Jorge Trabulo Marques - Jornalista e investigador - Natural de Chãs. de V. N. de Foz Côa
Foi precisamente, no mês de Agosto, há 3 anos, que, ao caminhar por um caminho vicinal de V. Nova de Foz Côa, me apercebi da existência de umas gravuras , que me deixaram intrigado: numas vi logo que tinham aspeto de serem recentes, que aqui nem divulgo, tanto mais que evidenciavam datas e nomes; outras, com detalhes mais antigos e, até, nalgumas partes cobertas de musgo ou do pigmento natural da pedra xistosa, que fiquei sem saber se deveriam ou não ser classificadas como rupestres
Fiz esse desabafo, a dois arqueológos, no passado dia 10, na esplanada do museu do Côa, em que se comemoravam os 25 anos do Parque Arqueológico, tendo ficado de lhe mostrar as imagem - É exatamente o que vou fazer através deste post
Nesse dia, além de ter tido o prazer de me associar à efeméride, com o concerto, foi-me também dada a oportunidade de entrevistar a Presidente da Fundação Côa Parque, Aida Carvalho, entidade gestora do Museu do Côa e Parque Arqueológico do Vale do Côa, que, entre outras declarações, me confessou que haveria novidades para breve
Pelos vistos, depreendo que seja esta noticia
divulgada pela Lusa: Arqueólogos do Côa intrigados com nova gravura. Uma figura que representa uma cerva, gravada com uma
técnica diferente da "Arte do Côa"
Referindo, que as mais recentes descobertas no sítio
do Fariseu, no Parque Arqueológico do Vale do Côa, intrigam os arqueólogos,
devido a uma gravura que representa uma cerva, gravada com uma técnica
diferente da da "Arte do Côa".
A nova descoberta que intriga os arqueólogos |
"A figura que
representa uma cerva encontra-se, junto de outros traços incisos, distribuída
por dois fragmentos que terão caído de um painel entretanto destruído. Para já,
é com alguma segurança que podemos dizer que estas duas gravuras terão sido
gravadas há mais de 14.000 anos, mas há algo que nos intriga", explicou à
Lusa o diretor científico da Fundação Côa Parque, Thierry Aubry.
O arqueólogo disse
que o achado destes dois fragmentos de rocha numa camada arqueológica vai
permitir estabelecer uma data mínima para a sua realização, logo que cheguem os
resultados das datações de "luminescência", que estão a cargo de um
laboratório na Dinamarca.
"Encontrámos
um fragmento de painel que foi gravado que nada tem a ver com chamada arte
móvel, mas antes parte de um painel que foi gravado, que se desprendeu e foi
encontrado numa camada arqueológica. Agora só nos resta esperar pelos
resultados da análise para sabermos com precisão a sua datação exata. A arte
móvel é uma referência estilística e, neste caso, vamos ter uma datação mínima
para outra gravura nunca antes encontrada", indicou o especialista em arte
rupestre.
Thierry Aubry
frisou que esta "peça" não está relacionada com um painel descoberto
em 2020, constituído por picotado, enquanto neste caso é uma gravação por
incisão de traço fino e gravura mais elaborada e pormenorizada.
Após escavações
que decorreram em maio de 2021 junto à chamada 'rocha 09' do Fariseu, que
representa um dos principais núcleos de arte rupestre do Vale do Côa,
classificados como Monumento Nacional e inscritos na Lista do Património
Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
(UNESCO, na sigla em inglês), foram encontrados 25 fragmentos de rocha com
técnicas diferentes de gravação (picotagem e incisão).
"Estamos a falar de uma gravura com um traço muito fino que não se conhece o equivalente na arte do vale do Côa. Agora tenho fazer um registo comparativo para obter uma datação deste novo estilo de gravação, no contexto do Parque Arqueológico do Vale do Côa, onde há mais gravuras de cervas, mas não com esta técnica tão apurada, o que nos está a deixar intrigados", vincou o arqueólogo.
Os arqueólogos
sempre acreditaram no potencial rupestre da designada 'rocha 09' do parque, que
fica a cerca de 50 metros do rio Côa.
Para o arqueólogo
André Santos, a importância deste achado deve-se ao seu aparecimento numa
camada arqueológica que tem de ser datada e outras semelhantes encontradas no
Vale do Côa.
"Isto é
importante para datarmos um tipo de gravuras que temos no Vale do Côa que, até
ao momento, não está bem datada cientificamente. Para já a única certeza que
temos é que a gravura é anterior a 14.000 anos, já que a arte aplicada após
esta data se torna diferente", observou.
Por seu lado, a
geóloga Sílvia Aires avançou que a formação destas rochas está inserida no
complexo "Xisto-Grauváquico" do grupo Douro, que são pouco deformadas
e de baixo grau de metamorfismo (rochas que resultam da transformação da rocha
original).
"O que nos
interessa agora perceber é a formação das películas que a superfície da rocha
tem. O importante é saber se essas películas foram criadas de forma natural,
antes ou depois de serem feitos os traços. Em alguns casos, já verificámos que
os traços foram feitos depois da formação das películas porque os traços das
gravuras são mais claros", disse a geóloga.
Para a presidente
da Fundação Côa Parque, Aida Carvalho, as gravuras do Côa têm uma imagem muito
forte no segmento do turismo cultural e científico e esta descoberta vem
reforçar esse posicionamento.
"As gravuras
do Côa são um importante recurso de atração turística ao território. Quem
visita o museu questiona com frequência o conjunto de procedimentos e técnicas
de datação das gravuras e esta figura poderá responder, em parte, a essa grande
questão", vincou a responsável pela fundação.
Aida Carvalho
disse ainda que os arqueólogos e outros especialistas estão a trabalhar para
incluir estes dois fragmentos na exposição permanente do Museu do Côa numa sala
destinada ao tópico das datações, enriquecendo a experiência da visita.
A "Arte do
Côa" foi classificada como Monumento Nacional em 1997 e como Património da
Humanidade, pela UNESCO, um ano depois.
Como uma imensa
galeria ao ar livre, o Vale do Côa apresenta mais de 1.200 rochas, distribuídas
por 20 mil hectares de terreno com manifestações rupestres, sendo predominantes
as gravuras paleolíticas, executadas há mais de 25.000 anos, e distribuídas por
quatro concelhos: Vila Nova de Foz Côa, Figueira de Castelo Rodrigo, Pinhel e
Meda.
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