu uma pedra lisa de
xisto incrustada numa parede da via pública perto da sua residência. Com a
ponta de aço riscou a figura de um auroque, picotou o contorno e assinou F. M
..
E confessa: -“Num dia inteiro era capaz de encher o Vale do Côa
todo de figuras>>. Tal a rapidez e agilidade com que grava as réplicas
das manifestações paleolíticas.
Sentindo-se como «um
quase filho da Terra» porque, diz, “é dela que vem tudo», Mimoso afirma-se
amigo dos animais, dos que representa já extintos e dos que na sua
"criação" consigo conviveram no dia-a-dia: a galinha, o porco, o
burro.

António Fernando Mimoso
tem um sonho: “que um dia a Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa ou outra
qualquer entidade inclua as suas peças num Museu Municipal ou noutro
Até lá, vai criando e
recriando o passado distante dos homens do Paleolítico que já representou em
cortejos etnográficos da "Quinzena da Amendoeira em Flor" de Foz Côa:
vestiu-se de pele de cordeiro, cingiu-se com cordas, ajeitou um bordão em forma
de lança, colocou um peixe na boca, gesticulou
e soltou gritos, cobriu a
cabeça com u cabeleira desordenada e agarrou-se a u árvore que encimava o carro
alegórico.
Foi mais uma homenagem ao
passa que fez de Vila Nova de Foz Côa a Capital Mundial da Arte Rupestre ao ar
livre.
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