Advogado, professor universitário de ciência política e relações internacionais –Autor de dezenas de obras publicadas, fortemente ligado ao atual Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), que dirigiu e ajudou a reformar antes do 25 de Abril, foi também deputado entre 1980 e 1995 e vice-presidente da Assembleia da República no seu último mandato parlamentar.
MENSAGEM NATALICIA QUE NOS CONFIOU NA SEDE DO SEU PARTIDO
Aproximava-se a quadra natalícia, pelo que, entre outras mensagens, que
procurámos recolher de várias personalidades da vida pública nacional para
serem transmitidas na RDP-Rádio Comercial, alusivas ao período mais expressivo
das festividades religiosas do ano, decidimos também deslocarmo-nos à sede do
CDS – Centro Democrático Social
Deixamos o tema à sua livre escolha – Que registámos com as palavras que a
seguir passamos a reproduzir, cujo registo sonoro fomos recuperar do vasto
arquivo que possuímos.
E do que nos iria falar - sendo, então, Adriano Moreira, um politico conhecedor
e observador atento, quer da realidade da longa e penosa guerra colonial, a que
o regime de Salazar fora incapaz de encontrar uma solução, quer dos violentos
conflitos, que, uma descolonização colonial precipitada, iria desencadear entre
as forças oposicionistas internas, a Renamo e a Frelimo, a que acresceria ainda
a instabilidade causada com a sabotagem dos países vizinhos dominados por
elites brancas como a Rodésia e a África do Sul do regime de apartheid, era,
naturalmente, do enorme drama que estavam a viver os milhares de portugueses,
que desejavam regressar às suas terras de origem e que estavam â mercê de um
destino sofrido e incerto
Angola transformou-se em poucos meses numa armadilha fatal para milhares de
pessoas. Presos naquela terra que tinham considerado um paraíso, vêem a guerra
instalar-se nas zonas de onde as Forças Armadas Portuguesas retiram
.Estima-se que um milhão de moçambicanos morreram durante a guerra civil, cerca
de outros 1,7 milhão se refugiaram em países vizinhos e vários outros milhões
tiveram que se deslocar internamente por conta do conflito. O regime da Frelimo
também deu abrigo e apoio aos movimentos rebeldes africanos Congresso Nacional
Africano da África do Sul e União Nacional Africana do Zimbábue, enquanto os
governos da Rodésia e da África do Sul, na época sob o regime do apartheid,
subsidiados por Washington, apoiavam as forças da Renamo”.
Eis, pois, as palavras de sensibilidade e apreensão, que hoje aqui recordamos,
em memória de um notável politico e académico, protagonista da história
contemporânea portuguesa, tanto no chamado Estado Novo, onde depois de
perseguido e preso, acabou por ser o ministro do Ultramar que revogou o
Estatuto do Indigenato. E em democracia, presidente do CDS e vice-presidente da
Assembleia da República.
PALAVRAS QUE GOSTARIA QUE FOSSEM DE ESPERANÇA, MAS ERAM DE MÁGOA
"Infelizmente, esta mensagem que devia ser de esperança e de alegria em
vista da proximidade do Natal, é para nós ensombrada pelos acontecimentos que
dizem respeito aos portugueses que eram prisioneiros da Renamo, e que, segundo
as últimas notícias publicadas, foram entregues à Frelimo e sem qualquer
intervenção eficaz do Governo Português e com a preocupação pública manifestada
pela Cruz Vermelha Internacional.
Isto obriga-nos a pensar na situação dessas pessoas e também na situação que se
agrava dos portugueses que habitam a África do Sul, cujo interesse deve ser
considerado primordial pelo Governo Português, em vez de considerar importante
aquilo que diz respeito ao regime interno desse país, porque nenhum português
precisa de demonstrar que é contrário à descriminação racial, porque esse é um
problema essencial da cultura portuguesa.
Isso também não pode deixar de nos lembrar a situação dos retornados dos territórios
ultramarinos, que continuam numa situação de injustiça a qual não lhes
permitirá, uma vez mais, passar o Natal tranquilo como merecem.
Valerá a pena lembrar que o Congresso Europeu dos Deslocados, já conseguiu o
pagamento da indemnização, praticamente total dos deslocados de outros
territórios, e que, designadamente, segundo as informações que temos, o Governo
italiano conseguiu endemizar todos os italianos que se encontravam em
Moçambique.
A nossa mensagem, neste dia, como disse, é amargurada pela preocupação a
respeito da situação desses portugueses, que todos acompanhamos nos seus
sofrimentos, e, aquilo que desejamos, é que a intervenção do Governo Português,
no cumprimento estrito do dever Constitucional, não se faça demorar e que seja
eficaz
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