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sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

CARTA À IRMÃ LÚCIA- Enviada 3 meses antes da sua partida para a eternidade - Através da qual lhe descrevi alguns episódios da minha vida -, um deles bem dramático, em que, num dia, desses meus verdes anos, a 13 de Maio, caí a um poço, barrento e fundo, e me ia afogando com a minha irmã. Também lhe falei das minhas aventuras marítimas, juntamente com o envio de algumas imagens, como preito de homenagem e testemunho da minha mais profunda admiração


                                                                 Jorge Trabulo Marques 

 
Este episódio foi recordado no Jornal O FOZCOENSE - em Fevc de 2005
Nasci nesta aldeia, e aos seus espaços, devo-lhe o que sou

O dia 13, seja qual for o mês - mas especialmente o 13 de Maio - assume sempre para mim uma simbologia muito especial - Neste aproximar da meia-noite e final do dia. não quero deixar de recordar a carta que escrevi à Irmã Lúcia - Independentemente da crença, seja qual for, há que admirar uma vida inteiramente dedicada à oração, numa clausura permanente

Eu sou o chorão -  Dos seis, só dois: eu e o do colo

Ainda hoje me interrogo por não ter morrido afogado tanto em terra - aos 11 anos , como no mar - Mas antes disso,  aos 12 anos, no Tejo, quando vim a trabalhar, como menino marçano em Lisboa e, num domingo de Verão, me pus a nadar desde a praia de Carcavelos pelo rio Tejo a fora. O  que me valeu foi o vigilante da praia se ter apercebido e ido ao meu encontro com o seu pequeno barco.

Depois, aos 25 anos, na travessia de S. Tomé ao Príncipe, em 3 dias, sobretudo quando a meio da noite do 2º dia, adormeci de cansaço e a canoa se voltou

Numa piroga escavada num tronco de árvore, de 40 cm de altura por 60 cm de largura - Se bem que tivesse 3, 5 metros de comprimento - Do que não me pude livrar foi dos espancamentos que recebi como prémio nos calabouços da PIDE-DGS - por ter feito a viagem sem dar conhecimento às autoridades.

Cinco depois, em fevereiro de 1975, ao vencer a travessia de 13 dias de S. Tomé à Nigéria, como fuga para me livrar das perseguições e espancamentos de que estava sendo alvo por parte de alguns colonos por dar cobertura jornalística ao movimento pró-independência, pois era então, correspondente da revista angolana Semana Ilustrada

E, ainda nesse mesmo ano, após ter regressado a S. Tomé  e decidido empreender a travessia oceânica até ao Brasil. De seguida o relato  ao 33ª dia do meu diário de bordo,   que pude preservar num vulgar caixote de plástico, igual aos do lixo  caixote do lixo, ao 33ª dia:  https://canoasdomar.blogspot.com/2019/11/perdido-no-golfo-da-guine-33-dia.html

Por via de uma violenta tempestade, acabei por perder o remo principal e ficado à deriva ao longo de 38 dias, até acostar na Ilha de Bioko, Guinè Equatorial, onde fui tomado por espião e conduzido para umas cadeias mais sinistras de África. Felizmente, lá  me livrei de ser enforcado, quando já via a forca à minha frente - A que me refiro  em https://canoasdomar.blogspot.com/2019/11/perdido-no-golfo-27-de-nov-1975-38-dia.html

 

COMO ME SALVEI DE SER AFOGADO NAQUELE DISTANTE DIA 13 DE MAIO 

Anos 80 - Com o poço, já emparedado

Sim, naquele já distante   13 de Maio, quente e ensolarado, quando, então,  contava  apenas 11 anos e alguns meses, podia ter sido o último dia da minha vida:  - Meus pais, encarregaram três dos seus quatro filhos de irem regar a horta do Vale Cardoso: a Conceição, de 15,  eu Jorge, de 11  e o Fernando, de 9 anos,  enquanto o José, de 13 , ia acompanhá-los noutras tarefas.


2014 -  A casa em ruinas 

Porém, antes de nos deslocarmos àquela propriedade agrícola, decidimos ir assistir à procissão da festa de Nª Srª de Fátima, em Tomadias, uma povoação anexa da freguesia de Santa Comba: bastava um pequeno desvio, pois ficava perto do caminho, que íamos tomar.

Ao terminar a procissão, para lá nos dirigimos, felizes e encantados pelos momentos festivos, a que assistimos, longe de imaginarmos o pesadelo que íamos enfrentar mas de que, milagrosamente, nos salvamos.


A horta já não é cultivada

A minha irmã, encarregou-se de tirar a água com o picanço, o Fernando foi para junto dos regos da horta encarreirar a água, que ali ia chegar,  à medida que os baldes iam sendo despejados na pia


Eu, desci por uma estreita vereda do poço,  agarrado a uns juncos e fui-me colocar de cócoras sobre uma pedra, que ficava por baixo do estrado de madeira onde a minha irmã, puxava o varal do picanço: a missão era desviar o balde dessa pedra, a única que ali existia e que estorvava  a extração da água..

Passados, uns quantos baldes ou caldeiros erguidos, nisto só me dou conta quanto a minha irmã, se despenha sobre mim e ambos somos arrastados para o meio do poço. Sim, o varal soltou-se da haste mais pesada  e ambos mergulhámos, com a água a entrar-nos pelo nariz  e ouvidos adentro e  a asfixiar-nos  a respiração.

 Eu procurava gatinhar numa das margens, mas esta era barrenta e escorregadia e não conseguia dali sair – Entretanto, o meu irmão Fernando, apercebendo-se  de que a água faltava deixava de chegar aos regos, correu para juto do poço: vendo-nos aflitos, foi buscar uma cana da latada da vinha, e, corajosa e cautelosamente, desceu com ela para a pedra onde eu havia estado, segurando-se a uma mão-cheia de juncos, que foi de facto a nossa sorte,  quando não, lá teríamos ficado todos

Eu não dizia uma única palavra, até para evitar que a água me entrasse pela boca, estava mais ou menos resignado, se bem que nunca desistindo de gatinhar, enquanto a minha irmã, ao mesmo tempo que procurava cravar os dedos na lama da margem, não parava de implorar:

 “Nossa Senhora de Fátima! Nossa Senhora de Fátima, socorrei-nos!  -Esse episódio marcaria para sempre a minha vida, que  tem sido um MILAGRRE - E  creio que aquele foi o primeiro milagre que eu conheci - Na imagem de família, eu chorei no dia em que a minha irmã fez a 1ª comunhão - Não sei porquê   

-

A casa onde nasci 
Quando nos vimos livres daquele horrendo sorvedouro, a sensação que eu tive, não foi de lágrimas ou de alegria mas de um profundo silêncio introspetivo , mais entreolhando-nos de que exprimindo palavras, pois ambos estávamos num completo pingão.

Eu mais a desejar  lá ter ficado, de que me ter encontrado naquele estado, tão estranho me senti face aos céus, quando me ajoelhei e cai exausto sobre a erva que ladeava e os juncos que ladeavam o poço.- O mesmo sucedeu quando percorremos os cerca de 5 km a pé até nossa casa. quase não falámos.


Na carta que lhe dirigi  e da qual venho recordar algumas passagens,   Deus ou a  Nª Sra que ela contemplou   - chamou-a pouco tempo depois para sua companhia
. Porém, confirmei através de telefonema, que a missiva lhe foi entregue, a recebeu. Guardo a cópia do manuscrito e o impresso do registo, com muito carinho.


CARTA À IRMÃ LÚCIA
Jorge T Marques . Finais dos anos 50

“Lisboa, 18 de Outubro de 2004.
À vidente Irmã Lúcia:


Mais tarde com a primeira filha
Tomo a liberdade de lhe enviar esta minha simples carta, acompanhada do relato e fotos de uma odisseia, por mim vivida nos agitados mares do grande Golfo, tendo apenas por companhia uma simples bússola para me orientar.

Sim, dirijo-lhe estas linhas e a descrição dessa aventura, como preito da minha homenagem e a expressão da minha mais profunda admiração, porque vejo em si a representação de um espírito abençoado, pelo que só peço a Deus que lhe dê muita saúde e ainda muitos anos de vida.


A minha saudosa irmã Conceição, que Deus levou muito nova, deixando então duas filhinhas, tinha uma grande devoção em Nossa Senhora de Fátima. 

E o episódio que lhe vou recordar, ilustra, justamente, esse facto, quando eu tinha onze anos e ela 15 .Foi a um domingo, dia 13 de Maio. 

Regávamos a nossa horta no Vale Cardoso. Ela retirava a água do poço com ajuda do picanço; eu estava uns metros mais abaixo para afastar a vara e o caldeiro de uma pedra. Nisto, o picanço rebenta, ela cai e arrasta-me consigo para o fundo do poço. Este era fundo e com margens barrentas. A nossa aflição, como deverá calcular, era enorme. Nenhum de nós sabia nadar. Quando vinha ao de cimo, ela gritava por Nossa Senhora de Fátima; eu gatinhava junto à margem, estava aterrorizado e apenas cerrava a boca para evitar engolir mais água. 

O meu irmão Fernando, então com nove anos, que encaminhava a água, apercebendo-se, corre em nosso auxílio. A minha imã grita-lhe para ir buscar uma cana e para descer até um tufo de juncos que havia na margem, e é o que faz sem perda de tempo. Estende-lhe a cana, ela agarra-se à mesma e consegue gatinhar pela íngreme vereda. Depois, estende-me a mão e salva-me também.

Creia, já passaram muitos anos, mas a imagem está ainda muito presente na minha memória. E, sempre que me ocorre, a primeira coisa que me vem à ideia, são os apelos à Nossa Senhora de Fátima, pois não tenho a menor dúvida de que ela, nesse dia, nos protegeu.

(....) Aceite, pois, muito humildemente, o preito da minha mais profunda admiração”  - Excerto da carta que lhe dirigi
                                                                             »»»»»»»»»««««««««««««


Só quem navega sozinho à flor do mar,  enfrentando as mais severas ameaças e adversidades, como eu as enfrentei ao longo de 38 penosos dias, numa frágil piroga, sob as mais cerradas trevas da noite ou sob a inclemência  e a pino do sol equatorial da  vastidão do Golfo da Guiné, sente verdadeiramente o místico e poético apelo da crença ou da fé: se deslumbra com a solar plenitude do milagre de um amanhecer cintilante e esplendoroso – Experiências estas que me permitiram viver várias vidas, como se tivesse morrido e ressuscitado através de algumas eternidades

Por isso, a  fé  que me conduz e guia, é mais aprendida na intensa experiência da minha vida  de que em quaisquer ensinamentos doutrinários – 

Todavia,  muito admiro quem   faz da sua existência  um devotado e perene sacerdócio de devoção e de fé, dedicado à palavra de Cristo – É o exemplar legado da irmã Lúcia, a quem dirigi uma singela carta, pouco antes de ser chamada para outra missão. 




Em mais uma das centenas de orações, como expressão artística
Embora imbuído por convicções profundamente místicas, não me considero propriamente o católico apostólico praticante no sentido tradicional do termo, já que sou mais induzido a devaneios  espirituais por força de sentimentos de circunstância e ocasionais (que me esforço de poder ter) de que por rígidos conceitos teológicos ou doutrinários, se bem que os respeite e admire tal como  a mítica figura de Cristo, maravilhoso exemplo de entrega e de virtudes. Mas, a bem dizer, muitas vezes. nem sei o que sou: ou haverá alguém que seja sempre inteiramente  igual e não tenha os seus heterónimos, as  suas hesitações e divagações?...


QUERENDO, TAMBÉM NÓS SOMOS A FACE DE DEUS E NÃO A IMAGEM  DO LIBERALISMO DEMONÍACO E MERCANTILISTA ! – E a meditação é a via mais adequada  para despertar em nós a presença do divino, o sentimento capaz de no proporcionar o caminho que nos conduzirá a uma maior elevação espiritual e a percepção do mundo  exterior e dos sentido da própria vida


                                                O RETORNO AO SAGRADO

Com o escritor Vergilio Ferreira
Fala-se tanto nele, como aliás, estava previsto. Mas não no que dele mais importa e não passa pelos deuses e muito menos pelas sacristias. O retorno do sagrado deve ter que ver fundamentalmente com a recuperação da sacralidade do homem, da vida, da palavra, do mundo. A sacralidade está no que suspeitamos de mistério nas coisas, a força “original de tudo o que nos espera o nosso olhar limpo, a nossa atenção humilde, a divindade está em nós. O grande acontecimento do nosso tempo, que é o sinal do nosso desastre, é a profanação de tudo, a dessacralização do que abusivamente foi invadido pelos deuses. Os deuses morreram e quiseram arrastar consigo a morte do que era divino sem eles” in Pensar - de Vergílio Ferreira



 É preciso entrar nos mistérios da nossa mente e devassá-la - Pois dizem os mitólogos que apenas se faz uso de 10%  do nosso cérebro - Certo que pensar dá trabalho à gente mas não hesite: Puxe pelo seu caco e pense  - De entre as figuras a quem dirigi as minhas cartas: umas por admiração, outras apenas por impulsos inexplicáveis  



Durante alguns anos escrevi várias cartas a diversas personalidades da vida portuguesa, e até à Irmã Lúcia,  todas elas foram redigidas sob o pseudónimo místico de Luís de Raziell -
Nuns casos enviei, noutros, simplesmente, acabaram por figurar no arquivo das minhas elucubrações do foro mediúnico e espírita.- Alguns excertos foram editados num dos meus blogues mas remetidos para  arquivo, sem visibilidade pública, aguardando oportunidade de serem trazidos à luz, com a data em que foram redigidos, quando se achar oportuno. - E assim tem sido 
Nasci nesta aldeia, e aos seus espaços, devo-lhe o que sou

Como é do conhecimento público,  no dia 13 de maio de 1917, três crianças, que guardavam o gado,  anunciaram ter visto Nossa Senhora nos campos inóspitos de Fátima, em Portugal: - Lúcia dos Santos e dois de seus primos mais novos, os irmãos Francisco Marto e Jacinta Marto, disseram  ter  visto um clarão, seguido de uma visão de “Nossa Senhora” sobre uma azinheira, . Que lhe recomendou que rasassem o rosário para salvar o mundo. e.

Em criança, quando meu pai foi caseiro da Quinta do Muro, sobranceira ao maravilhoso Vale da Ribeira Centeeira, atualmente em ruinas, tínhamos também a nosso cuidado, um rebanho de ovelhas – Não era  o meu pai, que as guardava e apascentava, mas o Zé Rebaldo, que vivia com a mulher e os filhos na mesma quinta. E, de vez em quando, lá me calhava também a vez de ir levar a marmita do almoço ao nosso pastor, subindo e descendo os penhascos e as graníticas vertentes do maciço dos Tambores

O meu saudoso pai, além de ter de se dedicar  à vida de feirante, compra e venda de vacas, cavalos e machos, pelas feiras dos concelhos vizinhos, tínhamos também de cuidar da nossa lavoura, dos terrenos, que a minha família herdara dos meus avós paternos e maternos, um dos quais era a nossa courela da ribeira, onde possuíamos  algumas latadas de  vinha e  uma bonita horta, regada com uma velha nora. 

Quem fazia os queijos em casa era a minha mãe e a mulher do pastor – E que saudades tenho daqueles dias, do soro fervido do leite que sobrava do coalho dos queijos! 

Era, então, tal   o meu fervor religioso,  que , como ali havia junto à eira da quinta e na curva da estrada, do lado esquerdo de quem sobe,  um veio de argila, eu aproveitava até para fazer imagens de Nª Srª de Fátima, que depois levava comigo, erguendo os meus altares, na esperança de que também pudesse ser contemplado com a mesma aparição dos pastorinhos de Fátima



O culto mariano, estava, então, muito intensificado, ao ponto da festa aos padroeiros, vir a ser substituída pelo das padroeiras, eu também me senti influenciado, sobretudo pelo culto a Nª Srª de Fátima. Na velha igreja da minha aldeia, entre outras imagens, existia também a de Nº Srª de Fátima, mas a imagem que havia sido passada a venerar era a que estava na capela, a de Nª Srª de Assunção, ao invés do padroeiro São Caetano.

Era na povoação das Tomadias, anexa da freguesia de Santa Comba, aldeia que faz termo com a minha, que as gentes das redondezas, costumavam ir ao 13 de Maio, pois nem todas as pessoas tinham possibilidade de se deslocarem ao emblemático santuário de Fátima 

Se me perguntarem se acredito em Deus, é claro que eu responderei que acredito - E, afinal, quem é que não acredita em Deus?!... Tenho, no entanto, o meu próprio conceito:


Deus são as plantas, os animais, os minerais, o sol, a lua, as estrelas, todos os seres que povoam os mares e que existem à superfície da Terra, reflectem a sua imagem. Deus não existe como entidade  suprema mas existe em cada um de nós. Deus não tem pouso nem tem lugar. Deus não ama os bem-aventurados e recrimina os chamados pecadores; Deus não foge dos maus para se pôr ao lado dos bons; Deus não chama ninguém porque Deus não tem Voz senão a Voz e a Imagem do Universo 


Compreendo que não é matéria fácil de explicar e de aceitar; tal como tudo quanto os teóricos sobre as leis da física e da química, não dominam, os ultrapassa e para o qual não encontram explicação lógica. No entanto, o conhecimento da vida e de muitos dos seus mistérios, felizmente, não está apenas confinado às teses académicas: há outros saberes, demasiado intrínsecos, intuitivos, que, mercê desta ou daquela capacidade inata ou adquirida, romperam com velhos preconceitos e códigos estabelecidos, são como que o olhar penetrante da águia ou de condor sobre os vales mais profundos ou acima das mais altas montanhas; nada lhes escapa. São parte de um conhecimento que vai muito para lá do tempo ou da própria imaginação do comum dos mortais...São posturas ou saberes em que, a percepção ao mundo sensível, em certos aspectos, talvez se compare à do homem primitivo, para o qual a realidade se confundia com a própria irrealidade. – E, a final, quem é capaz de distinguir essa ténue fronteira?!...

Aquilo a que nós chamamos alma, para o Homem da Era da Pedra, não era mais do que a intercepção material com o imaterial O princípio vital da própria existência. A sua mentalidade era simultaneamente infantil e contemplativa: por isso mesmo, de amplitude universal. Tudo o assustava e maravilhava. A sua vida interior estava intimamente ligada ao meio que o rodeava. Agrupado em pequenos grupos étnicos ou familiares, vivia da caça e da pesca, completando as suas refeições com os frutos silvestres que apanhava. Dir-se-ia um ente solitário num mundo ainda totalmente desconhecido, mas ao mesmo tempo integrado no conjunto de todas as espécies vegetais, de todos os seres vivos que lhe asseguravam a sobrevivência ou com os quais partilhava o mesmo ambiente



Desprovido de saberes científicos, a sua vida assemelhar-se-ia, porventura, a uma espécie de permanente sonho acordado .A sua mente ocupar-se-ia mais com o receio das feras que o atacavam ou do raio que o poderia fulminar do que com a permanente obsessão a um Deus Desconhecido, Dominador ou Castigador... Por isso, o que haveria nele de primitivo, talvez fosse apenas o sistema arcaico e simples da sua ligação à terra, o estar perto das origens, das quais apenas se afastara, tal como outros seus longínquos antepassados, pela posição erecta de Homo Sapiens... Pois a designação de homem selvagem não é sinónimo de brutalidade e de crueldade; não é um comportamento exclusivo do homem primitivo. Talvez nas sociedades actuais, em muitos indivíduos considerados letrados e cultos, se tomem atitudes mais brutais e se comentam actos mais bárbaros.

Assim, resta saber em que medida é que, o homem de hoje(disperso num sem número de crenças e vazio de ideologias) se alcandorou na sua íntima relação com o meio, a que planos acedeu em termos de harmonia e de convivência com a Natureza, a que nível de percepção soube correlacionar-se com o seu lado transcendental ou divino. Certo que já foi à Lua e enviou sondas a pontos afastadíssimos no espaço?... E a vida e a morte?!... Terá ele já a perfeita noção de onde vimos e para onde vamos?!...Claro que continua ainda mergulhado em dúvidas. No entanto estou em crer que um dia virá em que ele saberá responder a todas essas questões que agora o inquietam e a que, por não ter uma resposta concreta, as relega para o domínio do inexplicável, do incognoscível e do misterioso.

As civilizações nascem , desenvolvem-se e desaparecem, mas também, depois delas, e sobre as suas ruínas ou cinzas, outras jornadas humanas se levantam e florescem.... O homem é, em si, também consciência e evolução do mundo que o rodeia. E, num futuro, não muito distante, mais do que consciência e evolução, caber-lhe-á um maior papel determinante e interventivo

Ao contrário das velhas teorias que viam o espaço nocturno como se fosse um infinito lampadário de estrelas amarrado a um tecto, ou então recuando ao tempo em que se acreditava que era o sol que girava em torno da Terra e que esta era o centro do mundo, tais conceitos ruíram por completo: o universo não só é mutável como se comprime, expande: é um força em permanente mutação!

É, pois, meu pensamento que, muito antes que o Sol deixe de iluminar a Terra, e esta conclua o seu curso, surgirá no nosso planeta uma civilização muito superior à actual, capaz de superar-se e transcender-se em vários níveis: do espaço e do tempo! E muito além dos limites actualmente imagináveis ao Homem de Hoje - Aconteceu em Marte (donde emigrou, quando a vida ali se extinguiu) e, dia virá em que, na fase derradeira de completar a sua passagem pelo ambiente terreno, a vida humana acederá a um plano ainda mais elevado, a partir do qual transmigrará para outro ponto do Universo, que povoará! – Mas não é um processo único! Há já outras civilizações, noutras regiões do Cosmos, com estágios bem mais avançados do que aquele para onde se encaminha o ser humano..

Entre a Era da Pedra e a descoberta da Electricidade, há, com certeza, uma menor distância, em termos de avanços científicos e tecnológicos, do que desde a data em que Thomas Edison descobriu a lâmpada (1879) até à actualidade. Desde então deu-se um passo incalculável. Os eventos são fabulosos E que salto não dará daqui a um milénio?! Mas outros e outros mais espectaculares se seguirão, até ao ano 12.000! – A partir de então dar-se-á começo à Era do Pós-Homem! – Um longo período, verdadeiramente ascensional! Sim! - Ninguém dúvida que os próximos tempos nos hão-de trazer descobertas ainda mais espantosas. Porém, de todos esses passos estou certo que o maior de todos vai ser dado no domínio da espiritualidade. – Só então se cumprirá o principal objectivo para o qual o Homem se distanciou dos outros animais na sua escala evolutiva

No dia em que o homem se convencer que pouco mais poderá ganhar com os avanços da ciência e da tecnologia, nessa altura voltar-se-á, inevitavelmente, para dentro de si, para a interpretação e compreensão das coisas que ainda hoje mais o intrigam - o mistério da vida e da morte!.. A bem dizer é o passo que até hoje, verdadeiramente, nunca deu. Ao desinteressar-se das coisas materiais, uma nova estrada se abrirá à sua frente, um radioso e luminoso horizonte rasgar-se-á os seus olhos.

De ora avante ele não caminhará no sentido horizontal, mas em direcção às incomensuráveis alturas do Universo! - Isto porque, embora com os pés na terra, os seus olhos jamais se irão despregar do Centro do Grande Arco da sua Origem - A sua mente ocupar-se-á, essencialmente, numa profunda e continuada reflexão. Não para adorar um hipotético Deus, mas para se dar conta de que o Grande Deus, está dentro de si mesmo, bem no centro do seu cérebro e no mais fundo do seu espírito. Nada lhe será estranho e inexplicável. Desaparecerão segredos e barreiras que agora o perturbam e o deixam confuso. Atingirá um fantástico grau de lucidez e de sensibilidade, de tal ordem, que as suas capacidades de intuição e de percepção( até agora em grande parte adormecidas), desenvolver-se-ão em flecha!.... 


E não tardará a transitar da chamada fase da Civilização do Homem para a Civilização do Pós Homem....Um período civilizacional fabuloso!!... Em que a maior das capacidades que passará a dispor, vai ser a força do pensamento; o desdobramento do corpo e do espírito. Viajará pelos infinitos confins do espaço sem ter que recorrer a foguetões ou a qualquer nave especial. Nessa altura, os actuais aeronaves ou automóveis, há muito desaparecidos, tornar-se-ão em meros vestígios arqueológicos, brinquedos verdadeiramente obsoletos, com a mesma importância ou significado que assumem, nos dias de hoje, aos nossos olhos, os objectos de sílex da Era da Pedra que se encontram expostos nos museus...

O seu espírito voltará a ser o viajante cósmico.... Concluída a incursão pelo sistema solar e após haver integrado o Espírito de Marte e da Terra, soltar-se-á em sonho... Período que poderá também ser explicado como o Período da Encarnação Final - Último degrau da escala evolutiva na sua viagem terrena. Porém, tal não significará que a sua missão espiritual seja dada por terminada - De modo algum! Outro período se seguirá!

O Universo, como entidade inteligente, mutável e perfectível, reservar-lhe-á tarefas ainda mais aliciantes e ousadas....Em planetas que gravitam em torno de outras estrelas, noutras galáxias longínquas ou mais próximas...- Sobre este assunto, publiquei, nos finais dos anos 70, num dos suplementos do Diário Popular, um desenvolvido artigo de duas páginas, em que expus a minha tese e a que dei o título: A ERA DO PÓS-HOMEM 






Afinal, nós é que podemos invocar Deus, porque, ao invocar aquilo que de mais sagrado e profundo existe em nós: a alma espiritual, o pleno e harmonioso desenvolvimento do ser interior  e da transcendência corpórea, que faz com que nos sintamos mais conscientes e humanos  

E sobretudo, desperte, no mais recôndito do nosso ser, as mais renovadas e puras energias, por forma a que estejamos em paz connosco  e com o mundo que nos rodeia. Por isso, é bom que o invoquemos, sempre que pudermos – Pois só assim cumpriremos, em elevação, o nosso destino da poeira cósmica, na qual  nada se perde o se imobiliza, porque continuamente se renova, purifica e transforma 

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