A LABUTA NO CAMPO, ALÉM DE DURA E MUITO SACRIFICADA PARA QUEM TRABALHA AINDA POR CIMA COLHE MUITAS VIDAS - Referem estatísticas, que, entre 2013 e 2017, morreram em Portugal 358 pessoas em acidentes com tratores – Ele foi uma das vitimas, em 2011, aos 83 anos.Acidentes com tratores disparam em 2017 |…Expresso | Acidentes com tratores provocaram cinco mortos por mês
Ele
era um dos nossos: um dos genuínos amigos dos Templos do Sol e um
grande amigo da sua(nossa) aldeia, onde fora sempre uma pessoa muito
admirada e respeitada – Era o Sr. Professor. Toda a gente nutria por ele
uma natural simpatia. Tanto aqui , como no concelho, no Porto, onde
também viveu, em todo o lado, onde ele houvesse estabelecido um diálogo,
trocado até umas breves palavras, Fernando Baltazar, deixava sempre um
sorriso, um gesto de cordialidade e um ar de simpatia.
O seu olhar sincero, a sua expressão, sorridente e sempre franca, a sua
simplicidade e a maneira como respeitava o próximo, infundia uma
natural bondade, ternura e aproximação.
Espírito generoso,
comunicativo, afável: com a família, os amigos, com toda a gente.
Porque, além de muito culto, era um espírito sensível, aberto,
expansivo, dedicado e empenhado. E também um grande apaixonado com o
chão que o viu nascer – De resto, bem patente nas inúmeras
fotografias que retratam as paisagens, o património construído,
religioso, histórico, paisagístico e humano da nossa aldeia – Legou aos
seus (e, no fundo, a todos nós) o mais completo arquivo fotográfico,
daqueles tempos, em que, se ia à fonte de aguadeiras no mancho ou de
cântaro à cabeça, as ruas eram ainda enlameadas, a iluminação nos lares
era a Luz da candeia de petróleo ou do azeite e havia uma igreja no
adro com um belíssimo e vestuto campanário,
e que já não existe - Agora, desse singelo templo, só fala a memória
dos mais velhos e as fotografias que nos legou, das quais já se fez uma
exposição. Tal como já não existem muitas pessoas queridas da aldeia, a
que agora o seu corpo se foi juntar.
Morrer
de morte natural, até se aceita. Mas quando esta é brutal, é um duplo
impacto: é um misto de inconformação, de profunda dor e tristeza
O MAIO DAS FLORES - COLHEU-O DE SURPRESA NA SUA PROPRIEDADE DA CARDINA - Na margem esquerda do Rio Côa - já lá vão sete anos - Mas a sua imagem e a sua memória continua ainda bem presente, em todos quantos o conheceram: quer na sua amada aldeia, em Chãs, quer no concelho de V.Nova de Foz Côa, do vizinho Concelho de Meda e, a bem dizer, por todos quantos o conheceram e com ele trocaram expressões de natural amizade e simpatia
UM FILHO QUERIDO E MUITO ADMIRADO DESTAS TERRAS
Era das tais pessoas, em que a generosidade se espelha directamente da alma aos olhos e se reflecte no rosto, presente-se e é transmitida, logo às primeiras falas, como um espelho voltado ao sol, numa saudável convivência de empatia e de entusiasmo.
O MAIO DAS FLORES - COLHEU-O DE SURPRESA NA SUA PROPRIEDADE DA CARDINA - Na margem esquerda do Rio Côa - já lá vão sete anos - Mas a sua imagem e a sua memória continua ainda bem presente, em todos quantos o conheceram: quer na sua amada aldeia, em Chãs, quer no concelho de V.Nova de Foz Côa, do vizinho Concelho de Meda e, a bem dizer, por todos quantos o conheceram e com ele trocaram expressões de natural amizade e simpatia
Morreu
na sua propriedade da Cardina, vitima de um trágico acidente, ao
conduzir o seu pequeno tractor. A encosta, situada na margem esquerda
do Côa, é muito declivosa, infelizmente, o trágico episódio aconteceu, tal como tem vitimado muitos
agricultores na região, onde o labor do campo, exige os maiores
esforços para se colherem os frutos da terra – É, de facto, uma
contrapartida, demasiado pesada, e, por vezes, com o preço da própria
vida: são frutos do melhor que há, neste Alto Douro Maravilhoso, mas à
custa de pesados riscos e esforço hercúleo
Era das tais pessoas, em que a generosidade se espelha directamente da alma aos olhos e se reflecte no rosto, presente-se e é transmitida, logo às primeiras falas, como um espelho voltado ao sol, numa saudável convivência de empatia e de entusiasmo.
Apesar
de já ter tido alguns problemas de saúde, nem por isso deixava de ir no
seu jipe até à Cardina, lá para os lados do Poço do Fumo, junto ao
Maçoeime, afluente do Côa. No Inverno ou no Verão, ao longo do ano,
deslocava-se ali a cuidar da sua vinha –Lugares isolados e montanhosos,
mas mágicos! Que exercem um irresistível fascínio. No rio já não
trabalham os antigos moinhos. Existem lá os casebres mas estão ao
abandono - Perdeu-se a tradição e os caminhos eram ruins.
Mas
era ali, entre duas íngremes vertentes e com o vale encaixado a servir
de pano de fundo, a correr pasmado de sul para norte, que tantas as
vezes terá sentido a alegria de se deliciar com as belas uvas, os
saborosos frutos que ali colhia, em que tanto se esmerava - mas também
onde sentia alguns desapontamentos, bem amargos, quando o granizo lhe
destruía as colheitas! e não lhe deixava sequer uma folha nas videiras ,
tal como pude um dia ali testemunhar - Mesmo assim, embora vendo que os
sacrifícios haviam sido inúteis, o professor seguia de cabeça em frente
e não desanimava! - Tinha lá construído uma pequena casa , onde chegava
a pernoitar - ou a oferecer essa hospitalidade aos amigos do clube de
caça - e, só pela beleza daqueles espaços, pelo vale maravilhoso, pela
cascata fantástica, onde o rio parece sufocar com as duas margens -
talvez única no Côa e em Portugal - , sim, só por essas dádivas da
natureza, eu creio que ele sentir-se-ia recompensado!
Pois
foi precisamente, ante esse cenário que lhe era tão próximo e familiar,
mas onde a terra se ergue, quase a pique, desde lá do fundo do rio, que
a vida o traiu!.. Ele que tanto amava aquelas encostas e a que tantos
sacrifícios se há entregado -e le, a mulher e o filho - pois bem: oh
destino ingrato e incompreensível, para que és tão injusto aos que fazem
da vida, não o ócio, o rame rame sem sentido, mas a permanente entrega,
o sacerdócio da sua verdadeira razão de ser e de dar sentido às suas
vidas!...
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