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quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

A MORTE DE MIKLOS FÉHER - Caiu no relvado no 25 de Janeiro de 2004 - Meu presságio poético três dias antes - Parecia um filme realizado pela força do destino - Jogou a sua última partida contra o Vitória de Guimarães

Cópia de uma postagem publicada neste blogue em 12 de Nov. 2008 - 



MIKLOS FÉHER - Caiu no relvado no 25 de Janeiro de 2004 - Minha visão 3 dias antes - Olho o futebol apenas pelo seu valor artístico e místico - Meu presságio poético três dias antes - Quando o vi na relva cair parecia um filme realizado pela força do destino - Jogou a sua última partida contra o Vitória de Guimarães. 

  - A TRISTE CONFIRMAÇÃO
 
Estava em minha casa com a televisão ligada mas sem prestar grande atenção ao jogo. Porém, estranhamente, de um momento para o outro fiquei parado frente ao ecrã com os olhos fitos no desenrolar do desafio, com o pressentimento de que algo de funesto se iria passar nos instantes seguintes - De que as imagens que a seguir se iriam desenrolar já faziam parte de um estranho caleidoscópio que havia sido programado por uma qualquer mão invisível. Sim, lembrei-me imediatamente do poema que escrevera uns dias antes e comecei logo a pressentir o que de funesto ia acontecer...
 
 










Nesse momento segui atentamente o movimento da bola e vi então, a câmara apontada ao árbitro, no primeiro plano, um jogador do Benfica que se curva e, nos instantes seguintes a cair desamparado costas sobre o relvado, que já não se levantou!... Mas não o reconheci - Quem se referiu ao seu nome foi o locutor. Pouco depois, vários jogadores deitavam as mãos à cabeça, como que tomando claramente de que a tragédia, lhes batera à porta, entrara em campo e era irreversível e choravam.
 
Porém, ao recordar-me daquele instante, em que o jogador cai como que desamparado e fulminado ao chão, oh, como tudo foi tão rápido e tão absurdo!... Não havia sinais de qualquer falta ou violência em campo... Era o seu coração que, não resistindo, o traíra!.... Revejo a imagem e os momentos que se seguiram como se fosse ainda hoje. Morreu duas horas depois após fracassadas todas as tentativas de reanimação.
 
 Três dias antes, na Quarta-feira, a meio da tarde, e sem que encontrasse alguma explicação lógica, suspendi o texto que estava a escrever no computador e pus-me a fazer uns versos sobre o Benfica. Mas porquê?!.. .. Estranhei a tentação mas não desisti. Mostrei-os horas depois, em minha casa, ao estudante de arquitetura, João Mendinho, ao fim dessa mesma tarde, que me havia convidado para ir jantar com ele; porém, não querendo interromper a dita inspiração, e não podendo aceitar o seu convite, acabaria por ser eu a sugeri-lhe que viesse a minha casa jantar comigo..
 

Pouco depois de se ter sentado no sofá (e num momento em que me preparava para os reler, já que o tema me havia absorvido bastante) mostrei-lhos! Ocultando-lhe porém o destinatário - pois não queria que nem ele nem alguém soubesse a quem se destinavam, uma vez que era minha intenção enviá-los sob pseudónimo, tal como havia feito com outro tipo de comunicação epistolar - . Segurei a página (a primeira) numa das mãos, enquanto com a outra tapava o cabeçalho do endereço – Êh! foste tu que os escreveste?!... Que versos tão trágicos!.. - Exclamou. Agradeci-lhe a opinião mas não lhe disse mais nada.
 
O certo, porém, é que, devido a  simpático jantar, acabei por não ir aos Restauradores a metê-los no correio, como era meu desejo. Depois, Quinta e Sexta-feira, envolvi-me noutras ocupações e hesitei. Mas acho que fiz bem, não estou arrependido. Pois estou convencido que teria ficado ainda mais perturbado comigo próprio, quando vi o jogador a cair de costas sobre o relvado.

Já tenho tido outras visões mas era preferível que as não tivesse: se são boas, tudo bem; até fico contente. Contudo, quando são prenunciadoras de maus agoiros, fico triste no momento em que se confirmam. Em face disso, gostaria até que o meu cérebro me deixasse descansado e se alheasse de tais coisas – Sobretudo quando antevê acontecimentos trágicos – Mas tais perceções ultrapassam o meu querer e são inesperadas. Não se podem encomendar nem controlar.
 
Lisboa, 21 de Janeiro de 2004
Exmo.Senhor
Luís Filipe Vieira
Presidente do Sport Lisboa e Benfica
Assunto: Reflexão


Eis que, a Oriente, irrompe a claridade.
Ressurge o rumor. O dia repete o seu giro
e a ditosa natureza parece querer de um longo torpor despertar.
Aparentemente volve a bonança e os ventos da tempestade se acalmam.
Falsa ilusão: pois ainda ouço no fundo do nebuloso vale
o dissonante troar do trovão – E, volvendo o olhar,
mais ao longe, ao largo, em direção à erma montanha,
claramente descubro o abominável raio fulminando
os mais altos píncaros da inóspita extensão,
os turvos céus sacudindo,
ferindo de morte
o infecundo mundo...
Sim, ó desmedida ambição humana!
Tu que és tão frágil e temporal e que, ao baixares á tumba,
ao reino dos sepulcros,
se és só poeira e lama,
como poderás sonhar tão alto
através de tão descampado ermo?!..
- Sabendo que o tempo de vida,
aquele que os astros vos concedem e vos resta,
é tão fugaz como efémero!...
Tu, espírito imanente, simples mortal,
Incorporando o Espírito do Grande Mestre,
Príncipe da Gloriosa Luz que, em ridente alvorecer,
Em cada madrugada, se abre em esplendoroso sorriso ,
venho, pois, humildemente comunicar-vos,
para meu pesar, visão funesta,
quão fatal poderá ser para o Benfica,
 
 
 Excerto do poema (carta) que não chegou a ser enviado, senão mais tarde
a Luís Filipe Vieira, pronunciando a trágica partida
do malogrado Micklos Fhér
--- Mensagem encaminhada ----
De: luis de raziel raziel 
Para: sec.geral@slbenfica.pt
 
 Ao Presidente do Benfica
Sr. Luís Filipe Vieira:
Tomei a liberdade de lhe enviar esta minha humilde mensagem
que faço acompanhar de algumas imagens
e o excerto de um poema ( que vai no anexo) e que estive para lho enviar uns dias antes da morte do malogrado jogador benfiquista Miklos Feher.
 

Julgo que o essencial da minha mensagem poética está implícito nos meus primeiros versos ( nos que atrás transcrevi). Pois, nos versos imediatamente a seguir, passei a concentrar-me mais na figura do Presidente do Benfica   com a interpretação da Maldição lançada pelo técnico Béla Guttmann, em 1962
 

O treinador húngaro Béla Guttmann. com o qual  o Benfica conquistaria os dois títulos de campeão nacional em 1959/60 e 1960/61, e, pela primeira vez na sua História, duas Taças dos Campeões Europeus Que, pelos vistos, tanto deu ao Benfica de promissor, como de agouro - Mas também a ele - porque, depois dessas gloriosas conquistas, também ele nunca mais foi o mesmo... Emproado pela fama, exige mais dinheiro, o Benfica não podendo satisfazer as suas exigências, deixa inopinadamente o clube da luz, após o jogo com o Real Madrid, com a famosa maldição"Nos próximos 100 anos, o Benfica não voltará a ser campeão europeu". - La maldición de Bela Guttman- Mas, pelo que se depreende, também ele acabaria por ser contagiado e vitima da sua má língua...Nunca mais conheceu o sabor das mesmas vitórias.
   

 

Curiosamente, estive presente na noite da consagração da vitória de Luís Filipe Vieira. Fiz algumas fotografias - E aquela que mais gostei de registar e cuja imagem (no meu pensamento)ainda hoje revejo com a mesma nitidez de então é a de Fialho Gouveia. Ele estava muito feliz, muito feliz! - Ele era um fervoroso Benfiquista - .. E não tive dúvidas que, se os sócios do SLB votaram em LFV e o aplaudiram tão efusivamente é porque gostavam dele e acreditavam no seu projecto. 

 

Conheci pessoalmente, Fernando Martins. Ele dirigia o Clube e a equipa com mãos de mestre! Como um autêntico construtor de campeões, um artesão imbuído de grande génio e imaginação. Era generoso, tinha boas relações com os treinadores, jogadores, membros da direcção e a massa associativa. E até conseguia sensibilizar os árbitros se fosse necessário - Ouvi-lhe de viva voz episódios do arco da velha!... - sobretudo de alguns jogos com equipas estrangeiras. Claro que isso é já passado - Fez parte do jogo

….Falei algumas vezes com ele. E, numa ocasião, até fui uma das poucas pessoas que estiveram presentes num almoço que ofereceu no Hotel Altis, a Otto Glória. Isto aconteceu, julgo que no ano da sua morte. Foi um convívio muito agradável.
 

O conhecido técnico brasileiro, que já andava com problemas de saúde, perguntou-me se não estaria interessado em pegar no seu diário.. Com muita pena disse-lhe que não tinha tempo para assumir essa responsabilidade. A minha vida profissional ocupava-me imenso. Mas hoje sinto uma certeza tristeza - Compreendo que não fosse a pessoa mais indicada ( pois a minha relação com o futebol sempre foi meramente episódica e de um simples observador) mas, que eu saiba, ninguém pegou na ideia e perdeu-se a oportunidade de se poderem conhecer muitas páginas da história do futebol - contadas por um dos seus mais notáveis protagonistas - dos mais brilhantes treinadores do seu tempo. A menos que as suas memórias tenham sido publicadas e eu não o saiba. Pois a vidência nada tem a ver com adivinhação.
 
 

Não me considero nenhum adivinho. Nem faço disso vida. Mas reconheço que, em certos momentos inesperados, sou possuidor de algumas capacidades de vidência paranormais, que não costumam ser muito frequentes no comum das pessoas . De resto, na minha vida, conto com experiências de vida, muito arriscadas e marcantes, que, certamente, poucos se arriscariam a vivê-las. Creio que, em boa parte, talvez sejam fruto de alguns desses dramáticos momentos.

A propósito de tais perceções extra-sensoriais, poderia aqui citar vários casos que atestam as minhas capacidades – e até testemunhadas. Mas não tenho interesse. No entanto, não resisto aqui a recordar o que se passou no dia do funeral de minha mãe - estando eu a alguns milhares de milhas de distância ( na ilha de São Tomé)e sem que eu tivesse qualquer notícia sobre a sua morte.

Mas, nessa ocasião, o meu pressentimento foi um pouco diferente. Julgo que entrou mais no domínio da telepatia. Foi realmente estranhíssimo o que então se passou comigo. Prestava serviço militar naquela ilha - depois de ter frequentado o curso de sargentos milicianos e o curso dos comandos em Angola. Mas de referir que não viera para esta ilha em comissão militar: pois já me encontrava em São Tomé, por força de um estágio numa roça.

Foi num Domingo. E, como tinha estado de serviço de véspera, após almoço resolvi deitar-me e descansar um pouco Adormeci e uma hora e meia depois acordei a chorar. Pois vira o funeral de minha mãe a dirigir-se para o cemitério, com tal evidência, com tal pormenor, que era como se eu próprio estivesse incorporado no cortejo fúnebre atrás da urna. Via os olhos do meu pai e dos meus irmãos rasos de lágrimas. Ouvia-os todos a exprimir a sua inconformável dor De tal modo que eu próprio também chorava. Acordei a chorar. - Já um dia fiz este relato num jornal.

Em S. Tomé 39 anos depois
Residia, nessa altura, em casa de uma família portuguesa. Pois o filho, o Francisco, andava comigo na tropa: era furriel miliciano como eu. Compartilhávamos o mesmo quarto. - um bonito espaço, que se situava próximo do Mercado Municipal. Mas ele, na tarde desse domingo, estava fora de casa. Porém, ao regressar, vendo-me sentado sobre a cama e a chorar, perguntou-me: “O que é que tens, Jorge?!…” - Eu respondi-lhe: “a minha mãe morreu!…” E, mal pronunciei estas palavras, volto a cair em mim em lágrimas.... “Mas quem te disse?!…” - insiste ele. E eu digo-lhe: “Ninguém me disse nada!….. Mas eu sei que a minha mãe morreu porque eu vi o funeral dela!… Vi tudo como se estivesse acompanhá-la ao cemitério...” 


Ele mostra-se surpreendido com o que eu lhe acabo de revelar, pois já trazia consigo um telegrama onde me ia ser dada a notícia. No entanto, mesmo assim, ainda procurou contornar o seu conteúdo, tendo acrescentado, ao mesmo tempo que se aproximava de mim - já pronto para me dar um abraço e me confortar: “Olha, Jorge: de facto, a tua mãe está muito mal, está muito doente e eu até trago aqui um telegrama para te informar da gravidade da saúde dela!… Mas eu vi logo que eram apenas palavras amigas de conforto e retorqui: Obrigado, Francisco! Obrigado pelo teu cuidado mas esse telegrama só pode dizer que a minha morreu! - E era verdade. A minha mãe que fazia agora anos no dia de São Martinho, faleceu aos 50 anos, num Sábado e foi a enterrar, justamente naquele domingo, para mim tão triste - Mesmo antes de me ser dada a notícia.

Este foi o primeiro caso que me despertou para os fenómenos da mediunidade. A partir daí passei a prestar mais atenção aos chamados flagrantes de iluminação e tenho-me apercebido de outros episódios relevantes. Entre os quais a morte da Irmã Lúcia. Desde há muito que lhe queria manifestar a minha admiração pelo seu estoicismo e santidade – por razões que lhe descrevi E ,é claro, queria fazê-lo ainda enquanto fosse viva e antes da sua morte - E assim aconteceu: enviando-lhe uma singela carta, acompanhada de umas fotografias pessoais (sobre um naufrágio em que sobrevivi), sim, que lhe dirigi um mês antes de cair na enfermidade que a haveria de o conduzir à última morada. Guardo a cópia da missiva e o registo. Já publiquei ( um excerto) num jornal da imprensa regional mas hei-de também aqui fazê-lo.


.Dirigi mensagens a várias figuras públicas sobre as mesmas questões: a vidência – Houve muitas cartas que escrevi mas que depois não as chegava a mandar – Pois aquilo que, inicialmente queria que fosse dito em meia dúzia de linhas, acabava, geralmente, em longuíssimos textos, pelo que desistia de as enviar. Sou capaz de um dia vir a transcrever aqui algumas dessas cartas.

Mas, já agora que falei do Benfica, posso citar a carta que mandei a Vale e Azevedo, uns dias antes da disputa com Manuel Vilarinho, em que - para seu bem e do Benfica - o aconselhava a mudar de vida; a retomar a sua profissão de Advogado. Também guardo ainda comigo a carta e a expressiva fotomontagem que lhe enviei - Deitado numa cama, enfermo, incorporando a figura do diabo e rodeado de pequenos diabos.

Iniciei-me em criança num dos cultos noturnos à Deus Vénus - que era feito de noite, que me marcou para o resto da minha vida - E  que me terá ajudado bastante a enfrentar as maiores adversidades no alto mar http://canoasdomar.blogspot.com/2019/11/perdido-no-golfo-da-guine-36-dia-tenho.html

“Deus condenou o  Homem à sepultura  diária do sonos para lhe recordar  uma verdade salutar  e fundamental:  que não há diferença  substancial entre a vida e a morte”

“Os homens continuam vivos: foi esta a grande descoberta  dos homens primitivos . Os vivos estão mortos: é esta a  a moderna descoberta da filosofia existencial “
“Cristo foi condenado à morte logo que nasceu  (massacre de Belém), para simbolizar a  suprema e derradeira  finalidade da Sua Vinda: ser morto. Entre estas  duas condenações ( a de Herodes e de Caifás) toma significado e consistência  “a vida de Jesus”. 

Bom, mas o episódio que eu aqui desejo recordar é o que se relaciona com o dos tais versos premonitórios: - 

De facto, ao ser levado a escrevê-los, a visão que então claramente se me colocava na mente e nos meus olhos era uma espécie de funesta tempestade que me parecia iminente e prestes a desabar sobre a equipa do Benfica.... . Via-a como que ameaçada por um violento temporal!... Em que, um dos seus jogadores, ia ser fulminado por um relâmpago!!

E o mais curioso de tudo é que o desencadear desse cenário, com toda a sequência dramática, parecia-me simultaneamente decorrer em dois pontos muito diferentes e distanciados: sobre o estádio da luz e sobre o planalto, o vale e os montes da minha aldeia, para onde me desloco, regularmente, mas minhas habituais peregrinações espirituais

Vivo há muitos anos na capital mas nunca consegui imaginar tempestades mais medonhas do que aquelas que marcaram a minha infância e adolescência - E, no entanto, já enfrentei temporais, sozinho, bem violentos, em pleno alto mar!

Então, ao pôr-me a escrever, como que impelido por um ato instintivo e determinado, guiado por uma qualquer voz alheia a mim, - e, para contornar, de algum modo, a imagem da morte (que era realmente a que mais me assolava a imaginação) comecei por me servir de metáforas, que hiperbolizava, um pouco ao estilo dos poemas épicos. Dando assim escoamento a toda uma avalanche de pensamentos que me afloravam à mente, me perturbavam mas que ao mesmo tempo também me acalmavam, à medida que os ia escrevendo, como se estivesse predestinado a corporizar uma tal mensagem . E até a reflectir sobre o seu conteúdo – a morte. Porém, como esta (na minha perspectiva)não é o fim de tudo ( mas a passagem para outra via, para outra jornada) o que me perturbava e perturba, não era tanto a imagem da morte mas a efemeridade da vida – O tempo perdido que devíamos saber aproveitar e em que passamos distraídos.

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