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terça-feira, 10 de julho de 2018

Chãs – Foz Côa - Prof. Fernando Baltazar - Recordando um filho querido dos Templos do sol


A LABUTA NO CAMPO, ALÉM DE DURA E MUITO SACRIFICADA PARA QUEM TRABALHA AINDA POR CIMA COLHE MUITAS VIDAS - Referem estatísticas, que,  entre 2013 e 2017, morreram em Portugal 358 pessoas em acidentes com tratores – Ele foi uma das vitimas, em 2011, aos 83 anos.Acidentes com tratores disparam em 2017 |Expresso | Acidentes com tratores provocaram cinco mortos por mês  
Ele era um dos nossos: um dos genuínos amigos dos Templos do Sol e um grande amigo da sua(nossa) aldeia, onde fora sempre uma pessoa muito admirada e respeitada – Era o Sr. Professor. Toda a gente nutria por ele uma natural simpatia. Tanto aqui , como no concelho, no Porto, onde também viveu, em todo o lado, onde ele houvesse estabelecido um diálogo, trocado até umas breves palavras, Fernando Baltazar, deixava sempre um sorriso, um gesto de cordialidade e um ar de simpatia.

O seu olhar sincero, a sua expressão, sorridente e sempre franca, a sua simplicidade e a maneira como respeitava o próximo, infundia uma natural bondade, ternura e aproximação.






Espírito generoso, comunicativo, afável: com a família, os amigos, com toda a gente. Porque, além de muito culto, era um espírito sensível, aberto, expansivo, dedicado e empenhado. E também um grande apaixonado com o chão que o viu nascer  – De resto, bem patente nas inúmeras fotografias que retratam as paisagens, o património construído, religioso, histórico, paisagístico e humano da nossa aldeia – Legou aos seus (e, no fundo, a todos nós) o mais completo arquivo fotográfico, daqueles tempos, em que, se ia à fonte de aguadeiras no mancho ou de cântaro à cabeça, as ruas eram ainda enlameadas, a iluminação nos lares era a Luz da candeia de petróleo ou do azeite e havia uma igreja no adro com um belíssimo e vestuto campanário, e que já não existe - Agora, desse singelo templo, só fala a memória dos mais velhos e as fotografias que nos legou, das quais já se fez uma exposição. Tal como já não existem muitas pessoas queridas da aldeia, a que agora o seu corpo se foi juntar.
Morrer de morte natural, até se aceita. Mas quando esta é brutal, é um duplo impacto: é um misto de inconformação, de profunda dor e tristeza

 O MAIO DAS FLORES - COLHEU-O DE SURPRESA NA SUA PROPRIEDADE DA CARDINA - Na margem esquerda do Rio Côa  - já lá vão sete anos - Mas a sua imagem e a sua memória continua ainda bem presente, em todos quantos o conheceram: quer na sua amada aldeia, em Chãs, quer no concelho de V.Nova de Foz Côa, do vizinho Concelho de  Meda e, a bem dizer, por todos quantos o conheceram e com ele trocaram expressões de natural amizade e simpatia

Morreu na sua propriedade da Cardina,  vitima de um trágico acidente, ao conduzir o seu pequeno tractor. A encosta, situada na margem esquerda do Côa, é muito declivosa,  infelizmente, o trágico episódio  aconteceu,  tal como tem vitimado muitos agricultores na região, onde o labor do campo, exige os maiores esforços para se colherem os frutos da terra – É, de facto, uma contrapartida, demasiado pesada, e, por vezes, com o preço da própria vida: são frutos do melhor que há, neste Alto Douro Maravilhoso, mas à custa de pesados riscos e esforço hercúleo

 UM FILHO QUERIDO E MUITO ADMIRADO DESTAS TERRAS

 Era das tais pessoas, em que a generosidade se espelha directamente da alma aos olhos e se reflecte no rosto, presente-se e é transmitida, logo às primeiras falas, como um espelho voltado ao sol, numa saudável convivência de empatia e de entusiasmo.

Apesar de já ter tido alguns problemas de saúde, nem por isso deixava de ir no seu jipe até à Cardina, lá para os lados do Poço do Fumo, junto ao Maçoeime, afluente do Côa. No Inverno ou no Verão, ao longo do ano, deslocava-se ali a cuidar da sua vinha –Lugares isolados e montanhosos, mas mágicos! Que exercem um irresistível fascínio. No rio já não trabalham os antigos moinhos. Existem lá os casebres mas estão ao abandono - Perdeu-se a tradição e os caminhos eram ruins.

Mas era ali, entre duas íngremes vertentes e com o vale encaixado a servir de pano de fundo, a correr pasmado de sul para norte, que tantas as vezes terá sentido a alegria de se deliciar com as belas uvas, os saborosos frutos que ali colhia, em que tanto se esmerava - mas também onde sentia alguns desapontamentos, bem amargos, quando o granizo lhe destruía as colheitas! e não lhe deixava sequer uma folha nas videiras , tal como pude um dia ali testemunhar - Mesmo assim, embora vendo que os sacrifícios haviam sido inúteis, o professor seguia de cabeça em frente e não desanimava! - Tinha lá construído uma pequena casa , onde chegava a pernoitar - ou a oferecer essa hospitalidade aos amigos do clube de caça - e, só pela beleza daqueles espaços, pelo vale maravilhoso, pela cascata fantástica, onde o rio parece sufocar com as duas margens - talvez única no Côa e em Portugal - , sim, só por essas dádivas da natureza, eu creio que ele sentir-se-ia recompensado!

Pois foi precisamente, ante esse cenário que lhe era tão próximo e familiar, mas onde a terra se ergue, quase a pique, desde lá do fundo do rio, que a vida o traiu!.. Ele que tanto amava aquelas encostas e a que tantos sacrifícios se há entregado -e le, a mulher e o filho - pois bem: oh destino ingrato e incompreensível, para que és tão injusto aos que fazem da vida, não o ócio, o rame rame sem sentido, mas a permanente entrega, o sacerdócio da sua verdadeira razão de ser e de dar sentido às suas vidas!...
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