Marques Gastão e Gago Coutinho |
Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista e investigador
"A Salvação do Mundo está na inocência" – disse-nos Marques Gastão
Marques Gastão – Jornalista e Escritor – Um dos mais notáveis exemplos no jornalismo português, e, porventura, mundiais – Para o qual, os 20 anos à frente de um gabinete de imprensa, no aeroporto, enquanto o Salazarismo não lhe criou embaraços, constituíram, segundo as suas próprias palavras, uma universidade –
Sim, porque, foi justamente através dele que pôde entrevistar as mais importantes figuras do mundo, político, literário, artístico, religioso, que vinham de visita a Portugal ou que faziam escala em Lisboa, desde chefes de Estado aos últimos Papas – Mas também pelo facto de ter sido um verdadeiro viajante pelo mundo inteiro
"A Salvação do Mundo está na inocência" – disse-nos Marques Gastão
Marques Gastão – Jornalista e Escritor – Um dos mais notáveis exemplos no jornalismo português, e, porventura, mundiais – Para o qual, os 20 anos à frente de um gabinete de imprensa, no aeroporto, enquanto o Salazarismo não lhe criou embaraços, constituíram, segundo as suas próprias palavras, uma universidade –
Sim, porque, foi justamente através dele que pôde entrevistar as mais importantes figuras do mundo, político, literário, artístico, religioso, que vinham de visita a Portugal ou que faziam escala em Lisboa, desde chefes de Estado aos últimos Papas – Mas também pelo facto de ter sido um verdadeiro viajante pelo mundo inteiro
Da sua vasta obra de ficcionista destacam-se
romances: Três Vidas, Porta Maior e o Dia Já Nasceu Noite; Avalanche; Sunkim e
Maria da Luz Sem Olhos; Ânfora de Pérolas, novelas; A Voz de Eleonora, contos e ainda “Os Homens do
Mundo Falavam, Figuras do Meu tempo, entrevistas; Nas Rotas Históricas do
Mundo, reportagens; O Milagre de Fátima, O Peregrino de Branco, etc.
Entrevistei-o, para a Rádio Comercial –
RDP, na altura do lançamento do livro, “Encontros
Com António Duarte, editado pela Imprensa Nacional-Casada Moeda, na coleção
Arte e Artistas
Um livro baseado numa análise dos
trabalhos do escultor, António Duarte,
seu amigo desde a adolescência - E também
nos diálogos que decorreram durante as várias sessões em que, Marques Gastão, pousou para um busto, que o famoso artista, lhe dedicou.
Hoje, dia do Pai, lembrei-me de recuperar,
nos meus arquivos, a interessante entrevista, que, honrosamente, Marques Gastão
me concedeu, em sua casa, não apenas
para singularmente recordar uma figura exemplar do jornalismo português e mundial, como
também como singela dedicatória aos seus filhos, filhas e netos e netas, onde também se
têm destacado extraordinários nomes do jornalismo nacional, alguns dos quais (como Dulce Varela) meus companheiros das mesmas
lides, na antiga estação Rádio Comercial RDP, antes de ser privatizada
A Salvação do Mundo está na inocência –
disse-nos Marques Gastão
Sou um utópico, um idealista; não sou um pragmático.
E, como idealista que sou, considero essencial a defesa da liberdade do homem,
nos seus direitos humanos. E, por isso, quando, em 1942, fui para o aeroporto,
onde criei um gabinete de imprensa para servir todos os jornais do nosso país:
agências noticiosas e jornais da antiga África Portuguesa, dei-me como uma
universidade, dei-me como um sacerdócio, considerando o aeroporto uma universidade:
através do aeroporto, eu reeditei-me como homem, como jornalista e como
escritor
Começou a escrever com 11 anos de idade Mas, a sério, foi no Diário de Lisboa, nos
anos 30, levado pela mão do jornalista Joaquim Manso
“A memória é um alfobre de riqueza espiritual”
- “Eu penso como Camus: há mais coisas
num homem para admirar de que para desprezar” – “Eu sou um homem que procuro
conhecer-me a mim mesmo e o mais que
posso, dentro das limitações de cada um de nós”
Muitas personalidades que eu conheci me
deram elementos para o conhecimento de mim próprio. Por exemplo, o Aldous
Huxley, um homem extraordinário, autor do Admirável Mundo Novo, deu-me
ensinamentos, através das respostas às 14 perguntas, quando ele vinha de Roma,
que até eu lhe lembrei um livro que ele tinha escrito, As Portas da Perceção e
a Verdade e o Inferno, em que ele nos conta a experiência da mescalina.
Jorge Danel que me dizia que a salvação do
mundo está na inocência: o homem precisa de reconquistar a sua inocência para
se recuperar a si mesmo e dar dignidade à sua qualidade de homem: a inocência é
um força de uma profundidade que vai à raiz do ser humano! E é isso que falta
hoje ao mundo: a inocência dos homens, de uns perante os outros
Entrevistei o homem que bombardeou Tóquio James Harold Doolittle e o
piloto aviador que Supermarine Spitfire que, logrou escapar-se com pernas artificias de um campo de concentração nazi – Esses homens
deram-me respostas de uma tal compreensão humana e de arrependimento do passado
que acabaram de viver, que quase me
reconciliaram com a vida desse tempo
Mas ouça
entrevista, que não dará por perdido o seu tempo.
OUTROS DADOS BIOGRÁFICOS
Escritor e jornalista,
conferencista, investigador, Marques Gastão (1914-1995) foi redactor de O Século
e do Diário da Manhã, tendo
colaborado na maior parte dos diários portugueses, do Diário Popular ao Diário de Notícias e ao Correio da Manhã. Criou, em jovem, os jornais Voz da Mocidade e Belém
Recreio. Chefiou a Redacção da ex-Emissora Nacional. Em 1943, formou o
Gabinete de Imprensa do Aeroporto de Lisboa, de onde foi expulso, por motivos
políticos, em 1962. Fundador, em 1948, da agência noticiosa ANI (Agência de
Notícias e Informação), que veio a ser substituída pela ANOP. Em 1969,
construiu de raiz os Serviços de Imprensa da Fundação Calouste Gulbenkian, cuja
acção deu a conhecer ao longo de 22 anos, tendo-se reformado, em 1990, como
director-adjunto do Serviço da Presidência da mesma instituição.
Romancista, o autor de O Dia Já Nasceu Noite (1959) dedicou-se
também à novela e ao conto, à reportagem literária e à literatura de viagens
(de Itália ao México), bem como ao ensaio, à investigação histórica e à
tradução, nomeadamente de obras de italianos como Curzio Malaparte e Alberto
Moravia. Marques Gastão foi condecorado com a Ordem do Cruzeiro do Sul
(Cavaleiro Oficial), de Itália (Oficial da Ordem do Mérito), de Espanha
(Comendador da Ordem do Mérito Civil) e da Tailândia (Ordem do Elefante
Branco). Membro do Centro de Acção Latina em Roma, das Academias Cardeal
Borromeu de Mato Grosso, e da Academia Internacional do Mediterrâneo e delegado
do Centro de Intercâmbio de Trocas Internacionais de Roma. Entre os autores
estudados enquanto conferencista encontram-se Raul Brandão, Teixeira de
Pascoaes e Fialho de Almeida. Foi ainda um estudioso das relações entre
jornalismo e literatura.
A título de exemplo,
entre os seus entrevistados mais reconhecidos, destacam-se, no campo político,
os presidentes do Brasil, Juscelino Kubitschek de Oliveira, Getúlio Vargas e
João Café Filho; Giuseppe Pella – ao tempo em que era ministro dos Negócios
Estrangeiros de Itália –, os presidentes dos Estados Unidos, Dwight Eisenhower
e Harry Truman, bem como Winston Churchill, em 1948. Dialogou ainda com os
presidentes dos Estados Unidos do México
Lopez Mateus, Miguel
Aleman e Diaz Ordaz. Entrevistou igualmente os Papas João XXIII e João Paulo
II.
No campo literário e
artístico entrevistou, entre outros, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Erico
Veríssimo, Manuel Bandeira, Cecília Meirelles, Raquel de Queiroz, Dinah
Silveira de Queiroz, Alceu Amoroso Lima, Gilberto Freyre, Viana Moog, Jorge de
Lima; Giovanni Papini, Elsa Morante, Alberto Moravia, Piero Bargellini;
Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Françoise Sagan, André Maurois, Gabriel
Marcel, André Malraux; Aldous Huxley, John dos Passos, Graham Greene, Stephen
Spender, William Saroyan, Julien Green, Orson Welles; David Alfaro de
Siqueiros, Rufino Tamayo e José Luís Cuevas, principais muralistas mexicanos.
São variadas as entrevistas realizadas com escritores portugueses, de Ferreira
de Castro a David Mourão-Ferreira, e artistas internacionais, como Maria
Callas. Entre as entrevistas realizadas com artistas do cinema contam-se Frank
Sinatra, Ava Gardner, Rita Hayworth, Zsa Zsa Gabor, Silvana Mangano, ou
músicos, do pianista Arthur Rubinstein ao compositor Igor Stravinsky, ou à
bailarina Margot Fonteyn.
Marques Gastão divulgou,
com intensidade e constância, nos jornais portugueses, em periódicos
internacionais e em livros, a obra dos escritores e artistas de maior relevo da
literatura italiana, brasileira e mexicana. O seu vasto espólio inclui por
volta de 70 volumes, a maior parte esgotados, no domínio literário e da
investigação histórica. Deixou inéditos um diário (1984-1995) e um estudo
dedicado ao casamento da Infanta D. Leonor de Portugal com o Imperador
Frederico III da Alemanha
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