José Saramago –Nasceu há 100 ANOS – 16-11-1922 – A obra do escritor perdura além da sua morte, há 12 anos. Mas declarava-me. muito antes da sua partida, que “não há vida para além da morte!..." - A destacar neste dia: Rota de Vida. Uma biografia de Saramago, por Joaquim Vieira
Jorge Trabulo Marques - Jornalista
Na sede da Associação Portuguesa de Escritores
VÍDEO COM A ENTREVISTA
Assinala-se esta
quarta-feira o centenário do nascimento de José Saramago (1922-2010), o
primeiro e único Nobel da Literatura português (e da língua portuguesa), um
militante construtor de alegorias políticas que foi, no seu próprio país, tão
polémico quanto reverenciado
Até hoje, foi o
único escritor de língua portuguesa a conquistar um Prémio Nobel da Literatura.
Para assinalar a data, a Fundação José Saramago preparou uma programação
especial. Milhares de alunos de escolas de Portugal, Espanha e outros países
lêem excertos de romances de José Saramago num programa intitulado Leituras
Centenárias.
ROTA DE VIDA -Neste dia, aproveito para destacar o livro biografia de José Saramago, por Joaquim Vieira, livro considerado
pela critica, um exemplo de trabalho vastamente documentado e sem pruridos de
hagiografia: um retrato plurifacetado e magnificamente documentado do seu
biografado, não demolindo mas também não edulcorando o personagem."
(Eugénio Lisboa, "Jornal de Letras, Artes e Ideias", 16 de janeiro de
2019)
"Joaquim Vieira não se limitou ao retrato do lado público, mais ou
menos conhecido, do biografado; a sua atribulada vida privada não ficou fora da
pintura, mesmo que por vezes inconveniente e incómoda. [...] 'Rota de Vida' é
um livro essencial para se perceber o percurso de uma personalidade que marcou
de maneira intensa a vida cultural portuguesa." (José Riço Direitinho, "Público-Ípsilon",
23 de novembro de 2018 - classificação: 5 estrelas)
Na breve entrevista,
que me concedeu na feira do livro de Lisboa, sobre temas, como a vida para além
da morte, o papel da rádio em Portugal e as recordações das melhores férias. –
Respondeu-me: “O meu pensamento é extremamente simples: penso que não há vida
para além da morte!... Não há mais nada para responder senão isto ! JTM -
Férias felizes? – JS “Todas as férias da minha infância!... É a única coisa que
lhe posso dizer…. Essas foram todas boas!... As outras… São assim, assim: uma
vezes melhores outras vezes piores!
JS- O meu pensamento é extremamente simples: penso que não há vida para além da morte!... Não há mais nada para responder senão isto ! JTM - Férias felizes?... – JS “Todas as férias da minha infância!... É a única coisa que lhe posso dizer…. Essas foram todas boas!... As outras… São assim, assim: uma vezes melhores outras vezes piores!...
O nosso Nobel da Literatura, nunca foi dado a entrevistas – Ele que,nos anos 80 - pese o facto de já ter sido distinguido com importantes prémios- , longe estaria, certamente, de imaginar vir um dia a ser laureado, com tão alta distinção – O diálogo que então ocorreu, não estava previsto: sucedeu de forma casual e espontânea. E foi praticamente sacado a ferros, já que, desde o inicio, procurou sempre a esquivar-se às minhas perguntas, considerando-as terem a ver com questões do foro pessoal. Em todo o caso, aqui fica o curioso registo para um melhor conhecimento da personalidade de um dos maiores vultos da literatura portuguesa, com expressão Universal.
“NÃO HÁ VIDA PARA ALÉM DA MORTE”
JTM - O que é que pensa da vida para além da morte? Qual é o seu pensamento a esse respeito?
JS- O meu pensamento é extremamente simples: penso que não há vida para além da morte!... Não há mais nada para responder senão isto !
JTM - Nunca se interrogou a esse respeito?
JS – Acho que não tenho que me interrogar!... Emito uma convicção… Portanto, eu ao dizer isto exprimo uma convicção: a de que não há vida para além da morte!... É só!
OUÇO MAIS RÁDIO DE QUE VEJO TELEVISÃO
JTM – O que pensa da rádio, em Portugal?
JS – Como é que se há-de responder a essa pergunta!... Tanto se pode responder do que se pensa da rádio, em Portugal, como da televisão, como da literatura, em Portugal!... Penso que a única coisa que nós temos é a obrigação de fazer o melhor possível, que é da nossa área profissional. Eu faço o melhor que puder e a rádio fazo melhor que pode!...
TM – Naturalmente que escuta a rádio: tem uma opinião formada!...
JS – Eu ouço-a, muito fragmentariamente, dado que, como deve calcular, não tenho assim muito tempo para ouvir rádio!...
JTM – Entre a rádio e a televisão: ouve mais a rádio? Vê mais televisão?...
JS – Olhe! Nesta altura, ouço mais rádio. Muito mais rádio!
JTM – A que horas?!...
JS – Geralmente de manhã ou à noite!...À noite adiantada!...
AS MELHORES FÉRIAS: “AS DA MINHA INFÂNCIA”
Na sede da Associação Portuguesa de Escritores
JTM – Outra questão: férias - Qual a melhor recordação de férias que até hoje tenha vivido na sua vida?...
JS – Isso é complicado!... Eu não sei…
JTM – É um bocado difícil?!..
JS- É muito difícil!... Há várias boas recordações!...Não vou responder, porque não é possível, sequer!
JTM- Mas umas férias, particularmente agradáveis!.. Felizes!...
JS – Todas as férias da minha infância!... É a única coisa que lhe posso dizer…. Essas foram todas boas!... As outras… São assim, assim: uma vezes melhores outras vezes piores!,,,
JTM – Mas não costuma dedicar algum tempo, a férias?....Ou esse tempo é mesmo de escrita, também!
JS – Não!... Quando faço férias, faço férias!... Quando estou de férias, não faço outra coisa senão férias.
José de Sousa Saramago, signo escorpião, nasceu na freguesia da Azinhaga, da Vila da Golgâ, a 16 de Novembro de 1922, três dias antes da lua-cheia. Para dessossego dos seus pais, filha e netos, acabaria por publicar - entre outras obras, que o guindariam ao Prémio Nobel da Literatura - o livro "Dia do Desassossego", que hoje a Fundação José Saramago, pretende transformar numa festa cívica e de cultura
Excomungado por Sousa Lara - no reinado de D. Cavaco, o Silva - mesmo assim, contra ventos e marés, lá foi levando a sua "Jangada de Pedra" de vento em popa, por oceanos a fora, até que, depois de ter arribado em Lanzarote, Ilhas Canárias, onde construiu a sua cabana, com a sua eva, Pilar del Río, aos 88 anos, em 18 de Junho de 2010, São Pedro o haveria de chamar a pilotar a sua barca.
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