Jorge Trabulo
Marques - Jornalista, investigador e foto-jornalista
ANTÓNIO RAMOS ROSA
EM MEMÓRIA DE UM GRANDE POETA DA LÍNGUA PORTUGUESA - Faleceu há seis anos -
Deu-me a honra e o prazer de ser seu amigo e de me receber várias vezes
em sua casa- E até na residência onde se recolheu por razões de saúde - - 17 de
Novembro de 1924 – 23 de Setembro de 2013
Tinha 88 anos, e uma vasta obra na
poesia, ensaio e tradução. Nos últimos anos desenhou rostos de
mulheres. António Ramos Rosa, algarvio - O poeta e ensaísta António Ramos Rosa, de 88 anos,
morreu no dia 23 de Setembro, de 2013, cerca das 14h de hoje, no Hospital Egas
Moniz, em Lisboa, onde estava internado desde quinta-feira com uma pneumonia,
disse ao Expresso uma sobrinha do escritor.
https://expresso.pt/cultura/morreu-antonio-ramos-rosa=f831965
O teu fulgor
soa alto sobre o pulso do silêncio
És uma
palavra, uma única palavra
ardentíssima
no centro do espaço.
É por ti que
não cedo sobre as sombras
e cresço
para devolver a água do bosque
do teu nome
de fogo e de veludo.
Fora do íman
da névoa, em grandes blocos de ar,
estendes a
tua dança incandescente
e as tuas
veias vibram entreabrindo a noite.
Leve e musical
no teu barco redondo,
crias a
ordem livre das constelações
e, gracioso
veleiro, adormeces nas ondas
do teu peito
de estrelas cintilantes.
António
Ramos Rosa
INSITUÁVEL
LUGAR
Um oblíquo
solo
adormecido iluminado
Confiança na
lentidão para um desvio
e uma
aliança no intacto
Canais inextricáveis
em todos os
sentidos Nenhum
centro mas
estigmas eflúvios
sussurros
sombras de
animais furtivos
o bafo
germinal o negro
do interdito
corpo
Insituável
lugar cintilações
de um jogo
Como
iniciar a
espiral para além do magma?
Desenrola-se
sobre os resíduos sob o vento
uma espécie
de
animal ou
fábula ou deus pequeno
Sombras
resvalam o Amarelo
Contém o
negro As veias traçam
o contorno
de uma palavras de pedra
Nenhuma
semelhança a folhagem opaca
Um caminho
nocturno principia
para a
presença talvez de uma figura
Conivência
de sangue com o ar
quando nasce
uma folha um sol
quando o
deslumbramento da ferida
fogos minúsculos
no mármore ascendem
tenazes ténues
moléculas
ao longo de
uma língua de sombra e verde
um clamor se
eleva no limiar
de uma
profunda câmara
de frescura
a linguagem
confunde-se com a nascente
e clara boca
abre-se ao esquecimento
ANTÓNIO
RAMOS ROSA – IN DINÂMICA SUBTIL - 1984
Recebeu-me, muitas vezes, em sua casa, a título pessoal ou por razões profissionais para a Rádio Comercial - Proporcionou-me agradáveis e inesquecíveis momentos de convívio e até no café onde costumava ir. Tornámo-nos amigos e visita praticamente familiar. Datilografei-lhes e passei-lhes alguns dos seus poemas para o meu computador - ele não o usava, nem gostava dessa palavra mas havia outras que, ouvindo-as pronunciar, podiam ser o ponto de partida para um lindo poema - sim, confiou-me alguns manuscritos (com uma letra quase indecifrável) para os transcrever, numa altura em que, por razões de saúde, ele tinha alguma dificuldade em escrever ou em batê-los à máquina - Outros vertidos directamente para o papel, que ía escrevendo, à medida que brotando da sua mente
Escreveu expressamente meia dúzia de poemas para um livro com fotografias de nossa autoria, com textos de Lídia Jorge, Oliveira Marques e José Andrade - A editora, a quem entregamos o espólio não tendo cumprido com os prazos, foi-lhe retirado, pelo que o livro não chegou ainda a ser editado. Ofereceu-nos vários dos seus lindos desenhos, um dos quais com a nossa imagem. Dedicou-nos um lindo poema a uma das nossas fotografias, que registamos no Monte dos Tambores e outro também às aventuras que fizemos pelos Mares do Golfo da Guine, tal como também a sua grande amiga e companheira de todos os momentos, Agripina Costa Marques, a quem expressamos o nosso sincero pesar
Já o homenageámos, nalgumas das tradicionais celebrações nos Templos do Sol, o genial poeta - Simples, destituído de vaidade, como, aliás, são assim os grandes génios - Também ele o era na mais bela e original expressão poética - Sem dúvida, um dos maiores do nosso tempo. Por isso mesmo, a sua morte será apenas corporal, já que as suas palavras continuarão intemporais, como um dos mais belos Templos do Sol da Poesia Portuguesa
A Festa do
Silêncio
Escuto na
palavra a festa do silêncio. Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se.
As coisas vacilam tão próximas de si mesmas.
Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas.
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma.
Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia,
o ar prolonga. A brancura é o caminho.
Surpresa e não surpresa: a simples respiração.
Relações, variações, nada mais. Nada se cria.
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça.
Nada é inacessível no silêncio ou no poema.
É aqui a abóbada transparente, o vento principia.
No centro do dia há uma fonte de água clara.
Se digo árvore a árvore em mim respira.
Vivo na delícia nua da inocência aberta.
António Ramos Rosa, in "Volante Verde
TRANSCENDENTAL COINCIDÊNCIA - Prestámos-lhe singular homenagem nos tempos do Sol, na celebração do Equinócio do Outono de 22 de Setembro, véspera de sua morte ,
OUTRAS POSTAGENS DEDICADAS AO POETA NESTE SITE
23 DE SETEBRO – 2013 - MORREU O POETA DA FESTA DO SILÊNCIO QUE SE FEZ FELICIDADE DO AR E DA LUZ
23 DE SETEBRO – 2013 - MORREU O POETA DA FESTA DO SILÊNCIO QUE SE FEZ FELICIDADE DO AR E DA LUZ
22 de Setembro 2013 - Festa do Silêncio" e
Escrevo-te com o fogo e a água" de António Ramos Rosa - A singela
homenagem a um grande poeta http://www.vida-e-tempos.com/2013/09/equinocio-do-outono-2013-festejado-hoje.html
17 de 2013
Outubro - António Ramos Rosa - Hoje 89 anos, se fosse vivo - Mas "há
momentos em que a consideração da morte se impõe como a consumação prévia da
finitude" António Ramos Rosa - Hoje 89 anos, se fosse vivo -
21 DE
JANEIRO DE 2013 antónio ramos rosa - um caminho de palavras - templos do sol
..
22 de Outubro de 2011 – ANTÓNIO RAMOS ROSA "TU
PENSAS QUE OS CARDEAIS NÃO SE MASTURBAM, QUE NÃO VÊM AS TELENOVELAS Tu Pensas que os Cardeais - Poema de António Ramos Rosa
17 DE Outubro de 2010 -ANTÓNIO
RAMOS ROSA, POETA DO SOL E DA FACILIDADE DO AR, PARABÉNS ! 86 JÁ CANTAM! VENHA O
SÉCULO E MAIS VERSOS antónio ramos rosa, poeta do sol e da facilidade do ar,
parabéns
ANTÓNIO RAMOS ROSA - Destacado
poeta e crítico português nascido em Faro em 1924. Foi militante do MUD
(Movimento de União Democrática) e conheceu a prisão política. Trabalhou como
tradutor e professor, tendo sido um dos directores de revistas literárias como Árvore e Cassiopeia. O seu primeiro livro de poesia, O Grito Claro, foi publicado em 1958. A sua obra poética ultrapassa os cinquenta
títulos. É ainda autor de ensaios, entre os quais se salienta A Poesia Moderna e a
Interrogação do Real
(1979-1980). Em 1988 foi distinguido com o Prémio Pessoa. Faleceu em setembro
de 2013. https://www.wook.pt/autor/antonio-ramos-rosa/4108
António
Ramos Rosa estudou em Faro, não tendo acabado o ensino secundário por questões
de saúde[1]. Em 1958 publica no jornal «A Voz de Loulé» o poema "Os dias,
sem matéria". No mesmo ano sai o seu primeiro livro «O Grito Claro», n.º 1
da colecção de poesia «A Palavra», editada em Faro e dirigida pelo seu amigo e
também poeta Casimiro de Brito. Ainda nesse ano inicia a publicação da revista
«Cadernos do Meio-Dia», que em 1960 encerra a edição por ordem da polícia
política. https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Ramos_Rosa