- JORGE TRABULO MARQUES - JORNALISTA -
"Vocês vêm sacar o lado
oculto da pessoa e parece que estão a conseguir"
Na escultura, dizia-me que
assinava com o apelido de Pedro Chora: “faço bichos esquisitos, cavalos com asas, hipopótamos maravilhosos!
Aranhas com gafanhotos na boca, com pedaços de ferro, até com pedras misturado,
de grande tamanho ou em coisas pequenas"
A entrevista data dos anos 80, num bar
em Lisboa, de que era proprietário, espaço
esse que considerava como um ponto de encontro, um lugar de convívio e
de meditação interessante, mais como espaço de ensaios de que para criar, mas que apenas o
absorvia à noite - Considerando ser “normal que, um artista, tenha um ponto de encontro
num bar em que podemos retribuir uma gentileza”
Completam-se, hoje, quatro meses, sobre a
morte de Pedro Barroso, do Cantor, compositor, poeta, mas também artista plástico amador – Falecido, aos, 67 anos, na
unidade de cuidados paliativos do Hospital da Luz, em Lisboa Ontem,
quinta-feira, o
Presidente da República, quis distinguir,
a titulo póstumo, aquele que era considerado
uma das
míticas vozes da música de contestação do período do 25 de abril, com a distinção de
Oficial da Ordem da Liberdade, em cerimónia que decorreu na Sala dos
Embaixadores do Palácio de Belém, na presença do Presidente da Assembleia da
Republica, Eduardo Ferro Rodrigues.
Aproveito para me associar à justíssima homenagem
recordando o registo da interessante entrevista, que me concedeu para a extinta
Rádio Comercial-RDP
Declarou-me que cultivava
uma vida calma, procurando, sempre que possível, o recolhimento com a Natureza,
no Ribatejo, onde tinha uma casa da família, dizendo que gostava de ver uma aurora, um
pôr-do-sol, temas que também o inspiravam nas suas composições
Chego lá! Tenho os pavões
a cantarem para mim ! E fico encantadíssimo a olhar para aquelas pedras antigas!
Para aqueles espaços! E sinto-me a ganhar energias
De entre outras questões,
abordadas espontaneamente, falou-me do seu convívio com o pintor e escultor Fernando Conduto, referindo ter sido
a primeira vez que fazia essa revelação
Sou tigre de ascendência na
astrologia chinesa e, sagitário, na horóscopo
ocidental
Falamos das horas que
reservava ao trabalho e ao que chamou de repossuo essencial para depois dar
tudo, nos concertos, “rasgar a camisola”, seja na
Aula Magna, seja numa romaria, seja em “Santa Comba do Assobio” – Dos espetáculos
absorventes do Verão”, que é de se trabalhar do Verão para o Inverno
Escrever só vale a pena
se for para partir a loiça toda
Não procuro livro mas
formas de comunicação: uma forma de comunicação que me emocione! Seja um quadro,
seja uma escultura ou um livro! Seja uma banda desenhada, seja um vídeo ou um
filme ! … Mas não vou à partida procura de qualquer tipo de coisa! Sou um individuo
dialético!
É evidente que eu já
escrevi mais de que um livro! Sou o autor de todos os poemas nos meus discos!
Já editei discos suficientes para escrever um livro: quem tenha a coleção
completa, já tem uma boa coletânea de poemas
A música aparece, como acidente
de percurso, normalmente posterior ao próprio exercício poético
E, em prosa, sou muito contundente! Acho que é
preciso dizer as coisas que se pensam
O homem está a ser
dominado pelo mundo, pela máquina! Por muitas coisas que são agressivas! Que
são intensas! Deixou de sentir a intensidade do seu interior! Deixou de ter
tempo para brincar! Para ser criança! … Está a perder esse espaço todo e isso é
lamentável.
Contra isso, a palavra
escrita tem uma função muito importante! E eu acho que anda para aí um marasmo
enorme nas coisas, que se andam a escrever: sinceramente! Divirto-me imenso com
Mário Zambujal, com um tipo de escrita se lê bem, mas suponho que anda para aí
muito intelectual muito chato a escrever coisas que já ninguém lê
Apontaria ainda o Eça de
Queirós, como o autor preferido
Cada vez a nova geração,
vai procurar a banda desenhada um vídeo e outras formas de comunicação: ou
seja, nós estamos a viver e a educar para uma sociedade a mudar. E temos que nos capacitar que a
sociedade está e mudança todos os dias! Preservando valores históricos, que são fundamentais:
valores do património, valores da musica, valores da cultura, valores da própria
contestação ao consumismo humano
Tendo nascido em Lisboa, Pedro Barroso
cresceu em Riachos, terra natal do pai, professor do Ensino Primário.
Completou o curso de Educação Física em
1973, na Instituto Nacional de Educação Física, atual Faculdade de Motricidade
Humana, e foi professor dessa disciplina no Ensino Secundário durante mais de
20 anos.
Em 1988, viria a obter um diploma de
pós-graduado em Psicoterapia Comportamental, tendo trabalhado na área da Saúde
Mental e Musicoterapia durante alguns anos. Foi, neste campo, pioneiro no
ensino de crianças surdas, numa escola de ensino especial de Lisboa.
Membro ativo da comunidade artística e
musical, integrou a direção do Sindicato dos Músicos e foi autor, em 2002, do
polémico Manifesto sobre o estado da Música Portuguesa, que teve audições junto
de todos os grupos parlamentares da Assembleia da República e do então
Presidente da República, Jorge Sampaio.
Desde 2003, foi membro dos corpos gerentes
da Sociedade Portuguesa de Autores, na direção presidida por Manuel Freire.
Barroso foi convidado a dar palestras
sobre a cultura portuguesa nas universidades de Nijemegen, Estocolmo, Toronto e
Budapeste.
Autor da larga maioria das letras e das músicas que interpreta, é possível encontrar entre as cantigas de Pedro Barroso, trabalhos de autores como Cesário Verde,[4] Sophia de Mello Breyner Andresen[4] e até José Saramago, Prémio Nobel da Literatura, no tema "Afrodite" ou "Nasce Afrodite Amor, Nasce o teu Corpo", incluído no álbum Água Mole Em Pedra Dura, de 1978, e no DVD 40 Anos de Música e Palavras, de 2009.[5] Cantou em praticamente todas as grandes salas portuguesas (Coliseu de Lisboa, Aula Magna, Fórum Lisboa, Teatro Rivoli, Pavilhão Atlântico, Teatro Diogo Bernardes, etc.), bem como em todo o país, e ainda na Alemanha, Bélgica, Brasil, Canadá, Espanha, EUA, França,[1] Holanda, Hungria, Luxemburgo, China, Suíça e Suécia. Em muitos destes países, atuou também em cadeias de televisão e rádios. A 3 de dezembro de 2009, num concerto no Teatro de São Luiz, Pedro Barroso despediu-se dos palcos, celebrando 40 anos de carreira.[6] No entanto, ainda partilhou o palco com Manuel Freire e Francisco Fanhais, num "(Re)Encontro", em Tondela, a 19 de junho de 2010.[7] Já em 2011, a 3 de maio, é lançado novo registo de atuação, agora na Aula Magna do Conservatório de St. Maur, Paris.[1] Em fevereiro de 2012, lança lançado o álbum Cantos da Paixão e da Revolta. Literatura
Entrando também na escrita, Pedro Barroso publicou vários títulos, desde Cantos Falados, editado pela Ulmeiro, em 1996. Da mão do autor saíram Das Mulheres e do Mundo (Mirante, 2003), as ficções A História Maravilhosa do País Bimbo (Calidum, 2005), com prefácio do maestro António Vitorino de Almeida[8], e Contos Anarquistas (Temas Originais, 2009[9]). Em fevereiro de 2012, foi editado o livro Memória inútil de mim e outros gritos na paisagem. Pedro Barroso assinou os prefácios de Quadras deste Lugar à Margem (Brasília, 1997), de Manuel de Varziela, e Educação ou Armadilha Pedagógica? (Papiro, 2006), de Manuel Cidalino Cruz Madaleno.[10]
Morreu aos 69 anos, de doença prolongada,
na noite de 16 de março de 2020, em Lisboa.[3] https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_Barroso
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