Levantamo-nos às seis da manhã, pois queríamos estar no local a tempo e horas. E a primeira coisa que fizemos, foi abrir a janela e ver o tempo. O Sol ainda não tinha nascido mas o céu estava limpo e azul. Sinal de que podíamos ter a certeza de que ia valer a pena o nosso esforço. De que a pequena gruta, em semi-arco, da Pedra da Cabeleira de Nossa Senhora, situada no maciço dos Tambores-Mancheia, ia ser iluminada de uma ponta a outra e no sentido nascente poente. Abrindo-se no seu frontispício, em leque, e, com uma tal inclinação que parece desafiar as leis da própria gravidade, coroada por uma radiosa estrela, como se estivesse a descer magnificamente do céus à terra e não fosse esta a hora da sua ascensão dos horizontes aos céus.
De véspera chuva, frio e céu cinzento, muito escuro - Aspecto bastante desmotivador para quem pensasse saudar a Primavera, em comunhão com a natureza. Pois difícil era de prever (salvo os técnicos da meteorologia) que na manhã de hoje, primeiro dia da estação das flores, nos esboçasse um sorriso tão amorosamente primaveril. Mas aconteceu - manhã límpida e brilhante. Sem uma névoa a cobrir os céus. Sobretudo ao raiar da manhã. Para quem se deslocou à Pedra da Cabeleira, no Monte dos Tambores-Mancheia, acertou. A surpresa não podia ser mais esplendorosa - Éramos poucos - mas houve quem viesse de Lisboa, caso de Paula Ferreira e, até, quem ali chegasse quase sobre a hora, vindos da Galiza, Manuel Luís Múnes Diz, que já havia estado na Pedra do Sol, no Solstício do Verão e o seu amigo, o psicólogo João Carlos Miguéis.
Ficaram radiantes. E, obviamente, também
nós pela sua tão amável empatia e comunicabilidade. Prometeram
voltar na celebração do Solstício do Verão e com mais amigos - O património
celta faz parte da herança cultural galega e estes dois nuestros
hermanos, veem nos templos do sol, em Chãs, e também noutros vestígios
históricos, nomeadamente os castrejos, uma relação ancestral antiquíssima
e estreita com um passado comum aos antigos povos que se fixaram nestas
zonas da península Ibérica Daí o seu entusiasmo e o desejo de verem
recuperada e intensificada esta relação cultural.
Quem também não faltou, foi
um dos nossos mais ativos e fiéis colaboradores da comissão das celebrações, o
nosso amigo Sr. António Lourenço, que leu os poemas de pendor primaveril
de Sophia de Mello Brayner,A Primavera na nossa poesia : e Quando à noite desfolho e trinco as rosas; Alberto Caeiro Quando Vier a Primavera - (heterônimo
de Fernando Pessoa, bem como consideremos o Jardim de António Ramos Rosa -
Cuja leitura decorreu, justamente, durante os escassos momentos em que o
astro-solar ali derramou a sua luz através de tão espantoso portal.
UM GESTO SINGULAR
Terminada a celebração, os nossos amigos galegos visitaram a pedra dos poetas, o castro do Curral da Pedra e a Pedra do Sol - Na Pedra dos Poetas, ergueram os braços e recordaram versos de Rosalía de Castro – - Esta pedra é também conhecida por Pedra Fernando Assis Pacheco –, em homenagem ao jornalista e poeta português, com origem na Galiza. E passou a ter o seu nome por ter-se dado esta circunstância: um mês antes da sua morte, levantou ali os braços, rendido à beleza do lugar, depois de ter ido efetuar uma reportagem para a revista Visão, sobre as gravuras paleolíticas do Côa.
Por esse facto, todos os anos, por altura do solstício do Verão, constituiu ponto obrigatório de romagem para evocar esta ou aquela figura das letras e artes, cuja obra se integre no espírito do lugar. Contamos que esta iniciativa possa também estender-se a figuras do país irmão, nomeadamente as que mais se identifiquem com a ancestralidade e as raízes desta região
Uma vez mais aproveitamos para agradecer aos proprietários do sítio e área adjacente, Teresa Duarte Marques e Fernando José Baltazar, a sua compreensão por continuarem a reconhecer a importância destas celebrações
2 comentários:
E pena que con tanto esforzo nao vos documentasedes um pouco, só um pouco nas religioes prerromanas do Oeste Peninsular. Se assím fosse nunca chamariades a uma pedra dun santuario "Pedra dos sacrificios".... E quem vos dixo que era um templo do sol??? somentes porque o sol se filtra no equinoccio... ???? Sinto decirvos que tendes que ler um pouco mais de religiao porque estades a profanar os nosos oenach que é asim como se chaman os santuarios na lingua celtogalaica da zona.
Obrigado pelo seu comentário - Todos os contributos que nos possam prestar serão sempre bem acolhidos . Por nossa parte, temo-nos documentado o melhor que pudemos. Temos ali levado credenciados estudiosos e também muitas pessoas que vão conhecer os Templos do Sol, apenas por curiosidade. Sim, se não concorda com esta nossa designação, nós achamo-lo adequada, e todas as opiniões são bem-vindas. Quando ao que se passou na pré-história ou com as religiões pré-romanas, o caro leitor tem a certeza, absoluta, que nomes eram dados a estes calendários e locais de culto? ... Até no tempo da Internet, subsistem tantas controvérsias acerca do mesmo assunto, quanto mais na era da pedra. Se um dia puder lá ir, não falte. Verá que, melhor de que todas as definições, a mais importante é a contemplação, a observação local.
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