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quinta-feira, 27 de julho de 2023

Lídia Jorge - Vencedora do Grande Prémio de Romance e Novela da APE com o livro "Misericórdia" – Depois deste ano ter sido distinguida com o Prémio Vida Literária Vitor Aguiar Silva

Jorge Trabulo Marques - Jornalista

 A escritora Lídia Jorge venceu por unanimidade o Grande Prémio de Romance e Novela 2022 da Associação Portuguesa de Escritores (APE), com a obra “Misericórdia”.

Segundo o júri, trata-se de um romance de uma rara maturidade discursiva, um hino à leitura, à literatura e ao poder transformador de ambas na vida do humano.

“Misericórdia” tem como personagem principal uma idosa residente num lar, figura que a escritora assume ter sido inspirada na sua mãe.

De recordar, que,  Lídia Jorge, em junho deste ano,  recebeu o  Prémio Vida Literária Vítor Aguiar e Silva, como reconhecimento  de “personalidade de invulgares méritos e reconhecimento na atividade cultural” – A cerimónia da entrega decorreu, em Braga,  segundo foi então anunciado pelo município

Misericórdia, de Lídia Jorge: o livro dos sentimentos, confessou, em várias entrevistas, que a escrita do seu mais recente romance, Misericórdia, lhe foi inspirada pelo acontecimento da morte da mãe — faleceu no Lar da Santa Casa da Misericórdia de Boliqueime no começo da pandemia; pelo menos numa das entrevistas adianta que o próprio título lhe foi pedido pela mãe, para que as pessoas ao lê-lo "tivessem mais compaixão umas pelas outras". Lídia Jorge assim fez, escreveu um livro bondoso, amável, como quem luta por aperfeiçoar um mundo onde a esperança parece muitas vezes andar desencaminhada. E como que para sublinhar esta ideia, a personagem afirma numa frase de efeito: "Eu sou uma daquelas pessoas que não pensa que a esperança é a última a morrer. Eu penso que a esperança é simplesmente imortal. https://www.publico.pt/2022/12/28/culturaipsilon/critica/livro-sentimentos-2032726


Misericórdia,  de Lídia Jorge sobre a imortalidade da esperança

Misericórdia, romance de Lídia Jorge, nasceu como uma "encomenda" de sua mãe nos últimos meses de vida. Mas, como a autora conta nesta entrevista, do jogo entre o testemunho e a ficção nasce uma reflexão sobre a condição humana em tempos incertos

Em declarações ao DN, sublinhou:  “Esqueçam a ideia de que um romance sobre a velhice é um deserto narrativo, em que apenas se conjuga o verbo esperar. Ou de que aos seus protagonistas só resta despertar a compaixão do leitor. Em Misericórdia, de Lídia Jorge, Maria Alberta é uma das residentes no lar Hotel Paraíso, mas se a noite a assusta e o corpo lhe fraqueja, nem por isso a abandonam o prazer, o sonho, a curiosidade e até um certo tom despótico que usa na relação com a filha. Sobre si mesma, ela dirá: "Mas eu tenho este feitio, quero demais, mando demais, amo demais alguma coisa que não alcanço, e quando não a atinjo, procuro desesperadamente transformar o que existe de modo o objeto defeituoso da realidade inalcançável." Acompanham-na um leque de personagens, entre pessoas cuidadas e seus cuidadores, que desfazem qualquer ideia maniqueísta que se possa ter sobre estes espaços. São pessoas reais, contraditórias nas suas pulsões, vivências, medos e anseios. Como Lídia Jorge há muito nos habituou nos seus livros, também Misericórdia suscita a reflexão sobre o momento que vivemos e o modo como a condição humana a ele reage. E como acontece às personagens deste romance, também desta conversa em torno dum livro se partiu para a vida toda. https://www.dn.pt/cultura/lidia-jorgea-imortalidade-da-esperanca-15368934.html

 

 Nascida em 1946, no Algarve, Lídia Jorge estreou-se com a publicação de “O Dia dos Prodígios”, em 1980, um dos livros mais emblemáticos da literatura portuguesa pós-revolução.

Em 1988, “A Costa dos Murmúrios” abriu-lhe as portas para o reconhecimento internacional, tendo sido posteriormente adaptado ao cinema por Margarida Cardoso.

“O Vento Assobiando nas Gruas” (2002) aborda a relação entre uma mulher branca com um homem africano e o seu comportamento perante uma sociedade de contrastes. A obra venceu o Grande Prémio de Romance e Novela da APE em 2003.

Entre muitas outras, Lídia Jorge escreveu ainda obras como “O Vale da Paixão”, “Combateremos a Sombra”, “Os Memoráveis” ou “O Livro das Tréguas”, a sua estreia na poesia.

À autora foram atribuídos alguns dos principais prémios nacionais, alguns deles pelo conjunto da obra, como o Prémio da Latinidade, o Grande Prémio da Sociedade Portuguesa de Autores ou o Prémio Vergílio Ferreira.

No estrangeiro, venceu a primeira edição do prémio Albatross da Fundação Günter Grass, o Grande Prémio Luso-Espanhol de Cultura e o Prémio FIL de Literatura em Línguas Românicas de Guadalajara, entre outros. https://observador.pt/2023/04/28/lidia-jorge-vence-premio-vida-literaria-vitor-aguiar-e-silva/

 

quarta-feira, 26 de julho de 2023

Pavilhão do Conhecimento - Centro Ciência Viva - festejou seu 24º aniversário em caloroso ambiente com programação inspirada na EXPO’ 98, através de interessantes eventos de ciência, animadas exibições de música e dança, recriando a memória vivida daquela época, com a presença do arquiteto J.L. Carrilho da Graça, autor do projeto da emblemática obra, que nos confessou a sua satisfação

                                          Jorge Trabulo Marques - Jornalista - Reportagem em video

Reportagem também editada em https://canoasdomar.blogspot.com/2023/07/pavilhao-do-conhecimento-centro-ciencia.html


O Pavilhão do Conhecimento - Centro Ciência Viva, originalmente Pavilhão do Conhecimento dos Mares, foi projetado pelo arquiteto José Luís Carrilho , fica localizado na margem direita do rio Tejo, é um museu interativo criado com o objetivo de estimular o conhecimento e divulgar a cultura tecnológica e científica. Fez parte da área abrangida pela Expo 98 em 1998, um dos espaços mais visitados da exposição mundial, atualmente denominada Parque das Nações, em Lisboa.

VÍDEO DE VÁRIAS IMAGENS EM FILME E FOTOS, - Além de algumas palavras do Arquiteto João Luís Carrilho da Graça, que tive o honroso prazer de registar 

Com esta obra, Carrilho da Graça foi contemplado com o Prémio Valmor e Municipal e obteve o Grande Prémio do Júri FAD 1999 em Barcelona, que a reconheceu como um espaço arquitetónico de elevado nível, onde se misturam simultaneamente a simplicidade e a complexidade. 

“Parabéns, Pavilhão do Conhecimento. Parabéns, equipa. E obrigado aos 5.000 visitantes que hoje fizeram a festa connosco”.- Palavras divulgadas na página do Facebook da Presidente da Direção Rosália Vargas

Sublinhando: “Foram tantas as atividades durante o aniversário do Pavilhão do Conhecimento que é difícil escolher o momento favorito dos nossos visitantes. Aprendemos a cozinhar sopa miso no Pavilhão do Japão, no Pavilhão do Futuro mergulhámos numa “piscina de genes” e no Pavilhão do Oceano conhecemos, com a ajuda de investigadores, uma espécie de crustáceo das salinas. Soprámos as velas com os nossos visitantes e tivemos a honra da visita do Arquiteto Carrilho da Graça, responsável por projetar o edifício que é a nossa casa há 24 anos. Obrigado, a todas os que tornaram este dia memorável

Foram tantas as atividades durante o aniversário do Pavilhão do Conhecimento que é difícil escolher o momento favorito dos nossos visitantes. Aprendemos a cozinhar sopa miso no Pavilhão do Japão, no Pavilhão do Futuro mergulhámos numa “piscina de genes” e no Pavilhão do Oceano conhecemos, com a ajuda de investigadores, uma espécie de crustáceo das salinas. Soprámos as velas com os nossos visitantes e tivemos a honra da visita do Arquiteto Carrilho da Graça, responsável por projetar o edifício que é a nossa casa há 24 anos. Obrigado, a tod@s os que tornaram este dia memorável

UM LEGADO DE ALTO VALOR   - A 25 de julho de 1999 reabriu as portas ao público como Pavilhão do Conhecimento – Centro Ciência Viva e desde então pretende ser – a par dos outros espaços que no Parque das Nações continuam a desenvolver ações que diariamente mobilizam milhares de visitantes - um núcleo de interesse, um polo de atração e um parceiro qualificado na promoção da educação científica e tecnológica na sociedade portuguesa.

Anualmente, pode ver-se no pavilhão grandes exposições temáticas nas áreas da Física, Matemática, Química, Biologia e Ciências Sociais e centenas de módulos interativos que tornam este centro numa casa de ciência para todos. Existem ainda atividades no Laboratório e na Cozinha que também é um laboratório, conversas com investigadores, atividades experimentais, dias temáticos, projeção de filmes e peças de teatro onde a ciência é o guião.

Ao longo dos anos várias figuras emblemáticas visitaram este espaço, tais como António Guterres, Bill Clinton, Bill Gates, os nóbeis Ada Yonath, Robert Huber e Arthur McDonald e os astronautas Eugene Cernan, Paolo Nespoli e Scott Parazynski.

UMA BIOGRAFIA DE ALTO MÉRITO NACIONAL E INTERNACIONAL

João Luís Carrilho da Graça é um  arquiteto português de prestigiada referência  - Obras como a Escola Superior de Comunicação Social, o Pavilhão do Conhecimento dos Mares ou a recente extensão do Palácio de Belém, são alguns dos pontos altos da sua carreira

Nasceu em Portalegre em 1952 e formou-se pela Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa em 1977. E, desde então, dirige o seu próprio atelier. Foi assistente na Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa entre 1977 e 1992, onde lecionou, alternadamente, a cadeira de projeto do primeiro e do último ano curricular.

 

Desenvolvendo uma arquitetura com referências ao movimento moderno, desde as primeiras obras suscitou atenção nacional e internacional. O seu projeto para um conjunto de habitação social para Alter do Chão (1977-94) esteve presente na XIII Biennale de Paris -1985 e, desde aí, participa em diversas exposições e conferências. Em 1990 é nomeado para o prestigiado prémio Mies van der Rohe, pelo projeto do Centro Regional de Segurança Social de Portalegre (em colaboração com Gonçalo Byrne e João Paciência). Em 1992 recebe o Prémio Secil de Arquitetura pelo projeto da Escola Superior de Comunicação de Lisboa. Embora ainda não muito numerosa, a sua obra inclui vários outros edifícios de grande valor, tais como a Piscina Municipal de Campo Maior, (1985-90, com Carlos Miguel Dias), a Pousada no Mosteiro de Santa Maria de Flor da Rosa, Crato (1992) ou o Pavilhão do Conhecimento dos Mares para a exposição mundial de Lisboa (EXPO'98).

É Professor convidado no Departamento de Arquitetura da Universidade Autónoma de Lisboa desde 2001 e no Departamento de Arquitetura da Universidade de Évora desde 2005. Foi também Professor convidado na Escuela de Arquitectura da Universidade de Navarra entre 2007 e 2010.

Foi professor convidado para seminários e conferências sobre o seu trabalho em diversas universidades, nomeadamente em Barcelona, Sevilha, Lisboa, Roma, Milão, Turim, Verona, Cidade do México, Viena, Aachen (Alemanha) e Porto.

A 9 de julho de 1999, foi agraciado com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Mérito.A 18 de abril de 2019, foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública.  Desde 2022, é sócio correspondente da Classe de Letras da Academia das Ciências de Lisboa (9.ª Secção - Comunicação e Artes). - No seu vasto curriculo constam ainda inúmeros prémios e distinções

O arquiteto João Luís Carrilho da Graça incorporou o seu acervo de 40 anos de produção arquitetónica na Casa da Arquitectura, numa cerimónia que decorreu a 15 de fevereiro 2020, no Arquivo da Casa. Na ocasião, foi exibido um pequeno filme alusivo que ajudou a enquadrar a obra e o arquiteto. É esse filme que aqui disponibilizamos.

O acervo de João Luís Carrilho da Graça que é produto de mais de 40 anos de trabalho do seu autor e contempla cerca de trezentos projectos, mais de uma centena dos quais tendo resultado de concursos públicos. Ainda que este extenso conjunto inclua planos executados para os mais diversos países – Espanha, França, Chipre, Itália, Suíça, Bélgica, Holanda, Alemanha, Áustria, Hungria, Finlândia, Egipto, Brasil e Estados Unidos da América –, a grande maioria diz respeito ao território nacional, incluindo projetos bem conhecidos pelo público português, como as Piscinas em Campo Maior (1982-1990), a Ponte sobre a Ribeira da Carpinteira na Covilhã (2003-2009) ou o Terminal de Cruzeiros em Lisboa (2010-2018). Entre o conjunto do material incorporado é possível encontrar desenhos e escritos de Carrilho da Graça e dos seus colaboradores, mas também uma extensa coleção de maquetas que representam tanto as obras construídas, como algumas versões diferentes das que acabaram por ser executadas, ou até mesmo, em alguns casos, projetos que não chegaram a passar do papel. – Excertos de várias fontes.



terça-feira, 25 de julho de 2023

Vila Nova Foz Côa – A cidade de três forais régios e dois Patrimónios da Humanidade - Um deles completa hoje 709 anos – Dois antigos, o 1º em Portalegre, em 21 de Maio de 1299; o segundo, em Lisboa, a 24 de Julho de 1314; o terceiro de carta régia de 22 de Novembro 1947 – O Município tem tido um programa muito animado e participativo com vários eventos culturais que vai prolongar-se pelo verão adiante.

                                                Jorge Trabulo Marques - Jornalista  - 

O Município de V. N. de Foz Côa, tem vindo a desenvolver um programa cultural, muito ativo e variado: desde exposições, concertos de música clássica e moderna, de ópera e de visitas e passeios ecológicos e a sítios arqueológicos, entre outras ações -  Com eventos também partilhados pelo Museu do Côa, tal como, no verão, a ciência sai à rua com diversas ações organizadas pelo Museu do Côa - Centro Ciência Viva, em articulação com as instituições científicas, autarquias, empresas, ONG e associações científicas.

Numa região, também muito marcada pela desertificação e envelhecimento humano e uma vez , que, os grandes investidores, têm olhado mais para o litoral, que para o chamado Portugal proundo, há realmente que tornar atrativa e menos penosa a vida das populações,


Atente-se que, por exemplo, nos
Censos 2021, o  distrito da Guarda, a que pertence o concelho,  perdeu cerca de 18 mil habitantes em dez anos  - O município de Vila Nova de Foz Côa, tem 6.304 pessoas, quando em 2011 apresentava 7.312 –  Daí que se compreendam, que, pelo menos, as várias gerações, desde as mais jovens  às mais idosas, não se sintam tão isoladas ou deprimidas, mas alegres, mais tranquilas e confiantes do futuro

                     A FOZ CÔA, FORAM-LHE ATRIBUIDOS TRÊS FORAIS RÉGIOS 



Qual dos três o mais importante? - Naturalmente que todos eles foram relevantes e contribuíram para tornar Foz Côa, na cidade que é hoje - Amândio César, poeta, ficcionista, ensaísta, crítico literário e jornalista, com raízes familiares a Foz Côa, da qual nutria profundos laços afetivos, chegou a dissertar sobre esta questão, na conferência que proferiu, em 24 de Abril de 1954, na Casa regional da Beira Douro, sobre Vila Nova de Foz Côa, da qual aqui vamos transcrever alguns excertos


Responde,  Amândio César:



 "No passado - os forais - que, como queria Alfredo Pimenta e aqui me parece aplicar-se bem, nem sempre é criador do regime municipal. é muitas vezes sancionador de situações pré-existentes» e, deste modo, se poderiam definir como «diplomas que contêm leis particulares por que os concelhos se regiam, e que visavam principalmente matéria tributária, ainda que às vezes sob a aparência de matéria criminal, e os privilégios da população». Que assim deve ter sido me parece, repilo, pois que D. Diniz concede a Fozcoa o seu primeiro foral em Portalegre, aos 21 de Maio de 1299 e o segundo, em Lisboa, aos 24 de Julho de 1314. Apesar disso só D. João 1 a elevará à categoria do Vila. Isso explica que, quer no Pelourinho, quer na Igreja, como já referi, se veja o emblema do primeiro soberano da segunda dinastia: a Flor de Liz. 


O terceiro foral foi outorgado por D. Manuel l e datado de Lisboa aos 16 de Junho de 1514. Pode, pois, dizer-se, regularmente, que D. Diniz foi o fundador da futura Vila, remontando a história das liberdades concelhias, a muito longe: possuindo Vila Nova de Fozcoa três forais, dos quais dois antigos e o terceiro novo, datado depois da Carta Régia de 22 de Novembro de 1497, que constitue a reforma manuelina, baliza da distinção entre os primeiros e o segundo

ECORDAR FOZ CÔA ATRAVÉS DA MEMÓRIA DE AMÂNDIO CÉSAR


"Meus amigos: estamos numa província de sonho - a província da Beira-Douro que não se estuda nos compêndios, mas se tem e se conserva no coração; não é pecado (ao menos não será pecado grave ... ) falar-vos como se sonhasse em voz alta de uma terra que é possível não seja da forma que meus olhos a viram e minha curiosidade a estudou: Vila Nova de Foz Côa"
  -  Amândio César - O poeta e escritor que amava profundamente Vila Nova de Foz Côa.


AMÂNDIO CÉSAR - Um César no domínio do léxico fozcoense" - escreveu Manuel Daniel


Manuel Daniel, advogado e distinta figura das letras e do municipalismo, grande admirador da vida e obra de Amândio César, tendo-lhe dedicado um extenso artigo no nº 3 da Revista CEPIHS, do Centro de Estudos de Promoção e Investigação Histórica e Social - de Trás-os-Montes, lançada  por ocasião da cerimónia de homenagem  à poeta Drª Maria Assunção Carqueja, esposa do Prof. Adriano Vasco Rodrigues, que posteriormente viria a falecer -  

Alguns excertos desse interessante artigo, foram também editados no semanário OFOZCOENSE, com algumas  passagens da citada conferência, que havia sido integralmente publicada numa separata do Boletim da Casa Regional do Douro, de cuja fonte também nos servimos...Referindo-se aos laços de Amândio César, a Vila Nova de Foz Côa, Manuel Daniel, começou por lembrar  o homem o "Fozcoense nascido no Minho"
 


"Nasceu no coração  do Minho, abrindo pela primeira vez os olhos para a paisagem edílica da Serra da Peneda, em Arcos de Valdevez. Para esta bela cidade tinha sido transferido o progenitor  que, todavia, mantinha os seus interesses na região do Alto Douro, esse pedaço de  oiro  que se integra  "no reino maravilhoso" que outro escritor e poeta celebrizou. Vila Nova de Foz Côa, uma assombrosa varanda sobre os montes reboredos e o peredo dito dos castelhanos, chamou-o ainda bébé de fralda, para ser primoroso entendor  da indissocracia fozcoense, com o vigor de quem  lhe descobrirá a alma para depois a fazer resplandecer, através da sua obra, como se aquela tivesse uma riqueza tão grande e tão guardada como sucede com o famoso pálio de Cidadelhe, concelho de Pinhel."

 Amândio César: "Devo confessá-lo em voz alia: eu não sou de Fozcoa. Mas o sangue me prende lá, lá tem raízes o meu corpo e a minha alma. Não viesse de lá transferido o meu Pai, após qualquer acontecimento político, e eu por certo gostaria da terra por lá ler nascido e nada mais. Mas, ao contrário daqueles filhos de portugueses que nascidos no Brasil chamam galegos aos seus pro· genitores, foi por não ter nascido em Fozcoa que não gostei deIa: amei-a e amo-a - " - Palavas proferidas na referida conferência, na Casa Regional da Beira Douro, 
em 24 de Abril de 1954

Amândio César, nacido em Arcos de Valdevez, em 12 de Julho de 1921, Amândio César,  faleceu  em 1987, aos 67 anos, em Lisboa, onde residia - Amava, apaixonadamente, estas terras,  «a vilazinha de sonho, aquela que eu descobri com os olhos virgens da minha longínqua infância: que eu vivi na gárrula juventude que morreu há muito ; que me doeu no corpo e na alma de uma adolescência que não mais se repetirá .

 Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, foi professor do ensino técnico. Um dos elementos do grupo Poesia Nova e o fundador da revista Quatro Ventos (Braga, 1954-1957). Como ensaísta e crítico literário, dedicou parte da sua atividade à divulgação das literaturas brasileira e africana de expressão portuguesa - Autor de uma vasta obra - poesia, contos, ensaio, antologia, geografia literária, reportagem.

Deu-me a honra e o prazer de me receber em sua casa, para uma breve entrevista à Rádio Comercial, embora, naquela altura, já se encontrasse bastante doente, tendo-o conhecido, pela primeira vez, em S. Tomé, aquando da visita do Almirante Américo Tomás, na mesma semana em que faleceria, Oliveira Salazar  

O PASSADO

(…)"Da importância desta Vila, no seu passado, falam eloquentemente os dados que Pinho Leal nos dá, no Portugal Antigo e Moderno: «Em 1708 contava 60 fogos dentro dos muros do seu castelo e 500 nos arrabaldes - era abadia do padroado real -  tinha Casa de Misericórdia, Hospital e 9 ermidas - feiras a 8 de Maio e 29 de Setembro - 1 ouvidor, 2 juízes ordinários, 1 dos órfãos com seu escrivão, 2 vereadores, 1 procurador do concelho, 1 escrivão da Câmara, 2 tabeliães, 2 almotacés, 1 capitão-mor, 1 sargento-mor com duas companhias de ordenança e 1 companhia de auxiliares que obedecia à Praça d'Almeida». « ..