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domingo, 19 de março de 2017

Equinócio da Primavera - Celebração frente ao Olho de Hórus, 20 de Março às 07.00, aldeia de Chãs, V. N. de Foz Côa, Maciço dos Tambores, já conhecido pelos Templos do Sol, com poemas de Mário Cesariny e Manuel Daniel – No momento em que os raios solares ao atravessarem um espantoso monumento megálito pré-histórico, sugerem a imagem de um dos mais antigos e poderosos amuletos solares do Egipto

Jorge Trabulo Marques





VAMOS CELEBRAR O EQUINÓCIO DA PRIMAVERA! - COM POEMAS DE MÁRIO CESARINY do livro “Primavera Autónoma das Estradas" e de "A Porta do Labirinto" de MANUEL DANIEL - Segunda- feira, dia 20, pelas 07.00 horas da manhã, junto ao santuário rupestre da Pedra da Cabeleira de Nª Sraª, aldeia de Chãs, concelho de V. Nova de Foz Côa





Olho de Hórus, também conhecido como udyat, é um símbolo que significa poder e proteção. O olho de hórus era um dos amuletos mais importantes no Egito Antigo, e eram usados como representação de força, vigor, segurança e saúde” – 

É justamente esta a imagem que poderá ser contemplada, quando a graciosa gruta em semi-arco é iluminada pelos raios do nascer do sol, no primeiro dia da Primavera, segunda-feira, dia 20, para quem se encontrar  frente ao auspicioso frontal, em forma de leque, do antiquíssimo Santuário Rupestre, amuralhado à sua volta, ao qual a tradição oral da aldeia atribuiu o nome de Pedra da Cabeleira de Nª Srª, dada a existência de uma pintura rupestre, a lembrar os traços de uma cabeleira negra (entendida como símbolo solar, tal como pequeno circulo que tem gravado no frontispício) mas que a imaginação popular associou à passagem de Nª Srª a caminho do Egito, quando ali se refugiara, deixando as marcas dos seus cabelos gravados no topo central de um pequeno nicho, no interior do lado direito da surpreendente cripta, que atravessa o majestoso e imponente megálito de 5m de altura, por 4 m de comprimento, com tal inclinação a poente, que parece desafiar as leis da gravidade e deste mundo.ª






Como é já do conhecimento público, são vários os alinhamentos sagrados, que se encontram em várias partes do mundo, sendo mais famoso o de Stonheng, na Inglaterra – No alto do maciço dos Tambores, a curta distância de um antigo castro e no interior do perímetro do Parque do vale do Côa,  erguem-se alguns desses fabulosos monumentos, direcionados com os equinócios e solstícios, arredores  da aldeia de Chãs, junto aos quais se têm saudado a entrada de cada estação do ano, homenageando poetas e escritores, com a leitura dos seus versos ou trechos literários das suas obras –

Celebração do Solstício do Verão



É justamente também o objetivo deste evento, além de distinguir uma vez mais um grande poeta da nossa região, como é Manuel Daniel, a que já me referi noutras das postragens deste site, recordamos  a memória de Mário Cesariny de Vasconcelos - Sem dúvida uma das mais singulares e notáveis figuras do surrealismo português, tanto na poesia como na pintura, dez anos após a sua morte e no ano em que é recordado com uma importante exposição no Centro Cultural de Belém, em Lisboa -  Havíamos previsto a participação de uma outra personagem das letras portuguesas no campo da literatura infantil e juvenil, Daniel Sampaio, mas acabou por não ser possível garantirmos a sua presença - Tal como nos havia prometido, constamos que nos dê esse prazer num dos próximos eventos


Tive oportunidade de ser amigo de Mário Cesariny de Vasconcelos, de ter partilhado com ele variadíssimos e inesquecíveis momentos de agradável convívio; daí o duplo prazer: quer pela admiração da sua personagem como da sua obra - Embora de forma simples e singela mas nem por isso prenhe de sublime significado - Data e hora, em que poderá ser contemplada - se as condições atmosféricas o permitirem - uma das mais surpreendentes maravilhas da pré-história, - feliz descoberta do autor destas linhas - Tal como há milénios, a terão contemplado os antigos povos que ali se abrigavam nos encastelamentos graníticos dos rochedos do chamado maciço dos Tambores e Quebradas 



Este eventotem contado com o apoio Junta de Freguesia de Chãs -da CM Foz Côa, pela Foz Côa Friends Associação, é organizado pela Comissão de Festividades dos Templos do Sol – O Coordenador JTM


Jorge Trabulo Marques - Mário Cesariny

"De Mário Cesariny, não basta afirmar que a sua poesia é das maiores do nosso século XX. Nem que a sua pintura é das mais originais desse tempo. É preciso reafirmar que, nele, pessoa, vida, morte, obra, atitude, ímpeto tinham a força que nos atira para um abismo de claridade. Nestes 10 anos da sua morte, ouvir a voz de Cesariny é olhar o céu naquele momento em que o sol ainda não partiu e a lua já chegou"
"Estar com Cesariny era partir numa nave espacial e olhar cá para baixo com os olhos muito abertos. Havia nas suas mãos um fogo que, quando queimava, mostrava a tragédia, e, quando iluminava, fazia aparecer a comédia. Esse sentimento trágico e cómico da vida é o dos visionários do visível. Ele confessou um dia: “ Para mim, só o momento da criação é linguagem, tudo o mais é baço, não diz, pertence ao sono das espécies, mesmo quando dormem inteligentemente.” Mas em todos os momentos dele havia criação. Nunca o ouvi dizer lugares-comuns, ideias mortas, frases feitas".

"Cesariny gostava de anarquistas, videntes, xamãs, usurpadores, hereges, piratas, incendiários e revoltosos. E de reis destronados, deuses abolidos, bruxas acossadas, fidalgos arruinados, heróis vencidos, náufragos salvos no último momento. Detestava tiranos, tiranetes, moralistas, hierarcas, burocratas, preopinantes, instalados, acomodados, calculistas, carreiristas, conformistas, cínicos, convencidos, contentinhos, coitadinhos - Diz o jornalista  e escritor  - José Manuel dos Santos  - Um dos maiores amigos e admiradores do pintor e do poeta,  junto do qual também tive o prazer  de partilhar os mais agradáveis momentos  de um inesquecível convívio e das mais gratas recordações. Tributo a Mário Cesariny, nos dez anos da sua morte - Sol.pt  Lisboa, 8 de Dezembro de 2016



Em Junho, noutro dos calendários pré-históricos, celebrámos o Solstício do Verão 





 Registo de véspera  - Ao nascer do Sol, em  Stnohenge - Ao pôr do Sol - Nos Tambores

OS POETAS NÃO MORREM, MESMO QUANDO CHEGADA A HORA, A MORTE LHES FECHA OS OLHOS.

Em Cesariny,  tanto no poeta como no pintor,  não havia fingimento ou artificialismos imaginativos  mas espontaneidade, uma constante ânsia de revelação, um profundo sentimento de liberdade, de espírito de descoberta de fantasia ou do insólito,  de transgressão à vulgaridade, tal como as crianças olham as estrelas, estendendo a mão para lhe tocar, também em Cesariny havia como que o desejo de as poder alcançar, buscando e amando os aspetos mais sedutores, contrastantes  e misteriosos da vida, tanto nas criaturas humanas como no ambiente que o rodeava.
No dia seguinte à sua morte, ainda sob a emoção da sua partida para a eternidade, não resisti a escrever uns verso de invocação e já de saudade, que editei  noutro espaço deste site mas que aproveito para de novo aqui os recordar 

Cesariny já não faz parte dos vivos.
Morreu ontem ás 5, 30 da manhã, em sua casa!
Ainda o estou a ver…
Quando à mesma hora desceu a avenida da Liberdade
Em madrugada fria de Dezembro

Madrugada já perdida
No silêncio do tempo.
Esquecida na memória dos dias.
Boina na cabeça.
Grossa gabardina de gola alta, cingida ao corpo,
Cascol escuro enrolado ao pescoço.
Defendiam – no da frieza húmida da noite.
Andar calmo e discreto.
Não de alguém que por ali deambulasse, sem destino
Ou por ali derivasse, sem propósito, nem rumo definidos
.


Antes de o reconhecer, pelo mesmo passeio que sigo,
Evolui vulto que mal se destaca na névoa, tingida a
oiro turvo pela luz escassa, que a luz pública
mal divisa e distingue.
Estranho e dormente é também o silêncio
que só de vez em quando, é interrompido
por escassos carros que vão passando.
eles mesmos, lembrando, por vezes,
vagarosas silhuetas, difusas,
vindas de largas ruas
de alguma cidade fantasma!

Mas o que vejo é Cesariny,
nítido e inconfundível, na figura,
no andar seguro e tranquilo, no sorriso maroto
de uma inocência nunca perdida,
que a idade parece ter preservado intacta.

Aí está ele! Cabeça levantada. Olhar em frente,
Olhando, horizontalmente, à linha mal iluminada do passeio.
Estilo de ave a quem ninguém impede o voo
de animal selvagem, sem rédeas nem freio.
No passo certo carrega o saber para onde vai,
a indiferença ao caminho, a ausência de embaraço inoportuno,
como quem não trás nada sobre os ombros, o incomode:
nem peso em que vá derreado nem a própria gravidade

Vetustos edifícios da antiga avenida,
árvores nuas, descarnadas,
imergem no nevoeiro que tudo ofusca.
Ambiente monótono, estranho! sem vivalma
nas horas de abandonar bares e discotecas, nem partidas
para outras aventuras na vertigem do cio.
A espessa atmosfera, transfiguração em espiral contínua,
confunde e disfarça - Mesmo sem o convite,
persistem o belo e o mistério.



Já lá vão uns anos – mais de vinte ! –
Oh Meu Cesariny! Como o tempo corre?
Como a vida foge! - E, todavia,
até parece que foi ontem! - Um repórter de rádio,
pequeno gravador na mão, atrás do imprevisto,
do inesperado, vagueando na solidão da noite húmida e fria,
quase despovoada de vida e de luz, na mira de algo
que valesse uma noite perdida! - E, um poeta, ateado pelo fogo
e a rebeldia dos seus mais cruéis demónios, fidelíssimos amantes
de inspiração altíssima nas horas mais solitárias e incandescentes,
tocado pelos deuses de Olimpo: Hermes, Apolo e Dionísios
- de quem era ao mesmo tempo enteado e dilecto mensageiro,
atraído pelas tentações e volúpias de uns e outros,
qual viajante solitário em busca de “ palavras
e nocturnas palavras gemidos,
palavras que nos sobem ilegíveis À boca
Palavras diamantes palavras nunca escritas
Palavras impossíveis de escrever”..


Oh, sim, o inseparável apaixonado “dos braços dos amantes”
que “escrevem muito alto” 
Muito além do azul onde oxidados morrem”
O insólito sonâmbulo que vai peregrinando, sem âncora
e sem bússola, de olhos fechados, mas com um grande à-vontade
de quem já trata por tu as avenidas, ruas e os mais discretos becos,
esventrando, por instinto nato, os seus mais recônditos recantos,
fazendo deles o centro do mundo,
e que, tão depressa neles é visto e aparece
aureolado com o brilho de uma estátua em jardim iluminado,
como, imediatamente, se transfigura e funde
ou, mesmo, como súbita névoa que ao pousar
se dilui na atmosfera e no ar desaparece!


Vale a pena, pois, rever os passos de tão singular figura!
Passeando-se, com a subtileza de um mago,
ou com a altiva nobreza de um Príncipe encantado,
por lugares proibidos – devassando
os escombros das “sombras
que têm exaustiva vida própria”.
Indiferente às aparências, ao escárnio severo,
alheio aos múltiplos perigos e maledicências
que, nas horas mortas, no pico das horas
mais furtivas e silenciosas,
poderão reaparecer ou ressurgir
quando menos se espera: no dobrar de cada esquina
ou num passo mais em falso ou descuidado! Desafiando
convenções sociais, a censura alheia,
não se importando “de ser visto
na companhia de gente
altamente suspeita!”



Meu Caro Cesariny:
Como sabe, na vida há um tempo para tudo:
Há-o para o amor, a sensualidade, a poesia - para tudo
há o tempo que o homem quiser fazer enquanto for vivo.
E, também, após a morte! – há um tempo para o repouso absoluto!
- Este agora é o seu tempo! O do indomável guerreiro
ter também o justo descanso! – O do luminoso poeta ,
ao descer, lentamente, à Terra, que o criou,
subir, em espírito e, talvez também, em corpo inteiro,
imediatamente ao Céu!


E, quanto a mim, amigo:
o meu tempo, pelo menos, por agora,
a estas tardias horas da madrugada,
em que a memória de novo me faz recuar
àquela fria noite de Dezembro,
é a de um longo momento de sentida emoção:
- tão só para recordar o belo poema,
os lindos versos, ditos palavra a palavra,
que tive o privilégio de gravar,
tal qual acabavam de ser criados,
por um inesperado poeta que, ali,
imerso em nevoeiro e névoa, quase irreal,
os dizia, com a mesma expressão
sublime e sagrada de quem diz uma oração!

Jorge Trabulo Marques

Lisboa, 27 de Novembro de 2006

Mário Cesariny de Vasconcelos nasceu a 9 de agosto de 1923 na Vila Edith, na Estrada da Damaia. Foi um nascimento inesperado. Os pais, de férias, não contavam que Mário, o mais novo de quatro irmãos (tinha duas irmãs mais velhas — Henriette, Carmo e Luísa), nascesse longe da casa da família em Lisboa. Mas assim foi. O pai, Viriato de Vasconcelos, era ourives (com uma oficina na Rua da Palma) e a mãe, Maria de las Mercedes Cesariny, parisiense (de ascendência espanhola) e professora de francês.

Dos tempos de infância, Mário Cesariny recordava sobretudo as férias de verão passadas junto à praia, na Póvoa de Varzim, com os quatro primos. Para ele, era o “paraíso”. As coisas em casa não eram fáceis. O casamento entre Viriato e María de las Mercedes não tinha sido feliz e as discussões eram recorrentes. A imagem que ficou para sempre gravada na cabeça de Cesariny foi a do pai, de um lado, “ameaçando tudo e mais alguma coisa”, e a mãe do outro, com os quatro filhos encolhidos atrás dela. Excerto  Não podemos esquecer Mário Cesariny – Observado




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