Sempre que
posso, saio do bulício da floresta de betão
Em demanda
dos largos horizontes
da minha
amada terra natal.
E dou um
saltinho aos seus puríssimos ares!
Afasto-me da
confusão com a certeza
de poder
viver algo diferente.
E dificilmente
me posso enganar
- Quando,
sozinho, sob o teto dos Céus
vagueio sem
destino pelos campos cheirosos,
estes, invariavelmente,
me saúdam
e me recebem
muito bem! -
Tudo quanto
se desprende
do seu
silêncio é etéreo e divino, propício
à
comunicação da vida e fala a verdadeira voz de Deus!
Em tudo
experimento sempre uma renovada emoção
ou
ressuscito memórias antigas que o meu coração,
então livre
como um passarinho, já viveu!
Todavia, aqui já não possuo sequer
um palminho de terra,
a que possa chamar meu,
nem uma casinha, humilde e térrea,
a que possa chamar minha - Quando aqui vou,
ainda me alojo na centenária casa
que era dos meus avós e dos meus pais,
que agora está desabitada e já me não pertence.
Há muito que o destino me levou os olhos dos meus amados.
Pelo soalho dos quartos e da sala, às vezes,
quando aqui pernoito em colchão de folhas de milho
e envolto por mantas de burel marcadas
pelo uso e pelo tempo,
ao acordar pela manhã, e se é domingo ou dia santo,
sim, às vezes, ao ouvir o repicar do sinos,
simultaneamente,
parece-me que ainda ouço passos antigos,
andando às voltas pelo corredor
e por todos os cantos da casa,
e até fico com a ideia
de que estou a escutar as suas vozes,
algo impacientes, algo atarefadas,
vozes de vidas de um quotidiano difícil e atribulado,
quando os sinos, do antigo campanário,
ao terceiro toque, davam as últimas três badaladas,
chamavam, pela última vez, os fiéis à santa missa
e os mais retardatários, sentindo que estavam atrasados,
se impacientavam, se inquietavam!
Oh, abençoada luz dos domingos santificados,
místico brilho que, em cada alvorada que resplandece,
o disco em fogo as humanas mágoas doira, desfaz ou estremece! -
Jorge Trabulo Marques
Excerto de OS SINOS DA MINHA ALDEIA
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