Jorge Trabulo Marques - Jornalista - Palavras registadas em video neste post
Estou neste momento, com o meu colega, Prof. Joel Serrão, a lançar um projeto muito vultuoso, que, julgo eu, trará consequências revolucionárias na historiografia portuguesa, refiro-me às duas séries, Nova História de Portugal e Nova História da Expansão Portuguesa.
Este, um dos vários registos que me concedeu o distinto investigador, meu bom amigo, com quem pude partilhar variadíssimos momentos de enriquecedor convívio - Notável historiador que introduziu os estudos do quotidiano em Portugal nos anos sessenta, pioneiro no trabalho sobre Idade Média, nos estudos sobre a I República e questionou a História muito factológica e repetitiva. Um dos seus livros, a “História de Portugal, conta com mais de uma dezena de edições , desde 1972, com traduções em espanhol, francês, inglês, japonês e polaco. E uma versão abreviada também para alemão, chinês e romeno.
UM BOM AMIGO E UM DOS HISTORIADORES PORTUGUESES MAIS DISTINTOS
Penso que uma das coisas nobres da existência de cada um de nós, passa também pelas vidas com as quais nos cruzamos, partilhamos ou recebemos saber, mostras de singular generosidade, provas de elevada inteligência e de outras superiores qualidades humanas. E um desses belos exemplos foi o ter conhecido uma das mais ilustres figuras da historiografia nacional - um estudioso e professor de referência, autor de uma vasta obra, em especial no aprofundamento da investigação da história medieval portuguesa e da história da Primeira República
O meu primeiro contacto com este distinto estudioso
data do início dos anos oitenta, na qualidade
repórter da Rádio Comercial. Foi na Universidade Nova de Lisboa, onde
era então Presidente do Conselho Científico da mesma Faculdade. Porém, pelo que
me foi dado logo depreender, Oliveira Marques era das tais personalidades que,
pelos seus vastos conhecimentos académicos e pela simpatia que o seu carácter
nos transmitia, com a qual não era difícil granjear afeto e admiração – Não
apenas dos seus mais diretos colaboradores, dos alunos e de todo o corpo
docente em todas as Faculdades onde lecionou como prestigiado catedrático, mas
também por parte daqueles que consigo conviveram. A sua vida foi, pois, um dos
mais notáveis exemplos de enriquecimento da cultura portuguesa e também de
coragem – designadamente de oposição à ditadura do Estado Novo, que o afastou
da universidade por ter participado na
crise académica de 1962, promovida pelos estudantes contra o regime. Viu-se
obrigado a exilar-se, a partir de 1965, nos Estados Unidos da América, onde lecionou
em várias instituições, como a Universidade de Alabama, da Flórida, Columbia e
Minnesota, entre outras.
Em 1970, durante a “primavera marcelista”, regressou a Portugal, reingressando na universidade portuguesa depois da revolução do 25 de Abril, em 1974. Foi director da Biblioteca Nacional de Lisboa entre 1974 e 1976. Após o que ingressa na Universidade Nova de Lisboa, como professor catedrático e presidente da comissão instaladora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas.
Foi por essa altura que o conheci. A partir daí encontrei-me com ele várias vezes: no lançamento de algumas das suas obras; à mesa do café ou de uma esplanada. Assisti a palestras suas e deu-me a honra de ser visita de sua casa nalguns dos seus aniversários e até numa passagem do ano. E, também, um dos seus convidados na inauguração do seu novo solar no Campo de Santa Clara, em Lisboa – Sendo então o único fotojornalista presente, embora na qualidade. de amigo. Pois, pelo que depreendi, a festa era de carácter restrito – Estava a sua mãe, os seus amigos mais chegados(entre os quais o Prof. Doutor João José Alves Dias) alguns académicos e altas figuras da maçonaria portuguesa, designadamente do Grande Oriente Lusitano, do qual viria asceder, em 1991-1994, a Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho Grau 33. De resto, é também nesta área que A.H. de Oliveira Marques dá também um valioso contributo como investigador, com destaque para a História da Maçonaria em Portugal e A Maçonaria e o Estado Novo. Em 1998 recebeu a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio.
Sempre que revejo os muitos registos fotográficos que guardo da sua pessoa, a primeira sensação que daí me advém é a de que Oliveira Marques, continua entre nós. Sim, não pude acompanhá-lo à sua última morada, por razões de saúde, e talvez também por isso, não sendo essa a última imagem que me deixou, é que eu continuo ainda a vê-lo a sorrir e a expressar-se com aquele seu sorriso afável e aberto, de bom amigo. Por outro lado, também ainda não foi há muito que eu recebi o seu postal de Boas Festas, em agradecimento ao que lhe enviei.
Sabia que a sua saúde nos últimos tempos já andava algo delicada. Ele próprio mo dera a entender da última vez em que , casualmente, nos cruzamos, quando descia a Rua da Misericórdia, na companhia do seu grande amigo Prof. Doutor João José Alves Dias
Mas quem é que vai acreditar que, de um momento para o outro, se pode perder um amigo de tão elevada estatura e que Deus o iria chamar para sua companhia?!... - Dizia-se agnóstico mas não sei até que ponto o que um homem faz querer aos outros sobre questões de fé e de crenças, nesta ou naquela fase da sua vida, corresponda às suas verdadeiras interrogações mais íntimas, silenciosas e duradouras . Pois quando leio, por exemplo as palavras amáveis que me dirigiu no seu postal de Natal de 2004, agradecendo “as belíssimas fotografias, muito “espíritas” e ,por isso mesmo, cheias de interesse”, o pensamento que me ocorre é o de que estas questões do foro místico não deixariam, por certo, de o sensibilizar ou de o tocar profundamente.
NAS DECLARAÇÕES PROFERIDAS NO VIDEO QUE AGORA EDITO COM A SUA VOZ
Declarou-me: “estou neste momento, com o meu
colega, Prof. Joel Serrão, a lançar um projeto muito vultuoso, que, julgo eu, trará
consequências revolucionárias na historiografia portuguesa, refiro-me às duas
séries, Nova História de Portugal e Nova
História da Expansão Portuguesa
A Nova História de Portugal, consiste num
conjunto de 12 volumes, que tratarão de toda a história portuguesa, desde a
pré-história até à atualidade, até pelo menos à revolução do 25 de Abril.
Cada volume será entregue a um especialista ou
grupo de especialistas, sobre a nossa conjunta coordenação.
O 1º volume que sai da série – mas temos que atende não à cronologia mas à disponibilidade e à existência de historiadores já preparados, é redigido por mim próprio na íntegra e respeita aos séculos XIV e XV
Espera-se que o segundo volume a sair, diga
respeito à pré-história e que seja consequentemente o primeiro. E, depois, os outros virão nos
anos mais próximos,
Será, evidentemente, uma iniciativa que levará
bastante anos. Mas o mesmo que dizer com as grandes histórias de Portugal, que
todos conhecemos (…)
Quanto à Nova História da Expansão, já saiu nos
finais do ano passado, o 1º volume: consagrado ao Brasil, de 1750 a 1822, e coordenado
pela historiadora brasileira, embora nascida em Portugal, foi minha aluna e que
se formou em lisboa, é a Maria Beatriz Vieira de Silva.
Está em curso mais dois volumes e o plano consiste,
sensivelmente, de um elevado número de
volumes, abarcando todo o período da expansão, desde os seus primórdios, até à
colonização no século XX
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