expr:class='"loading" + data:blog.mobileClass'>

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Entrevista a Artur Semedo –- 1925-2001 – Com mais de 80 filmes: - Realizador de Cinema, Produtor de Televisão e Empresário Teatral – -“Eu nasci para o mundo do Espetáculo - “Como actor, tenho mais de 80 filmes - E fui sempre um apaixonado!... Mais ainda como diretor! Como realizador!. Senti sempre uma grande paixão por estar atrás da câmara de filmar; foi o que mais me seduziu em toda a minha vida artística!”

Entrevista a Artur Semedo – ator e realizador: - 1925-2001 – Com mais de 80 filmes: nasci para o espetáculo! - Realizador de Cinema, Produtor de Televisão e Empresário Teatral – -“Eu nasci para o mundo do Espetáculo . “Fiz bastante filmes. E, como actor, tenho mais de 80 filmes  -  -Declarou-me numa  entrevista que me concedeu por ocasião da estreia do filme português, em 1989, “O Querido Lilás” , que, teve como grande vedeta, Herman José   - Natural de Arronches, Portalegre faleceu em 2001, aos 77 anos  – Sem dúvida, um dos atores mais carismáticos do meio artístico português. Um artista, multifacetado, com um grande sentido de humor, que, por força do seu talento, o levaria a realizar ou a entrar como ator, em vários países, ou, tal como ele diz, a  percorrer a sete partidas do mundo – Foi a figura central da peça de Laura Alves, o meu Amor é Traiçoeiro, que, devido ao estrondoso êxito nacional e internacional,  o haveria de notabilizar, junto do grande público, que passaria associar o seu nome ao titulo da peça.


Artur Francisco da Cunha Semedo foi Actor, Realizador de Cinema, Produtor de Televisão e Empresário Teatral,

Descendente de uma família de tradições militares, mal acabou o ensino primário e o exame de admissão aos liceus, foi obrigado a deixar a sua terra natal (Arronches, Portalegre) para frequentar o Colégio Militar, em Lisboa. Mas seis anos depois foi expulso devido à irreverência da sua personalidade pouco dada a preceitos disciplinares demasiado rígidos. Regressou então ao seu Alentejo para concluir o curso dos liceus em Évora, partindo depois para Coimbra como calouro da Faculdade de Ciências. Mas cedo percebeu que o seu futuro passaria pelas atividades artísticas, como havia, aliás, antecipado o seu professor primário, o escritor José Régio, que, ao constatar a vocação do jovem aluno para a arte dramática, escrevera “Sonho em Véspera de Exame”, uma peça em três atos, para ele representar enquanto aluno do liceu. . Excerto de No palco da saudade: Carlos César - Jornal Audiência

  TENHO UMA CARREIRA DE OITENTA E TAL FILMES  - EU NASCI PARA O MUNDO DO ESPECTÁCULO


Fui educado no Colégio Militar; tive uma educação bastante disciplinada para uma pessoa indisciplinada mas ao mesmo tempo foi para mim muito útil a forma como me conduziram durante esses set anos. Mas eu nasci, seja bom ou mau autor, sejam bom ou mau realizador ou homem de cinema ou de televisão – não sou eu próprio -  que me devo classificar a mim –mas eu nasci, realmente, para o mundo do espetáculo,
Fiz bastante filmes… Até como ator, tenho na minha carreira oitenta e tal filmes, já!
Filmei na Suécia! Filmei na Hungria! Filmei no Brasil! Filmei em Espanha! Filmei em Portugal Em Angola, em Moçambique!.. Quer dizer: filmei nas sete partidas do mundo!
E fui sempre um apaixonado!... Mais do que, como actor de cinema foi mais  ainda como diretor! Como realizador!... Senti sempre uma grande paixão por estar atrás da câmara de filmar; foi o que mais me seduziu em toda a minha vida artística!
JTM  - Mas também fez teatro!... Aliás, foi no teatro que começou?
AS – Não!... O que é curioso é que eu estreei-me no cinema!... Fiz O Sol e Touros, e até com uma certa importância, no Vendaval Maravilhoso, do Leitão de Barros!.... Estava eu a frequentar o Conservatório, e, nessa altura, era proibido, aos alunos do Conservatório, começarem a trabalhar em Teatro!
Eu já tinha para assinar, vários contratos, com a Companhia Maria Matos e com os Comediantes de Lisboa, mas não me deixavam trabalhar, porque era  ainda aluno do Conservatório.
Terminado, o curso, então entrei logo para o teatro, e, numa grande companhia: os comediantes de Lisboa, com João Vilaré, Alves da Cunha, Maria Lalande!.... Logo, por cima…
JTM – Foi uma entrada, apoteótica!
AS – (rindo) Exato!...
JTM – E agradou-lhe fazer teatro?
AS – Agradou-me muito!... Sentia-me muitíssimo bem a fazer teatro!... E, como subi muito depressa em teatro, para mim a carreira teatral, foi fácil!
Depois trabalhei, onze anos, com a Laura Alves!... Com ela fiz poucas peças, porque as peças eram um grande êxito!... E uma das últimas, que fiz com ela, foi o Amor é Traiçoeiro!... Que nós fizemos, aqui em Lisboa, durante um ano e tal!... Foi um êxito extraordinário!...
Fomos fazê-lo a Espanha! Ao Brasil!
..JTM – E a África, também?
AS – Sim, também a África!... Foi um grande êxito, que me marcou muito!... Ainda hoje, eu passo na rua, e me dizem: “ali vai o Artur Semedo! O homem do amor é traiçoeiro! …

JTM – Olhe, mas já agora que falou do amor é traiçoeiro: é uma expressão, que se usa de vez em quando…. Acha que o amor é uma traição?!...
AS – O amor, geralmente, é uma traição até a nós próprios!..  Que nos rouba… da outra parte (…)  Há sempre uma traiçãozinha!... Não no lugar comum de trair – o amor é traiçoeiro – ou que atraiçoa... Não!... O amor atraiçoa-nos a nós próprios!... Tira-nos, até, uma certa personalidade!... Começamos, a  viver com uma presença emocional noutro mundo!... E dizem que é o perigo do amor, que se torna em paixão!
JTM – É uma espécie de subversão no próprio amor!
AS – Ah, sim!...
JTM – E se eu lhe fizesse esta pergunta: se já alguma vez foi traído em termos de amor?
AS – (rindo) Não!... Nunca!... Houve aí um escritor, que foi o Lobo Antunes, que escreveu: “ - esse homem nasceu para trair e nunca para ser traído!”
JTM – Sim, mas já traiu?!...


AS – Agora, não!... Sim, trai!... Traí!... São coisas que se pagam!... Porque, era um homem que gostava de estar na moda!... Nos anos 50!... Estive muito na moda!
JTM – Era galâ!...
AS -  Sim, ainda haviam os galãs… e tal!
JTM – Olhe, isso refletia-se também no cinema, porque, enfim, uma imagem, bem apresentável!... Acha que isso se deve também à sua figura, à sua imagem?...
AS – Sim, refletia-se, junto do público, e até por causa da televisão… Eu fiz um programa na televisão, que era o Carlinhos e a Lena, que teve grande êxito!... Outro também, nos anos 50! Com a Maria Dulce!... E outro, com Eva Todor!...  Uma brasileira, em que eu fazia o Doutor Bórel!... E tudo isso tinha uma influência, junto das mulheres!...

JTM – Recebeu muitas cartas?....
AS – Recebi cartas!... Telefonemas!... Encontros marcados!...
JTM – Quer dizer, muitas apaixonadas!...
AS  (rindo) Muitas apaixonadas!...Ao mesmo tempo, tinha a sua graça!...  Hoje os tempos mudaram!...  Hoje a situação é diferente.

"O QUERIDO LILÁS" - Estreado numa sexta-feira, dia 13

JTM – Estamos em véspera da estreia de um novo filme: do Querido Lilás!
AS -  Do Querido Lilás!!... (rindo)  A escrever no computador, sai sempre Lilas!... Mas é o Querido Lilás!...
JTM – Fale-me desse filme.
AS – Eu criei o filme  na frase que dei no próprio cartaz, e, no próprio trailer que corre nos cinemas… Que é o amor impossível de um fim de todo o tamanho!
JTM – Onde foi buscar isso?
AS -  Fui buscar à trama, digamos, ao enredo, ao entrecho do próprio filme!... Porque, o Herman José. Faz dois papéis autónomos!... Faz o da mãe e faz o  filho!... Cujo filho, desapareceu!... Disseram que o filho tinha morrido, quando nasceu, com seis minutos de vida!... Tiraram-no de casa… E, mais tarde, por uma casualidade superior, o destino vai reuni-los!...

JTM – O destino marca a hora…
As -  Sim… vai reuni-los numa casa de fados!... Eles encontram-se e apaixonam-se!... Foi o amor à primeira vista!... No fundo, seria a voz do sangue… que os estava a chamar!...
E então eles apaixonam-se um pelo outro!... E aí é um pouco a Tragédia da Rua das Flores”… É o Caso do Édipo!... O que eu acho aqui extraordinário, além da história ser profunda, é uma história séria mas tratada com dignidade… E o filme tem realmente muita graça!
E o Herman José, representa as duas personagens… o que é extraordinário!... Não é que ele vá para lá partir coisas…. Que não parte absolutamente nada no filme!... Parte só o coração da mãe!... Que é uma grande partida que ele faz!... E acompanham o Herman José,  que é sensacional no filmem acores de grande categoria: o Henrique Viana! O Couto Viana! A Fernanda Borsatti!... O Rui Luís!... Eu próprio, também entro como ator!... E, das mulheres, também podemos destacar a Rita Ribeiro!... Que tem realmente uma grande criação e que canta extraordinariamente bem o fado!... E a Natalina José… Tem realmente um naipe de atores de luxo!.. Que rodeiam o Herman José! (…)
JTM – Portanto, vai ser um filme que vai naturalmente agradar ao grande público!
AS – Estou convencido que sim… Porque é um filme popular… que tem uma leitura rápida e de perceção fácil. E vai estrear num dos cinemas  populares, que é o Éden – que é um cinema de uma grande lotação  - aqui em Lisboa e no Estúdio 444. E, no Porto, no Cinema Lumier.
Que dizer, é uma ideia simultânea. E então estreá-lo, numa data que me agrada, sobremodo… Que é Sexta-Feira,13!... Todas as pessoas dizem “Há!... Sexta-feira,13!... Eu adoro, as sextas-feiras, 13!..
..
JTM – É supersticioso?...
Não, no seu supersticioso!...
JTM – Então vê algum significado nesse dia?!...
AS – Não!... Acho graça!... Acho graça ser numa sexta-feira 23, em que, as pessoas, por norma, em que as pessoas… Por exemplo, em Espanha, as  Sextas-feiras, 13, é um dia de sorte… As pessoas dizem que é um dia de sorte!...
JTM – Então é um pouco a contrariar!...
AS –  A brincar!... Nós não devemos tomar muito a sério a vida!... Nós devemos brincar!... E brincar até com a própria vida!... Inventar a vida  e brincar com ela!...
JTM  - Não quer dizer…
AS - Sim, não quer dizer que não trabalhemos e sejamos pessoas dignas e sérias!...
JTM – Digamos, para afastar uns certos fantasmas!...
AS – Exato! … O nosso imaginário, sempre a funcionar…
JTM – A vida real, tal como se apresenta é já um bocado chata!...

AS -  É muito chata! E temos por obrigação, nós, atores, as pessoas do espetáculo, temos por obrigação, ajudar as outras pessoas, a tirar  os grandes problemas que têm em cima deles.

Nenhum comentário: