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segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Halloween 2022 em Portugal - Este dia, parece ser mais propicio a pegar no guarda-chuva de que a envergar qualquer máscara - Mais folia de que memória esquecendo as milhares de vitimas perseguidas e torturadas pela tenebrosa Santa Inquisição - Por um único pecado: o seu apego e amor ao culto da Natureza-Mãe.

Jorge Trabulo Marques - Jornalista e investigador 

O tempo em Portugal para as celebrações do Halloween 2022 parece não ser propicio de norte a sul: as previsões meteorológicas apontam para o risco de inundações, de trovoadas, além da queda de granizo e fortes ventos do Sudoeste.



Uma festa de origem celta, conhecida como Samhain,   que  celebra o fim da época das colheitas e a chegada do frio, e dá as boas-vindas ao Ano Novo Celta. Ao anoitecer do dia 31 de outubro, começava, para os Celtas, o festival (durava cerca de 3 dias), que celebrava a chegada do novo ano e que coincidia com a queda das folhas das árvores, uma clara referência à morte e ao começo de uma nova vida.

O Samhain estava a meio caminho entre o equinócio de outono e o solstício de inverno e marcava a transição entre a metade mais iluminada e a metade mais escura do ano. Os Celtas acreditavam que nesta época do ano o véu entre os reinos dos espíritos e dos humanos ficava suspenso. O Samhain é considerado a celebração precursora do Halloween contemporâneo.

Na minha adolescência e nos arredores da minha aldeia, havia um ritual pagão, que se realizava, em certas noites do ano, no interior do terreiro do antigo solar do Vale Cheiinho, situado no alto das Quintãs, termo de Mêda, mas que sempre pertenceu a proprietários da minha freguesia, Chãs. Foz Côa - Das povoações de Quintãs, Relva, da freguesia de Longroiva, naquele tempo, haviam umas quantas "irmãs" que ali também se juntavam - Além das que vinham de Tomadias e Santa Comba - Concelho de Foz Côa.


Era um culto, constituído apenas por mulheres de idade, não casadas, que viviam das jeiras (das mondas e das ceifas) ou de atividades ambulantes, que ali se reuniam, vindas de várias aldeias limítrofes, acompanhadas por cachopos, crianças, vestidas com batas azuis - Elas vestiam de negro e embrulhadas em xailes escuros 

Creio que também ainda por lá perpassa o espírito de algumas das vítimas da intolerância católica. Pois a igreja nunca compreendeu, nem perdoou que, uma tal quinta, centenária, onde não faltava nada - desde a forno do pão, lagar de vinho e de azeite, cabanal para gado, fonte e caminho romano -, não existisse uma capela. E a razão era simples: é porque, ali, quem vivia naquele tão frondoso e fértil vale ou canada, festejava mais o espírito da Terra, a Mãe-Natureza e as suas divindades. Tal tradição - mesmo depois da quinta cair no esquecimento e em ruínas - persistiu até aos anos 60. Era um local de culto e de peregrinação por membros das várias irmandades existentes nas freguesias vizinhas.

Halloween é um termo importado dos países anglo-saxônicos, É uma festa pagã que pretende relembrar e festejar antigos cultos pagãos. Só que, lá tal como cá, é praticamente mero folclore, uma espécie de diversão carnavalesca. E poucos se lembrarão de que, embora seja uma festa associada a momentos de prazer e de misticismo, traz atrás de si memórias de tenebrosos tempos, em que milhares de vidas foram torturadas, enforcadas ou queimadas, por não seguirem os ditames do ocultismo católico, acusadas de práticas hereges.

Levado pela curiosidade da minha inocência, tomei parte nesses cultos e guardo curiosas recordações. Aprendi a gostar da noite (claro, no campo), a contemplar a sua beleza noturna e o seu silêncio. Por isso, e na medida do possível, não deixo de lá me deslocar, entre outras peregrinações que costumo fazer ao Monte dos Tambores. Há, no entanto, quem, depois do pôr-do-sol, nem sequer ouse passar fronte ao enorme portal que dá acesso ao terreiro amuralhado, receoso de que por lá lhe apareça o chamado “homem do gorro vermelho”

Ninguém dizia nada a ninguém... O culto era secretíssimo. Nem as moscas podiam saber.... Cada irmã levava o seu rapaz, o seu menino: eram as nossas madrinhas. A do baptismo era para esquecer... Diziam-nos que era uma barbaridade deitar água gelada da pia baptismal na cabeça dos bebés... Eram contrárias a essas práticas cristãs.... E também não se casavam nem iam à missa...

Oh, como eram tão alegres e folionas e como nós nos ríamos às gargalhadas das suas galhofas e traquinices, nos divertíamos tanto!...Sobretudo, quando nos beijavam o rabo (claro, de calças vestidas) e, uma das irmãs, a mais velha, depois de dançarmos e de darmos umas quantas voltas à volta do galo, de patas atadas e pousado junto ao defumador das aromáticas essências (alecrim rosmaninho, entre outras ervas ) ali bem no centro do terreiro, sim, se enchia de genica (como a mestra, a grande chefona, a madre-superiora) e se aprestava para torcer e degolar de um só golpe a pobre ave, cujo sangue era vertido imediatamente para uma tigela e dado a beber a todos os participantes. A princípio, não lhe achei piada, mas depois, como se ouviam sempre algumas chalaças, até me pareceu natural e lhe encontrei alguma graça....


 Mais tarde vim a saber por um dos meus companheiros, que, quando alguma delas andava com a pingadeira, colocava a malga debaixo da mocha para lá verter algumas gotas da escorrência do cio .Pior era a matança do porco na aldeia...Era infernal quando o tiravam do cortelho e o amarravam de patas e focinho sobre o cepo ou em cima do comprido banco de madeira. Depois vinha a faca!... Até as galinhas, que andavam à vontade, se espantavam!...

Recebi educação católica, foram esses os meus primeiros passos. E até andei dois meses no seminário, em Mogofores, até que fui expulso, devido a uma bebedeira de medronhos e quando, em confissão, revelei os rituais que praticara em criança. Admiro Cristo como Homem mas não o imagino um Deus Absoluto. Ou um ente Superior  Enviado à Terra. Filhos de Universo e de um Deus Maior somos todos nós. São os oceanos, os continentes, todos os seus vivos e corpos aparentemente inertes. É, no fim de contas, aquilo a que, no meu modesto ponto de vista, resumo como sendo a Inteligência Universal.


Gosto da sua imagem, natural e humana, vestido com as suas lindas túnicas e até de imitá-lo em alguns dos seus gestos quando envergo roupagens mais ou menos semelhantes; porém, desagrada-me e deprime-me vê-lo crucificado e coroado de espinhos, como um penoso castigo para toda a vida. Porém, desde que, ainda rapaz, me iniciei no culto aos deuses mais antigos da humanidade e das suas simbologias - o Sol, a Lua, os Astros, o Mar e as Pedras - sim, no fundo, nos símbolos que mais identificam o homem

Outras vezes, no entanto, nem sei bem o que sou: vacilo até à descrença e ao agnosticismo. Gosto de música sagra e de coros religiosos, seja qual for a religião. Respeito, porém, todo os credos e cultos - e tenho, em todos, bons amigos - o que não significa que cerceei a minha liberdade de expressão.

Uma vez o meu pai (que madrugou mais cedo para ir vender uns machos e umas vacas a uma feira) , apanhou-me à entrada de casa... Foi numa noite gélida de Inverno. Era quando mais saímos, visto as noites serem mais longas... Perguntou-me donde é que eu vinha àquelas horas... Eu disse que tinha andado a jogar o tiroliro com os outros rapazes no adro... Ele achou que era muito tarde e deu-me uma valente sova com a cilha da albarda.. Sim, foram tempos difíceis mas trazem-me saudades quando ali vou....

.Não há passeio mais agradável e espiritual que descer e subir aquela calçada romana pela calada da noite e respirar os alvores e os perfumes de uma fresca e orvalhada madrugada.Aliás, é um forte apelo a que não resisto, sinto essa intrínseca necessidade.

Está-me no sangue.... Em recuar aos joviais tempos do pé descalço pelos carreiros e caminhos das fragas... nos penhascos e quebradas do maciço planáltico, onde termina o granito e começa o xisto, noutra área diferente dos arredores da minha aldeia. E onde faço um misto de investigação, devaneio e peregrinação espiritual mas também artística: registos nas pedras (esculpo) e fotografo (fotografo-me) na sítios onde me sinto melhor e mais identificado com o meu passado e as minhas ancestrais raízes.

A paisagem, neste local, a bem dizer não mudou e o chilrear dos pássaros na Primavera ainda é o mesmo, entre outros bichos e aves, que ali param todo o ano, por vezes, até me parece que ainda me soam aos ouvidos os coros e a voz de comando da nossa irmã mais velha... "Meninas" e meninos! Vamos lá à dança e à contradança!!... Três voltas para a frente e três voltas para trás!..

Tempos que não voltam e não se repetem!... Que saudades dessa liberdade e dessa misteriosa aventura nocturna.!... Voltar lá, é como se ainda fosse garoto e estivesse a reviver os anos da inocência: a ida à meia-noite e a hora do regresso a casa...Quando nos aproximávamos da Rua Roda D'Àlém, toca a dispersar!... cada um ia ao seu destino... Sempre, muito antes da alvorada e do nascer do sol. Para ninguém correr o risco de ser visto... E sem os pais saberem, pois então!... Nessa noite a porta ficava só encostada;havia o cuidado de não a deixar fechar à chave...

MILÉNIOS DE ATRASO, DE SOFRIMENTO E DE OBSCURANTISMO


"O Homem, no mundo, profana a criação. Profana os gestos, os sons, as cores, profana sobretudo as palavras que usa, levianamente, na tagarelice ou com perversidade, na mentira, no ódio ou na calúnia. Profana os números, os sinais matemáticos, ao utilizá-los em operações diabólicas de magia negra científica (fabrico de instrumentos de morte, de engenhos de destruição, de explosão). Profana o trabalho ao transformar o que fazia participar o homem, com entusiasmo e alegria, na actividade criadora de Deus, numa tarefa de escravo condenado aos gestos mecânicos do trabalho, à sujeição, na sinistra atmosfera das nossas fábricas. O homem profana os meios de expressão, a palavra, a literatura, a arte, a música, a pintura, as ciências, já não servem para dignificar o ser interior, para elevar o pensamento, para conservar a alma numa atmosfera idealizada de beleza e sabedoria, mas para procurar prazeres vulgares, para alimentar polémicas cheias de rancor"



... .............................. TAMBÉM EU FIZ A MINHA ESCOLHA

Sou daqueles que, cedo desiludidos dos templos e dos sacrários construídos por mãos profanas,  decidiriam voltar-se para a Mãe-Natureza, ao coração da Terra, à luz que emana da abóbada celeste no coração do dia ou no coração das trevas, contemplar a Lua, as estrelas, os mares que são o azul reflectido dos céus e a origem de todas as espécies , admirar os astros longínquos que irradiam claridade e nos iluminam, são a razão e o sentido da vida, e, por conseguinte, sou dos que aprenderam, desde criança, a ver na beleza dessas imagens a verdadeira presença divina, tornando-se nos seus legítimos apóstolos ou na genuína representação desses deuses, em si próprios.o.



O ambiente nas ruas enlameadas era verdadeiramente medieval!... Não havia electricidade nem água canalizada... A água era tirada dos poços e transportada em águadeiras ou à cabeça. Jantava-se ou fazia-se serão à luz da candeia de azeite ou de petróleo. O pão era amassado em casa e cozido nos fornos comunitários. A minha mãe, coitada, além de trabalhar no campo ajudar o meu pai na nossa lavoura, de ter que ir à ribeira lavar a roupa, ir buscar a água à fonte de cântaro à cabeça, ainda tinha que cozer as batatas e o caldo e ir amassar o pão... Matava-se a trabalhar: morreu nova... E o meu pai, na casa do sessenta. Também nunca lhe faltaram trabalhos... De uma família de seis, só somos dois; eu agora sou o filho mais velho. No Inverno a garotada andava de tamancos e no Verão descalços. Até aos sete anos, calça ou calção rachado atrás para facilmente se aliviar num canto menos movimentado ou por detrás de um paredeiro. A missa ao domingo era longa e muito chata... Aliás, pouco ou nada mudou... Eu ia... era mais uma. Mas esta, por enquanto, ainda a tomava mais a sério que a das irmãs feiticeiras. A do Solar dos Ventos Uivantes - dizem que é assombrada - e eu ia lá mais em jeito de aventura e para me divertir. Foi um começo, quase a brincar...

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Claro, quem é que não é marcado pela infância e adolescência?!... Quando ali vou, ao Vale Cheínho ou Vale Cheiroso, e como a paisagem não mudou e o chilrear dos pássaros na Primavera ainda é o mesmo, entre outros bichos e aves, que ali param todo o ano, por vezes, até me parece que ainda me soam aos ouvidos os coros e a voz de comando da nossa irmã mais velha... "Meninas" e meninos! Vamos lá à dança e à contradança!!... Três voltas para a frente e três voltas para trás!... Viva! Viva Barrabás!... ... Tempos que não voltam e não se repetem!... Que saudades dessa liberdade e dessa misteriosa aventura nocturna.!...


 Voltar lá, é como se ainda fosse garoto e estivesse a reviver os anos da inocência: a ida à meia-noite e a hora do regresso a casa...Quando nos aproximávamos da Rua Roda D'Àlém, toca a dispersar!... cada um ia ao seu destino... Sempre, muito antes da alvorada e do nascer do sol. Para ninguém correr o risco de ser visto... E sem os pais saberem, pois então!... Nessa noite a porta ficava só encostada;havia o cuidado de não a deixar fechar à chave...

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Ninguém dizia nada a ninguém... O culto era secretíssimo. Nem as moscas podiam saber.... Cada irmã levava o seu rapaz, o seu menino: eram as nossas madrinhas. A do baptismo era para esquecer... Diziam-nos que era uma barbaridade deitar água gelada da pia baptismal na cabeça dos bebés... Eram contrárias a essas práticas cristãs.... E também não se casavam nem iam à missa... O seu noivo era o Senhor Deus Luz Belo: o Anjo da Luz! Deus Cornudo.. E a melhor missa era ao ar livre, repetiam-nos... A nossa!... Era tudo muito em segredo... Quando bebíamos o sangue de galo era precisamente também para nos lembrarmos de que a morte do galo significava calar o pio e que a vida de cada um era a vida de todos... Tinha que haver muitas cautelas!... Não se faziam confissões a quem quer que fosse.... E muito menos aos padres... Pela quadra da Páscoa....




Que me perdoem os meus amigos católicos... Se os melindro com esse meu duplo carácter...  Mas é um fado que me ficou de criança e de que me sinto incapaz de abandonar...Até já o fiz no mar... Preciso desse isolamento e desse recolhimento, tal como o pão para a boca ...

É uma espécie de alimento purificador do meu corpo e da minha alma... Faço essas peregrinações desde há vários anos. E então, agora, à medida que os anos passam... Mais tentadora é a atracção por aqueles tão belos rituais da minha adolescência.... Em recuar aos joviais tempos do pé descalço pelos carreiros e caminhos das fragas... nos penhascos e quebradas do maciço planáltico, onde termina o granito e começa o xisto, noutra área diferente dos arredores da minha aldeia. E onde faço um misto de investigação, devaneio e peregrinação espiritual mas também artística: registos nas pedras (esculpo) e fotografo (fotografo-me) na sítios onde me sinto melhor e mais identificado com o meu passado e as minhas ancestrais raízes

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No antigo solar do Vale Cheínho ou Vale Cheiroso, também ainda por lá perpassa o espírito de algumas dessas vítimas. Pois a igreja nunca compreendeu, nem perdoou que, uma tal quinta, centenária, onde não faltava nada - desde o forno, ao lagar de vinho e de azeite, cabanal para gado, fonte e caminho romano -, não existisse uma capela. E a razão era simples: é porque, ali, quem vivia naquele tão frondoso e fértil vale ou canada, não queria saber do Cristo crucificado; festejava o espírito da Terra, a Mãe-Natureza e as suas divindades. Tal tradição - mesmo depois da quinta cair no esquecimento e em ruínas - persistiu até aos anos 60. Passou a ser um local de culto e de peregrinação por membros das várias irmandades existentes nas freguesias vizinhas.

O pequeno planeta terra, minúsculo na imensidade dos astros, perdidos nos espaços infinitos, prossegue o seu trajecto para o abismo. Os seus habitantes, os humanos, orgulhosos das suas descobertas, comportam-se como pequenos deuses e quebram as asas. Monstros aéreos violam o silêncio das noites e vão espalhar bombas incendiárias, torpedos mortíferos, sobre as cidades. As populações, despertadas pelo sinistro bramido dos alarmes, precipitam-se, alarmadas, para os abrigos, que são frequentemente covas provisórias, e os abutres metálicos de asas gigantescas tudo arrasam, deixando apenas ruínas e cadáveres. Monstros marítimos, violam o misterioso segredo dos oceanos, e esses tubarões metálicos, vampiros submarinos, engolem e devoram o fruto do trabalho dos homens, o pão dos homens. Tudo isso se cifra por hecatombes, fome, miséria e loucura propagadas. Que restará da humanidade, se o coração do homem só for animado por motivos de vingança e despique, e que esperança podemos ainda ter neste último?"

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"O Homem, no mundo, profana a criação.
Profana os gestos, os sons, as cores, profana sobretudo as palavras que usa, levianamente, na tagarelice ou com perversidade, na mentira, no ódio ou na calúnia. Profana os números, os sinais matemáticos, ao utilizá-los em operações diabólicas de magia negra científica (fabrico de instrumentos de morte, de engenhos de destruição, de explosão). Profana o trabalho ao transformar o que fazia participar o homem, com entusiasmo e alegria, na actividade criadora de Deus, numa tarefa de escravo condenado aos gestos mecânicos do trabalho, à sujeição, na sinistra atmosfera das nossas fábricas. O homem profana os meios de expressão, a palavra, a literatura, a arte, a música, a pintura, as ciências, já não servem para dignificar o ser interior, para elevar o pensamento, para conservar a alma numa atmosfera idealizada de beleza e sabedoria, mas para procurar prazeres vulgares, para alimentar polémicas cheias de rancor"


(..)"O homem profana o ritmo da vida… Nas nossas modernas cidades tudo se transformou num gesticular desordenado, perda de ritmo, velocidade histérica, trepidação louca, numa doida correia de “robosts”, em direcção à monotonia da sua existência grisalha, ou de mundanos, em direcção à inutilidade dos seus prazeres enganadores. O homem moderno profana o silêncio: já não pode mais estar só, face a si e a Deus, e entontece, numa atmosfera barulhenta de arraial. O homem perdeu o sentido do mistério, da grandiosidade, da importância do seu papel humano na criação. Perdeu o sentido do sagrado." Ernest Gengenbach



 

Brasil - Eleições 2022 Lula da Silva vence Bolsonaro e é eleito o 39º presidente da República

 Jorge Trabulo Marques - Jornalista 

Lula da Silva será o próximo presidente do Brasil. A margem foi pequena mas o candidato do PT venceu Jair Bolsonaro. 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 77 anos, que já havia governado o país por dois mandatos entre 2003 e 2010,  foi eleito neste domingo, dia 30, o 39ª presidente da República do Brasil.

Os primeiros dados, relativos aos circulos eleitorais no estrangeiro, davam conta da vitória de Lula em Portugal, França, Alemanha, Finlândia, Eslováquia, Austrália, Nova Zelândia, Coreia do Sul, Singapura, China, Quénia e Egito, entre outras cidades. Bolsonaro sai vencedor na Grécia, Japão e Taiwan.

Lula retorna à presidência após 10 anos da sua primeira candidatura. Em 2002, foi eleito o 35º presidente da República, sendo reeleito em 2006. Após 8 anos na presidência, em 2010, ele apoiou a ex-presidente Dilma Rouseff, (PT), que sofreu um  impeachment em 2016. Em seguida, quem assumiu o cargo foi o vice Michel Temer (PMDB), no entanto Lula considerou a ação como um golpe.

No seu discurso, após reconhecida oficialmente a sua vitória, eis algumas das suas afirmações:  

“O Brasil está pronto para retomar o seu protagonismo na luta contra a crise climática, protegendo todos os nossos biomas, sobretudo a floresta amazónica. No nosso governo, fomos capazes de reduzir em 80% o desmatamento. Agora, vamos lutar pelo desmatamento zero da Amazónia.”

  • “O nosso compromisso mais urgente é acabar com a fome outra vez”
  • “Não podemos aceitar como normal que milhões de homens, mulheres e crianças neste país não tenham o que comer ou que consumam menos calorias e proteínas do que o necessário."
  • “Se somos capazes de exportar para o mundo inteiro, temos o dever de garantir que todo o brasileiro possa tomar café da manhã [pequeno-almoço], almoçar e jantar todos os dias. Este será o compromisso número do meu Governo."

Diálogo e o presidente "para 215 milhões de brasileiros"

  • "Vou governar para 215 milhões de brasileiros, e não apenas para aqueles que votaram em mim. Não existem dois Brasis. Somo um único país, um único povo, uma grande nação."
  • "É preciso retomar o diálogo com o Legislativo e Judiciário. Sem tentativas de exorbitar, intervir, controlar, cooptar, mas buscando reconstruir a convivência harmoniosa e republicana entre os três poderes."
  • "Vamos retomar o diálogo com os governadores e os prefeitos, para definirmos juntos as obras prioritárias para cada população."
  • "Acredito que os principais problemas do Brasil, do mundo, do ser humano, possam ser resolvidos com diálogo, e não com força bruta.

domingo, 30 de outubro de 2022

Benfica 5- GD Chaves 0 – Vence a equipa flaviense em tarde de abraços e de euforia no Estádio Luz

Jorge Trabulo Marques - Foto-jornalismo

As águias de Roger Schmidt dão chapa 5 à formação flaviense, fazem vibrar o Estádio da Luz e isolam-se ainda mais na liderança do campeonato - Os encarnados, venceram, neste último sábado o Desportivo de Chaves, com goleada por 5-0, em partida a contar para a jornada 11 da I Liga. Com este resultado, têm agora oito pontos de vantagem sobre o FC Porto, distanciando-se, assim, confortavelmente, na liderança do campeonato.



No final do jogo, vislumbravam-se por todas as bancadas, além da enorme euforia que vibravam dos milhares de adeptos e simpatizantes,  o brilho dos telemóveis  a reportarem a  exuberante vitória para as redes sociais 

Os encarnados, venceram, este sábado o Desportivo de Chaves, com goleada por 5-0, em partida a contar para a jornada 11 da I Liga. Com este resultado, têm agora oito pontos de vantagem sobre o FC Porto, distanciando-se, assim, confortavelmente, na liderança do campeonato. Abriram o marcador, aos 2 minutos,  com um valente golaço de David Neres que não deu hipóteses de defesa a Paulo Vítor. Golaço na Luz. Seguiram-se depois os golos de Grimaldo (10), Gonçalo Ramos (37), Musa (81) e Rafa (90+3).

Depois de o FC Porto ter escorregado nos Açores, os 'encarnados', ainda invictos esta temporada, entraram determinados em evitar surpresas.. Após terem assegurado a passagem aos oitavos de final da Liga dos Campeões, com um triunfo na Luz sobre a Juventus (4-3), continuaram em ritmo embalado, eficiente e bem acelerado. Não se deixaram intimidar com os louros da equipa visitante, que esta época foi a Alvalade surpreender o Sporting com uma vitória por 2-0. E muito menos deram mostras de darem o flanco por via do desgaste acumulado dos jogos, tanto a nível interno como externo

 

 

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Benfica 4 – Juventus 3 - Noite de Glória no palco do Estádio da Luz

JORGE TRABULO MARQUES - FOTO-JORNALISMO  - Com Vídeo da reportagem

As águias vencem a equipa italiana, em   jogo da quinta jornada do Grupo G  e qualificam-se para os oitavos de final da Liga dos Campeões de futebol.

Num Estádio da Luz cheio, com cerca de 60 mil  pessoas, o Benfica voltou a viver uma grande noite de Champions League, impondo  à Juventus sua quarta derrota em cinco jogos, com uma vitória por 4-3, nesta terça-feira. Mas,  poderá avançar como primeiro do grupo, se vencer a Maccabi Haifa, no jogo da última jornada.


Uma primeira parte alucinante, com um  Benfica dominador e no seu melhor estilo, logrando golos de António Silva, aos 17 minutos, João Mário, aos 28’ de penalti por mão de Juan Cuadrado e Rafa Silva aos 35’ enquanto a Juventus o único feito que conseguiu  foi produzir um empate momentâneo de Moise Kean. Rafa Silva faria ainda a dobradinha aos 50’ da segunda parte

Os 'encarnados', que continuam invictos esta temporada no Grupo H, passam a somar 11 pontos, garantindo a classificação antecipada para as oitavas de final, os mesmos do PSG Paris Saint-Germain, que lidera o grupo por saldo de golos, com a Juventus e  a Maccabi Haifa, ambas com 3 pontos e já eliminadas, que agora vão disputar, entre uma delas, um lugr na Liga da Europa.

A equipa liderada por  Roger Schmidt foi soberana e brilhante no seu caudal ofensivo: no final da 1ª parte vencia por 3-1 e podia ter conseguido uma vitória mais folgada,  além do 2º  golo de Rafa Silva mas perdeu grandes oportunidade e vacilou quando  a Juventus melhorou a sua reação nos últimos 20 minutos finais e logrou marcar mais dois golos por Milik (77) e McKennie (79)


 

terça-feira, 25 de outubro de 2022

PROF. ADRIANO MOREIRA – Faleceu - A mensagem de Natal gravada há mais de 40 anos, sobre o drama dos refugiados portugueses de Moçambique, prisioneiros da RENAMO e depois entregues à sua sorte à FRELIMO, apelando ao Governo português para lhe prestar o necessário apoio.


Jorge Trabulo Marques  - Jornalista 







Partiu para a eternidade, neste último domingo, em Lisboa, após 100 anos de vida, que completara em 6 de Setembro, o distinto académico e humanista transmontano, natural de Grijó, Macedo de Cavaleiros, distrito de Bragança.


Destacou-se pelo seu percurso académico e político dividido entre dois regimes, tendo sido ministro do Ultramar no Estado Novo de 1961 a 1963 e, após a revolução do 25 de Abril, de 1986 a 1988, presidente do Centro Democrático e Social (CDS) e, posteriormente, após se demitir, como deputado deste mesmo partido

Advogado, professor universitário de ciência política e relações internacionais –Autor de dezenas de obras publicadas, fortemente ligado ao atual Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), que dirigiu e ajudou a reformar antes do 25 de Abril, foi também deputado entre 1980 e 1995 e vice-presidente da Assembleia da República no seu último mandato parlamentar.

MENSAGEM NATALICIA QUE NOS CONFIOU NA SEDE DO SEU PARTIDO


Aproximava-se a quadra natalícia, pelo que, entre outras mensagens, que procurámos recolher de várias personalidades da vida pública nacional para serem transmitidas na RDP-Rádio Comercial, alusivas ao período mais expressivo das festividades religiosas do ano, decidimos também deslocarmo-nos à sede do CDS – Centro Democrático Social


Deixamos o tema à sua livre escolha – Que registámos com as palavras que a seguir passamos a reproduzir, cujo registo sonoro fomos recuperar do vasto arquivo que possuímos.
E do que nos iria falar - sendo, então, Adriano Moreira, um politico conhecedor e observador atento, quer da realidade da longa e penosa guerra colonial, a que o regime de Salazar fora incapaz de encontrar uma solução, quer dos violentos conflitos, que, uma descolonização colonial precipitada, iria desencadear entre as forças oposicionistas internas, a Renamo e a Frelimo, a que acresceria ainda a instabilidade causada com a sabotagem dos países vizinhos dominados por elites brancas como a Rodésia e a África do Sul do regime de apartheid, era, naturalmente, do enorme drama que estavam a viver os milhares de portugueses, que desejavam regressar às suas terras de origem e que estavam â mercê de um destino sofrido e incerto

Angola transformou-se em poucos meses numa armadilha fatal para milhares de pessoas. Presos naquela terra que tinham considerado um paraíso, vêem a guerra instalar-se nas zonas de onde as Forças Armadas Portuguesas retiram


.Estima-se que um milhão de moçambicanos morreram durante a guerra civil, cerca de outros 1,7 milhão se refugiaram em países vizinhos e vários outros milhões tiveram que se deslocar internamente por conta do conflito. O regime da Frelimo também deu abrigo e apoio aos movimentos rebeldes africanos Congresso Nacional Africano da África do Sul e União Nacional Africana do Zimbábue, enquanto os governos da Rodésia e da África do Sul, na época sob o regime do apartheid, subsidiados por Washington, apoiavam as forças da Renamo”.

Eis, pois, as palavras de sensibilidade e apreensão, que hoje aqui recordamos, em memória de um notável politico e académico, protagonista da história contemporânea portuguesa, tanto no chamado Estado Novo, onde depois de perseguido e preso, acabou por ser o ministro do Ultramar que revogou o Estatuto do Indigenato. E em democracia, presidente do CDS e vice-presidente da Assembleia da República.

PALAVRAS QUE GOSTARIA QUE FOSSEM DE ESPERANÇA, MAS ERAM DE MÁGOA

"Infelizmente, esta mensagem que devia ser de esperança e de alegria em vista da proximidade do Natal, é para nós ensombrada pelos acontecimentos que dizem respeito aos portugueses que eram prisioneiros da Renamo, e que, segundo as últimas notícias publicadas, foram entregues à Frelimo e sem qualquer intervenção eficaz do Governo Português e com a preocupação pública manifestada pela Cruz Vermelha Internacional.

Isto obriga-nos a pensar na situação dessas pessoas e também na situação que se agrava dos portugueses que habitam a África do Sul, cujo interesse deve ser considerado primordial pelo Governo Português, em vez de considerar importante aquilo que diz respeito ao regime interno desse país, porque nenhum português precisa de demonstrar que é contrário à descriminação racial, porque esse é um problema essencial da cultura portuguesa.

Isso também não pode deixar de nos lembrar a situação dos retornados dos territórios ultramarinos, que continuam numa situação de injustiça a qual não lhes permitirá, uma vez mais, passar o Natal tranquilo como merecem.

Valerá a pena lembrar que o Congresso Europeu dos Deslocados, já conseguiu o pagamento da indemnização, praticamente total dos deslocados de outros territórios, e que, designadamente, segundo as informações que temos, o Governo italiano conseguiu endemizar todos os italianos que se encontravam em Moçambique.
A nossa mensagem, neste dia, como disse, é amargurada pela preocupação a respeito da situação desses portugueses, que todos acompanhamos nos seus sofrimentos, e, aquilo que desejamos, é que a intervenção do Governo Português, no cumprimento estrito do dever Constitucional, não se faça demorar e que seja eficaz



sábado, 15 de outubro de 2022

Agustina Bessa-Luís – Nasceu há 100 anos – "Acredito num espírito verdadeiramente misericordioso” - Eu acho que as pessoas, verdadeiramente saudáveis!... Acabam!.. Não morrem! -Disse-me na entrevista que me concedeu nos anos 80 - E as palavras de elogio e de admiração da atriz Beatriz Costa

 Jorge Trabulo Marques - Jornalista e investigador - Neste post - Entrevistas em vídeo à escritora Agustina Bessa-Luís e ao elogio que a atriz Beatriz Costa, fez à sua grande amiga

Vídeo sonorizado, na parte final, com um fado cantado pela escritora e poeta Agripina Costa Marques, esposa do falecido Poeta António Ramos Rosa

 Maria Agustina Ferreira Teixeira Bessa-Luís nasceu a 15 de outubro de 1922 em Vila Meã, no município de Amarante. Faleceu no dia 3 de Junho, em sua casa, na cidade do Porto – A importância da sua obra, que se estendeu por vários géneros literários,  tornou-a num dos nomes mais prestigiados e incontornáveis da língua portuguesa 

O Presidente da República, Marcelo  Rebelo de Sousa presidiu neste último sábado,  em Amarante, ao início das cerimónias do centenário do nascimento de Agustina Bessa-Luís, nascida na freguesia  de Vila Meâ, no dia 15 de Outubro de 1922 – Faleceu no Porto, em 3 de Junho de 2019

Para o Presidente da República, Agustina era "uma mulher política, no sentido de viver o que é ser-se político, na dimensão mais profunda do termo”

ACREDITA NA VIDA PARA ALÉM DA MORTE ? - Esta a pergunta que lhe coloquei nos anos 80 numa breve entrevista para a RDP-Rádio Comercial.
“Acredito num poder!... Num espírito verdadeiramente misericordioso” …     “Acha que o tal espírito não fica por aí a vaguear?” 
“Eu gostava de ficar! Tenho uma costela inglesa!... Eu gostava de ficar com o espírito a vaguear e a meter-se com as pessoas! (risos de ambos)  Palavras de um  dos maiores nomes da Literatura portuguesa, que ontem  foi chamada por Deus ou respondendo ao irrecusável apelo da chamada inteligência universal para vaguear ou evoluir por outras paragens terrestres ou cósmicas  

Atriz Beatriz-Costa – Elogio a  Agustina Bessa-Luís

Recordando as palavras da famosa atriz Beatriz Costa de elogio e de homenagem a Agustina Bessa Luís,  à sua grande amiga, leitora e admiradora, que ela considerava como sendo a maior escritora da língua portuguesa

“Tenho por ela uma profunda admiração, uma grande amizade e admiração! Não só pela grande escritora que ela é, pela sua simplicidade encantadora, que é uma das mulheres mais válidas deste país!

Estas algumas das suas expressões, num encontro casual com a autora do Livro “PAPAS NA LÍNGUA!, já há uns bons anos – Ocorreu-me agora ir recuperá-las ao meu arquivo das numerosas entrevistas e reportagens que fiz para a RDP-Rádio Comercial, numa altura em que se comemora o centenário do nascimento da escritora Agustina Bessa Luís.

Beatriz Costa, pseudónimo de Beatriz da Conceição, nasceu em Milharado, perto de Mafra, a 14 de dezembro de 1907, faleceu em Lisboa, em 15 de abril de 1996 – Reconhecida como uma das  atrizes de revista e cinema portuguesa, de grande sucesso,  além  de talentosa cantora e escritora, tendo participado em vários filmes no chamado período da era de ouro do Cinema Português, que a consagraram como ícone da cultura popular lusa.


Maria Agustina Ferreira Teixeira Bessa nasceu a 15 de outubro de 1922 em Vila Meã, no município de Amarante. Faleceu,  no dia 3 de Junho, em sua casa, na cidade do Porto – A importância da sua obra, que se estendeu por vários géneros literários,  tornou-a num dos nomes mais prestigiados e incontornáveis da língua portuguesa .

“Acredito num poder!... Num espírito verdadeiramente misericordioso” …     “Acha que o tal espírito não fica por aí a vaguear?” 
“Eu gostava de ficar! Tenho uma costela inglesa!... Eu gostava de ficar com o espírito a vaguear e a meter-se com as pessoas! (risos de ambos)  Palavras de um  dos maiores nomes da Literatura portuguesa, que ontem  foi chamada por Deus ou respondendo ao irrecusável apelo da chamada inteligência universal para vaguear ou evoluir por outras paragens terrestres ou cósmicas  

Maria Agustina Ferreira Teixeira Bessa nasceu a 15 de outubro de 1922 em Vila Meã, no município de Amarante. Faleceu, ontem, dia 3 de Junho, em sua casa, na cidade do Porto – A importância da sua obra, que se estendeu por vários géneros literários,  tornou-a num dos nomes mais prestigiados e incontornáveis da língua portuguesa . Em sua memória foi decretado luto Nacional -  O velório da autora vai decorrer na manhã de hoje, na Sé Catedral do Porto, a partir das 10h30De acordo com a informação disponibilizada pelo Círculo Literário Agustina Bessa-Luís, será também aí que, pelas 16h, serão celebradas as Exéquias Solenes, presididas por D. Manuel Linda, Bispo do Porto. Agustina será depois sepultada no cemitério do Peso da Régua, apenas na presença da família.

NÃO NASCEU NO PORTO MAS FOI  NESTA CIDADE  QUE VIVEU A MAIOR PARTE DO TEMPO DA SUA VIDA

JTM – Agustina Bessa Luís: a morte não a preocupa?... É uma questão sobre a qual não se interroga?
ABL  - Não! Não me interrogo nem me preocupa!
Eu acho que as pessoas, verdadeiramente saudáveis!... Acabam!  Não morrem!” – Palavras  extraídas de uma interessante entrevista que a escritora me concedeu, em meados dos anos 80, no hall do Hotel S. Jorge, onde costumava hospedar-se quando vinha a Lisboa e  que agora fui recolher do meu vasto arquivo de repórter da extinta RDP-Rádio Comercial.

JTM- Acredita na vida para além da morte?
ABL – É uma pergunta fácil de fazer e difícil de responder: porque, como é que eu vou dizer?... Que há novas formas de vida! E que nós somos uma espécie de  fotocópias! Que se vão multiplicando pela eternidade fora?!
É um bocado ridículo responder a  uma coisas dessas: recuso-me. Não sei!
Se tivéssemos palavras  para responder a isso?!.. É possível! Mas eu não vou pôr palavras para responder a isso
JTM – Agustina Bessa Luís: a morte não a preocupa?... É uma questão sobre a qual não se interroga?

ABL  - Não! Não me interrogo nem me preocupa!
Eu acho que as pessoas, verdadeiramente saudáveis!... Acabam!  Não morrem!
JTM – Conceitos de Inferno, Paraíso e Purgatório: que são para si?
ABL  - Não tenho esses conceitos nem preconceitos. (….) Acredito num poder!... Num espírito verdadeiramente misericordioso…  Que nos   faça compreender… Como quê?!
JTM – Como uma ficção?...
ABL – Não! Não é uma ficção!... Eu compreendo o que é literário mas não se pode transmitir!
JTM – O Inferno é este! Em que vivemos!
ABL – O fazer da vida num inferno, diz-se que são os outros! Mas não é: também não acho!...
Nós temos em nós essa dualidade do Inferno e do Paraíso!...
JTM – Depois de morrermos, acabou-se?... Acha que o tal espírito não fica por aí a vaguear?!...
ABL – Não!... Eu acho que… Eu gostava de ficar! Tenho uma costela inglesa!... Eu gostava de ficar a vaguear e a meter-se com as pessoas! (risos de ambos)
JTM – Mas não acredita que isso possa acontecer?!..
ABL – Seria bom demais! (rindo)
Por enquanto estou viva! (rindo) Porque não tenho a certeza do que possa fazer depois de morta!...

JTM – Há quem diga que é bom termos essa fé!...  Agustina não necessita dessa fé?! De admitir essa probabilidade?!
ABL – Não! Não necessito!... Não é para mim primordial!
JTM – Bom, esta última pergunta: fala-se no fim do mundo! Numa hecatombe!  Que venha pôr termo à humanidade!... O que é que acha?...
ABL – Acho que há muitas probabilidades! Mas… lembro-me de um filme e, de uma vez que o vi,  em que uma personagem dizia: há sempre uma terceira probabilidade, entre o possível e o impossível!... Há sempre uma terceira probabilidade!
JTM – Estaremos longe dela?
ABL – Justamente por que é uma terceira probabilidade não sabemos como ela é… Eu não sei… Ultrapassa-nos!... (…)
JTM – Não devemos, portanto, pensar muito nisso?
ABL – Não digo que não: cada um dispensa as suas atenções, conforme a sua natureza o orienta!..


BIOGRAFIA Agustina estava afastada da vida pública há vários anos por motivos de doença  - Mas grande parte da sua vida foi  passada a escrever. Dos romances aos escritos mais breves, Agustina domina a palavra com a mestria que caracteriza os génios da literatura. Escritora, ensaísta, articulista e jornalista, o seu estilo surpreende e provoca.


O cenário de infância é rural, no norte, ao correr do rio Douro. Agustina, nascida em Vila Meã em 1922, contém em si a força dessa terra, feita de instinto, sabedoria e de uma certa crueldade com que vai tecer os enredos da abundante bibliografia. Escreve sobre a condição da mulher, a natureza humana, o bem e o mal. O encontro com os livros e com as leituras acontece cedo, na biblioteca do avô materno. Começa a escrever a partir de estampas que recorta e, aos 12 anos, as suas histórias fazem dela a heroína da turma.
A escrita passa a ser uma obsessão. Agustina confessa que escreve  rapidamente e quase sem emendas. Publica o primeiro romance, “Mundo Fechado”, em 1948, com 26 anos de idade. Seis anos depois aparece “A Sibila”, romance que a consagra e que conquista presença nos currículos escolares. Algumas das suas histórias, como”Fanny Owen” ou a obra-prima “Vale Abraão”, foram adaptadas ao cinema por Manoel de Oliveira, o decano dos cineastas portugueses.
Prosadora de qualidades reconhecidas e amplamente premiadas, a vencedora do Prémio Camões em 2004 é considerada a herdeira de Camilo Castelo Branco. As histórias que faz são parecidas com a vida, desconexas e filosóficas. Observadora atenta da sociedade portuguesa, recorre a uma ironia sofisticada e impiedosa para criticar o mundo fechado da aristocracia nortenha.
Romances, contos, peças de teatro, biografias, ensaios. A obra é extensa, com mais de 40 títulos publicados. Agustina cultiva também outros palcos: foi mandatária da candidatura de Freitas do Amaral nas eleições presidenciais de 1986, diretora do jornal Primeiro de Janeiro e diretora do Teatro Nacional D. Maria II.  Em 2008,  a autora duriense sofreu um AVC e está impossibilitada de sair de casa. Longe dos livros que já não escreve, nem lê. http://ensina.rtp.pt/artigo/no-universo-de-agustina/