Jorge Trabulo Marques - Jornalista e investigador
Natália de Oliveira Correia, nasceu em (Fajã de Baixo, São Miguel, a 13 de
Setembro de 1923. Faleceu em Lisboa, 16 de Março de 1993 - Reconhecida como o
nome maior da poesia portuguesa do século XX.
Para assinalar o centenário do seu nascimento, estão previstas para o dia
do aniversário e nos meses seguintes, varridíssimas
iniciativas culturais, sobre a vida e a obra de Natália Correia, além de outras
fora do país - Tanto por instituições como a nível pessoal
Reportagem sonora de uma das noites de
caloroso convivo e de boémia do Botequim da Natália Correia, no Largo da Graça, Lisboa, anos 80 – Naquele espaço, as
surpresas da noite já faziam parte do cardápio da casa, do habitual convívio e
diversão. A dada altura, de entre as várias cantigas ou
canções que poderiam ser despertadas pelo sons do piano – e um dos pianistas
que ali mais vezes tocou foi o Mastro António Vitorino de Almeida - eis que, a
dado momento, num animado coro de
cantorias, é Natália a lançar o mote de
uma canção popular à lendária Padeira de Aljubarrota, Brites de Almeida, cujo
nome surge associado à vitória dos portugueses, sobre as forças castelhanas, na Batalha de
Aljubarrota de 1385, que, com sua pá do forneira, teria morto sete castelhanos que se haviam escondido no seu forno. https://www.mitologia.pt/a-lenda-da-padeira-de-aljubarrota-434610
A POESIA É MÁGICA POR NATUREZA – E a via escolhida por Natália Correia - uma Anteriana convicta – foi a do soneto: do neo-romantismo.
Natália Correia
– Creio nos Anjos que andam pelo Mundo -
Na sua voz e lido na homenagem
A poesia de Natália Correia tem sido recordada e distinguida nas tradicionais celebrações dos Templos do Sol – Chãs-Foz Coa – Este vídeo recorda uma dessas singelas homenagens, que ali prestamos aos poetas e a outras personalizes , assim como o poema lido pela sua voz inconfundível no mítico botequim
Poema gravado no Botequim, em 1990, na sequência de uma entrevista que me concedeu a propósito do seu livro Sonetos Românticos, então distinguido, com o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores - S. Miguel - 13 de Set 1923 – Lisboa 16 de Março 1993, que tenho o prazer de recordar conjuntamente com o que foi lido na singela homenagem prestada numa das celebrações dos templos do sol-chãs-foz Côa –
FALEI COM ELA NA NOITE EM QUE FALECEU
Natália Correia, mais que uma figura inigualável, continua a ser uma lenda viva – Quem é que, tendo-a conhecido, hoje esquecerá essa figura? Estive à frente dela na noite em que acabaria por falecer. Aliás, era geralmente junto da sua mesa e do Dórido Guimarães, seu fiel amigo e companheiro de todas as horas, que geralmente me sentava
Vendo com ar tão pálido e algo atormentada, enquanto comia uma pequena refeição, um arroz-bife, perguntei-lhe o que se passava consigo. Respondeu-me, com uma das mãos no peito, que se sentia algo afrontada - Pelo que já não esperou pelo fecho do botequim
De um momento para o outro, e depois de ter-se levantado e ido aos anexos do bar, vejo sair amparada a abandonar o Botequim, ante o espanto das pessoas que ali se encontravam. Vou à rua ver o que se passa. Fiquei com a impressão de que teria ido num táxi para sua casa onde acabaria por falecer. Sim, na madrugada de 16 de Março de 1993, acometida por súbito ataque cardíaco, em
À minha pergunta se acreditava na vida para além da morte, na sequência de um inquérito radiofónico, que estava a fazer, respondeu- me com estes seus versos de “
O Livro dos Mortos”
Quando me derem por morta
de lágrimas nem uma pinga:
um trevo de quatro folhas
tenho debaixo da língua.
Ouça-os na sua voz
O mesmo sucede com o Café Martinho da Arcada Brasileira e outros. Aliás, a bem dizer já não existem cafés e restaurantes típicos à Portuguesa em parte alguma dos bairros históricos
Fui dos seus habituais frequentadores - E foi também ali que principei um romance com uma francesa, mulher do director de um conhecido hotel internacional, onde acabaria por pernoitar naquela noite e nos três meses seguintes, romance que se prologaria por cinco anos por Sintra e Estoril.
E era ali que também encontrava sempre motivos de entrevistas ou de expotâneos apontamentos de reportagem. E alguns deles até sugeridos pela própria Natália Correia: foi o caso das entrevistas que fiz a Narana Coissoró e Afonso Moura Guedes, também frequentadores deste espaço, sobre uma série de entrevistas que estava a fazer sobre a 1ª relação sexual, para o semanário Tal e Qual - Além da que fiz em casa de Amália Rodrigues
Mas, em dado periodo, deixeI de lá ir após um pequeno desaguisado com a Natália: apresentei-lhe um casal, que, em vez de dizer que conhecia algum dos seus livros, ambos disseram que a conhecim como deputada . - Sua resposta não se fez esperar: "para me trazeres cá pessoas, que só me conhecem como deputada, não mas tragas cá." - O jovem casal não gostou da expressão e. ambos, abandonaram imediatamente o bar., pelo que também os acompanhei. O rapaz era filho de um militar que cumpriu parte do serviço militar comigo em S. Tomé, pelo que fiquei também um tanto ou quanto desapontado pela reação exaltada da Natália. Se bem que me tivesse acostumado às suas inesperadas reações: que nela eram perfeitamente naturais.
E a da própria Amália. Às tantas desistiu da entrevista, quis apanhar-me o gravador e a cassete e eu tive que raspar-me, com ela e a Maluda a correrem escadas abaixo até à rua atrás de mim e mais o Vicente, a irmã e duas amigas. Só descansei quando apanhei um táxi. Mas a culpa também era dela, porque, quando ali cheguei, a conversa já era picante.
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