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terça-feira, 10 de setembro de 2024

Atriz Graça Lobo - E as confissões do seu 1º amor - Faleceu aos 85 anos- Recordando o poema gravado de Mário Cesariny que leu com o poeta, numa sessão de poesia, anos 80, numa sala da Assírio Alvim, editor do poeta e pintor surrealista


                                                 Joge Trabulo Marques - Jornalista 

ATRIZ GRAÇA LOBO - Partiu para o limbo dos justos - A Caminha da Eternidade ! Uma grande Atriz - Frontal, desinibida, generosa e frontal! - À família enlutada o meu proundo e sentido pesar. - Deu-me o grato prazer de me receber em sua casa e de com ela iniciar uma série de entrevistas para o jornal Tal & Qual, em 1981, sobre temas amorosos - Graça Lobo morreu na madrugada de segunda-feira, 9 de setembro do corrente ano 2024

O repórter ao lado do poeta Mário Cesariny - Com o qual estabeleceu laços de muita estima, amizade e admiração


ATRIZ GRAÇA LOBO  02 -04-1939 – 09-09-2024- Deu-me o grato prazer de me receber em sua casa e de com ela iniciar uma série de entrevistas para o jornal Tal & Qual, em 1981, sobre temas amorosos - Graça Lobo morreu na madrugada desta segunda-feira, 9 de setembro.

Graça Lobo estreou-se na Casa da Comédia no espetáculo “Noites Brancas” quando ainda era aluna do Conservatório. Passou pela companhia do Teatro Estúdio de Lisboa e do Teatro Experimental de Cascais e fundou, em 1979, a Companhia 

Foi com atriz, Graça Lobo, que , em 1981, o Tal & Qual, iniciou, com a minha colaboração, uma série de entrevistas sobre temas amorosos – entre os quais a primeira relação sexual, com figuras conhecidas do público português: Desde Raúl Solnado, até Vitorino de Almeida, passando por Ivone Silva, Amália Rodrigues, Carlos Botelho, professor Oliveira Marques, Ary dos Santos e muitos outras. Pela Primeira vez, eles revelaram publicamente as circunstâncias em que ocorreu a sua “primeira vez




Graça Lobo, começou por me confessar” “Lembro-me vagamente do meu primeiro namorado: era louro, alto, olhos azuis, espadaúdo. O ideal!... Não foi agradável. A primeira experiência sexual nunca é agradável, penso eu. Dá-me mesmo sexual chega a ser. Agora, as raparias começam a namorar aos doze. Eu comece lá para os 15 ou 16. Foi nessa altura a primeira vez.


GL Em que circunstâncias?

Lembro-me perfeitamente, até porque consumo assumir as coisas que faço. Nessa altura ainda era pouco normal uma rapariga de certo nível, digamos, não aparecer virgem no casamento. Eu aos vinte anos, não casei virgem, mas assumi o facto com naturalidade e acho que isso hoje acontece com toda a juventude. Quando aconteceu a primeira vez assumir livremente a responsabilidade do que estava a fazer.

JTM- Durou muito tempo o seu primeiro namorado?
GL – Não, não durou. Essas coisas, de resto nunca duram muito tempo. Talvez seis meses ou coisa assim. Seguiram-se outros namoricos, evidentemente. Namoricos da juventude. O meu primeiro casamento também não durou muito tempo
Estas algumas palavras do início do diálogo que tive o prazer de ter em sua casa, da extensa entrevista que ocupou duas páginas do Tal& Qual.

Graça Lobo destacou-se como atriz e encenadora. Ao longo de uma carreira de quase 50 anos, representou sobretudo textos que definiram o teatro contemporâneo, de dramaturgos como Luigi Pirandello, Samuel Beckett, Jean Genet ou Harold Pinter
GRAÇA LOBO – Grande artista, mulher sincera e desinibida.

_ Nascida em 12 de abril de 1939, Graça Lobo destacou-se como atriz e encenadora. Ao longo de uma carreira de quase 50 anos, representou sobretudo textos que definiram o teatro contemporâneo, de dramaturgos como Luigi Pirandello, Samuel Beckett, Jean Genet ou Harold Pinter. O seu desempenho de "Hedda Gabler", de Henrik Ibsen, foi um dos seus maiores sucessos.

Estreou-se na Casa da Comédia, em fevereiro de 1967, nas "Noites Brancas", de Dostoievsky, com encenação de Norberto Barroca, quando ainda era aluna do Conservatório Nacional


Mário Cesariny de Vasconcelos nasceu a 9 de agosto de 1923, em Lisboa. Faleceu no dia 26 de Nov de 2006 -Foi poeta, pintor, tradutor e considerado um dos grandes Mestres do Surrealismo Português.















OS POETAS NÃO MORREM... MÁRIO CESARINY - É UM DELES!  - Oh Meu Cesariny! Como o tempo corre? Como a vida foge! - E, todavia, até parece que foi ontem! 



Já lá vão uns anos – mais de vinte ! –
Oh Meu Cesariny! Como o tempo corre?
Como a vida foge! - E, todavia,
até parece que foi ontem! - Um repórter de rádio,
pequeno gravador na mão, atrás do imprevisto,
do inesperado, vagueando na solidão da noite húmida e fria,
quase despovoada de vida e de luz, na mira de algo
que valesse uma noite perdida! - E, um poeta, ateado pelo fogo
e a rebeldia dos seus mais cruéis demónios, fidelíssimos amantes
de inspiração altíssima nas horas mais solitárias e incandescentes,
tocado pelos deuses de Olimpo: Hermes, Apolo e Dionísios
- de quem era ao mesmo tempo enteado e dilecto mensageiro,
atraído pelas tentações e volúpias de uns e outros,
qual viajante solitário em busca de “ palavras
e nocturnas palavras gemidos,
palavras que nos sobem ilegíveis À boca
Palavras diamantes palavras nunca escritas
Palavras impossíveis de escrever”..


Oh, sim, o inseparável apaixonado “dos braços dos amantes”
que “escrevem muito alto” 
Muito além do azul onde oxidados morrem”
O insólito sonâmbulo que vai peregrinando, sem âncora
e sem bússola, de olhos fechados, mas com um grande à-vontade
de quem já trata por tu as avenidas, ruas e os mais discretos becos,
esventrando, por instinto nato, os seus mais recônditos recantos,
fazendo deles o centro do mundo,
e que, tão depressa neles é visto e aparece
aureolado com o brilho de uma estátua em jardim iluminado,
como, imediatamente, se transfigura e funde
ou, mesmo, como súbita névoa que ao pousar
se dilui na atmosfera e no ar desaparece!


Vale a pena, pois, rever os passos de tão singular figura!
Passeando-se, com a subtileza de um mago,
ou com a altiva nobreza de um Príncipe encantado,
por lugares proibidos – devassando
os escombros das “sombras
que têm exaustiva vida própria”.
Indiferente às aparências, ao escárnio severo,
alheio aos múltiplos perigos e maledicências
que, nas horas mortas, no pico das horas
mais furtivas e silenciosas,
poderão reaparecer ou ressurgir
quando menos se espera: no dobrar de cada esquina
ou num passo mais em falso ou descuidado! Desafiando
convenções sociais, a censura alheia,
não se importando “de ser visto
na companhia de gente
altamente suspeita!”



Meu Caro Cesariny:
Como sabe, na vida há um tempo para tudo:
Há-o para o amor, a sensualidade, a poesia - para tudo
há o tempo que o homem quiser fazer enquanto for vivo.
E, também, após a morte! – há um tempo para o repouso absoluto!
- Este agora é o seu tempo! O do indomável guerreiro
ter também o justo descanso! – O do luminoso poeta ,
ao descer, lentamente, à Terra, que o criou,
subir, em espírito e, talvez também, em corpo inteiro,
imediatamente ao Céu!


E, quanto a mim, amigo:
o meu tempo, pelo menos, por agora,
a estas tardias horas da madrugada,
em que a memória de novo me faz recuar
àquela fria noite de Dezembro,
é a de um longo momento de sentida emoção:
- tão só para recordar o belo poema,
os lindos versos, ditos palavra a palavra,
que tive o privilégio de gravar,
tal qual acabavam de ser criados,
por um inesperado poeta que, ali,
imerso em nevoeiro e névoa, quase irreal,
os dizia, com a mesma expressão
sublime e sagrada de quem diz uma oração!
(jtm)
Lisboa, 27 de Novembro de 2006



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