Adelino Palma Carlos – Primeiro-ministro do Iº Governo Provisório
(de 16 de Maio a 18 de Julho de 1974, nomeado pelo General Spínola – Nesta parte da entrevista que me concedeu
em sua casa, editada no vídeo deste post, Palma Carlos, fala da Revolução de 25 de Abril, que o fez chorar de alegria até às lágrimas e do Governo que formou com a participação de
Álvaro Cunhal (um ministro consensual E também do seu ideal republicano. da sua
oposição ao Salazarismo e dos revolucionários que defendeu, como advogado.
Professor, advogado e político.
Destacou-se como primeiro-ministro do I Governo Provisório -(Faro, 3 de Março
de 1905 — Lisboa, 25 de Outubro de 1992 (Faro,
Dou-me a honra e o prazer de me receber em sua casa
e de ali me conceder uma interessante entrevista acerca de alguns dos mais
importantes passos da sua vida profissional e politica, nomeadamente, como
opositor ao regime ditatorial de Salazar, defensor dos presos políticos, da
alegria que sentiu - até às lágrimas - quando tomou conhecimento do golpe
vitorioso da Revolução do 25 de Abril, assim como de vários episódios
relacionados com a sua participação como 1º Ministro do 1º Governo Provisório Adelino da Palma Carlos –
Wikipédia,
Considerado como "personalidade
forte, inteligente, culto e de extraordinária capacidade de trabalho, foi
primeiro-ministro do I Governo Provisório (de 16 de Maio a 18 de Julho de
1974). Como 11.º bastonário da Ordem dos Advogados Portugueses teve um
importante papel na consolidação institucional e na internacionalização daquela
corporação. Foi grão-mestre do Grande
Oriente Lusitano, a principal organização da maçonaria portuguesa. E fundador
do escritório de advogados actualmente designado de G&F Palma Carlos
COMO ELE VIU A REVOLUÇÃO DE ABRIL
«…fiquei
contente!...Chorei, quando soube que era a Revolução!.. Que era para acabar com
a ditadura!... Chorei! Chorei comi uma criança!... Não tenho vergonha nenhuma
de dizer: chorei!!..
APC – Olhe… Essa história é
engraçadíssima!... Eu não fazia ideia nenhuma de que ia haver a
Revolução… Aliás, eu era Presidente das companhias reunidas de gás e
eletricidade: tinha sido convidado pelo General Gaspar dos Santos e era
Presidente das Companhias… Quando eu vim para as Companhias, encontrei lá
instalado, um coronel na Reserva, que era o coordenador de segurança das
Companhias de Gás e Eletricidade, da Sacor, da Companhia das Águas, da
Companhia Nacional de Eletricidade e da Petroquímica… Bom, esse homem,
estava perfeitamente a par de tudo o que se desenrolava!... E até tinha uma
coisa engraçada!... Sabendo que eu era uma pessoa, contra a situação, ele
recebia todos os panfletos (não sei da onde) que saíam contra a situação e
dava-mos para eu ler!... Ele é que fazia propaganda, junto de mim, contra a
situação!... E estava sempre a par!... Quando foi da reunião dos capitães, em
Évora, na Intentona de Março, ele disse-me: “Isto está mau!!..Agora o Movimento
de Oficiais, em Évora!... Não se o que isto vai dar!...
Bem , continuámos, pacatamente!... No dia
25 de Abril de Madrugada!... Estava a dormir!...Aparece-me uma das empregadas,
com o telefone, dizendo-me: “Sr. Douro! É o engenheiro da Companhia do
Gás, que tem muita necessidade de falara consigo!..” -Então traga lá o telefone!
Era o homem a dizer: “Sr. Presidente!
Rebentou a Revolução?!...”
- Rebentou a Revolução?!...
- “Rebentou a Revolução!!”
- E então o coronel, o que é que faz?!...
- “O Coronel, não está cá!... Não se sabe
do coronel!...
Telefonei para o coronel, que eu tinha aí
o número de telefone dele (que morreu, coitado, dois ou três meses, depois da
revolução) … estava a dormir, como um anjo!...
- Então, Sr. Coronel!... Está uma
revolução na rua!
- “Esta uma revolução na rua?!...”
- Está!... E então o Sr. não sabe de
nada?!...
Está a ver!... Fui eu que informei o
Coordenador de Segurança, que tinha rebentado a revolução!...
Bom, eu fui para a Companhia, juntámo-nos
lá os Membros da Comissão Executiva, que cá estávamos, que éramos
cinco só, e passamos o dia, ali… Veio uma Ordem do Ministério do Interior, por
intermédio da Direção Geral dos Serviços Elétricos (a que nós estávamos
subordinados) para que se interrompesse a corrente elétrica, lá para cima, par
o Parque Eduardo VII… E o Engº da Companhia disse: se nós interrompemos a
corrente elétrica, nós ganhamos nada com isso!... Eles têm geradores e
continuam a emitir da mesma maneira!
- E então eu disse: há alguma ordem
escrita?!..
- Não há nenhuma ordem escrita!
- E então diga-lhe que mandem a ordem por
escrito!... Nós estávamos subordinados ao Governo!... Era uma companhia
concessionária!... Mandaram a ordem escrita… E então interrompeu!... Até que,
às tantas, à tarde, eu mandei ligar!... Porque, já não havia Governo!... Não
havia nada!..
Bom, estivemos ali todo o dia, sem saber o
que se passava, com a televisão aberta!... Com a telefonia aberta!...
Almoçámos, mesmo lá, na cantina da Companhia!. E olhe, nos dias seguintes,
fiquei contente!...Chorei, quando soube que era a Revolução!.. Que era para
acabar com a ditadura!... Chorei! Chorei comi uma criança!... Não tenho
vergonha nenhuma de dizer: chorei!!..
APC – E depois… aí é que a coisa, começa a
ter um certo pitoresco, começaram a ouvir dizer-me que eu ia ser nomeado
Primeiro-Ministro!... Não sejam tontos!... Porque é que eu havia de ser nomeado
Primeiro-ministro?... Que ideia é essa?!...
- Mas eu acho que você é que vai ser o
Primeiro-ministro!.. Você é que vai ser o Primeiro-ministro!..
Até, que, um domingo (tenho este telefone,
que não está na lista) e ligara-me por este telefone (era confidencialíssimo)
as era da Presidência da República, era ali de Belém); era o Capitão António
Ramos, a dizer-me: - Ó Sr. Dr.! O Sr. General Spínola, tem muita necessidade de
falar consigo!” - Então está bem
Eu conhecia o Spínola, já há bastante
tempo: “então quando é que ele quer que eu vá falar com ele?”
- “Amanhã às quatro horas! – No dia
seguinte, às quatro horas eu fui lá, e ele disparou:
- Tenho um Governo pronto! Falta-me o
Primeiro-ministro!... Você tem de ser o Primeiro-ministro!
- Não me fale nisso!.. Não tenho a minha
vida organizada para isso!... Vivo da minha profissão!.. Não pode ser!...
Deixe-me pensar!...
- Então pense até amanhã!...
Eu resolvi pensar dois dias mas não
pude!... No dia seguinte, telefonava-me ele outra vez!..
JTM – E teve que aceitar!
APC – E tive que aceitar!.. Pronto!...
JTM – Foi um tempo agitado, na altura?
APC – Olhe!... Foi o pior tempo da minha
vida!.. Foi o pior tempo da minha vida!... Extremamente agitado!... O Governo
era um Governo não homogéneo!... Porque tinham querido fazer um Governo de
coligação - Quem fazia o Governo não era o Primeiro-Ministro: o que
estava na Lei Constitucional nesse tempo: era o Presidente da República e
o Primeiro-Ministro, só fazia trabalhos num Governo, que lhe tinham
oferecido!...
E eu dizia: façam um Governo de Gestão,
que é o que é preciso, nesta altura.
-“Ah mas é melhor fazer um Governo de
coligação….”
- “Então façam um Governo de coligação” –
Eu tive lá, desde o Álvaro Cunhal, até esse homem monárquico, que aí anda, o
Ribeiro Teles!.. A Pintassilgo!... Estava no meu Governo!..
JTM - Havia então alguma confusão…
APC- Devo-lhe dizer que, nas reuniões do
Conselho de Ministros, havia às vezes divergências… Pois cada um tinha a sua
opinião sobre os problemas que se colocavam… Havia muitos problemas a
resolver... Havia divergências!... Eu tentava soluciona-las mas elas … mas é
uma justiça que eu nunca deixo de fazer ao Cunha, é esta: é que, quando a
coisa estava numa situação quase de impasse, o Cunhal encontrava sempre uma
solução de equilíbrio, que todos acabavam por aceitar!... É um político
extraordinário!...
JTM – Acha que o Partido Comunista
Português devia ser chamado também a contribuir, também no Governo?
APC – Quando eu era Primeiro-ministro,
veio cá, o Mitterrand e o d’Ferry, vieram cá: fora-me visitar. Estava um bocado
preocupados por haver comunistas no Governo; era o Álvaro Cunhal e mais o
Adelino Gonçalves, Ministro do Trabalho, que era um sindicalista bancário, o
Porto, que tinham metido lá… O Mitterrand, às tantas, disse-me: - “mas você não
se preocupa pelo facto de ter comunistas no Governo?”
- Bom, não sei porque é que você me faz
essa pergunta, quando, você, agora, constitui em França, a União de
Esquerda, de Socialistas e de comunistas!... Se você lá, anda de braço dado com
eles, não sei porque estranha que eu tenha aqui dois ministros comunista,
num Governo!... Onde estão numa minoria flagrante!...
JTM – Olhe, na altura quais foram os
problemas mais difíceis que teve de enfrentar nesse período?
APC - Tive logo de entrada uma greve
dos correios… Passados, dois ou três dias, não havia correios, não havia
telefones, não havia coisa nenhuma… E eu disse: isto não pode ser!... Não
podemos estar sem comunicações… Chamei o Chefe do Estado Maior General das
Forças Armadas, que era o Costa Gomes, e disse-lhe: ó Sr. General! Nós temos de
ocupar militarmente os correios para acabar com isso!...
- Oh diabo! Isso é uma coisa
complicadíssima!"
NOTAS BIOGRÁFICAS -Adelino Hermitério da
Palma Carlos nasce a 3 de Março de 1905, em Faro, vindo a falecer a 25 de
Outubro de 1992, em Lisboa. Licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa,
com a nota final de 18 valores, foi delegado da Faculdade de Direito à
Federação Académica. Conclui o doutoramento em Ciências Histórico-Jurídicas,
também na Universidade de Lisboa, em 1934. Advogado reconhecido, defendeu
inúmeras figuras oposicionistas à ditadura, como Norton de Matos, Bento de
Jesus Caraça e Vasco da Gama Fernandes. Foi também professor na Escola
Rodrigues Sampaio, no Instituto de Criminologia de Lisboa e, como Catedrático,
na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, da qual viria a ser
director. Foi jubilado em 1975. Em 1949, foi mandatário da candidatura do
general Norton de Matos à Presidência da República. Em 1951 exerceu funções
como Bastonário da Ordem dos Advogados portugueses. A 16 de Maio de 1974 é
nomeado primeiro-ministro do I Governo Provisório, pedindo a demissão a 18 de
Julho desse ano. Em 1975 funda o Partido Social-Democrata Português. Foi
mandatário e membro da comissão de honra da candidatura do general Ramalho
Eanes à Presidência da República (1979). Pertenceu ao conselho consultivo do
Partido Renovador Democrático. Em 1986 recebe a insígnia de Advogado Honorário. Adelino da Palma Carlos | 1905-1992 - Memórias da .
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