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sexta-feira, 9 de agosto de 2019

DE REGRESSO À MINHA ALDEIA E À CASA DE NINHOS DE AVES E BICHOS - POVOADA DE MORCEGOS, ANDORINHAS E ESCORPIÕES - CENTENÁRIO EDIFÍCIO GRANÍTICO DE LOJA E UM PISO, ANTIGO LAR DOS MEUS AVÓS MATERNOS - HÁ MUITOS ANOS DESABITADO, SENÃO SAZENOALMENTE – ONDE ME SOAM ANTIGAS MEMÓRIAS E OS ECOS DOS SEUS DEFUNTOS


Estou de novo na minha aldeia e, à hora em que escrevo estas linhas, recostado numa velha e desconfortável cama de ferro no quarto onde dormiam os meus pais, ao mesmo tempo que ouço místicos coros gregorianos, como que para tornar ainda mais solenes estes noturnos e introspetivos momentos.






Deixei a capital, por volta das duas da tarde, 8 de Agosto, no carro  do meu conterrâneo e bom amigo, Daniel Ferreira. que, trabalhando em Lisboa,  também aqui quis vir passar uns dias com a família, ambos a pensarmos nos mais festivos da nossa terra, que são os alusivos à festa da padroeira de Nª Srª de Assunção, que decorre nos dias 14.15 e 16 deste mês.  

A viagem foi agradável, pudemos abastecer o carro de combustível, sem qualquer incómodo de fila, tendo também na nossa companhia o inseparável mascote do Daniel, um amoroso e minúsculo cãozinho, uma ternura de receber mimos e de as eles corresponder.


Chegámos à aldeia, por volta da cinco e meia, tendo-me ainda possibiitado a oportunidade de ir espairecer por aqueles meus tão adoráveis templos do sol, e, à noite,  no Café do Zé,  em participar  em animado  e amigável convivio,  agora ainda mais concorrido e caloroso, dada a presença de muitos emigrantes que aqui regressam por esta altura para a tardicional festa anual, matar saudades e viver momentos de solidária e amistosa convivencia.

Pena, no entanto, que a nossa amada e adorável aldeia,  esteja cada vez  mais desabitada, tal como muitas vilas e aldeias de um Portugal, já para não falar da própria capital, tomada no seu comércio e hotelaria – mas não só – também casinos, bancos, hospitais, companhias seguradoras e as mais lucrativas empresas públicas, em oportunistas mãos orientais e por corruptas elites africanas, por isso há que procurar, sempre que possível, viajar ao encontro das nossas mais genuínas raízes – É justamente o que tenciono fazer nos dias que conto passar,  pese o facto de aqui já não dispor de eira nem beira, senão a liberdade de poder caminhar  por onde me aprouver.



Com a madrugada, já avançada, perdoem-me, pois,  este meu singelo devaneio ou descabido desabafo, que hoje me ocorreu no primeiro dia que passo na minha aldeia, na centenária casa que era dos meus avós maternos, desde há vários anos, desabitada, mas que nem sequer já é minha, com o sótão,  a que chamam de "loija", com as paredes infestadas de bolsas de escorpiões, que mal acendo a luz se escapam lestos para os buracos, povoada de revoadas de morcegos e de andorinhas, que fazem os seus ninhos na Primavera debaixo do soalho do piso de cima,      contudo, mesmo assim, neste estado de abandono em que se encontra, sinto-me bem com esta pacifica convivência, pois sinto-a e ouço-a repleta de muitas memórias.  E para mim, este é o aspeto mais importante.  

O sino do relógio da torre da igreja, acabou há pouco de dar as quatro badaladas da madrugada mas é justamente a estas tardias horas que mais me sinto  propenso a viajar no passado, como que em demanda de algumas das muitas memórias que aqui guardo da minha adolescência, nesta antiga casa dos meus avós maternos, que tocou por herança aos meus pais, e, por morte destes, ao meu irmão mais velho e a mim.


Como, o meu irmão José,  tinha outras possibilidades económicas, que eu não dispunha, comprou então uma casa ao lado, que estava desabitada para juntar as duas e fazer aqui uma casa grande, pelo que acabei por lhe vender a minha sorte com a promessa de  também a habitar

Ele faleceu, já há uns anos, e todo esse sonho se esboroou: a outra casa, ao lado, já foi vendida e casa de família,  não teve qualquer reparação, depois da morte de meu pai, em 1977,  senão uns arranjos no telhado para evitar a infiltração das chuvas e, por isso, a sua habitabilidade não é muito confortável, sobretudo no Inverno – Mas, à exceção dos meses mais frios, acaba até por ser aceitável, tanto mais que o que contam são sobretudo as recordações  a que me faz recoar




Dito isto, talvez valha a pena, perguntar-lhe: que tal pernoitar  num antigo e modesto quarto de uma velha casa de cantaria que não é habitualmente habitada, senão sazonalmente, com parte dos vidros da única janela, já partidos, sim, situado em remota aldeia do chamado Portugal profundo ou fazer desse  humilde velhinho e desabitado espaço, também um local de escrita e de recolhimento, tal é o meu caso, após deixar a cidade  de Lisboa para aqui vir passar uns dias de memória e de espairecimento no chão que me viu nascer e, depois,  veja isto:  de um momento para outro e, às tantas da alta noite silenciosa, senão quebrada pelo toque das baladas do relógio da torre da igreja, lhe entrar pela porta adentro, vindo de qualquer recôndito da mesma casa, um  espavorido morcego, que depois de dar umas quantas voltas e mais voltas entre as quatro paredes,  um destes esquisitos mamíferos, geralmente associado a fenómenos macabros ou casas assombradas,  acabar por se dependurar no teto e de cabeça para baixo, pois assim é o seu hábito, com aqueles olhitos bem fitos e de orelhas tipo porquitos, quase salientes das órbitras, fitando-o intensamente e sem pestanejar, partilhando amavelmente consigo a noite


Curiosamente, esta noite, até nem foi um morcego mas uma das andorinhas, talvez um dos filhotes que ali estava a pernoitar dos vários ninhos que, por altura da Primavera, aqui fazem as  tão adoráveis avezinhas migradoras, no seu estilo de eternas viúvas alegres, que, talvez atraída pela luz, por aqui rodopiou quer na sala quer no meu quarto e outros espaços da casa iluminados.  




SÊ FIRME COM A TUA VERDADE E SEGUE COM ELA O TEU CAMINHO - Mesmo que os outros a recusem, a reneguem ou não a compreendam - Compreenderás, também, que não estás sozinho contigo e que há lugares que, conquanto se situem na Terra, não são deste Mundo - Transparecem um tal impacto, uma qualquer áurea ou força energética, sobre os quais não existe explicação. - É o caso do Solar do Vale Cheínho, também conhecido por Solar dos Ventos Uivantes do Vale Cheiroso na aldeia onde sou nado e criado e onde agora me encontro.

Corre até a superstição de que, às tantas da noite, aparece por lá o homem do garruço vermelho, mas sendo verdade que era lá onde, antigamente, um grupo de mulheres que adoravam a estrela da manhã, Vénus, apelidadas de feiticeiras, se encontravam no seus sabats.




De recordar – como já disse  neste site -  que gosto de casas que infundam algum mistério - Tal também é o caso antigo solar do Vale Cheinho, situada numa do canada, entre a minha aldeia e a povoação de Quintãs: gosto do lugar, e, quando mais escura estiver a noite, no meu ponto de vista, mais apelativa se torna, mais mistério infunde – E quem é que não sente o apelo das coisas ou dos lugares misteriosos?  Sim, conheço as ruínas do Vale Cheinho, desde a minha adolescência. E, na minha aldeia, também toda a gente conhece as casas velhas de uma antiga quinta, que tinha tudo, desde lagares de azeite e de vinho, fornos, cabanais para o gado, só não tinha capela. Mas também só por lá passam, no caminho  ao lado,  se for durante o dia. Depois do pôr do sol, nem sequer olham para dentro do grande portal

Corre até a superstição de que, às tantas da noite, aparece por lá o homem do garruço vermelho, mas sendo verdade que era lá  onde, antigamente, um grupo de mulheres que adoravam a estrela da manhã, Vénus,  apelidadas de feiticeiras, se encontravam no seus sabats.

Seja como for, os jovens, sobretudo os filhos dos emigrantes, em gozo de férias, ávidos de novas aventuras e de levarem histórias para contar depois do regresso a França, já me apercebi que, não se importam de ir lá a qualquer hora – Salvo seja: de noite, só na minha companhia. E foi justamente o que sucedeu, há uns anos atrás – tendo alguns deles vestindo farpelas a perceito, numa espécie Halloween antecipado – Divertiram-se, tocando tambores, com alguns pequenos sustos, enfim,  mas  todos regressaram  comtenttissimos pelas variadíssimas emoções,  que ali puderam experimentar

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