Texto, entrevista e fotos (exceto as de
Carlos Paredes) de Jorge Trabulo Marques - Jornalista - O Virtuoso da Guitarra Portuguesa - Uma entre outras das grandes figuras
nacionais,que faz parte das minhas memórias, que eu tive a honra e o prazer de
entrevistar C
Carlos Paredes – Entrevista 1987 – “Não sou um homem da noite… Eu
não toco para ganhar a vida… Toco quando sinto vontade de tocar!... Quando isso
me dá prazer!...
Entrevista,
com Carlos Paredes, que eu fiz para a RDP – Rádio Comercial, ocorreu em 1987,
no ano em que ele foi distinguido pela RDP, Antena 1. pelo seu álbum “Espelho
de Som” – Naquela atura, ainda tinha à sua frente, mais 17 anos de vida – Pois,
nasceu em Coimbra, 16 de Fevereiro de 1925 e faleceu em Lisboa, 23 de Julho de
2004
Na verdade, falar da guitarra portuguesa é associá-la ao virtuosismo de Carlos
Paredes – Considerado “um dos principais responsáveis pela divulgação e
popularidade da guitarra portuguesa e
grande compositor Carlos Paredes é um guitarrista que para além das influências dos seus antepassados - pai,
avô, e tio, tendo sido o pai, Artur
Paredes, o grande mestre da guitarra de Coimbra - mantém um
estilo coimbrão, a sua guitarra é de
Coimbra, e própria afinação era do Fado de Coimbra. A sua vida em Lisboa
marcou-o e inspirou-lhe muitos dos seus temas e composições. Ficou conhecido
como O mestre da guitarra portuguesa ou O homem dos mil dedos
“Eu não toco para ganhar
a vida… Toco quando sinto vontade de tocar!... Quando isso me dá prazer!...” –
Declarou-me, em entrevista, da qual pude recuperar (do meu arquivo) algumas
passagens, que tenho a honra e o prazer de aqui recordar, como singela homenagem
à sua memória.
VIDEO DA ENTREVISTA
JTM – Carlos Paredes, é
distinguido pela RDP, Antena 1, pelo seu trabalho. “Espelho de sons”, como ponto mais alto da sua carreira – O prémio reflete, realmente, o momento mais alto da sua carreira, até hoje, ou
houve, de facto, outros trabalhos que lhe deram muito prazer?
Carlos Paredes- Sim, fiz
outros trabalhos que me deram prazer mas
a guitarra é um instrumento que está em constante evolução; de maneira que amanhã,
não será o que é hoje. O próprio instrumento, em si, vai sugerindo ideias
novas.
JTM - A sua busca, parte
de pequenas coisas: especialmente da nossa cidade: a cidade de Lisboa, é um
motivo de inspiração?
Carlos Paredes - Sim. As cidades, para um músico popular, são
sempre um dos motivos fundamentais de inspiração… Normalmente, a guitarra
portuguesa, chamada guitarra inglesa, outrora, no século X VIII, é um
instrumento ligado à vida urbana .Em Portugal, há um estilo de guitarra, que
foi inspirado na cidade de Lisboa, como há um outro estilo que foi inspirado na cidade de
Coimbra.
JTM – E a sua guitarra, é sobretudo…
Carlos Paredes – Embora eu
tenha nascido em Coimbra e embora a minha escola seja a do meu pai, que foi um
dos criadores da chamada Escola de Coimbra da guitarra portuguesa -, apesar
disso, eu, que vivi a minha infância aqui em Lisboa, sinto-me mais atraído
pelos motivos lisboetas
Carlos Paredes – Sobretudo, as pessoas, o movimento das ruas!...
E a presença do Tejo!,,, Como em Coimbra, a presença do Mondego!... Como em
Paris, a presença do Sena!... São também motivos de inspiração.
JTM – Carlos Paredes é
mais um homem da noite! … ou do dia!... Quais os momentos de maior inspiração?..
Carlos Paredes – Não sou
um homem da noite: o chamado homem da noite, corresponde a uma modo de vida que
obriga a estará acordado de noite… É o
caso dos atores; dos artistas de casas noturnas: eu não sou propriamente isso;
eu sou um cidadão, funcionário público!... Faço a minha vida no emprego!
Carlos Paredes – Não.
Isso depende muito… Eu não toco para ganhar a vida… Toco quando sinto vontade
de tocar!... Quando isso me dá prazer!... E, nesse caso, eu não tenho que
escolher horas…
JTM – As horas do dia não
o influenciam…
Carlos Paredes – Quer dizer:
o dia dá à cidade uma fisionomia, a noite dá-lhe outra…De maneira, que,
certamente à noite, nós encontramos sugestões diferentes das que encontramos
durante o dia… Mas, de uma maneira geral, no meu caso, não obedece a uma
escolha determinada…
JTM - É, digamos, mais um
trabalho baseado na espontaneidade!...
Carlos Paredes – Sim,
pela espontaneidade… Vai-se fazendo música…
Carlos Paredes, tinha em
preparação um novo álbum – que só, em 1989, dois anos depois, acabaria por ser
editado – Quando o entrevistei, ainda não tinha nome mas viria a chamar-se “Asas
sobre o Mundo”
JTM – O seu próximo trabalho, naturalmente que o tem em preparação?..
Carlos Paredes- Sim, está em preparação… Espero no principio do ano, ter um novo disco, cá fora,,
JTM – Como é que vai
chamar-se o novo disco?
Carlos Paredes: Ainda não
escolhi o título!.. Ainda não escolhi o título…
JTM – Primeiro faz o
trabalho e depois….
Carlos Paredes… Sim…
estou a reunir as músicas até conseguir um motivo que consiga ligar todos esses
motivos
“Filho do famoso compositor e guitarrista,
mestre Artur Paredes, neto e bisneto de guitarristas, Gonçalo Paredes e António Paredes começou
a estudar guitarra
portuguesa aos quatro anos com o seu pai, embora a mãe preferisse
que o filho se dedicasse ao piano; frequenta o Liceu Passos Manuel, começando
também a ter aulas de violino na Academia dos Amadores de Música Na sua última
entrevista, recorda: "Em pequeno, a minha mãe, coitadita, arranjou-me duas
professoras de violino e piano Eram senhoras muito cultas a quem
devo a cultura musical que tenho".
Em 1934, a família
muda-se para Lisboa, o pai era funcionário do BNU e vem transferido para a
capital. Abandona a aprendizagem do violino para se dedicar, sob a
orientação do pai, completamente à guitarra. Carlos Paredes fala com
saudades desses
tempos: "Neste anos, creio que inventei muita coisa. Criei uma forma de
tocar muito própria que é diferente da do meu pai e do meu avô".
Carlos Paredes
inicia em 1949 uma colaboração regular num programa de Artur Paredes na Emissora Nacional e
termina os estudos secundários num colégio particular. Não chega a concluir o
curso liceal e inscreve-se nas aulas de canto da Juventude Musical Portuguesa,
tornando-se, em 1949, funcionário administrativo do Hospital de S. José Em
1958, é preso pela PIDE por
fazer oposição a Salazar, é acusado de pertencer ao Partido
Comunista Português, do qual era de facto militante, sendo libertado
no final de 1959 e expulso da função pública, na sequência de julgamento.
Durante este tempo andava de um lado para o outro da cela fingindo tocar
música, o que levou os companheiros de prisão a pensar que estaria louco - de
facto, o que ele estava a fazer, era compor músicas, na sua cabeça. Quando
voltou para o local onde trabalhava no Hospital, uma das ex-colegas, Rosa
Semião, recorda-se da mágoa do guitarrista devido à
denúncia de que foi alvo: «Para ele foi uma traição, ter sido denunciado por um
colega de trabalho do hospital. E contudo, mais tarde, ao cruzar-se com um dos
homens que o denunciou, não deixou de o cumprimentar, revelando uma enorme
capacidade de perdoar!» – Excerto de Carlos Paredes – Wikipédia
Carlos Paredes casou por duas vezes, a primeira com Ana
Maria Napoleăo Franco Paredes, em 1960, e a segunda com Cecília de Melo.
Carlos Paredes nunca rejeitou a influência que recebeu,
tanto da música popular portuguesa como do próprio fado de Coimbra. A renovação
e reinvenção da sonoridade da guitarra portuguesa que fez, resultou duma geração
de 60 revitalizada por novos conceitos sócio-culturais, onde floresciam as
vozes de José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Luiz Goes e António
Bernardino, bem como a poesia de Manuel Alegre, a guitarra de António Portugal
e as violas de Rui Pato e Luis Filipe, em suma, toda uma geraçăo coimbrã que,
preservando a riqueza etnomusical que a antecedia, revolucionou a guitarra por
dentro e cantou valores que a projectariam inevitavelmente no futuro. Museu
do Fado - Personalidades - Carlos Paredes
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