Jorge Trabulo Marques - Jornalista e filho desta terra
Algumas das imagens, que aqui lhe ofereço,
já são como que de um outro tempo: eram habituais, nesta altura do ano, quando eu era
garoto e a criançada, tinha de levar a escalfeta para a escola, que era uma braseira de lata, mais
pequena e coberta com um estrado de madeira. Agora, com o desfazer das antigas tradições, exigem-se
outras condições de aquecimento: as brasas têm que ter a cor viva do fogo; já
não se aceitam, como antigamente, que esmoreçam, se apaguem e se desfaçam em
cinza junto das pernas e dos pés friorentos das braseiras: prefere-se a lenha
arder no fogareiro ou no centro da lareira.
Pelas
terras altas do interior de Portugal, há nevoeiros e aragem de arrepiar; o Inverno vai branquinho e friorento, com espessos
mantos de geadas, quedas de neve a desprender-se das névoas em voláteis flocos ou, então, o sempre admirável sincelo já
pendurado nos ramos dos arbustos e das árvores a lembrar lírios rutilantes de cristal
de um outro mundo fantástico e espetral. A meteorologia dá boas-novas para o fim-de-semana,
com o termómetro a inverter a descida.
Para quem faz a vida nos campos e tem de
levantar-se cedinho, é certo que até pode sentir a alma a purificar-se de todas as máculas e de
todos os seus pecados, mas a dureza física é de rachar, constituindo, indubitavelmente,
mais um duplo e duríssimo sacrifício. No entanto, para quem viaje de carro, protegido de ar condicionado, o que pode descobrir à frente do limpa para-brisas, ou pelos lados
das janelas, é verdadeiramente surpreendente
e surrealista
Embora sempre de atalaia, em não se
alargar demasiado nas velocidades, pois, nestas condições atmosféricas, todo o cuidado é pouco, sobretudo se molinhar, porque,
o gelo que derrete na estrada ou escorre
das bermas, é certo que torna o tape menos escuro mas bem mais perigoso e escorregadio: não se pode comparar à beleza caprichosa que reveste de branco o
verde das ervas, mas alto lá, com o traiçoeiro piso, que pode mesmo fazer despistar e provocar partidas indesejáveis
ou mesmo ser fatal!
Sim, a cor da paisagem poderá revestir-se de cinza ou mesmo da brancura imaculada das nuvens, sobretudo
pela manhã, mas dificilmente torna a viagem monótona, quer de carro ou de
comboio: há sempre um cenário diferente
à espera de surpreender o viandante; a graciosa imagem para contemplar por ação das
baixas temperaturas, que, nestes dias se fazem sentir, mais ao Centro e a Norte
de que ao Sul
Pois, referem noticias de que “Por estes dias, Portalegre, Coimbra, Guarda, Bragança e Braga vão estar algumas horas sob temperaturas abaixo de zero; Porto, Castelo Branco, Évora e Beja vão descer (desceram) aos zero graus. A máxima será de 14 graus, em Faro, com Guarda a não passar dos 3º e Bragança dos 6º. Mas nenhuma capital de distrito se vai aproximar dos seus registos mais negativos.
Ao descer aos 3º, na
temperatura mínima, Lisboa será das que vai ficar mais perto e, mesmo assim,
com mais de quatro graus de diferença para os 1,2º abaixo de zero verificados
em 1956, o inverno mais frio em Portugal (e na Europa) dos últimos 90 anos (ou
seja, desde que existem dados).
Em Bragança, a temperatura
mínima tocou nos 7,7º abaixo de zero,
longe dos -12º em janeiro de 1945 ou dos -11,6º em fevereiro de 1983. Há três
anos, Mirandela, outra cidade de Trás-os-Montes, havia chegado aos -7,4º.
Refere ainda o público, que, Já nas Penhas Douradas,
em plena Serra da Estrela, registaram-se -5,8º nesta madrugada, a quinta
consecutiva abaixo de zero, mas nada de admirar para um inverno em Portugal.
“Estamos dentro dos padrões de temperatura para esta época do ano”, remata
Vanda Pires.
http://visao.sapo.pt/actualidade/portugal/2018-02-06-Esta-um-frio-de-rachar--Normal-e-inverno
Que a vida foge é toda a ciência que eu
pude aprender, e tudo o mais mentira.
A flor que foi é flor que já morreu.
Do poeta Omar
Khayyam – - século
XII – Excerto da antologia “Poesia de 26
séculos, por Jorge de Sena
"Ah, encha a Taça: - de que vale repetir
Que o Tempo passa rápido sob nossos Pés:
Não nascido no amanhã, e falecido Ontem,
Por que angustiar-se frente a eles se o Hoje pode ser doce?"
Se uma rosa guardaste, no teu coração,
Se a um Deus supremo e justo endereçastes
Tua humilde oração, se com a taça erguida
Contaste um dia o teu louvor à vida:
Tu não viveste em vão!”
Se a um Deus supremo e justo endereçastes
Tua humilde oração, se com a taça erguida
Contaste um dia o teu louvor à vida:
Tu não viveste em vão!”
Biografia:Omar Khayyam “Conhecido no ocidente como poeta e autor do
Rubaiyat, (em português, “quadras" ou "quartetos”), que ficariam
famosos a partir da tradução de Edward Fitzgerald, em 1839. Muitas coisas se
contam sobre Omar Khayyam, porém de poucas podemos ter certeza. Sabemos que
nasceu em meados do século XI em Nixapur, capital da província Persa do
Coração, onde passou a maior parte de sua vida. Omar Khayyam faleceu em 1131.
No ano de 1074 foi chamado por Malique Xá
I para reformar o antigo calendário persa, que deu um erro de um dia em 5000
anos. A reforma do calendário foi substituída mais tarde pelo calendário lunar
islâmico.
Nixapur suportou guerras e terremotos, e
em 1221 foi saqueada pelos mongóis. O túmulo de Omar Khayyam superou todas as calamidades
e está conservado até hoje. a. Excerto de https://pt.wikipedia.org/wiki/Omar_Khayyam
Pensamentos do mesmo poeta:
“O tédio de Khayyam não é o
tédio de quem não sabe o que faça, porque na verdade nada pode ou sabe fazer.
Esse é o tédio dos que nasceram mortos, e dos que legitimamente se orientam
para a morfina ou a cocaína. É mais profundo e mais nobre o tédio do sábio
persa. E o tédio de quem pensou claramente e viu que tudo era obscuro; de quem
mediu todas as religiões e todas as filosofias e depois disse, como Salomão:
«Vi que tudo era vaidade e aflições de ânimo», ou como, ao despedir-se do poder
e do mundo, outro rei, que era imperador, nele, Septímio Severo: «Omnia fui,
nihil...» «Fui tudo; nada vale a pena.»
A vida, disse Tarde, é a busca do impossível através do inútil; assim diria, se o houvesse dito, Omar Khayyam.
Daí a insistência do persa no uso do vinho. Bebe! Bebe! É toda a
sua filosofia prática. Não é o beber da alegria, que bebe por que mais se
alegre, por que mais seja ela mesma. Não é o beber do desespero, que bebe para
esquecer, para ser menos ele mesmo. Ao vinho junta a alegria a acção e o amor;
e há que reparar que não há em Khayyam nota alguma de energia, nenhuma frase de
amor. Aquela Sàki, cuja figura grácil entrevista surge (mas surge pouco) nos
rubbayat, não é senão a «rapariga que serve o vinho». O poeta é grato
à sua esbelteza como o fora à esbelteza da ânfora, onde o vinho se contivesse.
A casa onde nasci |
A filosofia prática de Khayyam reduz-se pois a um epicurismo
suave, esbatido até ao mínimo do desejo de prazer. Basta-lhe ver rosas e beber
vinho. Uma brisa leve, uma conversa sem intuito nem propósito, um púcaro de
vinho, flores, em isso, e em não mais do que isso, põe o sábio persa o seu
desejo máximo. O amor agita e cansa, a acção dispersa e falha, ninguém sabe
saber e pensar embacia tudo. Mais vale pois cessar em nós de desejar ou de
esperar, de ter a pretensão fútil de explicar o mundo, ou o propósito estulto
de o emendar ou governar. Tudo é nada, ou, como se diz na Antologia Grega,
«tudo vem da sem-razão», e é um grego, e portanto um racional, que o diz. http://arquivopessoa.net/textos/1772 .https://pt.wikipedia.org/wiki/Omar_Khayyam
De Carmina Burana – séc. XII e XII
Nu taberna quando estamos.
De mais nada nós curamos,
Que
do jogo que jogamos,
Mais cio vinho que bebemos.
Quando juntos na taberna,
Numa confusão superna ,
Que fazemos nós por lá?
Não sabeis? Pois ouvi cá.
Nós jogamos, nós bebemos,
A tudo nos atrevemos.
O que ao jogo mais se esbalda
Perde as bragas , perde a fralda,
E num saco esconde o couro,
Pois que um outro conta o ouro.
E a morte não vai' um caco
Pra quem só joga por Baco.
Nossa primeira jogada
É por quem paga a rodada.
Depois se bebe aos cativos,
E a seguir aos que estão vivos.
Quarta roda, aos cristãos juntos.
Sexta, às puras nossas manas,
E
sete às bruxas silvanas.
Oito, aos manos invertidos.
Nove, aos frades foragidos,
Dez, se bebe aos navegantes,
Onde é para os litigantes.
E doze, dos suplicantes,
E treze, pelos viandantes.
Pelo Papa e pelo Rei
Bebemos então sem lei.
Bebem patroa e patrão.
Bebem padre e capitão.
Bebe o amado e bebe a amada,
Bebem criado e criada.
Bebe o quente e o piça fria,
Bebe o da noite e o do dia,
Bebe o firme, bebe o vago,
Bebe o burro e bebe o mago.
Bebe o pobre e bebe o rico,
Bebe
o pico-serenico
Bebe o Infante, bebe o cão.
Bebem cónego e deão.
Bebe a freira e bebe o frade ,
Bebe a besta, bebe a madre,
Bebem todos do barril,
Bebem cento e bebem mil.
Nenhuma pipa se aguenta
Com esta gente sedenta,
Quando bebe sem medida
Quem de beber faz a vida.
E quem de nós s´ fiou,
Sem cheta s´ arrebentou.
E quem de nós prejulgava,
Se quiser que vá à fava.
Carmina Burana (em português:
"Canções da Beuern", sendo "Beuern" uma redução de
Benediktbeuern, município situado na Baviera) é o título, em latim de um
manuscrito de 254 poemas e textos dramáticos, datados, em sua maioria, dos
séculos XI e XII, sendo alguns do século XIII.[1] As peças são, em geral,
picantes, irreverentes e satíricas e escritas em latim medieval, embora algumas
tenham sido escritas em médio-alto-alemão, com alguns traços de francês antigo
ou provençal. Há também partes macarrônicas, numa mistura de latim vernáculo
com alemão ou francês.
Os manuscritos refletem um movimento
europeu "internacional", com canções originária de Occitânia, França,
Inglaterra, Escócia, Aragão, Castela e do Sacro Império https://pt.wikipedia.org/wiki/Carmina_Burana
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