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terça-feira, 25 de outubro de 2022

PROF. ADRIANO MOREIRA – Faleceu - A mensagem de Natal gravada há mais de 40 anos, sobre o drama dos refugiados portugueses de Moçambique, prisioneiros da RENAMO e depois entregues à sua sorte à FRELIMO, apelando ao Governo português para lhe prestar o necessário apoio.


Jorge Trabulo Marques  - Jornalista 







Partiu para a eternidade, neste último domingo, em Lisboa, após 100 anos de vida, que completara em 6 de Setembro, o distinto académico e humanista transmontano, natural de Grijó, Macedo de Cavaleiros, distrito de Bragança.


Destacou-se pelo seu percurso académico e político dividido entre dois regimes, tendo sido ministro do Ultramar no Estado Novo de 1961 a 1963 e, após a revolução do 25 de Abril, de 1986 a 1988, presidente do Centro Democrático e Social (CDS) e, posteriormente, após se demitir, como deputado deste mesmo partido

Advogado, professor universitário de ciência política e relações internacionais –Autor de dezenas de obras publicadas, fortemente ligado ao atual Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), que dirigiu e ajudou a reformar antes do 25 de Abril, foi também deputado entre 1980 e 1995 e vice-presidente da Assembleia da República no seu último mandato parlamentar.

MENSAGEM NATALICIA QUE NOS CONFIOU NA SEDE DO SEU PARTIDO


Aproximava-se a quadra natalícia, pelo que, entre outras mensagens, que procurámos recolher de várias personalidades da vida pública nacional para serem transmitidas na RDP-Rádio Comercial, alusivas ao período mais expressivo das festividades religiosas do ano, decidimos também deslocarmo-nos à sede do CDS – Centro Democrático Social


Deixamos o tema à sua livre escolha – Que registámos com as palavras que a seguir passamos a reproduzir, cujo registo sonoro fomos recuperar do vasto arquivo que possuímos.
E do que nos iria falar - sendo, então, Adriano Moreira, um politico conhecedor e observador atento, quer da realidade da longa e penosa guerra colonial, a que o regime de Salazar fora incapaz de encontrar uma solução, quer dos violentos conflitos, que, uma descolonização colonial precipitada, iria desencadear entre as forças oposicionistas internas, a Renamo e a Frelimo, a que acresceria ainda a instabilidade causada com a sabotagem dos países vizinhos dominados por elites brancas como a Rodésia e a África do Sul do regime de apartheid, era, naturalmente, do enorme drama que estavam a viver os milhares de portugueses, que desejavam regressar às suas terras de origem e que estavam â mercê de um destino sofrido e incerto

Angola transformou-se em poucos meses numa armadilha fatal para milhares de pessoas. Presos naquela terra que tinham considerado um paraíso, vêem a guerra instalar-se nas zonas de onde as Forças Armadas Portuguesas retiram


.Estima-se que um milhão de moçambicanos morreram durante a guerra civil, cerca de outros 1,7 milhão se refugiaram em países vizinhos e vários outros milhões tiveram que se deslocar internamente por conta do conflito. O regime da Frelimo também deu abrigo e apoio aos movimentos rebeldes africanos Congresso Nacional Africano da África do Sul e União Nacional Africana do Zimbábue, enquanto os governos da Rodésia e da África do Sul, na época sob o regime do apartheid, subsidiados por Washington, apoiavam as forças da Renamo”.

Eis, pois, as palavras de sensibilidade e apreensão, que hoje aqui recordamos, em memória de um notável politico e académico, protagonista da história contemporânea portuguesa, tanto no chamado Estado Novo, onde depois de perseguido e preso, acabou por ser o ministro do Ultramar que revogou o Estatuto do Indigenato. E em democracia, presidente do CDS e vice-presidente da Assembleia da República.

PALAVRAS QUE GOSTARIA QUE FOSSEM DE ESPERANÇA, MAS ERAM DE MÁGOA

"Infelizmente, esta mensagem que devia ser de esperança e de alegria em vista da proximidade do Natal, é para nós ensombrada pelos acontecimentos que dizem respeito aos portugueses que eram prisioneiros da Renamo, e que, segundo as últimas notícias publicadas, foram entregues à Frelimo e sem qualquer intervenção eficaz do Governo Português e com a preocupação pública manifestada pela Cruz Vermelha Internacional.

Isto obriga-nos a pensar na situação dessas pessoas e também na situação que se agrava dos portugueses que habitam a África do Sul, cujo interesse deve ser considerado primordial pelo Governo Português, em vez de considerar importante aquilo que diz respeito ao regime interno desse país, porque nenhum português precisa de demonstrar que é contrário à descriminação racial, porque esse é um problema essencial da cultura portuguesa.

Isso também não pode deixar de nos lembrar a situação dos retornados dos territórios ultramarinos, que continuam numa situação de injustiça a qual não lhes permitirá, uma vez mais, passar o Natal tranquilo como merecem.

Valerá a pena lembrar que o Congresso Europeu dos Deslocados, já conseguiu o pagamento da indemnização, praticamente total dos deslocados de outros territórios, e que, designadamente, segundo as informações que temos, o Governo italiano conseguiu endemizar todos os italianos que se encontravam em Moçambique.
A nossa mensagem, neste dia, como disse, é amargurada pela preocupação a respeito da situação desses portugueses, que todos acompanhamos nos seus sofrimentos, e, aquilo que desejamos, é que a intervenção do Governo Português, no cumprimento estrito do dever Constitucional, não se faça demorar e que seja eficaz



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