Jorge Trabulo Marques
São Caetano nascido em Vicenza no mês de Outubro de 1480, como nos transmite a história, encontrou na família profundamente religiosa condições favoráveis para corresponder, desde o princípio, à santidade fundamental recebida no baptismo, isto é, à graça santificante, às virtudes sobrenaturais e aos dons do Espírito Santo; foi o que ele cultivou em si à medida que, mais de perto e mais fielmente, seguia a Cristo, que o chamava à santidade, primeiro no estado laical, depois no sacerdotal e por último na vida religiosa.
A antiga igreja matriz das Chãs, que antes de 1758, se chamava capela de S. Caetano, era o único edifício histórico desta freguesia, que, no “Tombo da Comenda de Santa Maria de Longrouva, de 1773, aparece com a denominação de Chanes e, posteriormente, com a designação de Chans de Longroiva
O Padre António Pereira Amante, por sinal um sacerdote muito dedicado às suas paróquias, com residência em Longroiva, embora possuído de boa fé, errou na sua avaliação, pensando que a população da aldeia iria crescer, mas passou-se precisamente o contrário: a emigração, sobretudo para França, redundou num descrente despovoamento e enorme desertificação.
Quis fazer o mesmo a outra histórica igreja, à de Muxagata, de que também era pároco, mas ali contou com maior resistência do povo e não levou por diante a moda do cimento armado, que então se substituía às antigas construções de xisto e de granito.
Nessa altura, encontrava-me em S. Tomé – Se ali estivesse teria também sido solidário com a posição tomada por as pessoas que discordaram dessa nova obra, entre as quais, o meu tio Antoninho Anjo, com a sua residência ao lado da antiga igreja, que, por tão desconsolado, vim mais tarde a saber, por sua esposa, a minha Tia Ana, que jurou não entrar na nova igreja enquanto fosse vivo, e era um fervoroso católico.
Em 1972, a estrutura granítica da velha igreja apresentava uma solidez razoável aquando do seu derrube. Pena que não se ter evitado a sua destruição e levantado um novo templo noutro local – Refere Joaquim Manuel Trabulo, no seu livro CHÃS DE FOZ CÔA – A SUA HISTÓRIA E A SUA GENTE
O campanário, de dois sinos, era tipo único no concelho de Foz Côa. A talha barroca do altar-mor era muito semelhante à igreja de Numão. O sacrário, considerado uma relíquia, foi reparado a aproveitado na nova igreja mas já sem a beleza e o enquadramento que tinha dantes.
Atrofiou-se o adro e derrubou-se o mítico negrilho , tão necessários nas tardes calmosas da Primavera e do Verão, à sombra do qual a gente das Chãs se acolhia e convivia. A povoação teria ficado, por certo, bem mais enriquecida e mais airosa
A talha barroca do altar-mor era muito semelhante à igreja de Numão.
O sacrário, considerado uma relíquia, foi reparado e aproveitado na nova igreja mas sem a beleza e o enquadramento que tinha dantes
Com que ansiedade, na minha adolescência, esperávamos a noite e o dia de Natal. De véspera, faziam-se as filhoses de centeio, a que chamavam bolas de azeite. E depois da ceia, lá se ia a saltitar e dançar à roda da fogueira no adro da antiga igreja
A festa de Natal era calorosamente vivida com outro encanto: havia três escolas de crianças e hoje não há nenhuma: sem eletricidade, saneamento e água canalizada, que tinha de se ir buscar de cântaro à fonte ou em aguadeiras nos machos ou burros mas a aldeia estava com todas as casas habitadas.
Hoje há mais casas de que habitantes, pelo que não tarda a ficar uma quinta, como sucede noutras aldeias do Portugal do interior profundo: o que ainda vai valendo é o regresso dos emigrantes no mês de Agosto para matarem saudades do seu torrão natal e se associarem à celebração da Festa de Nª Srª de Assunção, já que a do Padroeiro, São Caetano, que era celebrado uma semana antes, caiu praticamente no esquecimento.
Naqueles dias, a vida do campo, era realmente mais difícil de que hoje, visto não existir qualquer trator senão os chamados carros de bois: eram os animais das cortes que puxavam os arados e se cava a terra. A lavoura dependia totalmente da mão direta humana
No entanto, quer as festas da Páscoa, como as de Agosto, a do Padroeiro e de Nª Srª de Assunção, como as festas do Natal, eram calorosamente vividas – Não direi que não continuem a ser assinaladas com grande entusiasmo e participaçao, mas, só o facto de, naquela altura, haver mais população, dava outro colorido e outra alegria ao povo.
O que vale ainda são os emigrantes, já que, quem vive do campo, senão fosse o vinho generoso era quase trabalhar para aquecer. Mas quem é que quer deixar morrer a tradição?!... Com muito esforço e a carolice de uns poucos, os chamados mordomos, lá se vai fazendo todos os anos. Porém, o momento alto o dia, foi a procissão solene, que percorreu as ruas da aldeia, desde a igreja à capela e desta de volta à igreja -E, naturalmente, o sermão atentamente escutado, proferido pelo Cónego Manuel, filho desta freguesia. Obviamente que a festa continua na noite de 15 e ainda nos dias 16 e 17 - E, pelos vistos, promete, já que motivos de diversão não faltam no programa - Aqui ficam, por agora, alguns vídeos e imagens.
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