Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista C
Excerto do poema de Voltaire sobre o desastre de Lisboa
Lisboa foi palco de
pelo menos três trágicos acontecimentos, de fenómenos naturais – uma enormíssima tempestade em 1572 e dois fortes abalos sísmicos, em 1532 e 1775 - , que, além da tragédia
provocada, em termos de vitimas e danos materiais, haveriam de ter uma profunda repercussão
na história da cidade e do país.
“O terramoto de 1 de Novembro de 1775
provocou uma profunda alteração na consciência europeia, quer no plano cientifico
relativo à Natureza, quer no plano ético, teológico e filosófico, no tocante à
origem e à natureza do Mal e do sofrimento” – escreve Vasco Graça Moura, em
nota prévia, com que antecede os versos de Voltaire, sobre “o desastre de
Lisboa” – Referindo que “toda a consciência europeia vibrou e especulou sobre a
terrível desgraça, recorrendo aos mais
variados instrumentos, da poesia à ficção, do ensaio e do comentário religioso
ou laico à descrição de índole mais ou menos jornalística e à tentativa de
explicação filosófica ou científica."
A REPETIREM-SE OS
FENÓMENOS: SERÁ PRIMEIRO O DO TEMPORAL OU O SISMO?
Os terramotos são
fenómenos imprevisíveis, senão
mesmo impossíveis de prever, tal como se
fazem as previsões meteorológicas, pese as avançadas investigações sobre
sismologia. Poucos dias antes de ocorrerem, podem manifestar-se no
comportamento de aves, animais e até serem pressentidos por certas pessoas, por
algumas sensibilidades – E há estudos
que falam de tais observações. Mas o adivinhar não está ao alcance dos vulgares
mortais e, por isso mesmo, tais fenómenos continuam a provocar justificado
receio e temor - Mormente nas zonas
abrangidas pelas chamadas fraturas tectónicas – E, como é do conhecimento
geral, Lisboa está situada numa dessas zonas criticas.
A violenta tempestade que assolou o Tejo e a
capital, no dia 13 de Setembro de 1572, poderá vir a repetir-se com idêntica
intensidade e provocar estragos incalculáveis. Os especialistas advertem que o
fenómeno climático El Nino, no próximo
ano, poderá provocar graves danos nas
áreas costeiras – Frisando que será “o
terceiro fenômeno global de descoloração ou branqueamento da história, e zonas
como a Grande Barreira de Corais da Austrália serão duramente afetadas.. Cientistas advertem sobre danos que El Niño pode causar
a ...
Se se consultar a Internet, parece não se
encontrar nenhuma referência ao violento temporal, que assolou Lisboa, com
tremendos estragos navais, no Reinado de D. Sebastião, vinte anos depois do
grande sismo de 1531 e dois séculos antes do terramoto de 1775 – Pelos vistos, para não se espalhar a noticia de que Portugal ficava sem aramada ou então terá sido o desastre de Alkibir, mas, sobretudo, aquele trágico terramoto, que acabaria por ofuscar o dito vendaval: razão pela qual tem
passado despercebido, até nas próprias narrativas históricas. Todavia, não o
foi numa das páginas do “Novo Almanack De Lembranças Luso Brasileiro, de 1892 , de que sou possuidor –
Eis o que é descrito:
“Um temporal em Lisboa - Estava no porto
de Lisboa, pronta para sair, uma armada composta por 30 navios artilhados e
guarnecidos, que o nosso rei D.
Sebastião, havia arranjado, com grande sacrifício, a convite de Pio V, para entrar numa liga
contra os turcos. Pois no sábado, 13 de Setembro de 1572, ao dar a meia-noite, começou a soprar o vento
sul com tal violência, que as ondas em
rolos subiram acima dos edifícios , fazendo voar os telhados de muitas casas, e
arrancando árvores, de que resultaram muitas desgraças. Dos 30 navios da esquadra que estavam no Tejo nenhum escapou.
Quebradas as amarras, começaram a chocar uns contra os outros, despedaçando-se
, indo os seus fragmentos espalhar-se pelas praias do Corpo Santo, Caes da Rainha,
Caes da Pedra
e Alfândega. Foi uma noite de luto, e quando pela manhã raiava o dia é que se fez ideia dos destroços
A BATALHA FOI VENCIDA - DIZ-SE, GRAÇAS À SRª DO ROSÁRIO – MAS SEM A
PARTICIPAÇÃO PORTUGUESA – NEM UMA LINHA.
Na descrição do citado Almanack, de 1892, deve
haver algum lapso na data – pois deve
ter sido em Setembro de 1571 e não em Setembro de 1572, ou seja, altura em que, realmente, o Papa Pio V reuniu uma esquadra de
duzentas e oito galés e seis galeaças (enormes navios a remos com quarenta e
quatro canhões), das marinhas da República de Veneza, Reino de Espanha,
Cavaleiros de Malta e dos Estados Papais, sob o comando de João da Áustria, formando
a então chamada Liga Santa.
Esta frota enfrentou duzentas e trinta galés turcas ao
largo de Lepanto, na Grécia, a 7 de Outubro de 1571 – Sendo Portugal, um país
com uma tão famosa história naval, a sua ausência só se explica, devido ao trágico
atrás descrito.
Diz-se ainda que “o combate durou somente
três horas. Foram destruídas ou capturadas cento e noventa galés turcas,
enquanto os cristãos perderam apenas doze navios. Lepanto foi o fim da ameaça
marítima turca para a Europa.” – E, segundo se diz, tal retumbante revés sobre
os turcos, ter-se-ia ficado a dever às orações do próprio Pio V, que teriam
provocado o avistamento de Nª Srª do
rosário, pelo menos foi este o nome pelo qual passou a ser conhecida a aparição
que alguns soldados tiveram durante a
refrega e que teria assustado os “infiéis”. Pois é dito que, no maior fragor da batalha, os soldados de
Mafona tinham avistado acima dos mais altos mastros da esquadra católica, uma
Senhora que os aterrava com seu aspecto majestoso e ameaçado”
Noutro estudo, ainda mais aprofundado, diz-se que “As
perdas dos infiéis tinham sido enormes: 30 a 40 mil mortos, 8 ou 10 mil
prisioneiros (entre os quais dois filhos de Ali-Pachá e quarenta outros membros
das famílias principais do império), 120 galeras apresadas e cinqüenta postas a
pique ou incendiadas, numerosas bandeiras e grande parte da artilharia em poder
dos vencedores. Doze mil cristãos escravizados alcançaram a liberdade. A Liga
perdeu doze galeras e teve menos de 8 mil mortos. – Excerto de Salvem a Liturgia!: Batalha de Lepanto: a origem da
festa
LISBOA – A CAPITAL MARCADA POR DOIS VIOLENTOS ABALOS - INEVITÁVEL QUE A OCORRÊNCIA DE UM PRÓXIMO VENHA ABALAR A SUA VIDA E TRANQUILIDADE.
Há quem diga, que, Lisboa, antes da
nacionalidade, já havia sido abalada por outros violentos sismos – Mas dos que mais se fala é dos que ocorreram
em 1531 e em 1775.
Referem estudos que O sismo de Lisboa
de 1531 foi um violento terramoto que
atingiu a zona de Lisboa em 26 de
Janeiro de 1531, do qual resultaram aproximadamente 30,000 mortes.
“Acredita-se que a causa foi uma falha
geológica na região do baixo Tejo,[ e foi
precedido por um par de choques em 2 de janeiro e 7 de janeiro. Os danos
causados, especialmente na parte baixa foram severos, aproximadamente um terço
das edificações da cidade foram destruídas e mil vidas se perderam no choque
inicial O Paço da Ribeira e a Igreja de São de Deus foram ambos completamente destruídos
O Sismo de 1755
tendo apagado da memória o Sismo de Lisboa de 1531, não deixa de merecer
que Joaquim José Moreira de Mendonça compare ambos na sua História
Universal dos Terramotos (1758)[ :
Nem obsta dizer-se vulgarmente que
o Terramoto presente foi maior que o de 1531, por se verem arruinadas a Torre
da Basílica de Santa Maria, e muitas igrejas, que naquele não caíram. A isto
respondo que também neste ainda ficou sem ruína a outra Torre da mesma antiga Sé;
e que as igrejas que caíram agora naquele tempo eram muito novas e ressentiram
da mesma forma que ao presente sucedeu às duas Igrejas de S. Bento, à de Nossa
Senhora das Necessidades, à do Menino Deus, à dos Paulistas e outras, com
alguns palácios, e casas novas, que não padeceram ruína considerável.” - Excerto de Sismo de Lisboa de 1531 –
Excerto do poema de Voltaire sobre o desastre de Lisboa
"O poema de Voltaire sobre o desastre
de Lisboa
Ó míseros mortais! Ó terra deplorável!
De todos os mortais monturo inextricável!
Eterno sustentar de inútil dor também!
Filósofos que em vão gritais: "Tudo está
bem";
Vinde pois, contemplai ruínas desoladas,
restos, farrapos só, cinzas desventuradas,
os meninos e as mães, os seus corpos em pilhas,
membros ao deus-dará no mármore em estilhas,
desgraçados cem mil que a terra já devora,
em sangue, a espedaçar-se, e a palpitar embora,
que soterrados são, nenhum socorro atinam
e em horrível tormento os tristes dias finam!
Aos gritos mudos já das vozes expirando,
à cena de pavor das cinzas fumegando,
direis: "Efeito tal de eternas leis se colha
que de um Deus livre e bom carecem de uma
escolha?"
Direis do amontoar que as vítimas oprime:
"Deus vingou-se e a morte os faz pagar seu
crime?"
As crianças que crime ou falta terão, qual?,
esmagadas sangrando em seio maternal?
Lisboa, que se foi, pois mais vícios a afogam
que a Londres ou Paris, que nas delícias vogam?
Lisboa é destruída e dança-se em Paris.
Tranquilos a assistir, espíritos viris,
vendo a vossos irmãos as vidas naufragadas,
vós procurais em paz as causas às trovoadas:
Mas se à sorte adversa os golpes aparais,
mais humanos então, vós como nós chorais.
Crede-me, quando a terra entreabre abismo ingente,
ais legítimos dou, lamento-me inocente.
Tendo a todo redor voltas cruéis da sorte,
e malvado furor, e armadilhada a morte,
dos elementos só sofrendo as investidas,
deixai, se estas conosco, as queixas ser ouvidas."
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