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sexta-feira, 25 de março de 2016

Escritora Fernanda de Castro - António Ferro - Esposa do intelectual mais íntimo e dedicado de Salazar, companheiro de Pessoa "O meu marido fez muitas intervenções para acabar com a censura e o Salazar dizia, sempre: “Pois é!... Você não sabe que em Portugal, há muitos caluniadores!...Não vê que eu tenho de defender a honra das pessoas!...



Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista e investigador - Imagens recolhidas da WEB

“Fernanda de Castro (…) O meu marido era jornalista, no Diário de Notícias e escreveu um dia um artigo, que se chamava, “O Homem e a Multidão!” – Era sobre Salazar, sobre o que ele estava a fazer! … E o Salazar mandou-o chamar!... Mandou-o chamar e conversaram, durante duas horas… E, por fim, o Salazar, perguntou-lhe: quer trabalhar comigo?!... Quer ajudar-me a levar a cabo o que eu quero fazer?!... E ele disse logo que sim …. Desde então para cá, foi de uma dedicação extrema, até ao fim! 

JTM – Fernanda de Castro, conheceu Fernando Pessoa!... Fernando Pessoa, privou também com António Ferro, de quem foi um grande amigo, um companheiro!... Já que,  ambos trabalharam no Orfeu!... António Ferro, foi o primeiro editor da revista Orfeu!.. Que recordação é que tem de Fernando Pessoa?

“ – Por Jorge Trabulo Marques – Jornalista  - Entrevista e pormenores mais à frente 

Já lá vão 26 anos - Pese a distância no tempo, que entrevistei, Fernanda de Castro, até me parece que foi ontem! – Tão nítida é a imagem que guardo ao dirigir-me para um antigo prédio pombalino, no Bairro Alto, também já com antigas lápides e com história, sim, recuando no tempo, franqueada a porta, até me parece ainda lhe estou a ver as mesmas expressões, de pessoa afável, sorridente, amável e franca, amorosa e otimista, reveladora de uma memória prodigiosa, de uma grande sensibilidade e generosidade, nomeadamente para com as crianças  –   às quais dedicaria vários obras -  ou não fosse também ela a  fundadora da Associação Nacional de Parques Infantis, associação na qual teve o cargo de presidente – pois, não obstante tantos anos volvidos,  ainda a revejo deitada numa estreita cama, talhada quase ao seu corpo, creio que ao canto esquerdo da sala de sua casa, onde haveria de permanecer, quase sem se movimentar, durante alguns anos, mas não impossibilitada de  escrever, de prosseguir a sua vida literária, já que, além de presença frequente e carinhosa dos seus filhos (netos e netas), sim, de uma família que ela tanto adorava, tal como me confessou, teve também a felicidade de ser acompanhada por uma grande amiga, que, sendo também poeta, nascida em Moçambique, de origem  portuguesa, a qual, além  de lhe prestar a assistência de que carecia, também lhe passava ao papel os textos ou poemas, que ela lhe ditava  - E fazia-o, sobretudo, irmanada  por uma  profunda admiração que, Cristina,  tinha pela sua amiga Fernanda de Castro
"SALAZAR ERA UMA PESSOA TÍMIDA"

"O meu marido ralhava muito com ele  -“ ralhava, entre aspas” – porque ele nunca queria ir a coisas públicas!... E o meu marido, dizia-lhe que era preciso que o povo o conhecesse para guardar uma imagem dele, mais perfeita, mais completa. E ele dizia: ou passeio ou trabalho! – Era uma frase dele.

Mas, um dia, o meu marido, lá o convenceu a ir ao lançamento de um barco. Mas ele esteve, tão pouco tempo, tão pouco tempo, que os fotógrafos nem sequer tiveram tempo de o fotografar, nem os jornalistas de o entrevistar, nem nada!...
Então voltou para casa e o meu marido, zangou-se com ele e disse-lhe: -
 Ó Sr. Presidente! Ainda foi pior ter ido que não ir!... Porque, assim, ninguém ficou satisfeito!
Salazar, deu um suspiro e disse: - Ah!.. António Ferro!... Eu bem sei que não são as qualidades, que me faltam, são os defeitos!" - Ouça o video. mais à frente.

FERNANDA DE CASTRO - UM VULTO SINGULAR NA LITERATURA PORTUGUESA 

"O escritor David Mourão-Ferreira, durante as comemorações dos cinquenta anos de actividade literária de Fernanda de Castro disse: “Ela foi a primeira, neste país de musas sorumbáticas e de poetas tristes, a demonstrar que o riso e a alegria também são formas de inspiração, que uma gargalhada pode estalar no tecido de um poema, que o Sol ao meio-dia, olhado de frente, não é um motivo menos nobre do que a Lua à meia-noite” - In A Voz da Poesia - Fernanda de Castro 

Já lá vão 26 anos, sobre o dia em que, a autora de África Raiz –  belo livro de poemas dedicado à terra de Bolama, em cujos braços repousa minha Mãe, mas  acima de tudo, uma elegia a África – "Ventre de Continentes, / és mater e matriz. / Ásia é semente, Europa é flor, / outros serão essência ou tronco, / tu, África, és raiz.”: mas também autora de “Cartas Além do Tempo; o Náufrago, Tudo é Princípio, Maria Lua, A Princesa dos Sete Castelos, Ao Fim da Memória, Cartas a um Poeta, entre cerca de três dezenas de títulos, repartidos por romance, teatro, literatura infantil, tradução, sim, me receberia em sua casa, depois de já me ter dado esse honroso e grato prazer, três anos antes, ou seja, em 1987, quando ali me desloquei, na qualidade de repórter da Rádio Comercial-RDP – Registos esses que ainda guardo no meu arquivo, em duas cassetes, entre três centenas de outras gravações, com as mais diferentes  personalidades.

 Nem todo o seu conteúdo foi transmitido, dada a extensão de muitos desses diálogos, o mesmo sucederia com as duas entrevistas a Fernanda de Castro, com declarações ainda hoje inéditas, sendo esta umas das razões pelas quais  resolvi guardá-las, na expectativa de que, mais tarde, o pudesse fazer – E é justamente este o meu propósito  dividindo as entrevistas, em duas partes temáticas: a que hoje apresento, é a aquela em que a escritora  me falou das relações seu marido, com Oliveira Salazar, – E também das impressões que guarda de Fernando Pessoa, com o quem privou – Nomeadamente na redação da Revista Orfeu.
 CLIKE E OUÇA A ENTREVISTA

O Segredo é Amar (1)
O segredo é amar. Amar a Vida/ com tudo o que há de bom e mau em nós./ Amar a hora breve e apetecida,/ ouvir os sons em cada voz/ e ver todos os céus em cada olhar./ / Amar por mil razões e sem razão... -
Poemas - Fernanda de Castro - Poemas / Poesia de


Maria Fernanda Teles de Castro e Quadros Ferro (1900-1994
Romancista, poeta e conferencista portuguesa, conhecida pelo seu nome de solteira, com vasta e diversificada obra, escreveu poesia, literatura infantil, romance e memórias. Filha de um oficial da Marinha ficou órfã de mãe aos doze anos. Estudou em Portimão, Figueira da Foz e Lisboa, tendo frequentado, nesta cidade, os Liceus D. Maria Pia e Passos Manuel. Começou por escrever livros infantis com sucesso nomeadamente "Mariazinha em África", 1926; "A Princesa dos Sete Castelos" e "As Novas Aventuras de Mariazinha", 1935. Conheceu África que transmitiu com talento nos seus livros. Casada com António Ferro, jornalista e homem forte do regime de Salazar, promoveu a cultura no país e estrangeiro em importantes exposições. Criou e desenvolveu, nos anos trinta, a Associação Nacional dos Parques Infantis, dadas as suas excelentes relações com as mais altas instâncias governamentais. A sua poesia é francamente inspirada e está de novo a ser divulgada. Destacam-se "Asa no Espaço", 1955; "Poesia I e II", 1969, "Urgente", 1989. David Mourão-Ferreira elogia vivamente a sensualidade feminina dessa poesia. Fernanda de Castro recebeu, em 1969 o Prémio Nacional de Poesia e recebera em 1945 o Prémio Ricardo Malheiros pelo romance "Maria da Lua". Escreveu até praticamente ao fim da vida, embora nos últimos anos a doença a retivesse na cama. Foi avó da escritora Rita Ferro. Escreveu “Ao Fim da Memória: Memórias (1906-1986)”, 1986. O Leme - Biografia de Maria Fernanda Castro


É a Urgente, ultimo livro de poemas publicado em 1989 pela escritora, que vou buscar dois poemas que de uma forma pungente contam da solidão e da velhice, o que à nossa volta encontramos, se pararmos para olhar e ver. Confidenciava-me há poucos anos pessoa amiga que entre as suas relações, uma mulher lhe dizia: a viver sozinha prefiro qualquer pessoa comigo para pelo menos ouvir uma porta bater. Solidão e velhice em dois poemas de Fernanda de Castro

Uma das personagens mais complexas, paradoxais e marcantes do Estado Novo, António Ferro viveu uma juventude artística, de pendor essencialmente literário [9] . A par desta sua faceta, destacou-se como jornalista no meio público nacional: em 1924 ingressou no Diário de Notícias, na sequência de uma carreira iniciada em O Século (1920), continuada no corpo redatorial do Diário de Lisboa (1921), com crónicas e estudos críticos sobre literatura e teatro, e na Ilustração Portuguesa, como diretor (1922). Neste percurso, sobressaiu como entrevistador, tendo realizado um conjunto significativo de entrevistas a personalidades internacionalmente conhecidas (Torgal 2012) [10] .

Politicamente, Ferro sentia-se atraído pelas direitas nacionalistas e autoritárias que então despontavam no continente europeu, corporizadas por chefes dinâmicos, homens de ação, figura que encontrou no recém-nomeado Presidente do Conselho, que deu a conhecer ao público através de uma série de cinco entrevistas realizadas em finais de 1932. Terão sido estas entrevistas que o conduziram diretamente ao cargo assumido no ano seguinte, o de diretor do recém-criado Secretariado da Propaganda Nacional, então com 38 anos [11]. António Ferro e a projeção atlântica de Portugal através  do cinema 


 A LIGAÇÃO DO MEU MARIDO COM SALAZAR, NÃO TINHA NADA A VER COM A POLITICA - ELE ERA CRIADOR DE BELEZA E DE ARTE 

O meu marido ralhava muito com ele  -“ ralhava, entre aspas” – porque ele nunca queria ir a coisas públicas!... E o meu marido, dizia-lhe que era preciso que o povo o conhecesse para guardar uma imagem dele, mais perfeita, mais completa. E ele dizia: ou passeio ou trabalho! – Era uma frase dele.
Mas, um dia, o meu marido, lá o convenceu a ir ao lançamento de um barco. Mas ele esteve, tão pouco tempo, tão pouco tempo, que os fotógrafos nem sequer tiveram tempo de o fotografar, nem os jornalistas de o entrevistar, nem nada!...
Então voltou para casa e o meu marido, zangou-se com ele e disse-lhe: -
 Ó Sr. Presidente! Ainda foi pior ter ido que não ir!... Porque, assim, ninguém ficou satisfeito!
Salazar, deu um suspiro e disse: - Ah!.. António Ferro!... Eu bem sei que não são as qualidades, que me faltam, são os defeitos!
JTM – Quer com isto dizer, que, Salazar, era uma pessoa, em seu entender!...
FC – Muito retraída!...
JTM – Não gostava do contato do público, porquê?.. Pela sua natureza!... Pela sua simplicidade?...

FC – Eu penso que ele era uma pessoa tímida.
JTM – No seu livro, relata outro episódio, muito interessante, relacionado com Salazar: em que, Salazar, pede  a António Ferro, para ir ver os murais de Almada Negreiros, na Gare Marítima de Alcântara, porque, Duarte Pacheco, dizia que não prestavam! Que não eram decentes!... Já, agora, gostaria que me recordasse esse episódio, que se referisse a ele.
FC – O Duarte Pacheco, era um homem extraordinário!... De uma inteligência enorme!... E competentíssimo! Mas não percebia nada de pintura moderna!... – Não se pode perceber  de tudo, não é!...
E então foi ter com Salazar e disse-lhe: “Olhe, não deixe que aquilo, seja lá posto!... É uma vergonha! … Vêm os estrangeiros, e, logo de entrada, encontram aqueles burrões!... “
Então o Salazar ficou muito perturbado e disse ao António: “Vá ver!... Vá ver e diga-me a verdade!..”
O António foi lá ver,  e, quando voltou, o Salazar, perguntou-lhe: “Então!...
Meu marido, respondeu-lhe: Então?!... Então é uma maravilha!
O Salazar ficou  duvidoso mas depois o António, insistiu, e ele disse: toma a responsabilidade?! … Tomo!... – E foi assim que lá ficaram.

JTM – Era então vontade de, Duarte Pacheco, destrui-los!!..
FC – Sim, o Duarte Pacheco, achava que não eram dignos de receber os estrangeiros!... Não percebia nada de pintura!... Ele mesmo depois, dizia: é um facto que eu não percebo nada de pintura moderna! Mas é uma questão de gosto... Não gosto!!..
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JTM – Já, agora, gostaria que me falasse também de António Ferro: - António Ferro é considerado, por um certo sector da opinião pública,  como uma pessoa muito ligada a Salazar!... Que cometários é que faz a esse respeito?

FC – Bem… Isso é uma história muito comprida…  A ligação do meu marido, com Salazar, não tem nada a ver com a política!... Absolutamente nada!...O meu marido era jornalista, no Diário de Notícias, e escreveu um dia um artigo, que se chamava, “O Homem e a Multidão!” – Era sobre Salazar, sobre o que ele estava a fazer! … E o Salazar mandou-o chamar!... Mandou-o chamar e conversaram, durante duas horas… E, por fim, o Salazar, perguntou-me: quer trabalhar comigo?!... Quer ajudar-me a levar a cabo o que eu quero fazer?!... E ele disse logo que sim …. Desde então para cá, foi de uma dedicação extrema, até ao fim!

JTM – Mas, António Ferro, não era um político, era um intelectual?!
FC – Era um intelectual!.. Não era nada político!.. Nada! Nada!... A política, não lhe interessava nada!... Interessava-lhe a política do espírito!... E, por isso, dedicou a sua vida inteira, sacrificando a vida de escritor…  
JTM – A Grande Exposição do Mundo Português, pertence-lhe, entre outras coisas!
FC- Não!.. Só a ele, não!.. Isso, não é justo!... Foi uma ideia de vários: era o Dr Augusto de Castro, o Dr. Júlio Dantas e ele, os três principais… Ele era Secretário-geral… E os outros, eram presidentes e diretores.

 – António Ferro, um intelectual!.. Gostaria que se referisse um pouco mais a essa faceta, digamos, dele.

FC – Ele tinha muita pena não ter mais tempo para escrever!... E dizia: eu posso dizer, com verdade, que sacrifiquei alguma coisa ao meu país, porque, não posso escrever e ao mesmo tempo fazer tanta coisa que tenho que fazer!... Tanta responsabilidade!...
E tinha! Tinha uma responsabilidade enorme!... Ele tinha o Turismo! A Emissora Nacional! Os cinemas ambulantes! O teatro ambulante!... Tinha o Verde-gaio! .. Tinha uma parte da imprensa!... Enfim, eu já nem me lembro…
JTM – E também foi embaixador de Portugal, lá fora…
FC – Aí, foi propriamente, descanso!... Porque, isso, ser Ministro, em Berna ou em Roma, foi um descanso para quem trabalhava todos os dias, até às duas da manhã.


JTM – Diz, Fernanda de Castro, no seu livro, que, António Ferro, gostaria de ter feito um filme, sobre Portugal, que era o seu grande sonho!... Que filme é que ele gostaria de fazer?..

FC – Bem, ele teve a ideia e depois o filme realizou-se”… Foi realizado… Chama-se  Rapsódia Portuguesa  Foi eu que o fiz… Fiz  o guião…. Como o meu marido morreu, pediram-me a mim para o fazer!... Esteve para ter o Prémio de Canes!... Não teve por razões caseiras, de ordem caseira!... Teve um prémio, depois em França… E não sei porque não o deram na televisão: porque, têm dado até à Revolução de Maio… já podiam ter dado esse… É um filme que eu acho, muito bonito, pelo que demonstra de Portugal..

JTM – A Comissão de Censura, estava instalada, próxima ao SNI…
FC – Estava instalada no palácio Foz mas não tinha nada que ver com o meu marido e com o SNI, nada!...
JTM – Considera que o seu marido, nunca fez qualquer intervenção, nesse aspeto?..
FC – Meu marido fez muitas intervenções, junto de Salazar, para acabar com a censura, muitas!... E o Salazar dizia, sempre: “Pois é!... Você não sabe que em Portugal, há muitos caluniadores!... Não vê que eu tenho de defender a honra das pessoas!
O meu marido, trabalhou 17 anos, com Salazar… Tudo questões intelectuais!... De cultura, só!.. Porque, a censura, não pertencia ao SNI… Estava instalada no SNI, como podia ter estado instalada num outro organismo qualquer… O Palácio era muito grande… Tinha instalações!... Mas ele nunca entrou na censura!... Só lá ia quando lhe pediam para salvar artigos ou livros, que estavam presos!... Ele nunca lá entrou, como Diretor!.. Nunca teve nada a ver com a censura!

JTM – Portanto, ele era sobretudo um pensador!..
FC – Ele era um organizador, um criador de beleza e de arte!... Foi a primeira pessoa que se importou a sério, com o turismo: foi ele que organizou o teatro ambulante, o cinema ambulante, o primeiro teatro de algibeira, que era no antigo cinema Tivoli… Fez os ranchos folclóricos, em grande parte! Fez as pousadas!... Teve um trabalho importantíssimo, na Exposição do Mundo Português!... Foi o responsável por toda a exposição de arte, em 37 em Paris, em 39 em Nova Iorque e na Califórnia!... De maneira, que, realmente, o trabalho dele, foi todo, puramente intelectual!... Era um grande admirador de Salazar!.. Um grande convicto!.. E, como ele, era muito patriota -  e nós tivemos aqui um período, muito  mau, mito mau!, que ainda foi pior que aquele que se seguiu ao 25 de Abril…  - o Salazar, apareceu, realmente, como uma espécie de Salvador!... Realmente, pôs-nos a vida a direito!... E, lá fora, passamos a ter uma consideração, que não havia!... Como, aliás, neste momento, está a acontecer!... Neste momento, as coisas estão a melhorar…
Naquele tempo, o dinheiro português, não valia absolutamente nada!... E, a  pouco e pouco, as coisas foram-se modificando!... E ele colaborou muito, nessa parte toda!... Mas nada com a política!... Com a política, nunca se meteu!... Era realmente, uma pessoa, muito conservadora, como sempre foi!... Mas, com a censura, nunca teve nada que ver!...

JTM – Fernanda de Castro, conheceu Fernando Pessoa!... Fernando Pessoa, privou também com António Ferro, de quem foi um grande amigo, um companheiro!... Já que,  ambos trabalharam no Orfeu!... António Ferro, foi o primeiro editor da revista Orfeu!.. Que recordação é que tem de Fernando Pessoa?
FC – Fernando Pessoa, era uma personalidade, muitíssimo reservada!... Aparentemente, muito frio e tímido!... Muitíssimo trímodo!... Mas, com olhar bom! Com um olhar simpático e agradável

JTM – Naquela altura, a Fernanda, tinha 13 ou 14 anos!...
FC – Eu?!... Não. Tinha para aí os meus 18 anos, quando o conheci…
 Com grande surpresa minha, aqui há tempos, a arrumar os papéis, encontrei uma fotografia dele, com uma das minhas tias, irmã da minha mãe… Eu não sabia, sequer, que ela o conhecia!... Era uma pessoa, que era afável, como lhe digo.. No fundo, gostava da companhia dos amigos mas era muito tímido!

JTM – Na altura, teve a impressão de que se tratava já de uma figura especial?....
FC – Não!.. Não tive eu nem ninguém!... Ninguém!... Primeiro, porque ele escondia o que fazia…Mostrava muito poucas coisas aos amigos!... Agora é que têm descoberto tudo!.. E ainda está muito por descobrir!... A arca ainda está cheia de papéis dele e com poemas inéditos!
JTM – E, António Ferro, falava-lhe dele, naturalmente!...
FC – O António, sim, porque encontravam-se na redação do Orfeu… Parece-me que conto nesse livro, a razão porque o meu marido foi o editor… É que eles não tinham dinheiro nenhum e tinham medo de ser presos se não pagassem as dívidas!... E então puseram o meu marido, como editor por ser o mais novo, era menor, e não tinha tantas responsabilidades


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