Jorge Trabulo Marques - Jornalista
A artista
transmontana, Graça Morais, que inaugurou, em junho passado, no Museu do Côa, a exposição de pintura “Mapas da Terra e do
Tempo”, reunindo 50 obras inspiradas no
período do Paleolítico, viu agora, no inicio de Novembro, também lançado o catálogo da referida exposição,
visando assinalar o 24.º aniversário da inscrição dos sítios de
arte rupestre do Côa, na lista do Património da Humanidade,”., que vai estar
patente até 12 de Janeiro.
A efeméride foi
celebrada com um concerto do guitarrista Pedro Caldeira Cabral. «Este catálogo
vai mais além do que aquilo que está patente e junta, a título de exemplo,
alguns elementos da Arte do Ferro que são combinados com as peças em exposição.
Também não é exclusivo das telas expostas no museu, juntando, igualmente,
vários apontamentos da arte paleolítica do Côa, entre outros períodos
históricos», afirmou Aida Carvalho, presidente da Côa Parque
Graça Morais, Foz Côa, anos 90 |
“Este catálogo da
exposição ‘Graça Morais – Mapas da Terra e do Tempo’, vai mais além do que
aquilo que está patente e junta, a título de exemplo, alguns elementos da Arte
do Ferro que são combinados com as peças em exposição. Este catálogo não é
exclusivo das telas patentes no MC, aqui juntam-se, igualmente, vários
apontamentos da arte paleolítica do Côa [30.000 anos] entre outros períodos
históricos “, vincou Aida Carvalho.
Graça Morais, em
junho passado, na altura da inauguração, explicara à Lusa “Eu, na minha ingenuidade de criança,
gostava de desenhar nas fragas da minha aldeia. Quando começou o movimento da
defesa das gravuras do Côa, fui das pessoas que [se associaram] à causa e aos
grandes defensores desta forma de arte”, disse Graça Morais à Lusa, dias antes
da inauguração da exposição, que acontece hoje.
A pintora
explicou, ainda, o quão importante é para o ser humano deixar a sua marca numa
fraga e depois mais tarde no papel e por aí fora: “Nasci numa terra, aqui perto
do Côa, onde parte da aldeia só tinha fragas. Nos intervalos da escola primária
e nas minhas brincadeiras de criança gostava muito de desenhar nas fragas e
tinha um enorme prazer em pegar no pedaço de telha ou numa pedrinha aguçada e
fazer desenhos. Isto faz parte da natureza humana”
“Esta minha
exposição é um encontro com as gravuras paleolíticas do Côa e com esta
manifestação dos primeiros artistas. Por este motivo, tentei reunir obras que,
em 1983, tiveram como ponto de partida certas imagens das grutas de Altamira em
Espanha, ou a enigmática figura, conhecida pelo ‘homem-bisonte’, encontrada na
caverna de Les Trois-Frères, em França, ou a Vénus de Willendorf”, explicou, em
entrevista à Lusa, Graça Morais.
“Eu nunca visitei
estas grutas, mas sempre me tocaram, de uma forma muito especial, estas
pinturas e temos a sorte de as termos connosco. Eu aprendi a olhar através de
livros para a arte do Paleolítico, para a arte rupestre”, enfatizou a pintora
transmontana.
Entre outros
trabalhos, a exposição conta com uma criação feita, em 1993, para a peça “Os
Biombos”, de Jean Genet, levada à cena pelo Teatro Experimental de Cascais e
que agora está exposta numa das paredes do Museu do Côa.
Outros exemplos
pictóricos abrangem sobretudo os trabalhos que realizou nas décadas de 1980 e
1990 do século passado, particularmente das séries “Mapas e o Espírito da
Oliveira ou os Vieiros”, que apresentou, em 1983, na XVII Bienal Internacional
de Arte de São Paulo, no Brasil, e, posteriormente, nos Museus de Arte Moderna
de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Graça Morais - Foz Côa, anos 90 |
Graça Morais
preferiu não destacar nenhuma das peças que fazem parte desta exposição,
contudo disse à Lusa que “as peças devem estar muito contentes, porque há
muitos anos que não se viam e agora estão todas juntas”.
“Estas obras
estavam dispersas. Algumas estavam no Brasil, outras na Fundação Gulbenkian,
Ministério das Finanças e por aí fora. E estas pinturas, hoje, estão todas
reunidas. Desde a década de 80 do século passado que não estavam juntas. E
sinto uma especial alegria pela forma como estas peças dialogam entre si”,
vincou a artista plástica.
A exposição tem
curadoria de Jorge Costa, responsável pelo Centro de Arte Contemporânea Graça
Morais, em Bragança.
Por seu lado, a
presidente da Fundação Côa Parque, Aida Carvalho, classificou a exposição como
“impactante”, justificando que a mostra “reúne um conjunto de obras que se
destacam pela cor, pelos próprios desenhos, são de facto vibrantes para este
museu”.
Graça Morais
nasceu em 1948, na aldeia do Vieiro, concelho de Vila Flor, no distrito de
Bragança, formou-se em Pintura na Escola Superior de Belas Artes do Porto, foi
depois bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian, em Paris.
Grça Morais, anos 90 - junto à igreja matriz |
Numa
carreira de quase 50 anos, realizou e participou em mais de uma centena de exposições,
no país e no estrangeiro, e a “sua obra está representada nas grandes coleções
de arte contemporânea em Portugal e em diversas outras além-fronteiras”, como
destaca a CCDR-Norte.
Em
2008, viu inaugurado o Centro de Arte Contemporânea com o seu nome, em
Bragança, da autoria do arquiteto Eduardo Souto de Moura.
Entre outras
distinções, recebeu o Grande Prémio Aquisição da Academia Nacional de
Belas-Artes, foi agraciada com o Grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D.
Henrique, pelo presidente da República Jorge Sampaio, e com a Medalha de Mérito
Cultural pela ministra da Cultura Graça Fonseca.
É
membro da Academia Nacional de Belas Artes e Doutor Honoris Causa pela
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).
O
prémio “Personalidade do Norte” é entregue hoje à tarde no 2.º Fórum Autárquico
da Região Norte, em Viana do Castelo
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