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domingo, 23 de outubro de 2016

Tributo ao Jornalista Mário Lindolfo (11 Dez 1941 -21 de Outubro 2014) ” “Eu não acredito no Inferno, nem no purgatório, nessas coisas…. Mas também tenho alguma dificuldade em admitir a morte” – “E, nos extraterrestres, o que pensa do assunto?... Eu penso que eles existem!... E, já que existem, bom seria que nos contatassem” – Entrevistei-o nos anos 80, sobre a morte, ovnis e a sua profissão, num casual encontro na feira do livro de lisboa, que recordo em vídeo

Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista - A entrevista - separada em dois pequenos blocos, com alguns sons  - pode se lida ou ouvida no video aqui editado

O Mário Lindolfo, grande intérprete do tumulto da vida, deixou-nos com o “Bairro Negro”, ontem, aos 72 anos.” 22 de Outubro, 2014 –   Era assim que começava uma das noticias sobre a sua morte. http://www.esquerda.net/opiniao/na-despedida-do-mario-lindolfo/34560

Era jornalista, e um grande jornalista dos jornais e da televisão – Nasceu em Lisboa em 11 de Dezembro de 1941 e faleceu em 21 de Outubro de 2014.- Trinta anos antes de sua morte, ainda sem completar os 40, fiz-lhe a breve entrevista, tendo como tema a morte e  que aqui reproduzo num vídeo, com o som de  uma das cassetes, do meu arquivo das  várias entrevistas e reportagens que fiz para a RDP-Rádio Comercial  - Nomeadamente para o programa Hora Ora!, de Luís Pereira de Sousa; Café Concerto de Maria José Mauperein, num dos programas de Matos Maia, em vários de Rui Castelar e na 24ª Hora, além da própria redaçao.

Escrevia então o Expresso: Mário Lindolfo, jornalista de coisas sérias e de outras bem humoradas, argumentista e, sobretudo, grande repórter, morreu. Tinha 72 anos.
Costumava dizer, brincando, que era "o melhor jornalista português vivo". E foi um grande repórter e um muito bem-humorado jornalista e argumentista. Mário Lindolfo, morreu esta terça-feira, no Hospital de Torres Vedras, aos 72 anos.

Nascido em Lisboa, no dia 11 de dezembro de 1941, Mário Lindolfo Ramos Ferreira, que foi diretor-adjunto do semanário satírico "O Inimigo", trabalhou no "Diário de Lourenço Marques", no "Diário de Lisboa", no "Sempre Fixe", na revista "Notícia", no "Expresso no "Pasquim", no "Portugal Hoje" e na RTP, entre outros órgãos de comunicação. http://expresso.sapo.pt/sociedade/morreu-o-jornalista-mario-lindolfo=f894647

Alexandre Pais – “Depois da morte de Fernando Sousa voltei a ser surpreendido com a quase anónima partida, aos 72 anos, de um dos maiores jornalistas com quem tive o privilégio de trabalhar: Mário Lindolfo (foto). Fomos companheiros no Portugal Hoje, no início da década de 80, e continuámos depois a encontrar-nos, regularmente, no Bairro Alto – ele já na direcção do jornal satírico O Fiel Inimigo, para matarmos um vício comum: o do snooker. Ainda estivemos juntos no projeto embrionário de um semanário ligado a temas de crime, polícias e tribunais, mas o Bang-Bang, assim se chamaria, não passou no teste seguinte, que era o de encontrar quem o pagasse. Mário Lindolfo: partiu outro dos maiores « Quinta do Careca





"Tenho alguma dificuldade em admitir a morte”

Comecei por lhe fazer esta pergunta: Acredita na existência da vida para além da morte?... E no que se diz do Inferno, do Purgatório, do céu?.. Acredita na existência da vida para além da morte?
ML – Não. Não acredito. Eu não acredito no Inferno, nem no purgatório, nessas coisas…. Mas também tenho alguma dificuldade em admitir a morte” -

No fundo, eu não acredito mas não sei muito bem o que se vai passar depois...
JTM – São questões que o preocupam?..
ML – Preocupam-me porque eu estou a dobrar o cabo dos 40: é um caso extremamente difícil…E, claro, que estou preocupado.

JTM – É uma interrogação, que, portanto, de vez em quando se lhe coloca ao espírito: mas de modo assustador ou apenas como uma das muitas interrogações, que, no dia a dia, se vão pondo?
ML – É mais uma interrogação: não é tão assustador como isso, porque não passo o tempo a pensar nisso…. Mas, uma vez por outra, lá me vou lembrando, não é… Há uns colegas, que estão a morrer…. E não apenas colegas, amigos… E, nesta profissão, como você sabe, o enfarte de miocárdio e o aperto mitral e coisas assim, acontecem muito!...

JTM – E, nos ditos extraterrestres: o que é que pensa do assunto?

ML . Não sei… Eu penso que eles existem!... E, já que existem, bom seria que nos contatassem rapidamente!... Eu, pelo menos, gostava que isso acontecesse no meu tempo!... Gostava que eles aparecessem  e que conversassem connosco e que se arranjasse alguma maneira para contatar com eles, porque é quase uma cretinice que não haja vida noutros planetas!...
JTM – Admite essa hipótese, portanto?
ML – Claro que sim.
JTM  Se tivesse a possibilidade de o contatarem, que pergunta é que lhe faria?
ML – Estou assim um bocado embaraçado, porque, de facto… Preferia que isso surgisse numa altura em que eu não estivesse de serviço!... E, porquê?... Eu acho que ficava bloqueado!..
.
JTM – No que se percebe  através dos livros e dos jornais, no que se vê nos filmes e na televisão, que impressão é que lhe deixa isso?... Acha que isso é mera ficção ou que traz algo de concreto ou é mera especulação?
ML -  Eu não lhe chamaria especulação… tem a ver com a pessoa que fez o filme!... SE você fosse chamado a faze um filme de extraterrestres, se calhar eles não seriam verdes, talvez fossem amarelos ou azuis!... Sim, depende da imaginação de quem cria a história.

JTM – Como é que os imaginaria? … Admite-os como seres parecidos a nós?... Com que estrutura ou fisionomia, digamos assim?
ML  - Eu tenho dificuldade de imaginá-los diferentes  de nós!... Eu acho que eles têm mesmo de ter nariz! Dois olhos!. Duas pernas!... Dois braços!...

JTM – Quais foram os aspectos que mais o impressionaram, até agora?...

ML – Na minha profissão?... No meu país?...
ML – Dentro da sua profissão: o que é que gostou mais de fazer, até hoje?...
ML – Obviamente, reportagem.
JTM – Pode apontar um caso, uma reportagem que lhe tenha dado muito gosto em fazer?
ML – Olhe, deu-me um gozo imenso fazer com o Joaquim Furtado e com a Eduarda Pimenta a reportagem no hospital de Santa Maria, quando o Carlos Antunes, estava em greve de fome!... Deu-nos muito gozo… Embora tenhamos sido alvo de processos, colocados pela televisão mas deu-nos muito gozo fazer isso.

JTM – Vim surpreendê-lo em pleno exercício da profissão?
Ml – Veio… Eu estou a tentar fazer uma pequena reportagem para o Pasquim, que é um semanário que não existia!... Era tempo de o inventar, como diz o poeta… Vou a  fazer uma reportagem sobre a  feira do livro
JTM – Assim… aqui…tão discretamente, olhando para as pessoas… Isso é trabalhar também  ou apenas a passar por alguns momentos de distração?...
ML – É trabalhar!... É trabalhar… Eu, devo dizer-lhe que andei por aí a ver quais eram os livros do dia!... E tomei as minhas notas… Não sei se vou tão longe, como queria… Como um colega, que afirmava que na feira do livro só se vendiam monos!... Mas, de facto, há imensos monos a ser vendidos!... Isto é muito engraçado.

JTM – Ainda em relação à profissão… É jornalista, já mo disse!... Ser-se jornalista requer-se qualidades!... Que qualidades é que aponta para se ser um bom jornalista?

ML – Eu não acho nada que se nasça jornalista… porque, as pessoas quando nascem é tontas!... É preciso dedicação… E, sobretudo, de gostar de fazer jornalismo!... De gostar deste trabalho!...Mas era preciso outra coisa: era preciso que os jornalistas que não exercem esta profissão em part-time! … Exercem por inteiro e em regime de exclusividade, no seu jornal ou no seu órgão de comunicação social!... Infelizmente o que  se está passar, como você sabe, pois também é jornalista, que as pessoas para terem uma terem uma renumeração compensatória têm que se distribuir pelos jornais todos!...

JTM – Nunca pensou mudar de profissão?... Nunca se arrependeu?...
ML – Não. Nunca me arrependi!... Gosto imenso desta profissão!... Isto dá um gozo imenso!... E acaba por ser compensador!... Se não em termos materiais, pelo menos é uma profissão muito boa de fazermos um trabalho, que achamos que está bem feito, e, que, de alguma maneira, foi útil para a comunidade.
JTM – Fazer jornalismo na televisão e num jornal é completamente diferente?
ML – É diferente... É totalmente diferente!... Você sabe, que, na televisão, nós trabalhamos mais com a imagem!... Nos jornais, temos muito mais espaço.

JTM – Em qual dos campos sente mais prazer ou as coisas completam-se?
ML – Eu gosto de trabalhar na televisão!... E muito mais se as condições fossem outras!... Eu não me refiro a outra dificuldade  que não seja esta: é que, enquanto, num jornal, +e muito mais independente, porque  depende da sua dique e do bloco de notas… Como sabe,  na televisão, você depende  do trabalho de toda uma equipa!
JLM – E condiciona?
Ml – Claro que condiciona!...Porque não é apenas o meu trabalho que é importante, é também  o da cameramen, do homem do som, por exemplo…

EXPRESSO  (..)21/10/2014 Foi prémio Gazeta de Jornalismo de Televisão, em 1985, pela coautoria com Carlos Narciso da primeira reportagem na televisão pública sobre o racismo em Portugal. Intitulada "Bairro Negro", a reportagem foi um trabalho na Pedreira dos Húngaros.
"Ainda hoje gostamos de dizer que não somos racistas, mas é mentira. A verdade é que em 1984 poucos africanos tinham hipótese de sair dos bairros da lata e, hoje, não sei se vivem muito melhor...", escreveu em 2006 Carlos Narciso.
"Viagem no tempo, à Procura do Socialismo" foi um dos seus trabalhos também de grande destaque, concretizado em 1993. Um documentário feito a meias com o jornalista Alípio Freitas sobre o período pós 25 de abril, focando o movimento operário e as ideias socialistas em Portugal, dos finais do século XIX aos anos do PREC (1974/75).
Outra sua coautoria, desta feita com o ator Júlio César, passou quase despercebida mas marcou a teledramaturgia portuguesa. A série "O Cacilheiro do Amor", com "um registo de humor pouco frequente, beirando o 'nonsense'", foi para o ar na RTP, em 1990. "Gala dos Bigodes de Ouro" (1991) e "Há Lobos na Aldeia" (1990) são outras duas suas realizações.
Mário Lindolfo tinha perdido a mulher, Ângela Caires, também ela jornalista, no ano passado. 


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