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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Benfica de Jesus deixou o Sporting com o credo na boca por 2-0: Vai ser difícil aos leões acertarem o passo mas ainda há muito campeonato pela frente. O futebol não é nenhum templo de sol mas é o maior espetáculo das multidões e os estádios a sua arena – Finalmente, a noite foi serena e bem iluminada, não houve lã de fibra a esvoaçar pelo relvado e chapas a soltarem-se da cobertura sobre as bancadas

Texto e e fotos de JTM - autor deste site - registadas no Estádio da Luz e na área reservada à reportagem





No domingo passado, à noite, o relvado do Estádio da Luz, mais parecia um lugar onde um rebanho de ovelhas acabava  de ser tosquiado. Dois dias depois, a relva, brilhante e limpa de todos os detritos, mais se afigurava ao gramado de um lindo  jardim -Naturalmente,  para tristeza do treinador do Sporting, que não fez jus ao nome – Na verdade, se há milagres, o Benfica pode dizer que foi beneficiado por  dois milagres num curto espaço de 48 horas: o  das enormes chapas de cobertura não terem caído uns minutos antes: se tal acontecesse, certamente que a noite não teria sido apenas de ventania e de chuva mas de tragédia. O segundo milagre foi a extraordinária vitória sobre o seu mais antigo rival – Indubitavelmente, bem merecida. No princípio da segunda parte, os leões ainda estrebucharam e encurralaram o seu adversário no meio-campo, mas não tiveram garras para irem além dos dribles e até permitiram que a equipa anfitriã os brindasse com alguns olés ao jeito do que acontece nas faenas do Campo Pequeno.



Confesso que o principal motivo que me levou ao Estádio da Luz foi mais a fotografia de que  propriamente o futebol. Pois, tendo a carteira profissional de Jornalista e  o colete do CNID, quis aproveitar essa possibilidade, sendo natural   que volte em reportagem fotográfica noutros jogos - Neste ou noutros estádios.

Isto pelo facto de saber que o futebol pode proporcionar imagens humanas de todo o tipo: desde as reações do público nas bancadas à exibição dos  jogadores no campo. É o espectáculo das grandes multidões. Muito diferente daquele que eu procuro no silêncio e  na solidão quando divago lá pelos arredores da minha aldeia., depois do sino da torre da igreja bater as badaladas da meia-noite. E por lá divagar até ao raiar do dia. No espectáculo da noite passada, há que reconhecer que,  mesmo por vezes turvado com ruidosos  assobios, foi  realmente empolgante! Fiz centenas de fotos (e até com  as bolas a entrem no poleiro) a pedido de um amigo que tem um jornal digital na Internet, dedicado ao desporto. Se tivesse na minha aldeia preferia fotografar as pedras (as fragas dos Tambores e outras paisagens) mas como resido pela capital,  acaba por ser de algum modo uma forma de devaneio desportivo e artístico.


Já há muito tempo que não entrava num estádio de Futebol. A última vez foi na inauguração do Estádio do Dragão. Já lá vão uns anos. Fui lá a fazer uma reportagem fotográfica. Era treinador o José Mourinho e, o clube visitante, o Barcelona. 

Pouco antes do jogo começar, ofereci ao atual treinador do Chelsea um pequeno talismã: uma pedrinha que havia trazido do Monte dos Tambores. Sim, tenho um especial culto pelos grandes penedos e também pelas pedrinhas. Sempre que vejo uma que me chame atenção, lá estou eu a metê-la ao bolso e guardá-la como talismã. Há três anos encontrei um em osso, que tem cinco mil anos, dizem os arqueólogos.

Pois foi justamente uma dessas pedrinhas mágicas que resolvi oferecer a Mourinho, naquela noite. Cheguei junto dele e disse-lhe: tome lá esta pedrinha e guarde-a”. Ele esboçou um sorriso de surpresa: “o quê?!”… A que eu acrescentei, sem mais explicação: “É uma lembrança minha, guarde-a bem guardada”. Já me não  recordo de mais nada. Mas tenho ainda bem presente a sua expressão de sorridente surpresa. E ainda até tenho as fotos que lhe fiz nessa noite. O que eu agora não posso adivinhar é se a guardou .Mas lá que aceitou, isso foi verdade.  



Naquela altura ainda não tinha descoberto os alinhamentos solares mas era já minha convicção de que se tratava de um lugar sagrado – Sim, a minha religiosidade não é a mesma que é professada no interior das igrejas, pois acredito (mas não só eu) que há lugares que se comportam como as veias no corpo humano, possuídos de correntes de energia, que antigos povos souberam escolher para erguerem os seus santuários – E, por outro lado, que dizer de certas coincidências?.... Sim, que dão mesmo que pensar: umas vezes porque a sorte ou a nossa boa estrelinha nos acompanha e ilumina  - e quantas vezes a mim não me iluminou quando andei perdido 38 dias no alto lar, naquelas negras e tempestuosas noites! – outras, enfim, porque o destino nos trai. 


No fundo, tudo isto também um pouco a  propósito do que se passou no Domingo passado no Estádio da Luz. Pois, não é demais sublinhar, que, se não se tivesse dado a feliz circunstância de alguém se ter lembrado de ordenar o adiamento do jogo e pedir a saída do público, o que não teria acontecido?...

Este é um aspeto gravíssimo em que não  pode deixar de se refletir – Nomeadamente quanto às responsabilidades da  empresa à qual foi confiada  a cobertura do estádio- Pois quem sabe se, devido à sua incompetência, este não será apenas o primeiro sinal de outros episódios, bem piores, que poderão um dia vir a ocorrer. 

Bom, mas para já, o importante é ressalvar os aspetos positivos do adiamento: quem decidiu, fê-lo com o melhor sentido oportuno, Pois é inimaginável o que poderia ter acontecido, se não houvesse alguém que tivesse tido essa coragem!   - E quem o adiou para o principio da noite passada, pelos vistos, também acertou em cheio. Sem uma aragem ou gota de chuva. Sem frio e com muita alegria e entusiasmo – Até mesmo para as claques sportinguistas, que nunca deixaram de acreditar nos ídolos da sua equipa e que, só após o segundo golo do Benfica, emudeceram um pouco. Pois, mas estes espetáculos futebolísticos, são mesmo assim: a alegria de uns é a tristeza de outros. O verdadeiro prazer  da vitória, só se saboreia depois de se conhecer o desgosto da derrota. E certamente que até ao fim da jornada, ainda vai haver lugar  para muitas alegrias e tristezas de parte a parte.

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