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sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Pintor-escultor, Luis Oitaven Rodrigues, Luso-galego, em exílio forçado em Espanha – Embaixada encerra serviços em Lisboa e o autodidata, que dialoga com o silêncio das pedras que esculpe, teve que passar a residir em Cárceres para não perder direitos sociais.



Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista   C



Embaixada do Reino de Espanha, em Lisboa, encerra Departamento dos Serviços de Agricultura, Pescas e Alimentação, a pretexto de corte de despesas e procede a despedimentos. Um dos funcionários atingido é o pintor-escultor, Luis Rodrigues, filho de uma portuguesa e de um galego, nascido em Lisboa mas com dupla nacionalidade, que,  para não perder o subsídio de desemprego,  viu-se  forçado a ir residir em Cárceres, durante os próximos dois anos, altura em que poderá passar à pré-reforma

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Luís Oitaven Rodrigues  - Perdeu o emprego na Embaixada de Espanha em Lisboa, devido ao encerramento do departamento onde trabalhava, desde há vários anos, – Agora, viu-se  obrigado a ir para Espanha, para onde partiu esta semana,  8 de Setembro, para não ficar sem  o subsídio de desemprego.

Quase uma vida  ao serviço de Espanha  - Tal como a de seu pai  - Um galego, que não conheceu outra profissão que não  a de servir a coroa espanhola na Embaixada em Portugal -  Porém,, num  tempo em que a precarização laboral se institucionaliza, em que fazer 12 horas seguidas passa a ser uma rotina e não uma exceçao, em que  pessoas passam a ser meros números estatísticos  e todos os valores, desde a dedicação, ao esforço  e à fidelidade, já não bastam  para garantir o pão de cada dia, que dizer ou então que  perguntar:  - Que mal maior virá a seguir ou  ainda estará para acontecer?!...

Seu sogro, de nacionalidade  portuguesa, pai de sua mulher, também poderia ter sido um próspero construtor cível, se o Estado Novo,  lhe tivesse pago as obras que lhe encomendou, pois construi-as  e  não lhas pagou, além das perseguições políticas da PIDE, que lhe moveu – Nado e criado, em Lisboa, vê-se obrigado a ter que abandonar o lar (mulher e os dois filhos) e partir para Espanha, onde o espera  uma espécie de longo exílio.

Pintor e escultor nas horas de silêncio e de lazer , parte com profunda mágoa, ao ter que se separar do lar, do convívio familiar e dos seus gatos – Porém, nem resignado nem vencido mas encorajado  - Estando já de algum modo  habituado ao diálogo silencioso com as suas telas ou quando as pedras lhe lançam o convite para as apanhar nas encostas dos montes ou montanhas, no  leito dos rios e  na margem das praias ou arribas, sim, de modo a passarem de matéria inerte e  formas vivas  e esculturais, sente-se preparado para esta nova fase da sua vida – E diz que até vai procurar um sítio que seja isolado, que lhe  permita realizar plenamente  o seu trabalho artístico,  tirando o máximo partido  do exilio forçado.

VIRAR  DE UMA PÁGINA



“Para mim é o voltar de uma página: sinto mágoa ter que partir mas, por outro lado, sinto que tenho muita força  A minha vida sempre foi um pouco solitária. No casamento, não quer dizer que não seja feliz, mas sempre gostei do silêncio e do isolamento –  Confessa,   Luis Oitaven Rodrigues, ao jornalista, momentos antes do jantar de despedida, que ia ter no lugar por baixo de um toldo  no pequeno quintal de sua casa – Que é mais jardim de que outra coisa e o retiro acolhedor  para dialogar com as pedras que esculpe,


“Eu sou um autodidata, tanto na pintura como na escultura. É a minha maneira de  me expressar e de transmitir ao mundo as minhas emoções  Desde pequeno, sempre gostei de desenho. Cada peça que eu faço, custa-me desfazer dela. Quanto ao valor da minha arte, não sei. Quanto me perguntam o preço,  eu não sei dizer. A arte deve ser vendida àquelas pessoas que realmente a apreciem.” – Confessou-nos, na intimidade do seu lar, junto dos que são mais queridos: a esposa, filha e filho, nora, os seus quadros, esculuras  e os seus gatos. 

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