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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Fernando Pessoa homossexual?... "Não era de casar..." – Diz Teresa Rita Lopes ao Mestre H. Morato, que “radiografou" o poeta na sua intimidade – E pintou os morais das frontarias da extinta Adega Cooperativa e da Cooperativa dos Olivicultores de V.N. de Foz Côa e fez os desenhos das primeiras túnicas para as celebrações nos Templos do Sol




Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista

No passado dia 9 do corrente mês, tive o prazer de estar presente no lançamento do magnífico álbum de H. Morato, que teve lugar no Teatro Passagem de Nível, Praça José Afonso, Colina do Sol,  Amadora - obra com  uma tiragem numerada de 200 exemplares, editada pela Calçada de Letras,  sobre Fernando Pessoa, concebidos em várias datas e momentos e que pretendem traduzir os diferentes aspetos da complexa personalidade do poeta da Mensagem. 

Trata-se, com efeito,  de uma edição especial de autoria do desenhador, pintor, gráfico e escultor, e, mais de que isso, de um Mestre: pois é deste modo que é tido por aqueles que  conhecem e admiram a obra, a versatilidade criativa de H. Mourato. E, para mim, além do mais, ele é também um grande amigo

Fernando Pessoa homossexual? Não era de casar…  – Disse Teresa Rita Lopes na sessão de autógrafos do álbum “Fernando Pessoa”, desenhos de H. Mourato


Inconfidências, sobre a sexualidade de pessoa, na sessão de autógrafos do lançamento do álbum “Fernando Pessoa”, desenhos de H. Mourato. 

Teresa Rita Lopes, uma das maiores especialistas da obra de Fernando pessoa, diz que o Mestre H. Mourato, “capta, por um lado, o Pessoa igual a todas as pessoas, e, por outro, aquele ar de histrião que ele tinha: histrião no grande sentido da palavra mas ao mesmo tempo o palhaço, o palhaço branco, que faz rir mas não ri”

“O humor de Pessoa é uma coisa espantosa!”- Sublinha a escritora.  "Muitas pessoas pensam que ele só é poeta: a prosa dele ou mesmo as cartas, é um prazer ler! E o humor que ele tem e que H. Mourato captou, se  Pessoa  o visse,  também teria gostado dos desenhos dele. Porque, Pessoa, também surpreende! Era um homem de um extraordinário humor e, por outro lado, um menino


 
Fernando Pessoa, homossexual? Não. Responde o  pintor H. Mourato; "o que ele não gostava era de homens. Pois tinha uma mulher de mês a mês, de vez em quando,  que lhe  ia levantar as bainhas às calças".  Por seu turno, a escritora  acrescenta: que "Pessoa não era de casar. Fernando Pessoa  só namorava a Eufélia no elétrico- Ele e não queria ir a casa dela, fazer a figura de antigamente, do  pau de cabeleira ao lado"






MOMENTOS DE CÂNTICO E POESIA

Durante a cerimónia do lançamento da obra de H. Mourato, além dos discursos de Hernâni Carvalho, Guilherme Leite, Rosa Dias (sobrinho de Fernando pessoa), que teceram largos elogios ao autor e à sua obra pictórica, houve ainda momentos de poesia por Nuno Cruz e de música por Jorge Ganhão, que tocou e cantou uma das mais populares letras e músicas portuguesas: "ó rama, ó que linda rama", envolvendo as vozes do público presente

O QUE DIZ O AUTOR DO DESENHOS DE PESSOA

"Em 1985, aquando do centenário da morte de Fernando Pessoa, fiz uma exposição na Galeria Libis, com uma série de desenhos a tinta-da-china e o título “Pessoa a Preto e Branco”.
Com esta exposição comecei uma vasta série de outros desenhos com interpretações e temáticas diferentes, com perspetivas mais ou menos ortodoxas e em situações da vida íntima, marginal, indisciplinada  e fingidora do poeta,

Desenhos em cafés, restaurantes e no atelier entre  conversas e tertúlias de amigos entendidos em Pessoa.

Tornei-me no desenhador das marcas do poeta e dos seus ortónimos, juntando desenhos como um colecionador de besouros ou borboletas: desenhos em folhas de papel, desenhos sem cronologia feitos entre 1985 e 2014.

Utilizando vários tipos de canetas obtendo traços finos ou grossos que foram ilustrando, livros, revistas, postais, camisolas, e até menus de restaurantes, quer em Portugal, quer além fronteiras, alguns deles estão agora reunidos neste álbum"

H. MOURATO –  O PERCURSO DE UM GRANDE ARTISTA QUE CONHEÇO DESDE MEADOS DOS ANOS 80

 
Conheço, H. Mourato, desde meados dos anos 80. Foi numa exposição coletiva: entre os vários artistas que então entrevistei, dois aspetos me chamaram, desde logo à atenção, a originalidade dos seus desenhos e a frontalidade da sua personalidade, onde cada palavra era (é ainda hoje) temperada de humor que faz sorrir e pensar sem todavia ferir. 

Se na vida há pessoas que tendem a gerar empatias e a aproximar-se, enquanto outras a repelirem-se ou a chocarem, dir-se-ia que, o meu relacionamento  com o Mestre H Mourato, que desde então se estabeleceu entre ambos, foi realmente o de aproximação e do reencontro: umas vezes porque, tomando conhecimento das suas exposições, sentia gosto em associar-me, outras  por mera causalidade (se é que também os acasos não são sinónimo de natural empatia), e isso aconteceu, muitas vezes, sobretudo, quando, ao fim das tardes, ele percorria o trajeto da Escola Superior de Dança, onde trabalhava, e se dirigia até à Brasileira do Chiado.

 

Mas o facto que viria a reforçar ainda mais a minha admiração pela obra e personalidade de H. Morato foi quando, em meados dos anos 90,  aceitou ser o autor de pinturas para dois belíssimos painéis em azulejos em Foz Côa: um na frontaria principal da extinta Adega Cooperativa, outra na ainda existente Cooperativa dos Olivicultores – Dois murais de extraordinária singularidade, perfeitamente ajustados à maior riqueza do nosso concelho e da nossa região:  o famoso vinho e o azeite, verdadeiro ouro dos deuses. 

 
Anos depois, ou seja, por altura da minha descoberta dos alinhamentos sagrados nos Tambores, além de uma belíssima pintura da Pedra da Cabeleira de Nossa Senhora (tenho pena, neste momento, não dispor da foto)  é também o autor dos modelos das primeiras túnicas para os cortejos “druidas” nas celebrações dos equinócios e no solstício nos Templos do Sol.

Por tudo isto, e por se tratar,  de facto, de um dos mais originais artistas  portugueses da atualidade, é meu desejo convidá-lo para, numa das próximas celebrações, nos dar o prazer da sua presença, e, desse modo ali lhe prestarmos a justa homenagem, tal como temos vindo a fazer com outras figuras da nossa região ou com expressão nacional.

O QUE SE DIZ DE H. MOURATO  

De entre os catálogos que guardo de H. Mourato, vou reproduzir  de seguida o texto acerca de uma exposição que apresentou, em  Abril de 1998, na Galeria Municipal da Amadora – É de autoria Edgardo Xavier

"Fazendo o périplo  das galerias, assíduo no Chiado ou a pontificar em roda dos amigos, Henrique Mourato  é sempre notável nos lugares que frequenta.


Humilde mas com imponente figura, de palavrão ousado e brejeirice como sinal de um temperamento vincadamente português, porque muito vândalo, alano, suevo, franco, godo, grego, romano, celta, ibero, lusitano e cartaginês, costuma marcar a ferro e fogo as conversas e os interlocutores.


Brusco ou suave no esplendor da sua humaníssima forma de ser e de estar, H. Mourato é um paradoxo vivo ou, se quisermos, um escândalo com pernas, braços e a vivacidade de um olhar permanentemente empenhado e feliz. Nisto faz flagrante contraste com a introversão geral, pelo que brilhar é um destino que assume com tenacidade nunca isenta. Para além de tudo isto, importa referir ser «a fera» um pensador inveterado e dono de uma ironia sempre cáustica, despudorada e solta. Neutralizamos os malefícios deste retrato acrescentando, por ser de inteira justiça, a verticalidade que lhe tem granjeado a admiração e o respeito dos que o conhecem para lá das graças pesadas ou das tiradas, quase ferozes, com que usa brindar, sobretudo, os que ama. 
 

A visão  do mundo por H. Mourato, o desenhador, o pintor, o gráfico e o escultor é, consequentemente, impar. Difícil se torna, portanto, analisar-lhe o talento multifacetado que o reflecte com genuína autenticidade. Evitando estabelecer paralelos com arquétipos da Arte Contemporânea, fica-se sem essa preciosa muleta e, assim, o que nos resta é a narrativa de um caso que, oscilando ao sabor  de tantas vertentes, a si próprio se permite variar , em género e qualidade. Há obras que traduzem grandes momentos  e hás as que, produzidas em jeito mais leviano, não nos dão a escala  e a importância deste autor.


Notabilizado, entre outras, pelas ilustrações feitas para os escritos de Jorge Listopad, H. Mourato expressa-se , com particular fluência, através do desenho  predominantemente satírico  e surrealista.


De imaginação muitas vezes prodigiosa e capaz de grande rigor nas observações que constituem a base dos seus mecanismos de criação, este artista plástico cultiva a exuberância como uma imagem de marca emprestando a toda a sua produção uma vivacidade formal e cromática característica, ainda quando aborde temas cruciais para o Homem, a Sociedade e o Planeta. 



O meio em que se formou e cresceu era íntimo e propiciava intervenções que o conhecimento e o afecto particularizavam. Hoje, sem tempo para absorver as mutações geradas pelo vertiginoso avanço da Ciência, reage como qualquer dos comuns mortais. Perante a alteração dos comportamentos quem consegue ficar indiferente ao pânico, esse reverso da medalha cuja face nos mostra as vantagens da globalização? 


Reagindo como o herói de Jacques Tati, Henrique Mourato retugia-se então na ironia e é a gargalhada que lhe trava o medo, o apelo ao sexo que lhe mascara ou inibe o inexorável dramatismo das conclusões. 


Aparentemente simplista, este autor remete-nos para a essência das coisas revelando-nos, sempre e apenas, a vertente absurda das soluções. Através do trocadilho redutor em que se oculta e com o qual nos leva a sublimar a angústia existencial que Sartre também experimentou, percebe que o homem de hoje, liberto das amaras que ainda o ligam ao transcendente, fica preso a uma indescritível solidão na largueza de um universo que diariamente se expande. Não para nos confirmar a esperança mas para nos dizer que, na poeira dos mundos, o nosso apelo continua sem resposta.

Estoril , Março de 98 – Edgardo Xavier

*****



Biografia de H. Morato

Comendador da Ordem de São Miguel de Ala.
Começou a pintar em Almada, começando na mesma altura a frequentar o Atelier da Costa da Caparica de Manuel Cargaleiro, assim como o atelier de Artur Bual na Amadora realizou a sua primeira exposição em 1967 em Almada.
Tem o Curso de Gravura na Cooperativa Nacional de Gravadores, tem exposto individual e coletivamente desde 1967, contando no seu curriculum com inúmeras exposições. Tem exposto internacionalmente na Itália, França, Espanha, Alemanha, Reino-Unido, Polónia, Japão e Brasil entre outros.
Conta com alguns prémios e menções honrosas. Está representado em museus tais como: Museu de Arte Contemporânea – Sabugal; Museu Francisco Tavares Proença Júnior; Museu Municipal Santiago do Cacém; Museu Municipal Portalegre; Museu Municipal Escultor Martins Correia; Museu Biblioteca Marquês de Pombal; Museu Municipal Manuel Cabanas; Museu Angra do Heroísmo – Açores; Graceland – Elvis Museum (Memphis – U.S.A).Assim como em Organismos Públicos como: Fundação Mário Soares – Lisboa; Governo Regional dos Açores; Consulado português na Praia - Cabo Verde; Universidade dos Açores - Sala de Estudos Nemesianos; Casa Fernando Pessoa – Lisboa; Escola Superior de Dança – Lisboa; Biblioteca Municipal Camões – Lisboa; Biblioteca Municipal David Mourão - Ferreira – Lisboa; Biblioteca Municipal de Santiago do Cacém; Biblioteca Fórum Romeu Correia – Almada; Associação Agostinho da Silva – Lisboa; Associação de Escritores Portugueses – Lisboa; Associação Cultural Encontros da Eira – Madeira; Associação 25 de Abril – Lisboa e Pinacoteca do Ayuntamiento de Ciudad Rodrigo – Espanha.
Ao longo deste 40 anos de carreira artística ilustrou mais de 200 capas e livros.  Foi e é Ilustrador e Colaborador de muitos vários jornais e revistas nacionais e estrangeiros e ainda jornais on-line e blogs.
Autor de cenários para peças de teatro e bailados, tendo feito um cenário para a Escola Superior de Dança, apresentar na Expo 98.
É autor de uma dezena de esculturas ao Ar livre na região de Coimbra e de painéis de azulejos públicos espalhados pelo nosso país.
Vem representado em inúmeros livros e dicionários de Arte Plásticas quer nacionais quer estrangeiros.Em 2006 foi-lhe atribuído o título de Comendador Patrono dos Museus do Vaticano, pelos serviços prestados a Cultura.Em 2008 foi atribuído o título de Comendador da Real Irmandade de São Miguel de Ala, pelas e actividades humanitárias que tem realizado ao longo de décadas.Conta ainda com os títulos de Barão de Santiago do Cacém, Cavaleiro Honorário da Real Irmandade de São Miguel de Ala; Cavaleiro da Imperial Ordem da Estrela de Honra do Império da Etiópia.H. Mourato - Varanda das Estrelícias - Espaço Aberto


Um comentário:

jorge ganhão disse...

Obrigado...Abraço