“Eis o teu rosto
iluminado por esta hora de Maio”. “Ao filho autêntico basta fechar os olhos
para encontrar o rosto de sua mãe” “ Não criei palavras que expliquem porque é no mistério que reside
a verdade” – Estas palavras, entre outras, e que mais lembram breves orações ou
expressões de um profundo misticismo, propiciadoras de fazer pensar e refletir de que a discorrer a mente
pela linear escrita de um romance, lêem-se em “Teu Ventre “, título do mais
recente livro de José Luis Peixoto, que aborda o fenómeno de Fátima, tendo como
principal protagonista a irmã Lúcia – Nomeadamente, as aparições no período de
Maio a Outubro de 1917
"LÚCIA LEVANTA-SE
EM SILÊNCIO, GRAVE, PONDERADA. Logo a seguir, Jacinta dá um salto. Francisco
ergue-se com mais moleza. Nas costas das três crianças, há vozes avulsas que,
no meio da expectativa, gritam que ainda veem Nossa Senhora, ainda a escutam.
Essas vozes aventadas ao ar não chegam para desmanchar a solenidade deste
momento. Há uma paz de campo de batalha no momento exato em que acaba a
batalha, paisagem de feridos e de mortos, de vivos que conferem a unidade do
corpo, que ainda não têm a certeza de ter sobrevivido".
Muito se tem
escrito acerca do fenómeno de Fátima e sob as mais diversas formas:–
Fátima 1917 |
13 de Julho -2014 - Stº António |
Umas vezes , com o instituto de agradar
exclusivamente aos crentes, outras para ir unicamente de encontro ao gáudio do
ceticismo dos descrentes. Desde “Os Milagres de Fátima” a “Fátima Desmascarada”
– Em ambos os casos, talvez pese mais a paixão de que o rigor, a razão e a
verdade histórica – Mas este é um dos tais livros que, estou certo, vai
agradar, tanto a uns como a outros, a um
leque variadíssimo de leitores, justamente porque, usando uma linguagem simples mas atraente, nem descura o
mistério nem a verdade dos acontecimentos, tão marcantes na sociedade
portuguesa do século XX, com enorme eco além fronteiras, mas, sobretudo, acabando por
moldar a matriz do pais profundo,
constituindo a conhecida trilogia: Fátima, Futebol e Fados – Mas, seja como
como for, esta é realidade – Ou não serão
estas as palavras que traduzem a
verdadeira idiossincrasia peculiar do nosso povo? – A sabedoria popular, têm os
seus gosto mas também as suas razões.
LANÇADO PELA
QUETZAL - NA FNAC DO CHIADO, EM LISBOA
Tomei conhecimento
da sua publicação, por um fortuito acaso, mas ainda bem que é dos tais acasos
ou felizes momentos –
Foi no passado dia 27 de Outubro: ao regressar da Casa da Imprensa, e depois de descer do Chiado, resolvi dar uma olhadela aos livros da FNAC, e apercebo-me, então, que, ali, na sala do bar e das exposições, completamente cheia, decorre o lançamento e apresentação do livro "Em Teu Ventre”, de José Luis Peixoto, já na fase da sessão de autógrafos. – Não trago a máquina fotográfica e sinto pena mas vou ficar mesmo até ao último autógrafo. Isto, porque, ali mesmo na fila da frente, vou encontrar o escritor Francisco José Viegas, meu ilustre conterrâneo, natural do Pocinho, de Vila Nova de Foz Côa, atual responsável pela direção editorial da Quetzal, a editora da referida obra, que veio acompanhar o autor -E, obviamente, em vez de estar na fila e com o livro na mão - e era extensa – pude juntar a um excelente diálogo, o da expectativa de vir a ler um bom livro, aliás, dois, pois também acabei por ir comprar uma das obras de Francisco José Viegas, que teve a gentileza de mo autografar.
Foi no passado dia 27 de Outubro: ao regressar da Casa da Imprensa, e depois de descer do Chiado, resolvi dar uma olhadela aos livros da FNAC, e apercebo-me, então, que, ali, na sala do bar e das exposições, completamente cheia, decorre o lançamento e apresentação do livro "Em Teu Ventre”, de José Luis Peixoto, já na fase da sessão de autógrafos. – Não trago a máquina fotográfica e sinto pena mas vou ficar mesmo até ao último autógrafo. Isto, porque, ali mesmo na fila da frente, vou encontrar o escritor Francisco José Viegas, meu ilustre conterrâneo, natural do Pocinho, de Vila Nova de Foz Côa, atual responsável pela direção editorial da Quetzal, a editora da referida obra, que veio acompanhar o autor -E, obviamente, em vez de estar na fila e com o livro na mão - e era extensa – pude juntar a um excelente diálogo, o da expectativa de vir a ler um bom livro, aliás, dois, pois também acabei por ir comprar uma das obras de Francisco José Viegas, que teve a gentileza de mo autografar.
JOSÉ LUIS PEIXOTO - UM BRILHANTE ESCRITOR -
COM UMA LARGA EXPERIÊNCIA NO JORNALISMO
“ MORRESTE-ME” – O
livro que me fez conhecer e gostar da
obra de José Luis Peixoto – E que também foi o primeiro livro que revelou o talento de um extraordinário
escritor que opta por usar o romance, não para meramente ficcionar
e divagar mas para contar factos verídicos, por si presenciados ou
profundamente pesquisados - Foi o que se passou com esta tão espantosa
obra, que descreve a caminhada final do pai doente,
vitima de câncer, cuja leitura me comoveu até às lágrimas: isto, porque, se a perda de um
pai é profunda, a dor de mãe, não é menos: e eu também perdi a minha mãe, ainda
muito nova, pelos mesmos motivos, e, alguns anos depois, por outra doença, a
perda de meu pai -
E, agora,
perguntar-se-á: o que distingue este livro de tantos escritos, até hoje
publicados, sobre o fenómeno Fátima?... Penso que se deve ao facto do escritor estar também
vocacionado para o jornalismo (colaborador de diversas publicações
nacionais e estrangeiras (Time Out, Jornal de Letras, Visão, DN),que o faz ir ao
detalhe. a não usar apenas a liberdade da ficção, mas a aprofundar a
investigar a questionar.
Tal é também
o livro “Em Teu Ventre”, sobre os
episódios que rodearam a vida das três
crianças, num período particularmente conturbado para a sua inocência – Tendo
como figura central a irmã Lúcia e “também a sua mãe biológica e Nossa Senhora”
“Cruzando o rigor da sua
dimensão com a galeria de uma riqueza de
personagens”, propondo “uma reflexão acerca de Portugal, naquilo que tem de
mais subtil e profundo” - Diz-se na contracapa de "Em Teu Ventre"
O QUE SEDUZ NO
FENÓMENO DE FÁTIMA
Eu penso
que não será tanto por via dos ditos
milagres, uns inexplicáveis, mais do domínio dos mistérios da fé, outros, certamente, devido a fatores psicológicos, que a ciência
até poderá explicar, mas, sobretudo, pela profunda reflexão, que provoca, sobre o destino da vida
humana, o que espera o ser humano após a morte: esse é realmente o grande enigma da humanidade e que, no meu ponto de vista, faz levar multidões de crentes ou simples
curiosos a Fátima,
Mas
atente-se na explicação dada por José Luis Peixoto, numa entrevista à Rádio
Renascença, sobre as razões que o levaram a escrever sobre as aparições de
Fátima:
"É um tema tão
impressionante e sedutor para quem escreva e para quem se interessa por
História que sinto a vontade de fazer a pergunta ao contrário. “Como não
escrever sobre este assunto?”. Trata-se de uma história que em Portugal, de um
modo geral, toda a gente conhece, mas que me surpreendeu bastante enquanto a
aprofundava. Apercebi-me o quanto esse conhecimento que tinha era superficial.
Quanto mais detalhe e mais circunstâncias eu conhecia mais impressionante a
considerava e mais a sentia como simbólica de muitas coisas que nos dizem muito
como povo e que me dizem bastante enquanto português.
Houve todo
um trabalho de investigação?
Sim, tentei fazer
um trabalho de investigação, mas a partir de certa altura quis limitar as bases
porque trata-se de um momento sobre o qual há muitas fontes. Acabei por me
cingir a duas fontes. São as memórias da irmã Lúcia e o livro do padre João
Marchi, “Era uma Senhora mais Brilhante do que o Sol” – um livro com idoneidade
– e que achei que eram suficientes para contar aquela história que queria
contar. Não é tudo aquilo que há para dizer sobre este assunto, até porque o
período a que a narrativa se cinge é de Maio a Outubro de 1917, justamente o
período das aparições. Cingi-me a aspectos históricos, relativos à irmã Lúcia
que é a protagonista do livro e também à questão das aparições da Virgem
Maria..- Excerto de José Luís Peixoto: "Transformou-se bastante a minha
visão ...
IRMÃ
LÚCIA - O ENIGMA E ESTOICISMO DE UMA VIDA DE CLAUSURA - ESCREVI-LHE UMA
CARTA POUCO ANTES DA SUA MORTE
Embora imbuído por
convicções profundamente místicas, não me considero propriamente o católico apostólico no sentido
tradicional do termo, já que sou mais induzido a devaneios espirituais
por força de sentimentos de circunstância e ocasionais (que me esforço de poder ter) de que por
rígidos conceitos teológicos ou doutrinários, se bem que os respeite e admire
tal como a mítica figura de Cristo, maravilhoso exemplo de entrega e de virtudes.
Mas, a bem dizer, muitas vezes. nem sei o que sou: ou haverá alguém que seja
sempre inteiramente igual e não tenha os seus heterónimos, as suas
hesitações e divagações?
-
Lúcia de Jesus Rosa dos
Santos, mais conhecida por Irmã Lúcia , nasceu em Aljustrel, Fátima, Ourém, em 28 de Março de
1907 e faleceu no Convento das Carmelitas, Coimbra, em 13 de Fevereiro de 2005 –
Pouco antes da sua morte, telefonei para este Convento a perguntar se ela podia
receber correspondência, já que as visitas eram extremamente condicionadas,
responderam-me que sim, pelo que tomei a liberdade de lhe enviar, por correio
registado, uma pequena carta em 18 de Outubro de 2004, cujo conteúdo
publiquei no jornal OFOZCOENSE
Sei que a missiva lhe foi entregue, que a recebeu. Guardo a cópia do manuscrito e o impresso do registo, com muito carinho. As razões estão expressas nessa breve missiva que aqui transcrevo seja-se ou não crente, há que admirar uma vida de clausura, de fé e despojamento, completamente entregue à meditação e oração. Eu não sou propriamente católico apostólico mas identifico-me com muitos dos seus valores: gosto das suas orações, cânticos religiosos e liturgia sagrada - Há outros aspectos em que a minha aproximação com o divino, se faz de forma diferente - Mas, no fundo, o caminho e os objectivos são os mesmos.
Editada neste site em 15/11/2008 Sei que a missiva lhe foi entregue, que a recebeu. Guardo a cópia do manuscrito e o impresso do registo, com muito carinho. As razões estão expressas nessa breve missiva que aqui transcrevo seja-se ou não crente, há que admirar uma vida de clausura, de fé e despojamento, completamente entregue à meditação e oração. Eu não sou propriamente católico apostólico mas identifico-me com muitos dos seus valores: gosto das suas orações, cânticos religiosos e liturgia sagrada - Há outros aspectos em que a minha aproximação com o divino, se faz de forma diferente - Mas, no fundo, o caminho e os objectivos são os mesmos.
Jorge T Marques . Finais dos anos 50 |
À vidente Irmã Lúcia:
Tomo a liberdade de lhe enviar esta minha simples carta, acompanhada do
relato e fotos de uma odisseia, por mim vivida nos agitados mares do grande
Golfo, tendo apenas por companhia uma simples bússola para me orientar.
Sim, dirijo-lhe estas linhas e a descrição dessa aventura, como preito da
minha homenagem e a expressão da minha mais profunda admiração, porque vejo em
si a representação de um espírito abençoado, pelo que só peço a Deus que lhe dê
muita saúde e ainda muitos anos de vida.
A minha saudosa irmã Conceição, que Deus levou muito nova, deixando então duas filhinhas, tinha uma grande devoção em Nossa Senhora de Fátima. E o episódio que lhe vou recordar , ilustra ,justamente, esse facto, quando eu tinha onze anos e ela 15 .Foi a um domingo, dia 13 de Maio. Regávamos a nossa horta no Vale Cardoso. Ela retirava a água do poço com ajuda do picanço; eu estava uns metros mais abaixo para afastar a vara e o caldeiro de uma pedra.
Anos 80 - O poço já emparedado |
Creia, já passaram muitos anos, mas a imagem está ainda muito presente na minha memória. E, sempre que me ocorre, a primeira coisa que me vem à ideia, são os apelos à Nossa Senhora de Fátima, pois não tenho a menor dúvida de que ela, nesse dia, nos protegeu.
(....) Aceite, pois, muito humildemente, o preito da minha mais profunda
admiração” - Publicada em irmã lúcia - a minha singela homenagem pouco antes da .
Diz Vergilio
Ferreira “Fala-se tanto nele, como aliás, estava previsto. Mas não no que dele
mais importa e não passa pelos deuses e muito menos pelas sacristias. O retorno
do sagrado deve ter que ver fundamentalmente com a recuperação da sacralidade
do homem, da vida, da palavra, do mundo. A sacralidade está no que suspeitamos
de mistério nas coisas, a força “original de tudo o que nos espera o nosso
olhar limpo, a nossa atenção humilde, a divindade está em nós. O grande
acontecimento do nosso tempo, que é o sinal do nosso desastre, é a profanação
de tudo, a dessacralização do que abusivamente foi invadido pelos deuses. Os
deuses morreram e quiseram arrastar consigo a morte do que era divino sem eles”
in Pensar - de Virgílio Ferreira
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