Em todas estas pedras há uma linguagem que espera que a escutemos.. |
Ó DEUS TORNA-ME NO ESPELHO DA TUA ABENÇOADA LUZ - Concede-me a santidade da invisibilidade transparente e transforma-me na partícula que cintila do brilho do teu esplendor em consciência plena dos três estados do espírito subtil: a luminosidade irradiante e iminente para que através do silêncio e da meditação possa compreender ainda melhor a missão que me confiastes enquanto for vosso dedicado peregrino nesta temporária e efémera passagem da vida
DePeregrinodaLus - Heterónimo de Jorge Trabulo Marques
Nos altares dos penhascos
sagrados de outrora
Quando vier a
Primavera,
Se eu já estiver
morto,
As flores florirão
da mesma maneira
E as árvores não
serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não
precisa de mim.
Sinto uma alegria
enorme
Ao pensar que a
minha morte não tem importância nenhuma.
Se soubesse que
amanhã morria
E a Primavera era
depois de amanhã,
Morreria contente,
porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu
tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo
seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque
assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se
morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real
e tudo está certo.
Podem rezar latim
sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem
dançar e cantar à roda dele.
Não tenho
preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando
for, é que será o que é.
7-11-1915
Alberto Caeiro – Heterónimo
de Fernando Pessoa
Se, depois de eu
morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais
simples.
Tem só duas
datas—a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra
coisa todos os dias são meus.
Sou fácil de
definir.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem
sentimentalidade nenhuma.
Nunca tive um
desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca
foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as
coisas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto
com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto
com o pensamento seria achá-las todas iguais.
Um dia deu-me o
sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e
dormi.
Além disso, fui o
único poeta da Natureza.
Alberto Caeiro –
Heterónimo de Fernando Pessoa
EPITALÂMIO - Poemas Ingleses
II
Afastai nas janelas a cortina breve
Que menos que à
luz a vista só proscreve!
Olhai o vasto
campo, como jaz luminoso
Sob o azul
poderoso
E limpo, e como
aquece numa ardência leve
Que na vista se
inscreve!
Já a noiva
acordou. Ah como tremer sente
O coração
dormente!
Os seios dela
arrepanham-se por dentro numa frieza de medo
Mais sentido por
crescido nela,
E terão lábios
chupando os bicos em botão.
Ah, ideia das mãos
do noivo já
A tocar lá onde as
mãos dela tímidas mal tocam,
E os pensamentos
contraem-se-lhe até ser indistintos.
Do corpo está
consciente mas continua deitada.
Vagamente deixa os
olhos sentir que se abrem.
Numa névoa
franjada cada coisa
Se ergue, e o dia
actual é veramente claro
Menos ao seu
sentir de medo.
Como mancha de cor
a luz pousa na palpebrada vista
E ela quase
detesta a inescapável luz.
1913
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
II - Part from the windows the small curtains set
Sight more than light to omit!
Look on the general fields, how bright they lie
Under the broad blue sky,
Cloudless, and the beginning of t1e heat
Does the sight half iil-treat!
The bride hath wakened. Lo! she feels her shaking
Her breasts are with fear's coldness inward clutched
And more felt on her grown,
That will by hands other than hers be touched
And will find lips sucking their budded crown.
Lo! the thought of the bridegroom's hands already
Feels her about where even her hands are shy,
And her thoughts shrink till they become unready.
She gathers up her body and still doth lie.
She vaguely lets her eyes feel opening.
In a fringed mist each thing
Looms, and the present day is truly
Fernando Pessoa
Fernando António Nogueira Pessoa foi um poeta, filósofo, dramaturgo,
ensaísta, tradutor, publicitário, astrólogo, inventor, empresário,
correspondente comercial, crítico literário e comentarista político
português. Wikipédia
Nascimento: 13 de junho de 1888, Lisboa, faleceu
a 30 de Novembro de 1935; está sepultado no Mosteiro dos Jerónimos
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